Deus é de todos
José Antonio
Pagola
Poucas frases
terão sido tão citadas como esta que o Evangelho de João coloca nos lábios de
Jesus. Os autores veem nela um resumo do essencial da fé, tal como era vivida
entre os poucos cristãos nos começos do século II: “Deus amou tanto o mundo que
entregou seu Filho único”.
Deus ama o
mundo inteiro, não só aquelas comunidades cristãs às quais chegou a mensagem de
Jesus. Deus ama todo gênero humano, não só a Igreja. Deus não é propriedade dos
cristãos. Não deve ser monopolizado por nenhuma religião. Não cabe em nenhuma
catedral, mesquita ou sinagoga.
Deus habita
em todo ser humano acompanhando cada pessoa em suas alegrias e desgraças. Não
deixa ninguém abandonado, pois tem seus caminhos para encontrar-se com cada
qual, sem que tenha que seguir necessariamente os caminhos que nós lhe
indicamos. Jesus o via cada manhã “fazendo surgir o Sol sobre bons e maus”.
Deus não sabe
nem quer, nem pode fazer outra coisa senão amar, pois, no mais íntimo de seu
ser, Ele é amor. Por isso diz o Evangelho que Ele enviou seu Filho único, não
para “condenar o mundo”, mas para que “o mundo se salve por meio dele”. Deus
ama o corpo tanto como a alma, e o sexo tanto como a inteligência. O que Ele
deseja unicamente é ver já, desde agora e para sempre, a humanidade inteira
desfrutando de sua criação.
Este Deus
sofre na carne dos famintos e humilhados da Terra; está nos oprimidos
defendendo sua dignidade e nos que lutam contra a opressão dando ânimo a seu
esforço. Está sempre em nós para “buscar e salvar” o que nós deturpamos e
deixamos se perder.
Deus é assim.
Nosso maior erro seria esquecê-lo, mais ainda, fechar-nos em nossos
preconceitos, condenações e mediocridade religiosa, impedindo as pessoas de
cultivar esta fé primeira e essencial. Para que servem os discursos dos
teólogos, dos moralistas, dos pregadores e dos catequistas, se não despertam o
louvor ao Criador, se não fazem crescer no mundo a amizade e o amor, se não
tornam a vida mais bela e luminosa, lembrando que o mundo está envolto nos
quatro lados pelo amor de Deus?
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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.
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