a Páscoa de Jesus Cristo nos ilumina
“Então as mulheres se lembraram das palavras de Jesus” (Lc 24,8).
Na madrugada do domingo, algumas mulheres vão ao túmulo
trazendo no coração o sofrimento após ter presenciado a morte de Jesus na cruz.
Elas entraram no túmulo, mas não viram o corpo de Jesus e ficaram sem saber o
que lhe acontecera. Certamente suas interrogações foram muitas, pois estavam
diante de um fato novo: o sepulcro vazio. O que, de fato, havia
acontecido? Como entender e explicar a ausência do corpo do Mestre para o qual
levaram perfumes?
É nesse momento que os anjos de Deus anunciam a elas que o
corpo de Jesus não estava ali porque ele havia ressuscitado, e lhes pedem para
recordar o que Jesus dissera: “O Filho do Homem será entregue nas mãos dos
pecadores, será crucificado e no terceiro dia ressuscitará” (Lc 24,7). Esse
acontecimento nos revela uma luz importante: era fundamental considerar a
Palavra de Jesus para que pudessem acolher o que aconteceu em sua vida e o que
ele estava indicando para elas.
A Palavra é luz para nossa vida e faz arder nosso coração.
Quando as mulheres se lembram das palavras de Jesus, elas se deixam iluminar
por essa luz e não a retêm para si. Saem correndo para anunciar aos apóstolos e
a outros o mistério que lhes tocara o coração. Quem configura sua vida à de
Jesus, através de sua Palavra, é chamado a partilhar essa experiência de fé com
a comunidade. Ainda que o testemunho delas não tenha sido considerado de
imediato, elas não deixaram de proclamar e testemunhar a novidade que aquecia
seus corações e transformava suas vidas: “Ele ressuscitou”. No fato proclamado
– “Ele ressuscitou” – está todo o coração do mistério pascal e do anúncio
cristão, cuja certeza é que Cristo está conosco todos os dias até o fim dos
tempos. As mulheres são, de fato, as primeiras testemunhas da Ressurreição. E
os apóstolos, após acolher o anúncio das mulheres, experimentam a graça do
encontro com Jesus, que lhes abre a inteligência e o coração para um modo de
vida renovado. E assim a ação de Deus transforma a vida das mulheres discípulas
missionárias de Jesus Cristo, dos apóstolos, dos demais discípulos, de toda Igreja
nascente.
Acolher a Palavra de Jesus, encontrar-se com ele, escutar
testemunhos sobre a presença de Jesus na vida das pessoas são ações
fundamentais que devem ser vivenciadas, partilhadas e testemunhadas por nós. É
desse modo que nossa vida pessoal, familiar e comunitária se torna iluminada
pela presença viva de Jesus Cristo. A Palavra Sagrada escrita e vivenciada,
abre-nos horizontes para o caminho de sinodalidade por meio de uma experiência
de fé pessoal e comunitária. Enquanto Igreja sinodal, somos chamados a caminhar
juntos, desafiando esse modelo de sociedade que, por diversos meios, faz
imperar o individualismo.
Sem dúvida, nosso tempo nos coloca interrogações assim como
aquelas que as mulheres tiveram junto à sepultura de Jesus. Por exemplo, como
superar um modo de vida social polarizado e funcionalista que não oferece às
pessoas condições para refletir sobre o sentido da vida, da fé, da felicidade?
Como fechar os olhos para o sofrimento dos mais pobres e das várias situações
de mortes que assolam nosso país? Essas interrogações resultam de um mundo
plural e complexo, cujas relações humanas se tornam cada vez mais “líquidas”,
individualistas, não duradouras, o que fortalece, como consequência, o
desenvolvimento de uma cultura do subjetivismo.
Diante dessas situações reais de sofrimento, precisamos ser
sinais da presença do Salvador que entregou sua vida por todos da seguinte
maneira: a) testemunhando nossa fé, nossa adesão a Cristo nos vários ambientes
da sociedade; b) descobrindo luzes da presença viva de Jesus Cristo
ressuscitado na vida de pessoas, famílias, comunidades e grupos; c) apontando o
caminho do cuidado para com a vida das pessoas e com o meio ambiente; d)
dedicando-se à construção de uma sociedade humanizada e fraterna, querida por Deus;
e) cuidando da vida das pessoas, em especial dos pobres que vivem nas
periferias urbanas e existenciais.
Portanto, iluminados pela Páscoa de Cristo e por sua
Palavra, somos chamados a cuidar ainda mais da vida das pessoas, em
especial dos pobres e de tantos quantos vivem nas periferias. Desse modo, somos
chamados ressuscitar com Cristo, percorrendo os passos de sua paixão, morte e
ressurreição. Jesus venceu a morte para nos dar a vida em plenitude. Assumiu
nossa natureza humana e a condição de servo para nos revelar o Pai e, pelo
Espírito Santo, nos fazer mergulhar no mistério de Deus. Como sinal de amor e
entrega extrema ao projeto de Deus, ensina-nos o dom do serviço e da
disponibilidade às pessoas.
Mesmo que nosso testemunho de fé não seja considerado pela
comunidade cristã, precisamos confiar no Espírito Santo que está presente e age
na vida das pessoas e nas realidades, indicando as luzes necessárias para
caminharmos juntos, em espírito de sinodalidade.
Assim como o Papa Francisco nos pede, sejamos sinais de
esperança face a uma humanidade em crise, portadores da palavra de Jesus, suas
testemunhas, indo ao encontro das pessoas em suas realidades, tendo como
verdade de fé o Cristo ressuscitado que nos acompanha, nos ilumina e nos
fortalece!
Uma feliz e santa Páscoa a todos e todas!
Dom Esmeraldo Barreto de Farias - Bispo de Araçuaí (MG)
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