diretrizes para formação de presbíteros
A Igreja no
Brasil contará em breve com novas Diretrizes para Formação de Presbíteros. Um
grupo formado por bispos e peritos esteve reunido na sede da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), nos dias 13 e 14 de novembro, para
conclusão do texto que será enviado aos bispos de todo o Brasil, afim de
receber contribuições. O próximo documento acolherá indicações do texto
divulgado pela Congregação para o Clero sobre formação de seminaristas, além do
magistério do papa Francisco.
Documento 93 da CNBB e texto sobre formação presbiteral, divulgado em 2016 pela Congregação para o Clero |
O arcebispo de
Porto Alegre (RS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os
Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, dom Jaime Spengler, é um dos
responsáveis pela elaboração do texto: “Estamos tentando levar em consideração
primeiro a Ratio Fundamentalis. Além disso, nos foi pedido que levasse em
consideração o magistério do papa Francisco”, explica.
Dom Jaime Spengler |
A Ratio
Fundamentalis Instituitionis Sacerdotalis é um documento elaborado pela
Congregação para o Clero do Vaticano que dá pistas para a formação de
seminaristas e do clero da Igreja. Publicado no dia 8 de dezembro de 2016,
atualiza as orientações de 1985 e explicita às Igrejas locais como realizar a
formação dos futuros presbíteros e a necessidade de formação permanente. O
texto destaca que o futuro padre deve ser acompanhado na totalidade das quatro
dimensões que interagem simultaneamente no processo formativo e na vida dos
ministros ordenados: humana, espiritual, intelectual e pastoral.
As atuais
Diretrizes para a Formação Presbiteral foram aprovadas na 48ª Assembleia Geral
da CNBB, em 2010, e já visavam enriquecer a formação espiritual, humana,
intelectual e pastoral dos futuros sacerdotes “com novos impulsos vitais,
consoantes com a índole peculiar de nosso tempo”.
“Sempre está presente esse desejo de construir
indicações para que os presbíteros possam ser essa presença no mundo de hoje,
capaz de promover a obra da evangelização em vista de uma Igreja em saída, indo
ao encontro das tantas periferias existenciais que marcam a nossa realidade.
Para isso, precisamos de homens vigorosos no Espírito”. – dom Jaime
Spengler
Quatro
características
Dom Jaime
Spengler ainda cita, a partir da Ratio Fundamentalis, quatro
características que precisam de destaque: “a formação deve ser única, integral,
comunitária e missionária”.
Pe. Vitor Galdino Feller e D. Jaime elaboram trechos do novo documento. Na mesma sala, também estava o padre Deusmar da Silva |
“Quando falamos de uma formação única devemos
recordar uma realidade muito presente em muitos de nossos seminários, ou seja,
as formações paralelas, que, sem dúvida não ajudam esses homens no caminho de
preparação em vista do ministério ordenado”, pontua o arcebispo. Sobre ser uma
formação integral, indica que o processo formativo deve levar em consideração
todos os aspectos que constituem a estrutura humana.
A característica
comunitária diz respeito à realidade de os presbíteros fazem parte de um corpo
maior, a comunidade dos presbíteros, também chamada de presbitério, da diocese
a qual o seminarista será incardinado. “Isso é muito importante também: na medida
em que você é integrado a um presbitério, não podemos esquecer que começa a
fazer parte de uma família presbiteral e é corresponsável pela vida dessa
família presbiteral. Nenhum padre é uma ilha no contexto de um presbitério. Ele
faz parte de um corpo maior e é corresponsável por este corpo”, chama atenção.
No sentido de
ser missionária, a formação deve suscitar nos futuros padres a disponibilidade,
a abertura para as necessidades da Igreja onde for solicitado. “Em outras
palavras, pronto para o que der e vier, com generosidade e alegria. Talvez
pudéssemos até resumir estas características dizendo de homens verdadeiramente
apaixonados pelo Evangelho do crucificado ressuscitado, homens entusiasmados
pela proposta do Reino e por isso capazes de se lançar generosamente no
trabalho apostólico”, afirma.
Coração do Bom
Pastor
Perguntado se há
uma indicação ou perfil esperado dos futuros padres do Brasil, o bispo auxiliar
de São Paulo (SP) dom José Roberto Fortes Palau afirmou que a CNBB procura
acolher as indicações da Igreja no âmbito mundial na formação brasileira.
Comissão realiza trabalhos em grupos. Da esquerda para a direita, D. José Roberto Palau, D. Pedro Brito Guimarães, Pe. José Carlos e D. Esmeraldo B. de Farias |
Dom José também
explicou que os futuros padres devem ter um “coração semelhante ao coração de
Cristo, o Coração do Bom Pastor, que sejam homens misericordiosos, que tenham
espírito de serviço, se dedicam com todo seu ser a serviço da evangelização,
tenham amor pelo povo, forme comunidades maduras e adultas na fé, que colabore
com a graça de Deus para o advento do reino”.
Outra
característica é que os padres sejam movidos unicamente pela caridade pastoral,
que para dom Roberto é o fio condutor de toda a espiritualidade presbiteral. “O
seminário tem essa missão de configurando o coração do jovem seminarista para
que tenha o coração semelhante ao de Cristo Bom Pastor”.
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“República não é algo pronto,
exige a participação e cuidado dos cidadãos em cada época”
Nesta
quarta-feira, 15 de novembro, celebra-se os 128 anos de proclamação da
República. O secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, concedeu
entrevista à equipe de assessoria de imprensa sobre o significado da data.
A República
Brasileira foi proclamada como resultado de um levante político-militar que deu
ao Brasil a forma republicana federativa presidencialista do governo no Brasil,
derrubando a monarquia constitucional parlamentarista do Império do Brasil e,
por causa disso, colocou um final no comando político do imperador D. Pedro II.
Confira
entrevista:
Assessoria de Imprensa: Celebra-se o dia
da Proclamação da República em meio a uma grave crise geral no Brasil. Na
opinião do senhor, em que pé está a prática republicana no Brasil?
Dom Leonardo: Nossa
compreensão sobre a República é tirada do mundo dos gregos antigos e tem
significado muito simples e acessível a qualquer pessoa que queira fazer uma
séria reflexão sobre a vida pública no Brasil: é republicano tudo o que
favorece o bem comum e não a interesses de grupos ou de pessoas. A palavra
republica diz: res-publica, a coisa pública, o que é da responsabilidade
de todos, o que está a serviço de todos. Percebemos que valores do público, do
comum como a ética, foram deixados de lado. Os antigos diziam que governar é a
maior de todas as artes. Maior porque está no cuidado de todos e de tudo e não
de grupos ou do mercado. Nesse sentido temos uma responsabilidade com a res-publica.
Percebemos como a crise é do descuidado para com a República.
Dom Leonardo Steiner |
Nesse sentido
podemos lembrar o Beato Paulo VI, que na Encíclica Populorum Progressio,
publicada há cinquenta anos, recordava o propósito inspirador de formas de
governo: “Trata-se de construir um mundo em que todos os homens, sem exceção de
raça, religião ou nacionalidade, possam viver uma vida plenamente humana, livre
de servidões que lhe vêm dos homens e de uma natureza mal domada; um mundo em
que a liberdade não seja uma palavra vã”. A prática republicana, se quisermos
nos expressar assim, necessita dessas características fundamentais para
permanentemente dinamizar e maturar a República. República não é algo pronto,
exige a participação e cuidado dos cidadãos em cada época. Teríamos, então a
República como como expressão viva das pessoas livres que são ouvidas, representadas
e respeitadas, isto é, democraticamente ativas.
Assessoria de Imprensa: Em comentários
de domínio público entre personagens da política que passaram por situações
suspeitas existe a presença da expressão de que a conversa entre eles foi
“republicana”. Para o senhor, o que é um diálogo republicano?
Dom Leonardo: É republicano um
diálogo que respeite, com rigor, os princípios da honestidade, da ética pública
e da fidelidade aos interesses da sociedade. Um diálogo profundamente marcado
pela integridade pessoal e pela disposição em buscar soluções para os problemas
postos na lida correta da política. Não é republicana nenhuma conversa que
trate de vantagens pessoais ou para grupos familiares ou partidários em relação
ao trato do dinheiro do contribuinte, ou seja, o que costumam chamar de recurso
público. Quando o diálogo republicano dá lugar aos acordos para garantir
interesses que não sejam aqueles defendidos pelo conjunto da população,
estabelece-se a corrupção seja ela econômica ou moral. Quando pessoas ou grupos
se permitem o direito de intervir em instâncias do poder público para retirar
delas qualquer tipo de vantagem está aberto o caminho da corrupção ativa e
passiva e ganha protagonismo corruptores e os corrompidos.
Assessoria de Imprensa: Papa Francisco
falou sobre corrupção a parlamentares italianos que se mobilizam contra a máfia
afirmando que ela tem uma natureza contagiosa e parasitária, porque não se
nutre do que de bom produz, mas do que subtrai e rouba. O que o senhor pensa
ser possível aplicar dessa palavra do Papa na situação vivida atualmente na
república brasileira?
Dom Leonardo: Papa Francisco
falava de uma circunstância bem precisa dentro do universo da república
italiana e não se pode, pura e simplesmente, aplicar a situações diferentes,
mas é claro que suas palavras têm um alcance maior por se tratar de um fenômeno
que, infelizmente, se encontra em muitos países do mundo.
Quando ele fala
da natureza contagiosa da corrupção, por exemplo, pode-se notar que é um fato
que se verifica na realidade brasileira. Na verdade, o sistema político
brasileiro está contaminado pela corrupção. E isso transcende o tempo
republicano para alcança os primórdios da nossa sociedade. Uma pena é que essa
contaminação atravessou os séculos e insiste em ir dominando governos,
legislaturas e tantas outras instâncias de poder retirando do povo brasileiro
seus recursos mais essenciais. A corrupção no Brasil, como diz o Papa, também
tem seu caráter parasitário porque se alimenta do que os corruptos roubam do
povo. Desse modo, a corrupção humilha o povo brasileiro que precisa de habitação,
alimentação, saúde, segurança e educação.
A corrupção
solapa tudo o que de possível poderia ser realizado com os recursos que saem do
bolso do povo, especialmente do povo mais pobre. Já passou da hora de
deixarmo-nos atrair pela ética e debater as raízes da corrupção para ser
enfrentada no nosso país. A CNBB tem insistido em seus pronunciamentos oficiais
em três caminhos para cuidar da res-publica e, por isso, enfrentar a
corrupção generalizada: o resgate da ética para garantir lisura no modo de
lidar com os valores religiosos e morais, como também com os recursos que são
do povo e devem ser aplicados em serviços para a população; uma reforma
política abrangente que envolva as eleições, o dinâmica democrática da
Legislativo, Executivo e Judiciário; a participação da sociedade inteira nos
debates e nas decisões sobre os principais temas nacionais.
Nesse momento de
crise, no entanto, percebemos um movimento quase silencioso de diversos grupos
na sociedade que busca debater e refletir o momento da nossa República. São
pessoas que percebem a natureza “contagiosa e parasitária” da corrupção nos
diversos âmbitos da sociedade e assumem a responsabilidade como cidadãos de
buscar caminhos para a Republica. Se debate e reflete a ética, a democracia, a
economia, a educação, a segurança, a saúde. Acontece diálogo! São pessoas que
fazem da crise uma possibilidade de maturação da República, guiadas pela
esperança. Desejo que esse movimento cresça, se fortaleça e como afluentes
caminhem para um grande rio que é a vida à República do Brasil. Que esse
movimento atinja nossas universidades e as pequenas comunidades do nosso
interior.
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Fonte: cnbb.ner.br Fotos: Luiz Lopes Júnior
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