como se preparar?
A Edições CNBB
realizou no dia 27 de agosto, uma live cujo título foi “Preparação para o
Mês da Bíblia”. O objetivo da formação, segundo o mediador da live, padre
Jânison de Sá, assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), foi conhecer melhor o tema
do mês da Bíblia 2020 (setembro), o livro que será objeto de estudo este ano e
importância do mês da Bíblia para a Igreja no Brasil. Este ano, 2020, a Igreja
no Brasil comemora o Mês da Bíblia fundamentando-se no livro do Deuteronômio,
com o lema “Abre tua mão para o teu irmão” (Dt 15,11).
Participou da live
como convidado o bispo de Luziânia (GO), dom Waldemar Passini. Ele também é
presidente do regional Centro-Oeste da CNBB, membro da Comissão
Bíblico-Catequética da CNBB e mestre em ciências bíblicas. Outros convidados
foram o frei Ildo Perondi, doutor em Teologia Bíblica e professor de Bíblia na
Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná e a assessora da Comissão
Bíblico-Catequética da CNBB, irmã Izabel Patuzzo.
História do Mês da
Bíblia
Dom Waldemar
Passini, bispo de Luziânia (GO), falou sobre origem da celebração do Mês da
Bíblia, um evento que é específico da Igreja no Brasil. Segundo ele, a semana
tem origem com o Domingo da Bíblia, cujo início no Brasil se deu a partir da 1ª
Semana Bíblica Nacional, em 1947. “A partir desta data começou-se a celebrar o
Domingo da Bíblia, sempre no último domingo do mês de setembro. Neste o mês,
dia 30, comemora-se também o dia de São Jerônimo, um grande conhecedor da
Bíblia, exegeta e tradutor da Bíblia para o latim, a vulgata”, disse.
Depois do “Domingo
da Bíblia”, dom Waldemar lembrou que passou-se a celebrar o Mês da Bíblia a
partir de uma iniciativa pioneira da arquidiocese de Belo Horizonte (MG) que se
expandiu para o regional Leste 2. Em 1976, a celebração do Mês da Bíblia foi
assumida pela CNBB e em todo Brasil. “Inicialmente fazia-se uma reflexão por
temas, depois passou-se à aprofundar os livros da sagrada escritura”, disse.
Orientações
pastorais para o Mês da Bíblia no contexto da pandemia
O presidente do
regional Centro Oeste da CNBB também falou das orientações pastorais para
realização do Mês da Bíblia este ano em decorrência da pandemia da Covid-19. O
bispo disse que a Igreja no Brasil e a Comissão Bíblico-Catequética da CNBB
estão num tempo de adaptação. “Estamos acompanhando os dramas e as tragédias
das pessoas e de seus familiares e também de coisas que tocam a vida de nossas
comunidades, cidades, país e mundo”, disse.
Dom Waldemar disse
que a Igreja, por ser encarnada nas diferentes realidades, não pode ficar
alheia ao avanço do novo Coronavírus. Contudo, o bispo de Luziânia disse que
isto não significa que ela deve permanecer parada e se ausentar da reflexão, da
oração e dos encontros. Ele reforçou, por outro lado, que são necessárias
adaptações. “Esse ano, diante desta realidade, imagino que o lugar da oração e
reflexão da família já conquistou espaço. Para o Mês da Bíblia a prioridade
deve ser à Palavra de Deus”, disse.
A sugestão da
Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB é que a oração, a reflexão
e os estudos sejam feitos em família sobre o Livro do Deuteronômio, tendo o
cuidado de adaptar a reflexão às diferentes idades. O material também, como
sugestão da Comissão da CNBB, poderá ser estudado em grupos de convivência que
tenham uma espiritualidade bíblica (amigos, colegas de trabalho, círculos
bíblicos, entre outros). Uma outra sugestão é fazer encontros à distância pelas
plataformas que permitem reuniões online. Encontros, como este, sugeriu dom
Waldemar, podem ser organizados pelas comunidades e paróquias.
Como método, dom
Waldemar deu duas orientações: a) se ater à leitura contínua do texto proposto,
o que ajuda a entender o contexto no qual está inserida a história e a oração
com o mesmo. Uma opção, aponta, é fazer a leitura orante com os textos bíblicos
sugeridos. Momentos importantes, reforçou dom Waldemar, são as celebrações da
Palavra e as homilias, onde os ministros leigos e ordenados poderão aprofundar
a Palavra de Deus.
Deuteronômio: o
livro de estudo em 2020
Segundo o bispo,
trata-se de um livro de grande importância, citado várias vezes no Novo
Testamento. “Nós precisamos, como sempre para o Antigo Testamento, termos a
referência da leitura cristã. Lemos o Antigo Testamento como Palavra de Deus
para nós, mas temos na mente e no coração o Evangelho de Jesus Cristo e a
teologia do Novo Testamento para nós como um todo. Assim vamos ao livro de
Deuteronômio e vamos encontrá-lo tal como ele se apresenta”, disse.
O bispo de
Luziânia disse que trata-se de um texto de grande importância teológica porque
coloca em seu centro a Lei de Deus. Lei como núcleo primeiro dado a Moisés e
que depois de muito tempo continua falando a seu povo, estimulando o culto a
Deus, mais tarde reconhecido como único e promove relações de fraternidade
entre irmãos e entre o povo de Israel.
“O texto nos é
dado como último livro do Pentateuco pelo próprio Moisés. Aí nós encontramos a
primeira referência clássica da revelação, sendo Moisés o grande mediador
desta revelação entre Deus e o povo que ele escolheu. Mas temos também no livro
a resposta que o povo eleito deve dar ao seu Deus: ‘a vivência dos mandamentos
como resposta à escolha e aliança estabelecida por Deus com seu povo'”,
explicou.
No núcleo do
livro, entre os capítulos 12 ao 16, encontra-se o “Código Deuteronômio”, um
conjunto de preceitos que vai do culto à relações sociais e familiares e a como
lidar com a guerra e com o conflito nas cidades que Israel vai conquistando. “O
livro chama a atenção sobre como usar a lei não apenas para ocupar a terra mas
também para permanecer nela e torná-la fecunda. É um texto forte que perpassa
períodos distintos da história mas sempre com a mesma teologia: a resposta fiel
ao Deus que elegeu Israel, Judá o seu povo”, apontou.
Lema do Mês da
Bíblia
A irmã Izabel
Patuzzo, assessora da Comissão Bíblico-Catequética da CNBB, aprofundou o lema
bíblico escolhido este ano: “Abre tua mão para o teu irmão” (Dt
15,11). Segundo ela, o lema remete à questão da solidariedade. A
religiosa destacou que o livro fala, especialmente, do cuidado com três
categorias muito importantes para a época aos olhos de Deus: o estrangeiro, o
órfão e a viúva, citados 11 vezes.
“O órfão, a viúva
e os estrangeiros não são do tempo em que o povo recebeu a lei no deserto e que
viveu em tribos. São categorias que aparecem no tempo que já tinha se
constituído o Estado. Já havia guerras e migrações forçadas. O livro lembra
Israel sempre da sua origem e que Deus o escolheu quando era um povo pobre,
escravo e necessitado no Egito. Em decorrência disto, após entrar na terra
prometida, eles deveriam cuidar também para que não houvesse pobres entre
eles”, disse. Irmã Izabel falou do dízimo e de outras práticas que foram
adotadas pelo povo de Israel para não permitir que entre eles existissem empobrecidos
e para que se tornasse um povo, entre o qual, a retidão, a justiça e a
solidariedade acontecessem.
O subsídio do Mês
da Bíblia 2020
O professor da
PUC-PR, frei Ildo falou das temáticas relevantes do livro. Segundo ele, o livro
é organizado como se fossem os últimos discursos proferidos por Moisés antes de
o povo entrar entrar na terra prometida tendo sido conduzido por Josué. “Temos,
no livro, uma série de leis para que o povo possa viver bem na terra que
entrará. Os temas mais importantes que encontramos em toda a Bíblia também
estão presentes no livro do Deuteronômio”, disse. O primeiro mandamento é que o
povo de Israel, ao entrar na terra prometida, seja um povo que escute a palavra
do senhor e a deixe cair em seu coração. “Jesus ensina, no Novo Testamento, que
o amor a Deus precisa se traduzir em solidariedade aos irmãos”, disse.
Neste ano, segundo
o professor, que foi um dos autores do subsídio de reflexão, o Mês da Bíblia
quer recordar que aquele que quer agradar a Deus não basta se dirigir ao Senhor
mas que é necessário também abrir a sua mão para o irmão. “Na terra prometida e
da promessa, o povo de Deus é chamado a viver uma vida nova, onde a vida deve
prevalecer, neste lugar não deve haver pobres. A terra que o povo está entrando
é a terra do leite e do mel, portanto é a terra da fartura, que é dom de Deus,
e nesse lugar não pode haver a opressão”, disse.
O biblista apontou
que no capítulo 30, um dos textos mais bonitos do livro, entre os versículos 15
ao 20, há toda uma proposta colocada diante do povo: escolher entre a vida ou a
morte, entre a bênção ou a maldição, etc. O professor lembrou que é do livro o
lema bíblico adotado pela Campanha da Fraternidade de 2008: “Escolhe, pois, a
vida”. A campanha teve como tema “Fraternidade e defesa da vida”.
“Nós lemos a
Bíblia não apenas para compreendê-la mas para colocá-la em prática. O livro do
Deuteronômio levanta hoje muitos gritos, apelos e clamores. Muitas das
realidades que estamos vivendo hoje se assemelham à realidade que o povo de
Deus passou. Hoje temos uma massa de pessoas empobrecidas. O tema é muito mais
que atual. A questão do acesso à terra também é um tema no livro. A terra que
deve ser partilhada para o sustento dos irmãos. O tema da justiça também: as
leis devem ser para que o povo possa viver. Os pobres, hoje, dificilmente têm
acesso à justiça. Este é um tema que o livro nos convida a refletir e a colocar
em prática também. No Deuteronômio estão os 10 mandamentos. Uma das questões
que se pede é que não se use o nome de Deus em vão. Hoje estamos numa época que
o uso e a banalização do nome de Deus está sendo banalizado, inclusive nos
discursos políticos”, disse.
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Fonte: cnbb.org.br
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