Papa encontra
grupo de sem-teto antes de partir para a Romênia
Francisco saúda
os jornalistas no voo papal e recebe desenhos de presente desenho feito por
crianças ciganas.
Cidade do
Vaticano - Antes de sair do
Vaticano, por volta das 7h30, o Papa Francisco encontrou um grupo de 15
sem-teto de origem romena. Eles estavam acompanhados pelo Esmoler Apostólico,
cardeal Konrad Krajewski. Alguns deles são hóspedes da casa de acolhida
“Dom da Misericórdia”, outros vivem nas proximidades do Vaticano, sendo
assistidos pela Esmolaria Apostólica.
Voo papal
Um livro com as
memórias do card. Iuliu Hossu, vítima do comunismo que será beatificado pelo
Papa, foi doado ao pontífice pelos jornalistas romenos no voo papal, enquanto o
jornalista húngaro doou a Francisco um desenho feito por crianças ciganas e uma
camiseta da seleção nacional de futebol húngara, com o número 10 e o nome
'Francesco' nas costas. Tanto os ciganos como os húngaros estão entre as minorias
na Romênia que o Papa Francisco encontrará nesta viagem.
"Obrigado
pelo trabalho de vocês e pela companhia", disse Francisco dirigindo-se aos
jornalistas e saudando-os um a um pessoalmente.
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Francisco chega
a Bucareste
A viagem
apostólica do Papa Francisco à Romênia, a 30ª do seu Pontificado, começa na
capital do país. A alegria de católicos e ortodoxos.
Vinte anos
depois de João Paulo II, o Papa retorna à Romênia. Francisco visitará não só
Bucareste, como ocorreu com Wojtyla, mas também diferentes regiões, cada uma
com a sua própria história e cultura, onde encontrará as diferentes comunidades
católicas. Um país com uma maioria ortodoxa, em que os católicos são cerca de
7%.
Francisco chega
a um país que saiu do comunismo 30 anos atrás, que desde 2007 faz parte da
União Europeia, e neste semestre tem a Presidência da União Europeia; um país
que olha para o futuro. Este primeiro dia será todo dedicado a Bucareste, a
"pequena Paris", assim chamada por causa dos belos edifícios do
centro em estilo “liberty” e “art nouveau”. Uma cidade vivaz que recebe
Francisco. Nas largas avenidas arborizadas ao longo caminho que do aeroporto
leva o Papa até o coração da capital, bandeiras do Vaticano e da Romênia, e o
povo que o espera.
O avião papal
tocou terra às 05h09, hora de Brasília, 11h09 na Romênia. Francisco foi
recebido pelo Presidente da Romênia, Klaus Werner Iohannis, de uma antiga
família de saxões da Transilvânia, e sua esposa. Estes primeiros momentos serão
marcados pela cerimônia de boas-vindas no complexo do Palácio Presidencial, ao
Palácio Cotroceni, pela visita de cortesia ao Presidente, pelo encontro com a
primeira-ministra da Romênia, Vasilica Viorica Dancila e, posteriormente, com
as autoridades, a sociedade civil e o Corpo Diplomático.
A alegria da
Igreja Ortodoxa
O ecumenismo
será uma das características essenciais do dia de hoje e entrando no vivo
depois do almoço, quando o Papa irá ao Patriarcado Ortodoxo Romeno, onde João
Paulo II também esteve com Teoctistas. Um acontecimento esse que permaneceu no
coração e na história, tanto que uma placa recorda o evento. A acolher
Francisco será o Patriarca da Igreja Ortodoxa romena, Daniel, estimado teólogo,
que também estudou em Estrasburgo e Friburgo. Em seguida, o encontro com o
Sínodo permanente, um dos mais altos órgãos de decisão da Igreja Ortodoxa
romena. Momento importante, também para os fiéis, será a Oração do Pai Nosso na
nova catedral ortodoxa, a Catedral da Salvação do Povo, inaugurada em novembro
passado e ainda não concluída, com medidas imponentes e uma esplêndida
iconóstase no seu interior. O Patriarcado fez um forte convite a todos
para participarem do evento, como confirmado por Ionut Mavrichi,
arquidiácono e vice-diretor do gabinete de imprensa do Patriarcado Ortodoxo.
"O Papa é bem-vindo à Romênia", disse, sublinhando que a Igreja
Ortodoxa partilha a alegria da Igreja Católica pela visita de Francisco e
recordando que a mensagem cristã de paz e unidade, de que a Europa precisa,
pode contribuir para o futuro da sociedade.
O abraço da
comunidade católica
O dia terminará
com um encontro com a comunidade católica na catedral de São José, construída a
partir de meados do século XIX. No interior, as relíquias do Beato Vladimir
Ghika, sacerdote e mártir, e de São João Paulo II. O abraço com os fiéis
católicos encerrará, portanto, este primeiro intenso dia de Francisco na
Romênia, o "jardim da Mãe de Deus", como a chamou também João Paulo
II, tão querida ao povo romeno. Hoje o povo romeno recebe novamente o Papa, que
chega como peregrino "para caminhar junto com os irmãos da Igreja Ortodoxa
Romena e com os fiéis católicos".
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Assista:
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Papa na Romênia:
Uma sociedade é civil quando cuida dos mais pobres
Em seu primeiro
discurso em terras romenas, o Pontífice recordou a visita de São João Paulo II
que esteve no país há 20 anos, e afirmou que a Igreja Católica quer se colocar
ao serviço da dignidade e do bem comum.
Cidade do Vaticano - O Papa Francisco
deixou o Vaticano, na manhã desta sexta-feira (31/5), para mais uma Viagem
Apostólica do seu Pontificado, é a sua 30ª viagem, que o leva à Romênia.
Papa faz
discurso às Autoridades na Romênia
Confira o texto
inegral do primeiro discurso do Papa Francisco na Romênia. No encontro com as
Autoridades recordou a visita de São João Paulo II que esteve no país há 20
anos, e afirmou que a Igreja Católica quer se colocar ao serviço da dignidade e
do bem comum
Depois da
acolhida no aeroporto de Bucareste o Papa fez uma visita de cortesia ao
Presidente romeno Klaus Werner Iohannis no Palácio presidencial,
local do encontro com as Autoridades, a Sociedade civil, os Representantes de
várias confissões religiosas e o Corpo Diplomático.
Após as palavras
de boas-vindas do Presidente, o Papa Francisco pronunciou seu
discurso expressando sua alegria:
“Estou feliz
por me encontrar nesta "ţară frumoasă, terra formosa, vinte anos depois da
visita de São João Paulo II e no semestre em que a Romênia – pela primeira vez
desde que começou a fazer parte da União Europeia – preside ao Conselho Europeu”
Depois de
lembrar dos 30 anos passados desde que a Romênia se libertou do regime que
oprimia a liberdade civil e religiosa, o Papa elogiou a reconstrução e o
trabalho feito através “do pluralismo das forças políticas e sociais e do seu
diálogo mútuo através do reconhecimento fundamental da liberdade religiosa e da
plena integração do país no mais amplo cenário internacional”.
Fenômeno da
emigração
Porém continuou
Francisco,
“É preciso
reconhecer que as transformações, tornadas necessárias pela abertura de uma
nova era, acarretaram consigo – juntamente com as conquistas positivas – o
aparecimento de inevitáveis obstáculos que se devem superar e de consequências
para a estabilidade social e a própria administração do território nem sempre
fáceis de gerir”
Neste ponto
recordou o fenômeno da emigração da população à procura de novas oportunidades
de trabalho, levando ao “despovoamento de muitas localidades” que pesa
inevitavelmente “na qualidade de vida em tais terras e enfraquecimento das
raízes culturais e espirituais que sustentam nas adversidades”.
Caminhar juntos
Para enfrentar
estes problemas, afirma o Papa “é preciso aumentar a colaboração positiva das
forças políticas, econômicas, sociais e espirituais"
“É necessário
caminhar juntos e que todos se comprometam, convictamente, a não renunciar à
vocação mais nobre a que deve aspirar um Estado: ocupar-se do bem comum do seu
povo”
“Assim –
continua o Pontífice – pode-se construir uma sociedade inclusiva, na qual cada
um, disponibilizando os seus próprios talentos e competências (…) se torne
protagonista do bem comum”. De fato, conclui “quanto mais uma sociedade se
dedica aos mais desfavorecidos, tanto mais se pode dizer verdadeiramente
civil”.
E para alcançar
estes objetivos: "É preciso que tudo isto tenha uma alma, um coração e uma
direção clara de marcha, imposta, (…) pela consciência da centralidade da
pessoa humana e dos seus direitos inalienáveis”. E o Papa continua “para um
desenvolvimento sustentável harmonioso (…) não é suficiente atualizar as
teorias econômicas, nem bastam – apesar de necessárias – as técnicas e
capacidades profissionais. Com efeito, trata-se de desenvolver, juntamente com
as condições materiais, a alma de todo o povo”.
A Igreja
Católica quer dar a sua contribuição
“Neste sentido
as Igrejas cristãs podem ajudar a reencontrar e alentar o coração pulsante de
onde fazer fluir uma ação política e social que parta da dignidade da pessoa e
leve a empenhar-se, leal e generosamente, pelo bem comum da coletividade”
Por fim, falando
do trabalho das Igrejas cristãs esclarece que “a Igreja Católica quer
colocar-se neste sulco, quer dar a sua contribuição para a construção da
sociedade, deseja ser sinal de harmonia, esperança de unidade e colocar-se ao
serviço da dignidade humana e do bem comum”.
O Papa concluiu
o seu discurso desejando à Romênia “paz e prosperidade” e invocando sobre “toda
a população abundância de bênçãos divinas”.
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Texto integral do discurso do Papa Francisco
no encontro com as Autoridades na
Romênia
Senhor
Presidente,
Senhora Primeiro-Ministro,
Beatitude,
Ilustres Membros do Corpo Diplomático,
Distintas Autoridades,
Representantes das várias Confissões Religiosas e da sociedade civil,
Queridos irmãos e irmãs!
Senhora Primeiro-Ministro,
Beatitude,
Ilustres Membros do Corpo Diplomático,
Distintas Autoridades,
Representantes das várias Confissões Religiosas e da sociedade civil,
Queridos irmãos e irmãs!
Dirijo uma
cordial saudação e os meus agradecimentos ao senhor Presidente e à senhora
Primeiro-Ministro pelo convite para visitar a Roménia e as amáveis expressões
de boas-vindas que o senhor Presidente me dirigiu em nome próprio e também das
outras autoridades da nação e do vosso amado povo. Saúdo os membros do Corpo
Diplomático e os expoentes da sociedade civil aqui reunidos.
Com deferência,
apresento as minhas saudações a Sua Beatitude o Patriarca Daniel, estendendo-as
aos Metropolitas e Bispos do Santo Sínodo e a todos os fiéis da Igreja Ortodoxa
Romena. Saúdo com afeto os Bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas e todos
os membros da Igreja Católica, que venho confirmar na fé e encorajar no seu
caminho de vida e testemunho cristãos.
Estou feliz por
me encontrar na vossa ţară frumoasă [terra formosa], vinte anos
depois da visita de São João Paulo II e no semestre em que a Roménia – pela
primeira vez desde que começou a fazer parte da União Europeia – preside ao
Conselho Europeu.
Trata-se dum
momento propício para uma vista de conjunto aos trinta anos passados desde que
a Roménia se libertou dum regime que oprimia a sua liberdade civil e religiosa
e a isolava dos outros países europeus levando-a também à estagnação da sua
economia e ao exaurimento das suas forças criativas. Durante este período, a
Roménia empenhou-se na construção dum projeto democrático através do pluralismo
das forças políticas e sociais e do seu diálogo mútuo, através do
reconhecimento fundamental da liberdade religiosa e da plena integração do país
no mais amplo cenário internacional. É importante reconhecer os numerosos
passos realizados neste caminho, mesmo no meio de grandes dificuldades e
privações. A vontade de progredir nos vários campos da vida civil, social e
científica pôs em movimento tantas energias e projetação, libertou inúmeras
forças criativas que antes estavam prisioneiras e deu novo impulso às múltiplas
iniciativas empreendidas, transportando o país para o século XXI. Encorajo-vos
a prosseguir no trabalho de consolidar as estruturas e as instituições que são
necessárias não só para dar resposta às justas aspirações dos cidadãos, mas
também para estimular o vosso povo permitindo-lhe expressar todo o potencial e
engenho de que sabemos ser capaz.
Ao mesmo tempo é
preciso reconhecer que as transformações, tornadas necessárias pela abertura
duma nova era, acarretaram consigo – juntamente com as conquistas positivas – o
aparecimento de inevitáveis obstáculos que se devem superar e de consequências
para a estabilidade social e a própria administração do território nem sempre
fáceis de gerir. Penso, em primeiro lugar, no fenómeno da emigração, que
envolveu vários milhões de pessoas que deixaram a casa e a pátria à procura de
novas oportunidades de trabalho e duma vida digna. Penso no despovoamento de
tantas aldeias, que em poucos anos viram partir uma parte considerável dos seus
habitantes; penso nas consequências que tudo isto pode ter sobre a qualidade da
vida em tais terras e no enfraquecimento das vossas raízes culturais e
espirituais mais ricas que vos sustentaram nas adversidades. Presto homenagem
aos sacrifícios de tantos filhos e filhas da Roménia que enriquecem os países
para onde emigraram, com a sua cultura, o seu património de valores e o seu trabalho
e, com o fruto do seu empenho, ajudam a família que ficou na própria pátria.
Para enfrentar
os problemas desta nova fase histórica, individuar soluções eficazes e
encontrar a força para as concretizar, é preciso aumentar a colaboração
positiva das forças políticas, económicas, sociais e espirituais; é necessário
caminhar juntos e que todos se comprometam, convictamente, a não renunciar à
vocação mais nobre a que deve aspirar um Estado: ocupar-se do bem comum do seu
povo. Caminhar juntos, como forma de construir a história, requer a nobreza de
renunciar a algo da própria visão ou do próprio interesse específico em favor
dum desígnio mais amplo, de modo a criar uma harmonia que permita avançar
seguros rumo a objetivos compartilhados.
Assim, pode-se
construir uma sociedade inclusiva, na qual cada um, disponibilizando os seus
próprios talentos e competências através duma educação de qualidade e dum
trabalho criativo, participativo e solidário (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii
gaudium, 192), se torne protagonista do bem comum; uma sociedade onde os mais
fracos, os mais pobres e os últimos sejam vistos, não como indesejados nem como
obstáculos que impedem a «máquina» de singrar, mas como cidadãos e irmãos que
se hão de inserir a pleno título na vida civil; mais, temos neles o melhor
aferimento da real bondade do modelo de sociedade que se está a construir: com
efeito, quanto mais uma sociedade toma a peito a sorte dos mais desfavorecidos,
tanto mais se pode dizer verdadeiramente civil.
É preciso que
tudo isto tenha uma alma, um coração e uma direção clara de marcha, imposta,
não por considerações extrínsecas nem pelo crescente poder dos centros da alta
finança, mas pela consciência da centralidade da pessoa humana e dos seus
direitos inalienáveis (cf. ibid., 203). Para um desenvolvimento
sustentável harmonioso, para a implementação concreta da solidariedade e da
caridade, para a sensibilização das forças sociais, civis e políticas ao bem
comum, não é suficiente atualizar as teorias econômicas, nem bastam – apesar de
necessárias – as técnicas e capacidades profissionais. Com efeito, trata-se de
desenvolver, juntamente com as condições materiais, a alma do vosso povo.
Neste sentido,
as Igrejas cristãs podem ajudar a reencontrar e alentar o coração pulsante
donde fazer fluir uma ação política e social que parta da dignidade da pessoa e
leve a empenhar-se, leal e generosamente, pelo bem comum
da coletividade. Ao mesmo tempo, as Igrejas cristãs esforçam-se por se tornar
um reflexo credível e um testemunho fascinante da ação de Deus, promovendo
entre si uma verdadeira amizade e colaboração. A Igreja Católica quer
colocar-se neste sulco, quer dar o seu contributo para a construção da
sociedade, deseja ser sinal de harmonia, esperança de unidade e colocar-se ao
serviço da dignidade humana e do bem comum. Pretende colaborar com as
autoridades, com as outras Igrejas e com todos os homens e mulheres de boa
vontade para caminhar juntos e pôr os próprios talentos ao serviço de toda a
comunidade. A Igreja Católica não é estranha, mas plenamente participante do
espírito nacional, como mostra a participação dos seus fiéis na formação do
destino da nação, na criação e desenvolvimento de estruturas de educação
integral e formas de assistência próprias dum Estado moderno. Por isso deseja
dar o seu contributo para a construção da sociedade e da vida civil e
espiritual na vossa formosa terra da Roménia.
Senhor
Presidente, ao formular votos de prosperidade e paz para a Roménia, invoco
sobre a sua pessoa e família, sobre os presentes bem como sobre toda a
população do país a abundância das bênçãos divinas.
Deus abençoe a
Romênia!
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Francisco
encontra o
Sínodo permanente da Igreja Ortodoxa Romena
Confira na
íntegra o discurso do Papa Francisco por ocasião do encontro com o Sínodo
Permanente da Igreja Ortodoxa Romena
Encontro com o
Patriarca Daniel e o Sínodo Permanente da Igreja Ortodoxa
(Bucareste – Patriarcado Ortodoxo, 31 de maio de 2019)
(Bucareste – Patriarcado Ortodoxo, 31 de maio de 2019)
Beatitude,
venerados Metropolitas e Bispos do Santo Sínodo,
Cristos a înviat!
[Cristo ressuscitou!] A ressurreição do Senhor é o coração da proclamação
apostólica, transmitida e guardada pelas nossas Igrejas. No dia de Páscoa, os
Apóstolos ficaram cheios de alegria ao ver o Ressuscitado (cf. Jo 20,
20). Neste tempo de Páscoa, rejubilo também eu ao contemplar um reflexo disso
mesmo nos vossos rostos, queridos Irmãos. Há vinte anos, diante deste Sínodo,
disse o Papa João Paulo II: «Vim contemplar o Rosto de Cristo esculpido na
vossa Igreja; vim venerar este Rosto sofredor, penhor duma esperança renovada»
[Discurso ao Patriarca Teoctist e ao Santo Sínodo, 8/V/1999, n. 3: Insegnamenti
di Giovanni Paolo II XXII/1 (1999), 938]. Também eu, desejoso de ver o
rosto do Senhor no rosto dos irmãos, vim aqui, peregrino, para vos ver; de
coração, agradeço a vossa receção.
Os vínculos de
fé que nos unem, remontam aos Apóstolos, testemunhas do Ressuscitado, em
particular ao laço que unia Pedro e André, o qual – segundo a tradição – trouxe
a fé a estas terras. Irmãos de sangue (cf. Mc 1, 16), foram-no também
e de forma singular ao derramarem o seu sangue pelo Senhor. Lembram-nos que
existe uma fraternidade do sangue que nos antecede e que ao longo dos
séculos, como uma silenciosa corrente vivificante, nunca cessou de irrigar e
sustentar o nosso caminho.
Aqui – como em
tantos outros lugares, nos nossos dias – experimentastes a Páscoa de morte e
ressurreição: muitos filhos e filhas deste país, de várias Igrejas e
comunidades cristãs, sofreram a sexta-feira da perseguição, atravessaram o
sábado do silêncio, viveram o domingo do renascimento. Quantos mártires e
confessores da fé! Em tempos recentes, muitos de diferentes Confissões
encontraram-se lado a lado nas prisões, sustentando-se mutuamente. O seu
exemplo está hoje diante de nós e das novas gerações que não conheceram aquelas
condições dramáticas. Aquilo por que sofreram, até dar a vida, é uma herança
demasiado preciosa para ser esquecida ou aviltada. E é uma herança comum,
que nos chama a não nos distanciarmos do irmão que a partilha. Unidos a Cristo
no sofrimento e na aflição, unidos por Cristo na Ressurreição, para que «também
nós caminhemos numa vida nova» (Rm 6, 4).
Beatitude, Irmão
querido, há vinte anos o encontro entre os nossos Predecessores foi um dom
pascal, um acontecimento que contribuiu não só para o reflorescimento das
relações entre ortodoxos e católicos na Roménia, mas também para o diálogo
entre católicos e ortodoxos em geral. Aquela viagem – a primeira que um bispo
de Roma dedicava a um país de maioria ortodoxa – abriu o caminho para outros
eventos semelhantes. O meu pensamento dirige-se para o Patriarca Teoctist, de
grata memória. Como não recordar o grito «unitate, unitate!» que se levantou,
espontâneo, aqui em Bucareste naqueles dias? Foi um anúncio de esperança
nascido do Povo de Deus, uma profecia que inaugurou um tempo novo: o tempo
de caminhar juntos na redescoberta e avivamento da fraternidade que já nos
une.
Caminhar juntos
com a força da memória. Não a memória dos agravos sofridos e infligidos, dos
juízos e preconceitos, que nos fecham num círculo vicioso e levam a atitudes
estéreis, mas a memória das raízes: os primeiros séculos em que o
Evangelho, anunciado com audácia e espírito de profecia, encontrou e iluminou
novos povos e culturas; os primeiros séculos dos mártires, dos Santos Padres e
dos confessores da fé, da santidade diariamente vivida e testemunhada por
tantas pessoas simples que partilham o mesmo Céu. Graças a Deus, as nossas
raízes apresentam-se sãs e firmes e, embora o crescimento tenha conhecido as
distorções e os transes do tempo, somos chamados – como o salmista – a
conservar grata recordação de tudo aquilo que operou em nós o Senhor, a
elevar-Lhe um hino de louvor de uns pelos outros (cf. Sal 77,
6.12-13). A lembrança dos passos que demos juntos encoraja-nos a continuar rumo
ao futuro com a consciência – certamente – das diferenças, mas sobretudo na
ação de graças dum ambiente familiar que deve ser redescoberto, na memória
de comunhão que se deve reavivar, que como lâmpada projete luz sobre os
passos do nosso caminho.
Caminhar juntos
na escuta do Senhor. Serve-nos de exemplo aquilo que o Senhor fez no dia de
Páscoa, ao caminhar com os discípulos pela estrada de Emaús. Estes falavam de
tudo o que sucedera, das suas preocupações, dúvidas e questões. O Senhor
escutou-os pacientemente e conversou francamente com eles, ajudando-os a
entender e discernir os acontecimentos (cf.Lc 24, 15-27).
Também nós
precisamos de escutar juntos o Senhor, sobretudo nestes últimos tempos em que
as estradas do mundo levaram a rápidas mudanças sociais e culturais. Muitos
beneficiaram do desenvolvimento tecnológico e do bem-estar económico, mas a
maioria permaneceu inexoravelmente excluída, ao mesmo tempo que uma
globalização niveladora contribuiu para erradicar os valores dos povos,
enfraquecendo a ética e a convivência, inquinada nos últimos anos por uma
difusa sensação de medo, muitas vezes pilotado, que leva a atitudes de
fechamento e ódio. Precisamos de nos ajudar a não ceder às seduções duma
«cultura do ódio» e do individualismo que, embora talvez já não seja ideológica
como nos tempos da perseguição ateia, todavia é mais persuasiva e igualmente
materialista. Muitas vezes apresenta como caminho de desenvolvimento aquilo que
aparece imediato e resolutivo, mas na realidade é indiferente e superficial. A
fragilidade dos laços, que acaba por isolar as pessoas, repercute-se
particularmente na célula fundamental da sociedade, a família, e pede-nos o
esforço de sair ao encontro das fadigas dos nossos irmãos e irmãs,
especialmente os mais jovens, não desanimados e nostálgicos como os discípulos
de Emaús, mas com o desejo de comunicar Jesus Ressuscitado, coração da
esperança. Precisamos de voltar a escutar, juntamente com o irmão, as palavras
do Senhor, para que o coração se inflame conjuntamente e não enfraqueça o
anúncio (cf. Lc 24, 32.35).
O caminho
alcança a meta, como em Emaús, através da súplica insistente ao Senhor para que
fique connosco (cf. Lc 24, 28-29). Revelando-Se ao partir o pão (cf. Lc 24,
30-31), Ele chama-nos à caridade: a servir juntos, a «dar Deus» antes de «dizer
Deus»; a não nos mostrarmos passivos no bem, mas prontos a levantar-nos e
partir, ativos e colaboradores (cf. Lc 24, 33). Neste sentido,
dão-nos exemplo as várias comunidades ortodoxas romenas, que colaboram de forma
excelente com as numerosas dioceses católicas da Europa ocidental, onde estão
presentes. Em muitos casos, desenvolveu-se uma relação de mútua confiança e
amizade, alimentada por gestos concretos de hospitalidade, apoio e
solidariedade. Deste modo, frequentando-se mutuamente, muitos católicos e
ortodoxos romenos descobriram que não são estranhos, mas irmãos e amigos.
Caminhar juntos
para um novo Pentecostes. O trajeto que nos espera estende-se da Páscoa ao
Pentecostes: daquela aurora pascal da unidade, surgida aqui há vinte anos,
encaminhamo-nos para um novo Pentecostes. Para os discípulos, a Páscoa marcou o
início dum novo caminho, do qual, porém, não tinham desaparecido temores e
incertezas. Foi assim até ao Pentecostes quando – reunidos à volta da Santa Mãe
de Deus – os Apóstolos, num só Espírito e numa pluralidade e riqueza de
línguas, testemunharam o Ressuscitado com a palavra e a vida. O nosso caminho
partiu da certeza de ter ao lado o irmão que partilha a fé fundada na
ressurreição do mesmo Senhor. Da Páscoa ao Pentecostes: tempo de nos
recolhermos em oração sob a proteção da Santa Mãe de Deus, tempo de invocar o
Espírito uns para os outros. Que nos renove o Espírito Santo, que desdenha a
uniformidade e gosta de plasmar a unidade na mais bela e harmoniosa
diversidade. O seu fogo consuma as nossas desconfianças; o seu vento varra as
reticências que nos impedem de testemunhar juntos a vida nova que nos dá. Que
Ele, artífice de fraternidade, nos dê a graça de caminhar juntos. Ele, criador
da novidade, nos faça corajosos em experimentar caminhos inéditos de partilha e
missão. Que Ele, força dos mártires, nos ajude a não tornar infecundo o seu
sacrifício.
Amados Irmãos,
caminhemos juntos para louvor da Santíssima Trindade e para benefício mútuo, a
fim de ajudar os nossos irmãos a verem Jesus. Renovo-vos a minha gratidão e
asseguro-vos o afeto, a amizade e a oração meus e da Igreja Católica.
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Papa aos
Ortodoxos:
Não ceder à cultura do ódio e do individualismo
“Os passos que
demos juntos encoraja-nos a continuar rumo ao futuro com a consciência das
diferenças”, são palavras do Papa Francisco no encontro com o Sínodo Permanente
da Igreja Ortodoxa Romena.
Cidade do
Vaticano - O segundo compromisso oficial do Papa Francisco na Romênia, foi no
Palácio do Patriarcado Ortodoxo de Bucareste.
Na ocasião o
Papa foi acolhido pelo Patriarca Daniel com o qual teve um encontro privado e
em seguida dirigiu-se à Sala “Conventus” para o encontro com os membros do
Sínodo Permanente da Igreja Ortodoxa Romena.
Após a saudação
de boas-vindas de Sua Beatitude Daniel o Papa falou aos presentes iniciando com
a saudação “Cristos a înviat! Cristo ressuscitou!” afirmando que “a
ressurreição do Senhor é o coração da proclamação apostólica, transmitida e
guardada pelas nossas Igrejas”. E recordou as palavras de João Paulo II 20 anos
atrás ao mesmo Sínodo que dizia "vim contemplar o Rosto de Cristo
esculpido nesta Igreja; vim venerar este Rosto sofredor, penhor duma esperança
renovada", e Francisco afirmou: “Também eu, desejoso de ver o rosto do
Senhor no rosto dos irmãos, vim aqui, peregrino, para ver todos vocês; de
coração, agradeço a recepção”.
Fraternidade do
sangue
O Papa recordou
que “os vínculos de fé que nos unem, remontam aos Apóstolos (…) lembram-nos que
existe uma fraternidade do sangue que nos antecede e que ao longo dos
séculos, como uma silenciosa corrente vivificante, nunca cessou de irrigar e
sustentar o nosso caminho”.
“Filhos e
filhas deste país, de várias Igrejas e comunidades cristãs, que sofreram a
sexta-feira da perseguição, atravessaram o sábado do silêncio, viveram o
domingo do renascimento”
exclamando:
“Quantos mártires e confessores da fé!”. O Papa disse também que os sofrimentos
e martírios sofridos por todos “é uma herança demasiado preciosa para ser
esquecida ou aviltada. E é uma herança comum, que nos chama a não nos
distanciarmos do irmão que a partilha”.
João Paulo II e
a aurora pascal do diálogo
A visita de João
Paulo II vinte anos atrás “foi um dom pascal um acontecimento que contribuiu
não só para o reflorescimento das relações entre ortodoxos e católicos na
Romênia, mas também para o diálogo entre católicos e ortodoxos em geral”. E
afirmou que aquela viagem “abriu o caminho para outros eventos semelhantes”.
Na visita de
vinte anos atrás ficou marcado o grito do povo “unitate unitate! que se
levantou, espontâneo”, para Francisco
“Foi um anúncio
de esperança nascido do Povo de Deus, uma profecia que inaugurou um tempo novo:
o tempo de caminhar juntos na redescoberta e avivamento da fraternidade que já
nos une”
Como caminhar
juntos
E como caminhar
juntos? O Papa sugeriu três modos para caminhar juntos:
Com a força
da memória: “Não a memória dos agravos sofridos e infligidos (…), mas a
memória das raízes: os primeiros séculos em que o Evangelho, anunciado com
audácia e espírito de profecia, encontrou e iluminou novos povos e culturas”. A
este propósito o Papa recordou
“Os passos que
demos juntos encoraja-nos a continuar rumo ao futuro com a consciência das
diferenças, mas sobretudo na ação de graças de um ambiente familiar que deve
ser redescoberto, na memória de comunhão que se deve reavivar”
Caminhar juntos
na escuta do Senhor
Como os
Apóstolos, disse o Papa “também nós precisamos de escutar juntos o Senhor”
sobretudo nos dias de hoje com as rápidas mudanças sociais e culturais. Neste
ponto o Papa alerta que embora “muitos se beneficiaram do desenvolvimento
tecnológico e o bem-estar econômico”, a “maioria permaneceu inexoravelmente
excluída” e que este fato contribuiu para erradicar os valores dos povos,
enfraquecendo a convivência e levando a “atitudes de fechamento e ódio”.
“Precisamos nos
ajudar a não ceder às seduções de uma ‘cultura do ódio’ e do individualismo”
E como encontrar
o caminho? Francisco recorda “O caminho alcança a meta, como em Emaús, através
da súplica insistente ao Senhor para que fique conosco”, chama-nos à caridade:
a servir juntos, a ‘dar Deus’ antes de ‘dizer Deus’; a não nos mostrarmos
passivos no bem, mas prontos a levantar-nos e partir, ativos e colaboradores.
Caminhar juntos
para um novo Pentecostes
“O trajeto que
nos espera – afirma o Papa - estende-se da Páscoa ao Pentecostes: daquela
aurora pascal da unidade, surgida aqui há vinte anos, encaminhamo-nos para um
novo Pentecostes”, recordando o Papa João Paulo II. O Papa completa seu
pensamento: "O nosso caminho partiu da certeza de ter ao lado o irmão que
partilha a fé fundada na ressurreição do mesmo Senhor.
Concluindo o
Santo Padre saúda os irmãos ortodoxos renovando sua gratidão e assegurando seu
afeto, amizade e a sua oração e a da Igreja Católica.
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Papa na Romênia:
Oração do Pai Nosso
Texto na íntegra
do discurso do Papa Francisco por ocasião da oração do Pai Nosso na Nova
Catedral Ortodoxa de Bucareste
ORAÇÃO DO
PAI-NOSSO
Nova Catedral
Ortodoxa, Bucareste
Beatitude, irmão
querido; amados irmãos e irmãs!
Quero expressar
a gratidão e emoção que sinto por me encontrar neste templo sagrado, que nos
congrega em unidade. Jesus convidou os irmãos André e Pedro a deixar as redes,
para se tornarem, juntos, pescadores de homens (cf. Mc 1, 16-17). A
vocação pessoal não está completa sem a do irmão. Hoje queremos elevar um ao
lado do outro, do coração do país, a oração do Pai-Nosso. Nela se encerra
a nossa identidade de filhos e hoje, de modo particular, a de irmãos que rezam
um ao lado do outro. A oração do Pai-Nosso contém a certeza da promessa feita
por Jesus aos seus discípulos: «Não vos deixarei órfãos» (Jo 14, 18) e
dá-nos a confiança para receber e acolher o dom do irmão. Por isso, gostaria de
partilhar algumas palavras introdutórias à oração, que rezarei pelo nosso
caminho de fraternidade e pela Roménia para que possa ser sempre casa de todos,
terra de encontro, jardim onde florescem a reconciliação e a comunhão.
Sempre que
dizemos «Pai-Nosso», reafirmamos que a palavra Pai não pode subsistir
sem dizer nosso. Unidos na oração de Jesus, unimo-nos também na sua experiência
de amor e intercessão, que nos leva a dizer: Pai meu e Pai vosso, Deus meu e
Deus vosso (cf. Jo 20, 17). É convite para que o «meu» se transforme
em nosso, e o nosso se faça oração. Ajudai-nos, Pai, a levar a
sério a vida do nosso irmão, a assumir a sua história. Ajudai-nos a não julgar
o irmão pelas suas ações e os seus limites, mas aceitá-lo antes de mais nada
como vosso filho. Ajudai-nos a vencer a tentação de nos sentirmos o filho mais
velho, que, à força de estar no centro, esquece o dom do outro (cf. Lc 15,
25-32).
A Vós, que
estais nos céus – os céus que abraçam a todos e onde fazeis nascer o sol
para os bons e os maus, para os justos e os injustos (cf. Mt 5, 45)
–, pedimos a concórdia que não soubemos guardar na terra. Pedimo-la pela
intercessão de tantos irmãos e irmãs na fé que moram juntos no vosso céu,
depois de ter acreditado, amado e sofrido muito – mesmo em nossos dias – pelo
simples facto de serem cristãos.
Como eles,
também nós queremos santificar o vosso nome, colocando-o no centro de
todos os nossos interesses. Que seja o vosso nome, Senhor, – e não o nosso – a
mover-nos e despertar-nos para o exercício da caridade. Ao rezar, quantas vezes
nos limitamos a pedir dons e enumerar pedidos, esquecendo que a primeira coisa
a fazer é louvar o vosso nome, adorar a vossa pessoa, para depois reconhecer, na
pessoa do irmão que colocastes junto de nós, o vosso reflexo vivo. No meio de
tantas coisas que passam e pelas quais nos afadigamos, ajudai-nos, Pai, a
procurar aquilo que permanece: a presença vossa e a do irmão.
Estamos à espera
que venha o vosso reino: pedimo-lo e desejamo-lo porque vemos que as
dinâmicas do mundo não o favorecem. Dinâmicas guiadas pelas lógicas do
dinheiro, dos interesses, do poder. Enquanto nos encontramos mergulhados num
consumismo cada vez mais desenfreado, que cega com fulgores cintilantes mas
efémeros, ajudai-nos, Pai, a crer naquilo que rezamos: renunciar às seguranças
cómodas do poder, às seduções enganadoras da mundanidade, à vazia presunção de
nos crermos autossuficientes, à hipocrisia de cuidar das aparências. Assim, não
perderemos de vista aquele Reino a que Vós nos chamais.
Seja feita a
vossa vontade, não nossa. E a vontade de Deus é que todos se salvem (cf. 1
Tim 2, 4). Precisamos, Pai, de alargar os horizontes, a fim de não
restringir dentro dos nossos limites a vossa misericordiosa vontade salvífica,
que quer abraçar a todos. Ajudai-nos, Pai, enviando-nos – como no Pentecostes –
o Espírito Santo, autor da coragem e da alegria, para que nos incite a anunciar
a boa nova do Evangelho para além das fronteiras das nossas afiliações,
línguas, culturas, nações.
Diariamente
temos necessidade d’Ele, pão nosso de cada dia. Ele é o pão da vida (cf. Jo 6,
35.48), que nos faz sentir filhos amados e sacia toda a nossa solidão e
orfandade. Ele é o pão do serviço: repartindo-Se aos pedaços para Se fazer
nosso servo, pede-nos para servirmos uns aos outros (cf. Jo 13, 14).
Pai, ao mesmo tempo que nos dais o pão de cada dia, alimentai em nós a
nostalgia do irmão, a necessidade de o servir. Ao pedir o pão de cada dia,
suplicamo-Vos também o pão da memória, a graça de reforçar as raízes
comuns da nossa identidade cristã, raízes indispensáveis num tempo em que a
humanidade, particularmente as gerações jovens, correm o risco de se sentirem
desenraizadas no meio de tantas situações líquidas, incapazes de fundamentar a
existência. O pão que pedimos, com a sua longa história que vai do grão semeado
à espiga, da ceifa à mesa, inspire em nós o desejo de ser cultivadores de
comunhãopacientes, que não se cansam de fazer germinar sementes de unidade,
fermentar o bem, atuar sempre lado a lado com o irmão: sem suspeitas nem
distanciamentos, sem forçar nem nivelar, na convivência das diferenças
reconciliadas.
O pão que hoje
pedimos é também aquele de que muitos carecem todos os dias, enquanto poucos o
têm de sobra. O Pai-Nosso não é oração que nos acomoda, é grito perante ascarestias
de amor do nosso tempo, perante o individualismo e a indiferença que
profanam o vosso nome, Pai. Ajudai-nos a ter fome de nos doarmos. Sempre que
rezarmos, lembrai-nos que, para viver, não precisamos de nos poupar, mas de nos
repartir em pedaços; de partilhar, não de acumular; de matar a fome aos outros
mais do que encher-nos a nós mesmos, porque o bem-estar só é digno deste nome
quando pertence a todos.
Cada vez que
rezamos, pedimos para nos serem perdoadas as nossas ofensas. É preciso
coragem para isso, já que simultaneamente nos comprometemos a perdoar a
quem nos tem ofendido. Temos, pois, de encontrar a força para perdoar do íntimo
do coração ao irmão (cf.Mt 18, 35), como Vós – Pai – perdoais os nossos
pecados: deixar para trás o passado e abraçar, juntos, o presente. Ajudai-nos,
Pai, a não ceder ao medo, nem ver um perigo na abertura; a ter a força de nos
perdoarmos e prosseguir, a coragem de não nos contentarmos com a vida tranquila,
mas de procurar sempre, com transparência e sinceridade, o rosto do irmão.
E quando o
mal, deitado à porta do coração (cf. Gn 4, 7), nos induzir a
fechar-nos em nós mesmos; quando a tentação de nos isolarmos se fizer
mais forte, ocultando a substância do pecado, que é distância de Vós e do nosso
próximo, ajudai-nos de novo, Pai. Encorajai-nos a encontrar, no irmão, aquele
apoio que colocastes ao nosso lado a fim de caminharmos para Vós e, juntos,
termos a ousadia de dizer: «Pai-Nosso». Amen.
E agora rezemos
a oração que o Senhor nos ensinou...
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60 segundos do
primeiro dia do Papa na Romênia
Da chegada em
Bucareste à Celebração Eucarística na Catedral de São José.
Fonte: vaticannews.va
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