domingo, 16 de fevereiro de 2025

O Papa ao mundo da cultura:

 dar voz a quem não tem voz, transformar dor em esperança

“Vós, artistas e pessoas de cultura, sois chamados a ser testemunhas da visão revolucionária das Bem-Aventuranças. A vossa missão não se limita a criar beleza, mas a revelar a verdade, a bondade e a beleza escondidas nos recantos da história, a dar voz a quem não tem voz, a transformar a dor em esperança”: diz o Papa na homilia da Missa por ocasião do Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura, presidida este domingo na Basílica de São Pedro pelo cardeal José Tolentino de Mendonça.

A Eucaristia – centro e ápice da vida cristã – celebrada na manhã deste domingo, 16 de fevereiro, na Basílica Vaticana, foi o ponto alto do Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura, que se realiza dos dias 15 a 18 deste mês com cerca de 10 mil participantes de mais de 100 nações dos cinco continentes. A Missa, que deveria ser presidida pelo Santo Padre – que se encontra internado deste sexta-feira passada no Hospital Policlínico Gemelli devido a uma bronquite de que foi acometido -, foi presidida pelo prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, cardeal José Tolentino de Mendonça.

O purpurado português leu a homilia do Papa preparada para a ocasião - que Francisco quis que fosse compartilhada com as 4 mil pessoas presentes na Basílica de São Pedro -, na qual detém-se sobre o Evangelho do dia (Lc 6,17.20-26) em que Jesus proclama as bem-aventuranças.

O Pontífice observa que já as ouvimos muitas vezes e, no entanto, não deixam de nos maravilhar: “Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus. Felizes vós, os que agora tendes fome, porque sereis saciados. Felizes vós, os que agora chorais, porque haveis de rir”. Estas palavras contradizem a lógica do mundo e convidam-nos a olhar a realidade com olhos novos, com o olhar de Deus, que vê para além das aparências e reconhece a beleza, até mesmo na fragilidade e no sofrimento.

A segunda parte contém palavras duras e de repreensão: “ai de vós, os ricos, porque recebestes a vossa consolação! Ai de vós, os que estais agora fartos, porque haveis de ter fome! Ai de vós, os que agora rides, porque gemereis e chorareis!” O contraste entre “felizes vós” e “ai de vós” recorda-nos a importância de discernir onde colocamos a nossa segurança, frisou o Santo Padre, dirigindo-se em seguida aos artistas e ao mundo da cultura em geral.

“Vós, artistas e pessoas de cultura, sois chamados a ser testemunhas da visão revolucionária das Bem-Aventuranças. A vossa missão não se limita a criar beleza, mas a revelar a verdade, a bondade e a beleza escondidas nos recantos da história, a dar voz a quem não tem voz, a transformar a dor em esperança.”

Vivemos numa época de crises complexas, continuou o Papa, que são econômicas e sociais mas, antes de mais, são crises da alma, crises de sentido. Coloquemo-nos a questão do tempo e a questão do rumo. Somos peregrinos ou errantes? Caminhamos com uma meta ou andamos à deriva, perdidos? O artista é aquele ou aquela que tem a função de ajudar a humanidade a não se desnortear, a não perder o horizonte da esperança.

“Mas atenção: não é uma esperança fácil, superficial e desencarnada. Não! A verdadeira esperança entrelaça-se com o drama da existência humana. Não é um refúgio confortável, mas um fogo que arde e ilumina, como a Palavra de Deus. Por isso, a arte autêntica é sempre um encontro com o mistério, com a beleza que nos supera, com a dor que nos interpela, com a verdade que nos chama. Caso contrário, “ai (de nós)”! O Senhor é severo no seu apelo.”

Francisco acrescentou que o artista, com sua obra, realiza um discernimento e ajuda os outros a discernir no meio dos diferentes ecos dos acontecimentos deste mundo. Os homens e as mulheres de cultura são chamados a avaliar estes ecos, a explicar-no-los e a iluminar o caminho por onde nos conduzem: se são cantos de sereia que seduzem ou apelos da nossa mais verdadeira humanidade.

“Pede-se-vos - disse o Pontífice aos artistas e aos homens e mulheres de cultura em geral - a sabedoria para distinguir o que é como “como a palha que o vento leva”, do que é sólido “como a árvore plantada à beira da água corrente” e capaz de dar fruto.

“Queridos artistas, vejo em vós guardiães da beleza que sabe inclinar-se sobre as feridas do mundo, que sabe escutar o grito dos pobres, dos sofredores, dos feridos, dos presos, dos perseguidos, dos refugiados. Vejo em vós guardiães das Bem-Aventuranças! Vivemos num tempo em que se erguem novos muros, em que as diferenças se tornam um pretexto para a divisão em vez de serem uma oportunidade de enriquecimento recíproco. Mas vós, homens e mulheres de cultura, sois chamados a construir pontes, a criar espaços de encontro e diálogo, a iluminar as mentes e a aquecer os corações.”

O Papa prosseguiu afirmando que alguns poderão, em suas ponderações e questionamentos, dizer: “Mas para que serve a arte num mundo ferido? Não há coisas mais urgentes, mais concretas e mais necessárias?”. A arte, respondeu Francisco, não é um luxo, mas uma necessidade do espírito. Não é uma fuga, mas uma responsabilidade, um convite à ação, um apelo, um grito. Educar para a beleza significa educar para a esperança. E a esperança nunca está separada do drama da existência: ela atravessa a luta quotidiana, as fadigas da vida, os desafios deste nosso tempo.

“No Evangelho que escutámos hoje, Jesus proclama felizes os pobres, os aflitos, os mansos, os perseguidos. É uma lógica invertida, uma revolução da perspectiva”, observou o Pontífice. A arte é chamada a participar nesta revolução. O mundo precisa de artistas proféticos, de intelectuais corajosos, de criadores de cultura.

Concluindo sua homilia lida pelo cardeal Tolentino de Mendonça, o Santo Padre fez uma premente exortação aos artistas e ao mundo da cultura em geral:

“Deixai-vos guiar pelo Evangelho das Bem-Aventuranças e que a vossa arte seja anúncio de um mundo novo. Que a vossa poesia no-lo mostre! Nunca deixeis de procurar, interrogar, arriscar. Porque a verdadeira arte nunca é acomodada; ela oferece a paz da inquietação. E lembrai-vos: a esperança não é uma ilusão; a beleza não é uma utopia; o vosso dom não é um mero acaso, é uma chamada. Respondei com generosidade, com paixão, com amor”.

Raimundo de Lima – Vatican News 

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Francisco desde o hospital:
agradeço pelas orações
com que me acompanhais nestes dias de internação

Internado no Hospital Policlínico Gemelli devido a uma bronquite de que foi acometido, Francisco entregou o Angelus dominical, difundido pela Sala de Imprensa da Santa Sé. No texto, o Pontífice agradece pelo carinho, a oração e a proximidade com que está sendo acompanhado nestes dias, assim como aos médicos e profissionais de saúde deste Hospital por seus cuidados. O Santo Padre se dirige aos artistas por ocasião de seu Jubileu e pede orações pelos países em guerra.

A seguir, o texto do Angelus do Papa Francisco, difundido ao meio-dia deste domingo (16/02) pela Sala de Imprensa da Santa Sé:

Hoje, no Vaticano, foi celebrada a Eucaristia dedicada em particular aos artistas que vieram de várias partes do mundo para viver os Dias do Jubileu. Agradeço ao Dicastério para a Cultura e a Educação pela preparação desse evento, que nos lembra a importância da arte como linguagem universal que difunde a beleza e une os povos, ajudando a trazer harmonia ao mundo e a silenciar todo grito de guerra.

Cumprimento aos artistas por ocasião de seu Jubileu

Quero cumprimentar todos os artistas que participaram: eu gostaria de ter estado no meio de vós, mas, como sabeis, estou aqui no Policlínico Gemelli porque ainda preciso de tratamento para minha bronquite.

Dirijo minhas saudações a todos os peregrinos presentes em Roma hoje, em particular aos fiéis da Diocese de Parma, que vieram em uma peregrinação diocesana, conduzidos por seu Bispo.

Orações pelos países em guerra

Convido todos a continuarem a rezar pela paz na atormentada Ucrânia, na Palestina, em Israel e em todo o Oriente Médio, em Mianmar, no Kivu e no Sudão.

Agradeço-vos pelo carinho, a oração e a proximidade com que me acompanhais nestes dias, assim como gostaria de agradecer aos médicos e profissionais de saúde deste Hospital por seus cuidados: eles fazem um trabalho precioso e tão cansativo, vamos apoiá-los com a oração!

E agora confiemo-nos a Maria, a “Cheia de graça”, para que nos ajude a ser, como Ela, cantores e artífices da beleza que salva o mundo.

Raimundo de Lima – Vatican News

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                                                                                                                    Fonte: vaticannews.va

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