Não
podemos não chorar,
não podemos não reagir diante destes pecados
"Como
cristãos não podemos permanecer indiferentes diante do drama das velhas e novas
pobrezas, das solidões mais sombrias, do desprezo e da discriminação de quem
não pertence ao “nosso” grupo. Não podemos permanecer insensíveis, com o
coração anestesiado, diante da miséria de tantos inocentes. Não podemos não
chorar. Não podemos não reagir. Não podemos não chorar, não podemos não reagir.
Peçamos ao Senhor a graça de chorar, aquele choro que converte o coração diante
destes pecados", disse o Santo Padre em sua homilia.
Cidade do
Vaticano - Na manhã deste
domingo, 29, o Papa Francisco presidiu a Celebração Eucarística na Praça São
Pedro, por ocasião do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado. Eis a sua
homilia:
"O Salmo
Responsorial recordou-nos que o Senhor defende os estrangeiros, juntamente com
as viúvas e os órfãos do povo. O salmista faz explícita menção daquelas
categorias que são particularmente vulneráveis, frequentemente esquecidas e
expostas a abusos. Os estrangeiros, as viúvas e os órfãos são os que não têm
direitos, os excluídos, os marginalizados, pelos quais o Senhor tem uma
especial solicitude. Por isso, Deus pede aos Israelitas que tenham para com
eles uma atenção especial.
No livro do
Êxodo, o Senhor adverte o povo que não maltrate de nenhuma forma as viúvas e os
órfãos, porque Ele escuta o seu clamor (cf. 22,23). A mesma advertência é
retomada duas vezes no Deuteronómio (cf. 24,10; 27,19), com o acrescento dos
estrangeiros entre as categorias protegidas. E a razão de tal advertência é
claramente explicada no mesmo livro: o Deus de Israel é Aquele que «faz justiça
ao órfão e à viúva, ama o estrangeiro e dá-lhe pão e vestuário» (10,18). Esta
preocupação amorosa para com os menos privilegiados é apresentada como um traço
distintivo do Deus de Israel, e é também exigida, como um dever moral, a todos
quantos querem pertencer ao seu povo.
Eis a razão pela
qual devemos ter uma atenção especial para com os estrangeiros, como também
pelas viúvas, os órfãos e todos os descartados dos nossos dias. Na Mensagem para
este 105º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado repete-se como um refrão o
tema: “Não se trata apenas de migrantes”. E é verdade: não se trata apenas de
estrangeiros, trata-se de todos os habitantes das periferias existenciais que,
juntamente com os migrantes e os refugiados, são vítimas da cultura do
descarte. O Senhor pede-nos que ponhamos em prática a caridade para com eles;
pede-nos que restauremos a sua humanidade, juntamente com a nossa, sem excluir
ninguém, sem deixar ninguém de fora.
Mas, simultaneamente
ao exercício da caridade, o Senhor pede-nos que reflitamos sobre as injustiças
que geram exclusão, em particular sobre os privilégios de uns poucos que, para
se manterem, resultam em detrimento de muitos. «O mundo atual vai-se tornando,
dia após dia, mais elitista e cruel para com os excluídos. Os países em vias de
desenvolvimento continuam a ser depauperados dos seus melhores recursos
naturais e humanos em benefício de poucos mercados privilegiados. As guerras
abatem-se apenas sobre algumas regiões do mundo, enquanto as armas para as
fazer são produzidas e vendidas noutras regiões, que depois não querem
ocupar-se dos refugiados causados por tais conflitos. Quem sofre as
consequências são sempre os pequenos, os pobres, os mais vulneráveis, a quem se
impede de sentar-se à mesa deixando-lhe as “migalhas” do banquete» (Mensagem
para o 105º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado).
É neste sentido
que se compreendem as duras palavras do profeta Amós proclamadas na primeira
Leitura (6,1.4-7). Ai dos despreocupados e dos que vivem comodamente em Sião,
que não se preocupam com a ruína do povo de Deus, visível aos olhos de todos.
Eles não se apercebem do colapso de Israel, pois estão demasiado ocupados a
garantir uma boa vida, comidas deliciosas e bebidas refinadas. É impressionante
como, à distância de 28 séculos, estas advertências conservam intacta a sua
atualidade. Também hoje, na verdade, «a cultura do bem-estar […] nos leva a
pensar em nós mesmos, torna-nos insensíveis aos gritos dos outros, […] leva à
indiferença a respeito dos outros; antes, leva à globalização da indiferença» (Homilia
em Lampedusa, 8 de julho de 2013).
No final,
corremos o risco de nos tornarmos, também nós, como aquele homem rico de que
nos fala o Evangelho, o qual não se importa com o pobre Lázaro «coberto de
chagas [e que] bem desejava […] saciar-se com o que caía da mesa» (Lc 16,20-21).
Demasiado absorvido a comprar vestidos elegantes e a organizar esplêndidos
banquetes, o rico da parábola não vê os sofrimentos de Lázaro. E também nós,
demasiado ocupados a preservar o nosso bem-estar, corremos o risco de não nos
darmos conta do irmão e da irmã em dificuldade.
Contudo, como
cristãos não podemos permanecer indiferentes diante do drama das velhas e novas
pobrezas, das solidões mais sombrias, do desprezo e da discriminação de quem
não pertence ao “nosso” grupo. Não podemos permanecer insensíveis, com o
coração anestesiado, diante da miséria de tantos inocentes. Não podemos não
chorar. Não podemos não reagir.
Se queremos ser
homens e mulheres de Deus, como pede São Paulo a Timóteo, devemos «guardar o
mandamento […] sem mancha e acima de toda a censura» (1Tm 6,14); e o
mandamento é amar a Deus e amar o próximo. Não se podem separar! E amar o
próximo como a nós mesmos quer dizer também comprometer-se seriamente pela
construção de um mundo mais justo, onde todos tenham acesso aos bens da terra,
onde todos tenham a possibilidade de se realizar como pessoas e como famílias,
onde a todos sejam garantidos os direitos fundamentais e a dignidade.
Amar o próximo
significa sentir compaixão pelo sofrimento dos irmãos e irmãs, aproximar-se,
tocar as suas feridas, partilhar as suas histórias, para manifestar
concretamente a ternura de Deus para com eles. Significa fazer-se próximo de
todos os viajantes maltratados e abandonados pelas estradas do mundo, para
aliviar os seus ferimentos e os conduzir ao local de hospedagem mais próximo,
onde se possa dar resposta às suas necessidades.
Este santo
mandamento foi dado por Deus ao seu povo, e foi selado com o sangue do seu
Filho Jesus, para que seja fonte de bênção para toda a humanidade. Para que
juntos possamos empenhar-nos na construção da família humana segundo o projeto
originário, revelado em Jesus Cristo: todos irmãos, filhos do único Pai.
Confiamos hoje ao
amor materno de Maria, Nossa Senhora da Estrada, os migrantes e os refugiados,
juntamente com os habitantes das periferias do mundo e quantos se fazem seus
companheiros de viagem."
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No Angelus,
apelo do Papa por paz justa e duradoura em Camarões
apelo do Papa por paz justa e duradoura em Camarões
Aos presentes na
Praça São Pedro na manhã deste domingo, o Papa pediu orações para que o
encontro de diálogo que terá início na segunda-feira em Camarões, para
encontrar soluções para a crise, "seja frutífero e leve a soluções de paz
justa e duradoura, em benefício de todos".
Cecilia Sepia -
Cidade do Vaticano - Antes de rezar o Angelus na
Praça de São Pedro, ao final da Celebração Eucarística por ocasião do Dia
Mundial do Migrante e do Refugiado, o Papa Francisco rezou pela paz na
República dos Camarões, às vésperas do grande encontro de diálogo nacional, na
qual estarão presentes líderes políticos e religiosos. O Santo Padre pediu
orações para que os frutos desta iniciativa levem a uma paz “justa e
duradoura”:
“Amanhã,
segunda-feira, 30 de setembro, será aberto nos Camarões um encontro de diálogo
nacional para a busca de uma solução para a difícil crise que há anos aflige o
país. Sentindo-me próximo aos sofrimentos e às esperanças do amado povo
camaronês, convido todos a rezar para que esse diálogo seja frutífero e leve a
soluções de paz justa e duradoura, em benefício de todos. Maria, Rainha da Paz,
interceda por nós.”
As causas da
crise
Há meses é
verificado nos Camarões um recrudescimento do conflito entre separatistas das
regiões anglófonas e governo central. Os separatistas da proclamaram
independência no outono de 2017 e, após anos de fracassos nas negociações
políticas, foi escolhido o caminho das armas, a situação caiu progressivamente
no caos, quase levando a uma guerra civil.
Com a
proclamação de independência da República da Ambazônia pelos separatistas e com
os fracassos das negociações, o caminho escolhido foi o das armas. Desde então
a situação precipitou gradativamente no caos, quase desencadeando uma guerra
civil.
A situação nos
Camarões
Os confrontos se
multiplicaram e, de acordo com algumas estatísticas, em menos de dois anos,mais
de 2 mil pessoas morreram, há milhares de feridos e mais de meio milhão
de civis abandonaram suas casas em busca de refúgio nos países vizinhos. Quase
3 milhões de cidadãos vivem em condições de grave insegurança alimentar, entre
as quais muitas crianças, que morrem por causa de doenças que podem ser
facilmente tratadas. Em um relatório divulgado no início de maio, a Human
Rights Watch denunciou "o uso regular de tortura e de detenção
ilegal".
A mediação da
Igreja
Nesta espiral de
crise e violência, a Igreja vem tentando há algum tempo propor-se como
mediadora do conflito, enquanto trabalha incessantemente para apoiar a
população sujeita a riscos constantes.
Por esse motivo
os representantes religiosos decidiram participar do grande debate nacional
anunciado pelo presidente Paul Biya, que será realizado a partir da
segunda-feira, 30 de setembro, até o dia 4 de outubro próximo, para discutir os
grandes problemas do país.
"Somos
obrigados a fazer tudo o que pudermos, mesmo às custas de nossas vidas, para
trazer a paz de volta aos Camarões", disse à Agência Fides o cardeal
Christian Wiyghan Tumi, arcebispo emérito de Douala, que participará da
reunião.
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Assista:
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Fonte: vaticannews.va
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