prudência, capacidade de direcionar as ações para o bem
"Num mundo dominado pelas aparências,
pelos pensamentos superficiais, pela banalidade tanto do bem quanto do mal, a
antiga lição da prudência merece ser recuperada." Este é um trecho da
catequese do Papa Francisco que na Audiência Geral refletiu sobre a prudência,
dando continuidade ao ciclo de catequeses sobre "Vícios e virtudes".
A catequese do Papa Francisco na Audiência
Geral, desta quarta-feira (20/03), realizada na Praça São Pedro, foi dedicada à
virtude da prudência. O Papa saudou os fiéis e peregrinos e disse que também
desta vez, devido à sua dificuldade com a voz, o padre rosminiano Pierluigi
Giroli, da Secretaria de Estado, iria ler o texto preparado.
"Junto com a justiça, a fortaleza e a
temperança", a prudência "forma as chamadas virtudes cardeais, que
não são prerrogativa exclusiva dos cristãos, mas pertencem à herança da
sabedoria antiga, em particular dos filósofos gregos. Portanto, um dos temas
mais interessantes no esforço de encontro e inculturação foi precisamente o das
virtudes".
Segundo Francisco, "nos escritos
medievais, a apresentação das virtudes não é uma simples lista de qualidades
positivas da alma. Voltando aos autores clássicos à luz da revelação cristã, os
teólogos imaginaram o setenário das virtudes – as três teologais e as quatro
cardeais – como uma espécie de organismo vivo, onde cada virtude tem um espaço
harmonioso a ocupar. Existem virtudes essenciais e virtudes acessórias, como
pilares, colunas e capitéis".
A pessoa prudente é criativa
Não é a virtude da pessoa temorosa, sempre
hesitante quanto à ação a tomar. Não, esta é uma interpretação errada. Não é
tampouco apenas cautela.
“Dar primazia à prudência significa que a ação do homem está nas mãos da sua inteligência e da sua liberdade. A pessoa prudente é criativa: raciocina, avalia, tenta compreender a complexidade do real e não se deixa dominar pelas emoções, pela preguiça, pelas pressões das ilusões.”
De acordo com Francisco, "num mundo
dominado pelas aparências, pelos pensamentos superficiais, pela banalidade
tanto do bem quanto do mal, a antiga lição da prudência merece ser
recuperada".
São Tomás, seguindo Aristóteles, chamou-a
de “recta ratio agibilium”. "É a capacidade de governar as ações para
direcioná-las para o bem; por isso é apelidada de o “cocheiro das virtudes”.
Prudente é aquele que é capaz de escolher. Quem é prudente não escolhe ao
acaso: primeiro sabe o que quer, considera as situações, procura conselhos e,
com visão ampla e liberdade interior, escolhe qual o caminho a seguir. Isso não
quer dizer que não possa cometer erros, afinal continuamos sempre humanos; mas
pelo menos evitará grandes derrapagens."
A pessoa prudente é clarividente
Infelizmente, em todos os ambientes há quem
tende a descartar os problemas com piadas superficiais ou a sempre levantar
polêmicas. A prudência, por outro lado, é a qualidade de quem é chamado a
governar: sabe que administrar é difícil, que há muitos pontos de vista e que é
preciso tentar harmonizá-los, que se deve fazer o bem não a alguns, mas a
todos.
Segundo o Papa, "a prudência também
ensina que, como se costuma dizer, “o ótimo é inimigo do bem”. O zelo em
demasia, de fato, pode causar desastres em algumas situações: pode destruir uma
construção que precisava de gradualidade; pode gerar conflitos e
incompreensões; pode até mesmo desencadear a violência".
O prudente sabe preservar a memória do
passado, não porque tenha medo do futuro, mas porque sabe que a tradição é um
patrimônio de sabedoria. A vida é feita de uma sobreposição contínua de coisas
velhas e coisas novas, e não é bom pensar sempre que o mundo começa a partir de
nós, que temos de enfrentar os problemas começando do zero. A pessoa prudente
também é clarividente. Depois de decidir o objetivo a atingir, é preciso buscar
todos os meios para alcançá-lo.
Santos inteligentes
O Papa recordou algumas passagens do
Evangelho que nos ajudam a educar a prudência, como por exemplo: "Quem
constrói a sua casa sobre a rocha é prudente e quem a constrói sobre a areia é
imprudente" ou "sábias são as damas de honra que trazem óleo para as
suas lâmpadas e tolas são aquelas que não o fazem". "A vida cristã é
uma combinação de simplicidade e astúcia. Preparando os seus discípulos para a
missão, Jesus recomenda: “Eis que Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos;
sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas”.
“Como se dissesse que Deus não quer apenas que sejamos santos, ele quer que sejamos santos inteligentes, porque sem a prudência é fácil seguir o caminho errado.”
Mariangela Jaguraba – Vatican News
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