Com a Sua Páscoa,
Jesus restitui dignidade e esperança à humanidade
Na tarde desta
Sexta-feira Santa, o Papa Francisco presidiu à celebração da Paixão do Senhor,
com a Liturgia da Palavra, a Adoração da Cruz e a Sagrada Comunhão. Após a
Liturgia da Palavra, o Frei Raniero Cantalamessa fez a pregação.
Cidade do Vaticano - Sexta-feira
Santa! Neste dia, que os antigos também chamavam de “Sexta-feira Maior”, a
Igreja celebra a Paixão e Morte de Jesus. Silêncio, jejum, abstinência de carne
e oração marcam este dia.
Na Sexta-feira
Santa e no Sábado Santo, segundo a tradição, a Igreja não celebra a Eucaristia.
O altar está totalmente despido: sem cruz, sem candelabros, sem toalhas.
Na tarde desta
Sexta-feira Santa, o Papa Francisco presidiu na Basílica Vaticana à celebração
da Paixão do Senhor, com a Liturgia da Palavra, a Adoração da Cruz e a Sagrada
Comunhão.
O Crucificado é
o protótipo de todos os descartados
Profunda reverência do Papa ao Salvador da humanidade |
Após a Liturgia
da Palavra, o Frei Raniero Cantalamessa, Capuchinho e Pregador da Casa
Pontifícia, fez a pregação partindo das palavras do Profeta Isaías: “Jesus foi
desprezado e rejeitado pelos homens”.
Com estas
palavras proféticas, disse o Pregador, a história deu um nome e um rosto a este
misterioso homem das dores, desprezado e rejeitado pelos homens: Jesus de Nazaré.
Por isso, Frei
Cantalamessa contemplou o Crucificado como protótipo e representante de todos
os rejeitados, deserdados e "descartados" da terra.
Jesus era como
um sem-teto
Durante toda a
sua vida, Jesus foi um desses homens, desde o início, nascendo em uma
estrebaria, uma autêntica demonstração de pobreza. E, durante a sua vida
pública, ele nem tinha lugar para descansar a cabeça: era como um sem-teto.
Enfim, a sua Paixão.
Muitos fiéis participam da Ação Litúrgica |
"Eis o
homem!”, exclama Pilatos, ao apresentá-lo ao povo depois de ser açoitado pelos
algozes. Cristo representa as intermináveis fileiras de homens e mulheres
humilhados, reduzidos a objeto, privados de toda dignidade humana.
Mas, o
significado mais profundo da Paixão e Morte de Cristo, não é o social, mas o
espiritual. A sua morte redimiu o mundo do pecado, ponto alto da demonstração
do amor do Pai.
Assim, o Filho
de Deus tornou-se um dos pobres e rejeitados, abraçando a causa deles: "O
que fizeste aos famintos, aos nus, aos prisioneiros, aos exilados, a mim o
fizeste".
Jesus restitui
dignidade e esperança
Mas, o Evangelho
vai mais além, dizendo que o Crucificado ressuscitou! Desta forma, Jesus não só
restituiu a dignidade aos desfavorecidos do mundo, mas lhes deu a esperança!
Oração contrita |
Nos primeiros
três séculos da Igreja, explicou o Capuchinho, a celebração da Páscoa não era
dividida como agora: Sexta-feira Santa, Sábado Santo e Domingo de Páscoa. Tudo
se concentrava em um só dia: na Vigília Pascal, durante a qual se celebrava a
morte e a ressurreição de Jesus, ou seja, não se comemorava a morte e a
ressurreição como fatos distintos e separados; pelo contrário, comemorava-se a
passagem de Cristo da morte para a vida.
Por isso, a
palavra “Páscoa" (pesach) significa passagem da morte para a vida;
passagem do povo judeu da escravidão para a liberdade; passagem de Cristo deste
mundo para o Pai; passagem do pecado para a graça.
A Páscoa é a
festa dos excluídos
Logo, Páscoa é a
festa da reviravolta desejada por Deus e realizada por Cristo para a
humanidade. É a festa dos pobres, excluídos e escravos na nossa sociedade!
Pastor e rebanho em oaração |
Mas, a Cruz,
concluiu o Frei Cantalamessa, também traz uma mensagem para a outra classe da
sociedade: os poderosos, os fortes, os "vencedores". Trata-se de uma
mensagem de amor
e salvação, não de ódio ou vingança, porque, afinal, eles também terão o mesmo
destino de todos: fracos e poderosos, indefesos e tiranos, todos estão sujeitos
à mesma lei e aos mesmos limites humanos: a morte!
A Igreja recebeu
a seguinte missão do seu fundador, Jesus Cristo: estar ao lado dos pobres e dos
fracos; ser voz dos que não têm voz.
Ao término da
sua homilia, o Pregador da Casa Pontifícia retomou, novamente, as palavras da
profecia de Isaías, dizendo: com o anúncio da Ressurreição, a Liturgia dá ao
“desprezado e rejeitado pelos homens”, um nome e um rosto: o homem triunfante,
Jesus Cristo, nosso Salvador.
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Momentos:
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Via-Sacra no
Coliseu:
Papa reza por todas as cruzes do mundo
Nesta
Sexta-feira Santa, o Papa Francisco presidiu a Via-Sacra diante do Coliseu de
Roma. Depois da meditação sobre as vítimas do tráfico de seres humanos durante
as XIV estações, o Pontífice fez uma oração lembrando todas as “cruzes do
mundo”: da cruz das pessoas que têm fome de pão e amor à cruz da Igreja, “a Tua
esposa, que se sente continuamente atacada por dentro e por fora”.
Cidade do Vaticano - O Coliseu de
Roma mais uma vez acolheu o Papa Francisco e milhares de fiéis nesta
Sexta-feira Santa para as meditações das XIV estações da Via-Sacra. Ao término
da cerimônia e antes da Bênção Apostólica, o Pontífice fez uma oração,
lembrando todas as “cruzes do mundo”:
“Senhor Jesus,
ajuda-nos a ver na Tua Cruz todas as cruzes do mundo:
a cruz das
pessoas que têm fome de pão e amor;
a cruz das
pessoas sozinhas e abandonadas até mesmo por seus próprios filhos e parentes;
a cruz das
pessoas sedentas de justiça e paz;
a cruz das
pessoas que não têm o conforto da fé;
a cruz dos
idosos que se arrastam sob o peso dos anos e da solidão;
a cruz dos
migrantes que encontram as portas fechadas por causa do medo e dos corações
blindados por cálculos políticos;
a cruz dos
pequenos, feridos na sua inocência e na sua pureza;
a cruz da
humanidade que vaga na escuridão da incerteza e na escuridão da cultura do
momentâneo;
a cruz das
famílias despedaçadas pela traição, pelas seduções do mal ou pela homicida
superficialidade e pelo egoísmo;
a cruz dos
consagrados que procuram incansavelmente levar a Tua luz ao mundo e se sentem
rejeitados, zombados e humilhados;
a cruz dos
consagrados que, no caminho, esqueceram o seu primeiro amor;
a cruz dos teus
filhos que, acreditando em Ti e procurando viver de acordo com Tua palavra, se
encontram marginalizados e descartados até mesmo por suas famílias e coetâneos;
a cruz das
nossas fraquezas, das nossas hipocrisias, das nossas traições, dos nossos
pecados e das nossas muitas promessas quebradas;
a cruz da Tua
Igreja que, fiel ao Teu Evangelho, fadiga a levar o Teu amor até mesmo entre os
próprios batizados;
a cruz da
Igreja, a Tua esposa, que se sente continuamente atacada por dentro e por fora;
a cruz da nossa
casa comum que murcha seriamente diante dos nossos olhos egoístas e cegos pela
ganância e pelo poder.
Senhor Jesus,
reaviva em nós a esperança da ressurreição e da Tua vitória definitiva contra
todo o mal e toda a morte. Amém!”
A oração pelas
vítimas do tráfico de seres humanos
As meditações da
Via-Sacra deste ano foram confiadas à Ir. Eugenia Bonetti, missionária da
Consolata. Durante as 14 estações foram lembradas as vítimas do tráfico de
seres humanos, os menores explorados, as mulheres obrigadas à prostituição e os
migrantes como os novos crucificados que devem ser despertados na consciência
de todos.
"Com Cristo
e com as mulheres no caminho da cruz", a religiosa, presidente da
Associação “Slaves no more”, quis idealmente percorrer “junto a todos os
pobres, aos excluídos da sociedade e aos novos crucificados da história de
hoje, vítimas dos nossos fechamentos, dos poderes e das legislações, da
cegueira e do egoísmo, mas sobretudo do nosso coração endurecido pela
indiferença”.
Quem tem responsabilidade,
escute o grito dos pobres
Na primeira
estação, a figura de Pilatos inspirou a oração “para aqueles que ocupam papeis
de responsabilidade para que escutem o grito dos pobres” e “de todas aquelas
jovens vidas que, em maneiras diferentes, estão condenadas à morte pela
indiferença gerada por políticas exclusivas e egoístas”. Em Jesus pregado na
cruz há, ao contrário, o convite em reconhecer “os novos crucificados de hoje:
os sem-teto, os jovens sem esperança, sem trabalho e sem perspectivas, os imigrantes
obrigados a viver em barracas às margens da nossa sociedade, depois de terem
enfrentado sofrimentos inimagináveis”.
Mas o pensamento
vai também às crianças “discriminadas por causa da sua proveniência, da cor da
pele e classe social”. Diante de tudo isso, o exemplo pra seguir é aquele de
Cristo, que falava de serviço, perdão, renúncia e sofrimento, manifestando com
a sua vida “o amor verdadeiro e desinteressado ao próximo”.
Não sabemos mais
reconhecer quem tem necessidades
Nas etapas de
Jesus em direção ao Calvário, Ir. Eugenia Bonetti reconhece vários episódios
dos quais foi testemunha: no encontro com Maria vislumbra “as muitas mães que
deixaram partir suas jovens filhas para a Europa na esperança de ajudar as suas
famílias em pobreza extrema, enquanto encontraram humilhações, desprezo e, às
vezes, inclusive a morte”; em Jesus que cai pela primeira vez, fragilidade e
fraqueza humana são indicações para recordar os samaritanos de hoje que se
inclinam “com amor e compaixão sobre tantas feridas físicas e morais de quem,
toda noite, vive o medo do escuro, da solidão e da indiferença”.
“Infelizmente,
muitas vezes hoje não sabemos mais reconhecer quem tem necessidades, ver quem
está ferido e humilhado”, escreve a religiosa da Consolata. “Frequentemente reivindicamos
os nossos direitos e interesses, mas esquecemos aqueles dos pobres e dos
últimos da fila”. É então que devemos pedir a Deus de nos ajudar a amar e a não
sermos insensíveis ao choro, aos sofrimentos e ao grito de dor dos outros.
Os menores, os migrantes
e as vítimas do tráfico
E como não ver
na Via-Sacra as tantas “crianças, em várias partes do mundo que não podem vir à
escola”, “exploradas nas mineiras, nos campos, na pesca, vendidas e compradas
por traficantes de carne humana para transplantes de órgãos, além de usadas e
exploradas... por muitos cristãos inclusive”. São os menores “privados do
direito a uma infância feliz”, “criaturas usadas como mercadorias de pouco
valor, vendidas e compradas por prazer”.
Mas, no centro
das meditações de Ir. Eugenia Bonetti, que há anos luta contra o tráfico de
seres humanos, estão os migrantes e as vítimas do tráfico. O pedido para
“aumentar a consciência que todos somos responsáveis pelo problema” e que
“todos podemos e devemos fazer parte da solução” se lê na oitava estação,
“Jesus encontra as mulheres”. E sobretudo as mulheres “é solicitado o desafio
da coragem”, “de saber ver e agir”, de considerar “o pobre, o estrangeiro, o
diverso não como um inimigo pra rejeitar ou combater, mas, sobretudo, como um
irmão ou uma irmã para acolher e ajudar”.
A humilhação de
Cristo, aquela das mulheres vítimas da cultura do usa e joga fora
Na nona estação,
quando Jesus cai pela terceira vez, “humilhado sobre o peso da cruz”, estão as
“tantas mulheres, obrigadas a estarem nas ruas pelos grupos de traficantes de
escravos, que não suportam a fadiga e a humilhação de ver o próprio corpo jovem
ser manipulado, abusado, destruído, junto aos seus sonhos”. São o fruto da
cultura do usa e joga fora.
Dinheiro, bem
estar e poder dos ídolos
A imagem do
corpo despojado de Cristo, comparável àquele dos menores, objeto de
compra-e-venda, deixa refletir sobre ídolos de todos os tempos: dinheiro, bem
estar e poder. Aparece menos “a centralidade do ser humano, a sua dignidade,
beleza e força”. Mas há quem ainda desafia a própria vida para salvar outras,
sobretudo no Mediterrâneo, onde em muitos ajudaram “famílias em busca de
segurança e de oportunidades”, “seres humanos em fuga da pobreza, da ditadura,
corrupção e escravidão”; todas pessoas que precisam redescobrir a beleza e a
riqueza, “dom único” de Deus “para colocar a serviço da sociedade inteira e não
para alcançar interesses pessoais”.
No túmulo de
Cristo, morte e ressurreição como ensinamentos de vida
A última
estação, que conduz ao túmulo de Jesus, faz pensar aos “novos cemitérios de
hoje”: o deserto e os mares, onde hoje encontram moradia eterna “homens,
mulheres, crianças que não pudemos ou não quisemos salvar”. “Enquanto os
governos discutem, fechados nos palácios do poder, o Saara se enche de
esqueletos de pessoas que não resistiram à fadiga, à fome, à sede” e o mar se
transformou num “túmulo de água”.
“O desejo é que
a morte de Cristo possa “doar aos líderes das Nações e aos responsáveis das
leis a consciência do seu papel em defesa de todas as pessoas”, criadas à
imagem e semelhança de Deus e que, a sua ressurreição, “seja farol de
esperança, de alegria, de vida nova, de fraternidade, de acolhimento e de
comunhão entre os povos, as religiões e as leis.”
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Fonte: vaticannews.va
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