"O nosso anúncio pretende ser gentil,
para acolher a todos - não esqueçamos isto: todos, todos, todos; não esqueçamos
aquela parábola dos convidados para a festa que não quiseram ir: “Ide às
encruzilhadas e convidai todos quantos achardes, todos, todos, todos, bons e
maus, todos”. O Espírito nos dá força para seguir em frente e chamar a todos,
com aquela gentileza… nos dá a gentileza de acolher a todos."
Segue a homilia do Santo Padre na Missa na
Solenidade de Pentecostes, concelebrada na Basílica de São Pedro:
"Na narração do Pentecostes (cf. At 2,
1-11), mostram-nos um duplo âmbito de ação do Espírito Santo na Igreja: em
nós e na missão, com duas caraterísticas, ou seja, força e gentileza.
Meditemos sobre isto.
A ação do Espírito em nós é forte como
simbolizam os sinais do vento e do fogo, que aparecem na Bíblia,
frequentemente, associados com a força de Deus (cf. Ex 19, 16-19).
Sem essa força, nunca conseguiríamos vencer os desejos da carne de que fala São
Paulo, vencer aqueles impulsos da alma, a impureza, a idolatria, as discórdias,
as invejas, e com o Espírito se pode vencer, Ele nos dá a força para fazer
porque Ele entra no nosso coração árido, duro e frio, arruinando as nossas
relações com os outros e dividindo as nossas comunidades. E ele entra neste
coração e cura tudo.
Isto mesmo nos mostra Jesus, quando,
impelido pelo Espírito, Se retira durante quarenta dias para o deserto
(cf. Mt 4, 1-11) a fim de ser tentado. Também durante esse tempo
cresce a sua humanidade, que se revigora preparando-se para a missão.
Ao mesmo tempo, a ação do Paráclito em nós
é genti, é forte e gentil. O vento e o fogo não destroem nem reduzem
a cinza o que tocam: um enche a casa onde se encontram os discípulos e o fogo
pousa delicadamente, em forma de chamas, sobre a cabeça de cada um dos
presentes. Esta delicadeza é também um traço da ação de Deus, que encontramos
muitas vezes na Bíblia.
E é maravilhoso ver como a mesma mão
robusta e calejada que, primeiro, desenterrou os torrões das paixões, depois
depõe delicadamente as plantinhas da virtude, rega-as, cuida delas (cf. Sequência
«Veni Sancte Spiritus») e protege-as amorosamente a fim de crescerem e se
robustecerem, permitindo-nos saborear, depois do cansaço da luta contra o mal,
a doçura da misericórdia e da comunhão com Deus. Assim é o Espírito: forte,
dá-nos força para vencer, e também delicado. Fala-se da unção do
Espírito, o Espírito nos unge, está conosco. Como diz uma bela oração da Igreja
antiga: “Que a tua mansidão permaneça, ó Senhor, comigo e assim possam os
frutos do teu amor!” (Odes de Salomão, 14,6).
Tendo descido sobre os discípulos e
colocando-se a seu lado – isto é «paráclito» –, o Espírito Santo atua
transformando os seus corações e infundindo neles uma «audácia que os leva a
transmitir aos outros a sua experiência de Jesus e a esperança que os anima»
(São João Paulo II, Carta enc. Redemptoris missio, 24). Vemo-lo na
resposta de Pedro e João, quando o Sinédrio lhes quis impor «a proibição formal
de falar ou ensinar em nome de Jesus»: «Não podemos deixar de afirmar o que
vimos e ouvimos» (At 4, 18.20). E para responder isso têm a força do
Espírito Santo.
Isto reveste-se de grande importância
também para nós, que recebemos o dom do Espírito no Batismo e na Confirmação.
Como os Apóstolos, do «cenáculo» desta Basílica somos enviados hoje,
especialmente, a anunciar o Evangelho a todos, indo «sempre mais além, não só
em sentido geográfico, mas também ultrapassando barreiras étnicas e religiosas,
até se chegar a uma missão verdadeiramente universal» (Redemptoris missio, 25).
E, graças ao Espírito, podemos e devemos fazê-lo com a mesma força e
a mesma gentileza.
Com a mesma força: isto é, não
com prepotência e imposição: o cristão não é prepotente, a sua força é outra, é
a força do Espírito; nem com cálculos e astúcia, mas fazê-lo com a energia que
vem da fidelidade à verdade, que o Espírito ensina aos nossos corações e faz
crescer em nós. E assim nos rendemos, nos rendemos ao Espírito, não nos
rendemos à força do mundo, mas continuamos a falar de paz a quem quer a guerra,
a falar de perdão a quem semeia vingança, a falar de acolhimento e
solidariedade a quem tranca as portas e ergue barreiras, a falar de vida a quem
escolhe a morte, de respeito a quem gosta de humilhar, insultar e descartar, a
falar de lealdade a quem rejeita qualquer vínculo, confundindo liberdade com um
individualismo superficial, opaco e vazio. Sem nos deixarmos amedrontar pelas
dificuldades, zombarias e oposições que, hoje como ontem, nunca faltam na vida
apostólica (cf. At 4, 1-31).
E ao mesmo tempo que o fazemos com esta
força, o nosso anúncio pretende ser gentil, para acolher a todos
- não esqueçamos isto: todos, todos, todos; não esqueçamos aquela parábola
dos convidados para a festa que não quiseram ir: “Ide às encruzilhadas e
convidai todos quantos achardes, todos, todos, todos, bons e maus, todos”. O
Espírito nos dá força para seguir em frente e chamar a todos, com aquela
gentileza… nos dá a gentileza de acolher a todos.
Todos nós, irmãos e irmãs, temos tanta
necessidade de esperança, que não é otimismo, não, não, é outra coisa. Temos
necessidade de esperança, a esperança é representada como aquela âncora, ali,
na praia, e nós, com a corda, rumo à esperança. Temos necessidade de esperança,
temos necessidade de elevar o olhar para horizontes de paz, de
fraternidade, justiça e solidariedade. Tal é o único caminho da vida, não
há outro. É certo que o mesmo, muitas vezes infelizmente, não se apresenta
fácil, antes aparece tortuoso e em subida, o cam,inho, é verdade. Mas sabemos
que não estamos sozinhos, temos essa segurança que com a ajuda do Espírito
Santo, com os seus dons, juntos podemos percorrê-lo e torná-lo sempre mais
acessível também para os outros
Renovemos irmãos e irmãs a nossa fé na
presença do Consolador ao nosso lado e continuamos a rezar:
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Francisco na oração do Regina Coeli:Depois de rezar a Missa na Basílica de São
Pedro na Solenidade de São Pedro, o Papa Francisco assomou à janela do
apartamento pontifício para o tradicional encontro dominical. Milhares de
fiéis, peregrinos e turistas de várias partes do mundo o aguardavam na Praça
São Pedro.
O Espírito Santo, para nós, é testemunha de
"um diálogo belíssimo: aquele em que o Pai e Filho expressam seu amor um
pelo outro", disse o Papa Francisco antes de rezar o Regina
Coeli no Domingo de Pentecostes.
"São palavras – explicou aos milhares
de peregrinos presentes na Praça São Pedro - que expressam sentimentos
maravilhosos, como carinho, gratidão, confiança, misericórdia. Palavras que nos
permitem conhecer um lindo relacionamento, luminoso, concreto e duradouro como
é o Amor eterno de Deus”.
Para Francisco, “são precisamente as
palavras transformadoras de amor, que o Espírito Santo repete em nós e que nos
faz bem ouvir".
“Por isso – continuou – é importante que
nos alimentemos dele todos os dias, lendo e meditando a Palavra de Deus,
levando-a conosco em um Evangelho de bolso, aproveitando os momentos
favoráveis".
"O padre e poeta Clemente Rebora,
falando da sua conversão, escreveu no seu diário: "E a Palavra calou as
minhas murmurações!" – recordou o Papa –. Ouvir a Palavra de Deus silencia
as murmurações."
“Eis como dar espaço em nós à voz do
Espírito Santo – reiterou. E depois, na Adoração e na oração, especialmente
aquela simples e silenciosa. E também ao pronunciarmos palavras boas entre nós,
fazendo-nos eco da doce voz do Consolador".
Para o Pontífice, “ler e meditar o
Evangelho, rezar em silêncio, dizer boas palavras, não são coisas difíceis,
todos nós podemos fazer isso. É mais fácil do que insultar, ficar com
raiva".
“E então nos perguntamos - acrescentou -:
que lugar essas ações ocupam na minha vida? Mas como posso cultivá-la, para
melhor escutar o Espírito Santo e torne-se seu eco para os outros?".
“Que Maria, presente no Pentecostes com os
Apóstolos, nos torne dóceis -à voz do Espírito Santo", concluiu, para
então rezar a oração do Regina Coeli.
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