Ouvir o coração!
Habituados a viver numa sociedade onde o que importa é calcular, produzir e consumir, corremos o risco de desconsiderar a dimensão humana dos sentimentos, ou seja, a necessária escuta do coração. Os sinais dessa situação são evidentes! A exacerbação do eu e a constante aceleração da vida cotidiana dificultam a saudável atividade de escutar o coração. Num mundo sem coração, tudo se torna hostil, rígido, frio, calculado, cinzento, sem acolhimento, solidariedade ou paixão.
Experimentamos uma desvalorização do conceito de “coração”, consequência do racionalismo e do materialismo que privilegiaram conceitos como razão, vontade e liberdade, tornando-nos consumistas insaciáveis e escravos na engrenagem de um mercado.
Vale lembrar que o coração significa não apenas um órgão vital do corpo, responsável por manter a vida, mas também um espaço privilegiado de decisões, pois “o coração tem suas razões, que a própria razão não conhece: percebe-se isso de mil modos” (Pascal, fr. 277). E isto nos recorda muito bem o próprio Papa Francisco, quando diz “o pensamento e o sentimento pertencem ao coração e estão muito próximos um do outro (…) como o centro do desejo e o lugar onde são forjadas as decisões importantes duma pessoa” (Encíclica Dilexit Nos, n.3).
O coração aponta para uma dimensão da existência onde o empirismo científico não tem acesso; ele expressa aquilo de mais íntimo que o ser humano traz consigo, manifestando experiências vitais decisivas, que exigem empenho para serem compreendidas em sua plenitude.
Quando não se dá o devido valor ao coração, desvaloriza-se também o que significa falar a partir do coração, agir com o coração, amadurecer e curar o coração. Quando não se consideram as especificidades do coração, perdemos respostas que a inteligência por si só não pode oferecer, perdemos o encontro com os outros, perdemos a poesia. E perdemos a história e as nossas histórias, porque a verdadeira aventura pessoal é aquela que se constrói “a partir do coração” (Papa Francisco).
O coração possui uma flexibilidade que se adapta aos diversos aspectos do que se ama; dos olhos vai até o coração e, dos movimentos exteriores, conhece o que acontece no seu interior. Quando coração e razão caminham juntos, o amor se torna ainda mais prazeroso, pois juntos conferem força e flexibilidade ao espírito. “O amor é algo vital em nosso comportamento. Sem amor, nada grandioso se faz. Fazer as coisas com amor é o mais importante que existe” (J. Gerdau).
A partir deste texto iremos refletir, compassadamente, a nova encíclica do Papa Francisco, Dilexit Nos, sobre o Sagrado Coração de Jesus. O que o Papa nos diz? Qual a importância de falarmos sobre o coração em uma sociedade tão acelerada? Vamos refletir juntos. Acompanhe nos meios de comunicação da nossa Conferência.
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Educar corações!
Há questões que caracterizam a existência humana, as quais cada geração é chamada a responder: Quem sou eu? Que sentido tem a vida? Qual a sua origem e seu objetivo? Qual a razão do existir? Qual sentido dar a tudo que experimentamos? O que buscamos? Qual o horizonte norteador das próprias escolhas, decisões e ações? Que lugar tem o outro na vida?
Numa sociedade líquida, caracterizada pela rapidez, o instantâneo e fugaz semelhantes questões são relegadas a segundo plano, em detrimento da própria saúde da sociedade. A violência e a brutalidade, em suas múltiplas expressões, requerem das melhores forças da sociedade uma introspecção honesta e profunda sobre o tipo de mundo em que vivemos, queremos viver e almejamos deixar para as próximas gerações.
Promover e aprofundar conhecimentos humanísticos, culturais e científicos se torna em tal contexto uma exigência. Urge identificar um núcleo de convergência, um horizonte de compreensão que ofereça sentido ao lugar onde o ser humano se encontra, ao seu empenho de viver a vida com suas possibilidades, desafios e ameaças.
A tradição ocidental caracterizou como núcleo de convergência do humano o ‘coração’. É ele que, na fragilidade dos eventos transcorridos, percebe o esplendor de algo característico, permitindo-nos, por exemplo, não esquecer a graça de um olhar, a despretensiosa disponibilidade de uma mão estendida, a importância da presença amiga.
Lugar de destaque neste trabalho possuem as escolas e universidades, sem olvidar o que compete a instituição familiar. Os processos pedagógico-educacionais não podem estar focados somente na preparação de indivíduos para o mercado de trabalho. Decisivo é orientar e formar, com determinação e disciplina, para uma convivência social integrada e integradora, onde a dimensão do coração tem certamente lugar de destaque.
Isto implica “uma educação integral que não se limita à transmissão de conhecimentos, mas busca formar homens e mulheres capazes de compaixão e amor fraterno (…) Uma educação que prepara para o futuro, formando, além de profissionais competentes, adultos maduros que serão artesãos de um mundo mais belo e mais humano” (Papa Francisco).
* Série de artigos em diálogo com a “Dilexit nos”
O cardeal Jaime Spengler em reflexão sobre a quarta encíclica do Papa Francisco “Dilexit nos”, sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus Cristo.
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