O poder radiante
da cruz
Durante o tempo
quaresmal e, especialmente, na Semana Santa, o povo cristão volta-se para a
cruz de Cristo com especial devoção e veneração. É perceptível como é forte a
sensibilização das pessoas com o sofrimento do Senhor. A sexta-feira da paixão
conta sempre com a presença e participação maciça de fiéis. Na verdade, os
cristãos reconhecem Jesus como homem das dores, pois sua vida, como nos relatam
os evangelhos, foi toda orientada para a cruz. Ele disse: “Se alguém quer vir
após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8, 34b).
Dom João Justino de Medeiros Silva |
Os
evangelhos não escondem como Jesus sentiu a proximidade amarga da morte. Os
três dias da paixão, morte e ressurreição de Jesus são narrados com riqueza de
detalhes pelos evangelistas. Esses três dias ocupam, proporcionalmente, a maior
parte de cada evangelho. O julgamento, a flagelação, a coroação de espinhos, o
caminho do calvário e, finalmente, a crucifixão revelam, em Jesus Cristo, o
amor de Deus. Na dor humana revela-se o coração amoroso do Deus Trino que, em
Jesus, despojou-se e assumiu o fato mais doloroso da vida: a morte. A cruz
justifica a audácia de pronunciar a palavra, para muitos escandalosa: por amor
e comunhão radical com o ser humano, Deus sofre!
A cruz é o lugar
em que Deus fala no silêncio. Na solidão da morte, Jesus alcança cada ser
humano, que pela morte haverá de passar. De sua cruz brota a ressurreição. Por
isso, a Igreja reza: “O universo inteiro, salvo pela Paixão de vosso Filho,
pode proclamar a vossa misericórdia. Pelo poder radiante da Cruz, vimos com
clareza o julgamento do mundo e a vitória de Jesus crucificado” (Missal Romano,
Prefácio da Paixão do Senhor, I).
O cristão é
discípulo do Crucificado-Ressuscitado. A cruz é para ele escola de despojamento
e esvaziamento. Ele aprende na cruz que nenhum ato de violência é justificável
e que nenhuma morte, de quem quer que seja, pode ser comemorada. Contemplando a
cruz de Jesus, o cristão compreende sua vocação. Ele, como o Senhor, há de dedicar-se
pela causa do Reino para fazer dos calvários da terra lugares de ressurreição,
de justiça e de vida plena. Traçando a cruz do Senhor sobre si mesmo o cristão
vive sob a sombra dos braços abertos de Cristo, sinal eloquente do amor de Deus
que nos banhou com o sangue de Jesus e fez de nós novas criaturas (cf. 2Cor
5,17).
Dom João Justino de
Medeiros Silva - Arcebispo de Montes Claros
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Fonte: cnbb.org.br
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