O arcebispo de Belo
Horizonte (MG), dom Walmor Oliveira de Azevedo, foi eleito dia 6 de maio de
2019, como presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para
o quadriênio 2019-2023. Primeiro baiano a estar à frente da organização, dom
Walmor foi escolhido, em terceiro escrutínio, pela maioria absoluta de votos do
episcopado brasileiro na 57ª Assembleia Geral da CNBB.
Dom Walmor Oliveira de
Azevedo presidente da CNBB 2019-2023. | Foto: Ascom Belo Horizonte.
Seguindo uma tradição do
Estatuto da entidade, após ser escolhido pelos bispos do Brasil para dirigir a
CNBB, à pergunta se aceitaria o exercício da função feita pelo então presidente
da entidade, o cardeal Sergio da Rocha, o arcebispo de Belo Horizonte
respondeu: “Aceito com humildade, aceito com temor e aceito à luz da fé”.
Mal sabia ele, nesta
primeira manifestação, que sua gestão seria marcada como um dos períodos mais
difíceis da história da humanidade e do Brasil. Mas foi mesmo com humildade,
com temor e à luz da fé, que dom Walmor conduziu a CNBB, como seu presidente,
nos últimos 4 anos.
O portal da CNBB conversou
com os quatro membros da presidência para levantar qual o balanço fazem deste
período. Dom Walmor, que é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia
Universidade Gregoriana (Roma, Itália) e mestre em Ciências Bíblicas pelo
Pontifício Instituto Bíblico (Roma, Itália), apontou os grandes desafios que
enfrentaram nos últimos quatro anos (pandemia e polarizações-ideológicas) bem
como quais as prioridades que a CNBB e a Igreja no Brasil devem trilhar no
próximo quadriênio. Acompanhe, abaixo, a íntegra das respostas.
Dom Walmor preside
celebração no Conselho Permanente da CNBB. | Foto: Ascom CNBB.
Quais desafios foram
enfrentados pela presidência da CNBB neste último quadriênio?
A presidência da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) enfrentou muitos desafios. Neste último
quadriênio, o mundo sofreu com as consequências de uma grave pandemia, que
vitimou muitas pessoas, enlutou famílias. A Igreja, neste contexto, mesmo nas
fases mais agudas de transmissão da doença, com o necessário distanciamento
social, intensificou ainda mais o seu trabalho de amparo espiritual e social.
Para isso, rapidamente aprendeu a lidar com as novas ferramentas tecnológicas
de comunicação, fazendo-se presente no dia a dia das pessoas de muitas formas.
Criou também ações para minimizar o sofrimento daqueles que passaram pelas
consequências econômicas da pandemia, referência especial à iniciativa “É tempo
de cuidar”. Oportuno dizer que, neste último quadriênio, o Brasil viveu uma
escalada das polarizações, com rupturas, inclusive, dentro das famílias,
provocadas por desavenças político-ideológicas. Um cenário triste, emoldurado
pela disseminação crescente de notícias falsas. Um momento ápice dessas
polarizações foi vivenciado no último processo eleitoral.
A CNBB, coerente com o que
ensina Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor, sempre se manteve ao lado dos
pobres, fiel aos valores do Evangelho, elevando, corajosa e profeticamente, a
sua voz, para denunciar ameaças à sociedade e à democracia, e descasos para com
os mais pobres. Fiel a esse compromisso, a CNBB buscou sempre o caminho do
entendimento e do diálogo, unindo-se a instituições sérias, de credibilidade,
em um grande Pacto pela Vida e pelo Brasil.
Cada gesto da presidência
não foi ato monocrático, mas fruto de uma escuta atenta, sempre em busca de
expressar o que vem do coração de todo o episcopado brasileiro. A CNBB é
instância e expressão da colegialidade dos Bispos do Brasil, em profunda
unidade com o magistério do amado Papa Francisco.
Quais prioridades para a
CNBB e a Igreja no Brasil considerando o próximo quadriênio?
A Igreja Católica, em todo
o mundo, busca investir cada vez mais na sinodalidade, acolhendo convocação
vinda do luminoso magistério do Papa Francisco. A CNBB, que já é expressão da
sinodalidade na Igreja, reunindo as muitas contribuições do episcopado
brasileiro, a participação de evangelizadores consagrados e cristãos leigos e
leigas, precisa avançar sempre mais neste caminho sinodal. Isto significa
intensificar continuamente os nossos serviços às muitas comunidades de fé, em
todo o território nacional, promovendo mais ampla participação, com atenção
especial à participação das mulheres.
Importante lembrar que as
novas Diretrizes Gerais para a Ação Evangelizadora no Brasil serão construídas
também a partir do exercício da sinodalidade, reunindo contribuições do
documento final do Sínodo dos Bispos. Haverá, pois, um caminho bonito no
próximo quadriênio, fruto da ampla escuta que a Igreja vem fazendo para este
processo sinodal, e que levará também às novas Diretrizes Gerais para a Ação
Evangelizadora no Brasil.
Dom Walmor conduzindo a
votação do novo Estatuto da CNBB na 59ª AG. | Foto: Victoria Holzbach.
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Com a proximidade da 60ª
Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a ser
realizada de 19 a 28 de abril, em Aparecida (SP), cuja temática principal
estará voltada à avaliação global da caminhada da CNBB, a Assessoria de
Comunicação da entidade entrevistou cada um dos componentes da atual
presidência, para que fizessem um balanço de sua gestão (2019-2023), uma vez
que essa Assembleia também terá caráter eletivo e definirá os próximos
membros.
Abaixo, o arcebispo de
Porto Alegre (RS) e primeiro vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB), dom Jaime Spengler, destacou aspectos que marcaram a gestão
da atual presidência. Confira a entrevista:
Que aspectos o senhor
destaca da gestão de vocês à frente da CNBB no período de 2019-2023?
Dom Jaime Spengler,
primeiro vice-presidente da CNBB
A pandemia do Covid-19
exigiu decisões e posições desafiadoras… Foram tempos delicados que
proporcionaram caminhos até então inimagináveis e, portanto, aprendizados. O contexto
socio-político-eclesial também exigiu senso crítico, bom senso, determinação.
Neste contexto, vale também ressaltar o Pacto pela Vida e pelo Brasil, firmado
conjuntamente por outras entidades da sociedade civil.
O que conduziu e orientou
a ação desta da presidência na condução da Conferência neste período?
O que conduziu e orientou
a ação da presidência não poderia ser outra coisa senão o desejo de colaborar
para fomentar a razão mesma de ser da Conferência: promover a comunhão entre os
Bispos.
Aponte uma alegria, uma
história ou algo que o marcou neste período como membro da presidência?
Uma experiência forte que
me marcou foi a visita que fizemos logo no início de nossa gestão à Diocese de
Boa Vista, quando tivemos oportunidade de verificar “in loco” o trabalho de
acolher os migrantes venezuelanos e haitianos, desenvolvido pela diocese de Boa
Vista e o Exército brasileiro, com a colaboração de variadas forças da
sociedade. A colaboração de muitos certamente fez a diferença neste trabalho de
acolhida!
Como avalia a atual
composição da presidência da CNBB com quatro membros?
Esta foi uma indicação da
Assembleia Geral da Conferência e que recebeu aprovação da Santa Sé. Ao longo
do quadriênio, a sintonia, a cooperação, a disposição para colaborar e o
espírito fraterno foram aspectos marcantes da atual composição. As diferenças foram
enriquecedoras!
Que pontos são centrais e
desafiam a atuação da CNBB nos próximos anos?
Experimentamos uma série
de crises: crise econômica, política, social, do humanismo, ética, eclesial, de
fé! Neste contexto, a Conferência certamente deverá pautar suas ações! A
referência maior será sempre o Evangelho do Crucificado-Ressuscitado, a
Doutrina Social da Igreja e a Tradição. A disposição será certamente a de
promover o bem comum e o cuidado pela vida nas suas diversas expressões, a fim
de que todos possam ter vida e vida em abundância (cf. Jo 10,10)
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O portal da CNBB preparou uma série de reportagens com os membros da presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) sobre o balanço da gestão no quadriênio 2019-2023, que se finda com o encerramento da 60ª Assembleia Geral da CNBB, que será realizada de 19 a 28 de abril, em Aparecida (SP).
Dom Mário Antonio Silva. | Foto: Ascom CNBB
Para o segundo-vice presidente da conferência, arcebispo de Cuiabá (MT), dom Mário Antônio Silva, o desafio dessa gestão se dividiu entre a unidade e a comunhão do episcopado e a sinodalidade na Igreja no Brasil tão defendida Pelo Papa Francisco.
Dom Mário destacou ainda a fase difícil da pandemia da Covid-19 e todos os desafios que tiveram de ser superados por causa do distanciamento social e a preocupação da presidência com a gestão e a sustentabilidade da CNBB. Leia, abaixo, a entrevista na íntegra.
Que aspectos o senhor destaca da gestão de vocês à frente da CNBB no período de 2019-2023?
Destaco o espírito de comunhão entre os membros da presidência à serviço da Conferência Episcopal e da Igreja no Brasil. Destaco a comunicação clara e objetiva, procurando semear a Esperança nas questões difíceis e partilhar as alegrias nos fatos celebrativos. Também destacou a preocupação da nossa presidência com a gestão e a sustentabilidade da CNBB no quadriênio que se finda e também no planejamento para o próximo ano.
O que conduziu e orientou a ação desta da presidência na condução da Conferência neste período?
O Espírito Santo nos conduziu e nos iluminou dando-nos a possibilidade de indicar caminhos de unidade e de sinodalidade. Nos orientou a força da palavra de Deus e a confiança do povo brasileiro em nossa conferência na luta pelas causas eclesiais e sociais.
Aponte uma alegria, uma história ou algo que o marcou neste período como membro da presidência?
Aponto uma prática no tempo da pandemia [da covid-19] que marcou a minha atuação como segundo vice-presidente. Uma prática de inúmeras videoconferências com os regionais da CNBB, favorecendo a escuta das dores e alegrias, bem como partilha de experiências vitoriosas e outras angustiantes dos irmãos bispos junto às suas dioceses. Tudo isso nos fez sentir mais próximos e mais solidários como pastores frente às necessidades do nosso povo.
Como avalia a atual composição da presidência da CNBB com quatro membros?
Avalio que favorece a entre ajuda nos serviços e a partilha de atribuições necessárias. Considero uma composição positiva e bem aceita pelos membros da conferência, além de oportunizar melhor representatividade do episcopado nacional.
Que pontos são centrais e desafiam a atuação da CNBB nos próximos anos?
Para mim, os pontos centrais que sempre desafiaram e continuarão desafiando são a unidade e a comunhão do episcopado. E considero também um desafio, a elaboração das diretrizes evangelizadoras, que sinalizem a esperança de um caminho sinodal na liturgia, na eclesiologia em nossos tempos. Minha oração para que a cada Assembleia Geral, a conferência nacional dos bispos do Brasil se fortaleça no serviço à Igreja, atenta aos sinais de nosso tempo.
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A pandemia do novo
coronavírus, a proteção de dados pessoais, as adequações na gestão, o uso da
tecnologia virtual e as polarizações são alguns dos desafios que a atual
presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) enfrentou nos
últimos quatro anos. Mas a unidade e a colaboração permitiram a superação. Essa
é uma das impressões partilhadas pelo bispo auxiliar da arquidiocese do Rio de
Janeiro (RJ) e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, em entrevista
de balanço da atual gestão. Para dom Joel, “uma alegria destacável foi a
capacidade de enfrentar os desafios que surgiram”.
Dom Joel avaliou a gestão
a partir de três frentes de atuação da CNBB: a evangelizadora, a gestão dos
bens temporais e a do diálogo com a sociedade e o governo. Esses âmbitos
conduziram e orientaram a ação da atual presidência, a partir da indicação
feita pelo presidente, dom Walmor Oliveira de Azevedo, que definiu a gestão, a
formação integral e o diálogo com a sociedade como princípios de atuação.
No campo evangelizador,
destaque para a travessia do período da pandemia e a necessidade de compreensão
do termo “comunidades eclesiais missionárias”. No âmbito da gestão, o destaque
às transformações trazidas pela Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD),
as mudanças de gestão internas na Conferência. Sobre o diálogo, “foi preciso
praticar intensamente a capacidade de diálogo”.
Sobre os pontos centrais e
desafiadores para os próximos anos, dom Joel citou os já destacados na atuação
da presidência e também os desafios sociais, os quais, “em algumas situações se
agravaram, tornando-se humanitários: a fome, situações análogas ao trabalho
escravo, espoliação do meio ambiente, aborto, entre outras”.
“Não há, na verdade, uma
questão desafiadora, mas um conjunto de questões em torno da vida e da paz,
concretizadas em uma Igreja comunhão de carismas e em uma sociedade
efetivamente democrática”.
Dom Joel considera que
“não são várias questões, uma ao lado da outra, mas uma única questão com
diversas facetas”. Tudo está interligado e são alguns dos desafios para os
próximos anos que, segundo dom Joel, valem para a CNBB e valem para a Igreja
toda, em cada diocese, esteja onde estiver, em cada comunidade e mesmo em cada
cristão e cristã.
Confira a entrevista na
íntegra:
– Que aspectos o senhor
destaca dessa gestão à frente da CNBB no período de 2019-2023?
Há vários aspectos a serem
destacados. Para isso, podemos considerar algumas frentes de atuação da CNBB:
frente especificamente evangelizadora, gestão dos bens temporais e diálogo com
a sociedade-governo.
No campo especificamente evangelizador, destaco a travessia do período de pandemia. Houve não apenas o abalo, mas também a indagação se haveria mudança substancial no jeito de ser igreja. A questão mais importante foi a da relação entre presencialidade e virtualidade. Houve até mesmo quem afirmasse que, em razão do desenvolvimento dos recursos virtuais, a presencialidade já não seria mais tão importante. As reflexões e ações desenvolvidas pela CNBB ajudaram a perceber que a essência do cristianismo está na presencialidade. Afinal, o Verbo se fez carne, presença, história. A virtualidade é um instrumento, uma ajuda para que a presencialidade se fortaleça. Algumas pessoas acreditavam que surgiria um cristianismo vivenciado virtualmente. Isso, porém, seria um cristianismo excessivamente individualizado, sem o efetivo convívio. Na medida em que a única prioridade das atuais DGAE são as comunidades eclesiais missionárias, ou seja, pequenas comunidades onde o relacionamento humano primário é essencial, a presencialidade ganha a importância que precisa efetivamente ganhar.
Um segundo aspecto ainda
dentro da ação especificamente evangelizadora diz respeito às já mencionadas
comunidades eclesiais missionárias. Não foram poucas as vezes em que surgiu a
necessidade de lembrar que este é um termo genérico, que, ao mesmo tempo, não
se identifica com perfil algum de comunidade, mas que se identifica com todos
os perfis, desde que sejam grupos pequenos, próximos à vida das pessoas,
organizados em rede externamente com as demais comunidades, reconfigurando as
paróquias, e, internamente, em diversos serviços e ministérios. É algo muito
simples, mas nem sempre compreendido.
No âmbito da gestão dos
bens temporais, ou seja, na gestão do patrimônio e nas relações jurídicas,
atravessamos um período de muitas transformações. Dentre elas, não há como não
citar a questão da proteção de dados, com a LGPD. Ainda não compreendemos todo
o alcance dessa nova realidade. O primeiro momento de contato com essa
realidade, momento que correspondeu praticamente ao quadriênio que agora se
encerra, ajudou a compreender que estamos diante de uma realidade nova para a
qual não estávamos preparados. Foi necessário, por exemplo, buscar peritos no
assunto, conversar algumas vezes com os bispos e realizar até mesmo um encontro
com as assessorias jurídicas das dioceses para tratar desses assuntos
pendentes, dentre os quais a proteção de dados.
Ainda no campo da gestão,
reconfiguramos internamente a Conferência, buscando uma gestão cada vez mais
transparente e ágil. Fizemos uso dos mecanismos contemporâneos de
administração, com ações e mecanismos muito simples, porém distantes da cultura
eclesial. As AGMs, reuniões mensais com as coordenações dos setores,
estabelecendo e revisando metas, e assim por diante. No âmbito financeiro,
temos ao final de cada dia as informações necessárias. Também foi concretizada
a gestão do CCM-Centro Cultural Missionário, como efetiva filial da CNBB, com
gestão articulada, cujos resultados podemos já começar a sentir.
No terceiro âmbito, o das
relações com a sociedade e o governo, como sabido, é missão da CNBB dialogar
com a sociedade brasileira nas questões de nível nacional e com os poderes
públicos em nível federal. A pandemia não gerou o quadro encontrado, mas
agravou diversas situações, gerando, por exemplo, insegurança, incerteza e
reações polarizadas. Foi preciso praticar intensamente a capacidade de diálogo.
A presidência reuniu-se algumas vezes em formato virtual com os bispos.
Conversou com regionais, participou de encontros e discerniu caminhos para a
comunhão.
Não se pode deixar de
mencionar o Pacto pela Vida e pelo Brasil, como serviço dialogal com a
sociedade brasileira, serviço vivenciado em união com diversas entidades na
defesa da vida e da democracia.
Estes são apenas exemplos
nos diversos âmbitos.
– O que conduziu e
orientou a ação desta presidência na condução da Conferência neste período?
Já no início do
quadriênio, Dom Walmor indicou a gestão, a formação integral e o diálogo com a
sociedade como princípios de atuação. Estas indicações foram assumidas e
seguidas, produzindo os resultados que indiquei antes.
Além disso, não há como
deixar de indicar a integração e a fraternidade vivenciadas entre os quatro
membros da presidência e de toda a presidência com os bispos que tinham funções
mais diretas na vida da Conferência, a saber, o CONSEP e o Conselho Permanente.
Foi uma experiência muito rica.
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– Aponte uma alegria, uma
história ou algo que o marcou neste período como membro da presidência.
Uma alegria destacável foi
a capacidade de enfrentar os desafios que surgiram: pandemia, proteção de
dados, adequação da gestão, uso da tecnologia virtual, polarizações. Desafios
novos são sempre desestabilizadores, mas a unidade da presidência e a indispensável
colaboração do Conselho Permanente permitiram superar os desafios surgidos. Foi
um grande aprendizado de diálogo, vivenciado em uma das maiores Conferências
Episcopais do mundo, se não formos a maior quanto ao número de bispos e de
circunscrições eclesiásticas. Uma das últimas alegrias foi a instalação da
diocese de Araguaína, neste domingo, e a posse do seu primeiro bispo.
Outra alegria, se posso
citar duas, tem sido a participação no Sínodo sobre a sinodalidade. Veja que
não estou falando em preparação, mas em participação, pois já agora, ao
preparar a sessão sinodal de 2023, estamos vivenciando a própria sinodalidade.
É um caminho que se faz já concretizando a grande intuição do sínodo, que é a
comunhão a serviço da missão.
Uma terceira alegria foi a
construção, aprovação e promulgação do Estatuto da CNBB. Foi um processo de
escuta das dioceses, com algumas contribuições, é verdade, que não se aplicavam
ao Estatuto, que tem uma identidade bem específica, mas que serviram para
estimular a mentalidade sinodal, que viria logo depois com o Sínodo.
– Como avalia a atual
composição da presidência da CNBB com quatro membros?
Para mim, a questão não se
encontra no número de membros, mas no modo como estes se relacionam. Como já
indiquei antes, a fraternidade entre nós ajudou muito. O estilo de Dom Walmor para
conduzir as questões, ouvindo as diversas vertentes das questões e valorizando
o conhecimento especializado nas diversas áreas, ajudou muito. Também a divisão
de serviços, envolvendo os dois vice-presidentes foi importante.
A mim, na Secretaria
Geral, essa composição foi de grande ajuda, pois, sempre pude contar com o
apoio direto e experiente de Dom Walmor, Dom Jaime e Dom Mário. E a amizade
entre nós se fortaleceu ainda mais.
– Que pontos são centrais
e desafiam a atuação da CNBB nos próximos anos?
O mundo está se
transformando a passos muito largos. Questões novas surgem a todo momento.
Questões antigas, que estavam como que adormecidas, estão voltando com um vigor
que nos desafia. Algumas das questões novas eu já mencionei nas respostas
anteriores, como, por exemplo, as ligadas à gestão dos bens, com firme
transparência, conforme nos tem orientado o Papa Francisco.
Além disso, permanecem os
desafios sociais, que, em algumas situações se agravaram, tornando-se, como
insisto em dizer, humanitários: fome, situações análogas ao trabalho escravo,
espoliação do meio ambiente, aborto, entre outras. A Igreja sempre compreendeu
essas situações como formas de agressão à vida, que precisa ser incansavelmente
defendida, desde a concepção até a morte natural. Essa expressão precisa ser
reiterada e concretizada.
Não há, na verdade, uma
questão desafiadora, mas um conjunto de questões em torno da vida e da paz,
concretizadas em uma Igreja comunhão de carismas e em uma sociedade
efetivamente democrática. Como diz um canto bastante conhecido, “tudo está
interligado”. Assim nos vem insistentemente ensinando o Papa Francisco,
principalmente a partir da Laudato Si’: não são várias questões, uma ao lado da
outra, mas uma única questão com diversas facetas. Precisaremos, por certo,
aprender a trabalhar em comunhão, unindo forças.
Em tudo isso, fica, a meu
ver, o desafio que nos será trazido pela Campanha da Fraternidade de 2024, a
primeira do próximo quadriênio, que tratará da relação entre a fraternidade e a
amizade social. Trata-se de enfrentar não esta ou aquela questão, não um
aspecto pontual da problemática social vivida, mas de nos perguntarmos para
onde vai a sociedade brasileira e mesmo mundial, se rumará para a aguda
individualização de tudo ou se para a comunhão, a fraternidade, a articulação,
no caso, em redes, uma figura que também aprendemos a valorizar. Em meio a
tantas oposições e polarizações, em meio a feridas que atingiram famílias e
comunidades, o desafio da reconciliação é imperativo na reconstrução da
comunhão.
Logo no primeiro ano do
próximo quadriênio, celebraremos a primeira sessão do Sínodo sobre
sinodalidade. A meu ver, trata-se de um momento importante para refletir sobre
a comunhão como característica irrenunciável da Igreja e mesmo de todo ser
humano.
Estes são alguns dos
desafios para os próximos anos. Valem para a CNBB e valem para a Igreja toda,
em cada diocese, esteja onde estiver, em cada comunidade e mesmo em cada
cristão e cristã.
Dom Walmor e demais membros da Presidência na votação
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