Em encontro
extraoficial,
Papa recebe líderes religiosos em Yangun
Papa recebe líderes religiosos em Yangun
Yangun (RV) –
Depois de presidir a celebração da missa na sede do Arcebispado, a terça-feira
do Papa Francisco em Yangun começou com um evento extraoficial: o Pontífice
recebeu 17 líderes das diferentes religiões presentes em Mianmar.
Tratou-se de um reunião
inserida sucessivamente à programação para ressaltar o valor que o país
atribui ao diálogo inter-religioso – uma das finalidades desta 21ª viagem
apostólica seja em Mianmar, seja em Bangladesh.
“Como é bonito
ver irmãos unidos” foi o versículo de um Salmo citado por Francisco logo ao
início, acentuando porém, que isto não quer dizer “iguais”.
“A unidade não é
uniformidade, mesmo dentro da mesma Confissão (...). Somos todos
diferentes e cada Confissão tem suas riquezas, suas tradições, suas riquezas
para dar, para compartilhar. E isto somente pode existir, quando se vive em
paz. E a paz se constrói no coro das diferenças. A unidade sempre se
dá com as diferenças”, insistiu Francisco, e “a paz é isto, a harmonia”.
Papa reunido na sede da Arquidiocese com líderes budistas,hinduístas, muçulmanos, judeus, batistas e anglicanos |
Nós devemos
entender a riqueza de nossas diferenças, e é a partir destas diferenças que se
dá o diálogo, enfatiza o Papa.
“Não tenhamos
medo das diferenças. Um é o nosso Pai. Nós somos irmãos, disse Francisco.
Nos queiramos como irmãos. E se discutimos entre nós, que seja como irmãos. Que
em seguida se reconciliam. Sempre voltam a ser irmãos. Eu penso que somente
assim se constrói a paz”.
“Obrigado,
construam a paz, exortou Francisco. Não se deixem uniformizar pela colonização
das culturas. A verdadeira harmonia divina se faz por meio das diferenças. As
diferenças são uma riqueza para a paz”.
Ao concluir, o
Papa “"permitiu-se" uma oração, de irmãos para irmãos”, rezando a
Bênção Apostólicas contida no Livro dos Números.
No total, foram
40 minutos de encontro, no qual estavam presentes líderes budistas, hinduístas,
muçulmanos, judeus, batistas e anglicanos.
Depois do
almoço, o Papa regressou ao aeroporto de Yangun rumo à capital, Nay Pyi Taw,
para a cerimônia oficial de boas-vindas e o encontro com as autoridades. Nesta
ocasião, Francisco pronuncia seu primeiro discurso em terras birmanesas.
Em Nay Pyi Taw,
o Pontífice se reúne também com “A Senhora”, como é conhecida a histórica
ativista Aung San Suu Kyi, hoje Conselheira de Estado e a figura mais
emblemática deste momento de transição da política birmanesa.
No final da
tarde, o Papa volta a Yangun.
Imprensa
A imprensa
local, seja os jornais em inglês, seja em birmanês, dedicou a primeira página à
chegada do Pontífice, ressaltando a multidão em festa pelas ruas de Yangun.
“Milhares de
pessoas lotam as avenidas para receber o Papa”, “multidão colorida acolhe o
Santo Padre” foram algumas manchetes.
Os jornalistas
prontamente noticiaram a visita inesperada ao Pontífice do Chefe das Forças
Armadas, Min Aung Hlaing, e as palavras dirigidas a Francisco de que “não
existe opressão ou discriminação religiosa em Mianmar”.
A capital
A cidade foi
construída e planejada para ser a sede do governo, e é assim oficialmente desde
2006. Nay Pyi Taw também é conhecida pela desproporção entre a densidade
populacional e o seu tamanho, suas avenidas largas e longas. Pelas ruas, se
alternam momentos de vida ordinária com o absoluto silêncio e a ausência total
de movimento.
Com a capital,
cresce também a Igreja Católica. Na cidade, existem somente duas paróquias. A
reportagem do Programa Brasileiro visitou uma delas: a de São Miguel Arcanjo.
Dois sacerdotes conduzem esta paróquia frequentada apenas por 30 famílias.
Enquanto a igreja está em construção, as missas são celebradas só aos domingos
num templo improvisado e a única atividade é a catequese para as crianças.
..............................................................................................................................................................
Papa e Suu Kyi:
dois líderes, único ideal
Nay Pyi Taw (RV)
– O discurso do Papa às autoridades na capital birmanesa marcou também o
encontro entre Francisco e a Conselheira de Estado, Aung San Suu Kyi.
Antes da
cerimônia pública, os dois se reuniram a portas fechadas no Palácio
Presidencial. “The Lady”, como é conhecida, representa a peça fundamental deste
momento político em Mianmar.
Papa Francisco com Aung San Suu Kyi |
A filha seguiu
os passos do pai e sua luta paciente e não-violenta pela democracia é comparada
a de ícones como Nelson Mandela. Passou anos na condição de prisioneira
política e hoje é Presidente da Liga Nacional pela Democracia (NLD) e ocupa o
cargo de Conselheira de Estado.
A trajetória de
Suu Kyi não a exime das críticas, sobretudo oriundas da comunidade
internacional sobre a gestão do conflito na fronteira com Bangladesh. Mas o seu
poder é limitado, pois ainda estão nas mãos dos militares a pasta da Defesa e a
segurança das fronteiras. De fato, Mianmar ainda não goza de uma democracia
plena.
Todavia, “the
Lady” tem o apoio popular e é vista pela população como pessoa imprescindível
neste processo de transição.
Discurso
Com esta
autoridade, Suu Kyi se dirigiu ao Papa Francisco manifestando sua alegria e
satisfação em recebê-lo no país, arricando duas frases em italiano:
"obrigada por estar aqui conosco" e "contiuemos a trabalhar
juntos com confiança". Num discurso sensível e incisivo, com referências
ao Evangelho e ao magistério do Pontífice, a Conselheira recordou os anseios que
moveram os pais fundadores da nação de conciliar liberdade com justiça e
mencionou os desafios atuais, sendo a paz o mais urgente:
“Nosso esforço
mais apreciado é levar adiante o processo de paz com base no Acordo de
cessar-fogo nacional que foi iniciado pelo governo anterior. O caminho para a
paz nem sempre é suave, mas é o único caminho que levará o nosso povo ao sonho
de uma terra justa e próspera que será seu refúgio, seu orgulho e sua alegria.”
Suu Kyi citou
então pela primeira vez nesta viagem de Francisco o conflito no Estado de
Rakhine com a minoria muçulmana:
“Dos muitos
desafios que o nosso governo está enfrentando, a situação em Rakhine atraiu
mais fortemente a atenção do mundo. À medida que abordamos questões de longa
data, sociais, econômicas e políticas, que corroem a confiança, a compreensão,
a harmonia e a cooperação entre diferentes comunidades em Rakhine, o apoio do
nosso povo e de bons amigos que só nos desejam sucesso em nossos esforços, tem
sido inestimável.”
A Conselheira
concluiu seu discurso mantendo a promessa de continuar a trabalhar com
probidade e humildade pela paz: “Sua Santidade, os filhos de sua Igreja
neste país também são filhos de Mianmar, amados e apreciados. O caminho a
seguir é longo, mas nós caminhamos com confiança, confiando no poder da paz, do
amor e da alegria”.
.............................................................................................................................................................
Papa Francisco:
compromisso com a justiça e respeito pelos direitos humanos
Nay Pyi Taw (RV)
- “Venho sobretudo para rezar com a pequena mas fervorosa comunidade católica
da nação, para confirmar na fé e encorajá-la no esforço de contribuir para o
bem da nação.” Com essas palavras já no início de seu discurso – o primeiro em
terras birmanesas –, o Papa Francisco descreveu o objetivo precípuo desta sua
viagem apostólica internacional.
Papa Francisco durante discurso às autoridades, sociedade civil e Corpo diplomático |
“Gostaria também
que a minha visita pudesse atingir toda a população de Mianmar e oferecer uma
palavra de encorajamento a todos aqueles que estão trabalhando para construir
uma ordem social justa, reconciliada e inclusiva”, disse o Pontífice.
Reconhecendo a
beleza extraordinária e numerosos recursos naturais do país, Francisco
ressaltou que seu maior tesouro contudo é, sem dúvida, “o seu povo, que sofreu
muito e continua a sofrer por causa de conflitos civis e hostilidades que
duraram muito tempo e criaram profundas divisões”.
“Uma vez que
agora a nação está trabalhando por restaurar a paz, a cura destas feridas não
pode deixar de ser uma prioridade política e espiritual fundamental”,
acrescentou.
“Com efeito, o
árduo processo de construção da paz e reconciliação nacional só pode avançar
através do compromisso com a justiça e do respeito pelos direitos humanos. A
sabedoria dos antigos definiu a justiça como a vontade de reconhecer a cada um
aquilo que lhe é devido, enquanto os antigos profetas a consideraram como o
fundamento da paz verdadeira e duradoura.”
“Estas
intuições, confirmadas pela trágica experiência de duas guerras mundiais,
levaram à criação das Nações Unidas e à Declaração Universal dos Direitos
Humanos como base dos esforços da comunidade internacional para promover a
justiça, a paz e o progresso humano em todo o mundo e para resolver os conflitos
através do diálogo, e não com o uso da força”, acrescentou.
“O futuro do
Myanmar deve ser a paz, uma paz fundada no respeito pela dignidade e os
direitos de cada membro da sociedade, no respeito por cada grupo étnico e sua
identidade, no respeito pelo Estado de Direito e uma ordem democrática que
permita a cada um dos indivíduos e a todos os grupos – sem excluir nenhum –
oferecer a sua legítima contribuição para o bem comum.”
A este ponto de
seu discurso, o Santo Padre chamou a atenção para o papel privilegiado que as
comunidades religiosas têm a desempenhar no imenso trabalho de reconciliação
nacional.
“As diferenças
religiosas não devem ser fonte de divisão e difidência, mas sim uma força em
prol da unidade, do perdão, da tolerância e da sábia construção da nação. As
religiões podem desempenhar um papel significativo na cura das feridas
emocionais, espirituais e psicológicas daqueles que sofreram nos anos de
conflito. Impregnando-se de tais valores profundamente enraizados, elas podem
ajudar a extirpar as causas do conflito, construir pontes de diálogo, procurar
a justiça e ser uma voz profética para as pessoas que sofrem.”
É um grande
sinal de esperança o fato de que os líderes das várias tradições religiosas
deste país se estejam comprometendo a trabalhar juntos, com espírito de
harmonia e respeito mútuo, pela paz, pela ajuda aos pobres e pela educação nos
valores religiosos e humanos autênticos, continuou Francisco.
Em seguida, o
Papa voltou seu pensamento para os jovens da nação qual dom a ser estimado e
encorajado, “um investimento que só produzirá um bom rendimento na base de
oportunidades reais de emprego e duma educação de qualidade”.
Francisco
insistiu que o futuro do país dependerá da formação dos seus jovens, “não só
nos campos técnicos, mas sobretudo na formação para os valores éticos de
honestidade, integridade e solidariedade humanas”, frisou.
O Papa concluiu
seu primeiro discurso em Mianmar com um encorajamento à pequena comunidade
católica evocando um papel importante também para ela nesta nova fase histórica
do país do sudeste asiático:
“Nestes dias,
quero encorajar os meus irmãos e irmãs católicos a perseverar na sua fé e a
continuar a expressar a sua mensagem de reconciliação e fraternidade através de
obras caritativas e humanitárias, de que toda a sociedade possa beneficiar.
Espero que, na respeitosa cooperação com os seguidores de outras religiões e
com todos os homens e mulheres de boa vontade, contribuam para abrir uma nova
era de concórdia e progresso para os povos desta amada nação.”
............................................................................................................................................
Fonte: radiovaticana.va news.va
Nenhum comentário:
Postar um comentário