“Viver indiferentes à dor não é uma opção possível”
“Fomos criados para a plenitude que só se
alcança no amor. Viver indiferentes à dor não é uma opção possível”. Com o tema
da compaixão como exercício sinodal de cura Francisco apresentou a mensagem
para o Dia Mundial dos Doentes 2023.
“Trata bem dele!” A compaixão como
exercício sinodal de cura. Assim o Papa intitulou a sua Mensagem para o XXXI
Dia Mundial do Doente que será celebrado em 11 de fevereiro de 2023 recordando
a parábola do Bom Samaritano. A doença faz parte da nossa experiência humana,
escreveu Francisco logo no início da sua Mensagem, mas “pode tornar-se
desumana, se for vivida no isolamento e no abandono, se não for acompanhada
pelo desvelo e a compaixão”.
Caminhar juntos
E observa a importância da nossa caminhada
ao afirmar que nestes momentos pode-se ver como estamos caminhando: “se é
verdadeiramente um caminhar juntos, ou se se vai na mesma estrada mas cada um
por conta própria, cuidando dos próprios interesses e deixando que os outros
‘se arranjem’. Por isso”, continua, “neste XXXI Dia Mundial do Doente e em
pleno percurso sinodal, convido-vos a refletir sobre o fato de podermos
aprender, precisamente através da experiência da fragilidade e da doença, a
caminhar juntos segundo o estilo de Deus, que é proximidade, compaixão e
ternura”.
A fragilidade faz parte do nosso caminho
“Naturalmente as experiências do extravio,
da doença e da fragilidade fazem parte do nosso caminho: não nos excluem do
povo de Deus”, acrescentou na Mensagem, “pelo contrário, colocam-nos no centro
da solicitude do Senhor, que é Pai e não quer perder pela estrada nem sequer um
dos seus filhos". Enfatizando que se “trata de aprender com Ele a ser
verdadeiramente uma comunidade que caminha em conjunto, capaz de não se deixar
contagiar pela cultura do descarte”.
O Bom Samaritano
Ao falar sobre a parábola do Bom Samaritano
exemplificou o estilo de Deus: “Com efeito, há uma profunda conexão entre esta
parábola de Jesus e as múltiplas formas em que é negada hoje a fraternidade.
Não é fácil distinguir os atentados à vida e à sua dignidade que provêm de
causas naturais e, ao invés, aqueles que são provocados por injustiças e
violências. Na realidade, o nível das desigualdades e a prevalência dos
interesses de poucos já incidem de tal modo sobre cada ambiente humano que é
difícil considerar ‘natural’ qualquer experiência. Cada doença realiza-se numa
‘cultura’ por entre as suas contradições”.
Reconhecer a solidão e abandono
Voltando ao ponto focal da mensagem
acrescenta “O que importa aqui é reconhecer a condição de solidão, de abandono.
Trata-se duma atrocidade que pode ser superada antes de qualquer outra
injustiça, porque para a eliminar – como conta a parábola – basta um momento de
atenção, o movimento interior da compaixão”.
Nossa vulnerabilidade
“Nunca estamos preparados para a doença”,
recorda o Papa, “e muitas vezes nem sequer para admitir a idade avançada.
Tememos a vulnerabilidade, e a invasiva cultura do mercado impele-nos a
negá-la. Não há espaço para a fragilidade. E assim o mal, quando irrompe e nos
ataca, deixa-nos por terra atordoados”. E assinala as consequências “então pode
acontecer que os outros nos abandonem, ou nos pareça que devemos abandoná-los a
fim de não nos sentirem um peso para eles. Começa assim a solidão, e envenena-nos
a sensação amarga duma injustiça, devido à qual até o Céu parece se fechar para
nós”.
Igreja: prestação de cuidados
“Por isso mesmo é tão importante,
relativamente também à doença, que toda a Igreja se confronte com o exemplo
evangélico do bom samaritano, para se tornar um válido ‘hospital de campanha’:
com efeito a sua missão, especialmente nas circunstâncias históricas que
atravessamos, exprime-se na prestação de cuidados”.
Objetivos do Dia Mundial do Doente
Por fim o Papa escreve: “o Dia Mundial do
Doente não convida apenas à oração e à proximidade com os que sofrem, mas visa
ao mesmo tempo sensibilizar o povo de Deus, as instituições de saúde e a
sociedade civil para uma nova forma de avançar juntos”. E afirma ainda: “A
Palavra de Deus – não só na denúncia, mas também na proposta – é sempre
iluminadora e de hoje. Na realidade, a conclusão da parábola do Bom Samaritano
sugere-nos como a prática da fraternidade, que começou por um encontro de
indivíduo com indivíduo, se pode alargar para um tratamento organizado”.
“Trata bem dele!”
Concluindo Francisco reitera a recomendação
do samaritano ao estalajadeiro: “Trata bem dele!”. Porém, continua, Jesus
repete-a igualmente a cada um de nós na exortação conclusiva: ‘Vai e faz tu
também o mesmo’. Como evidenciei na encíclica Fratelli tutti, ‘a parábola
mostra-nos as iniciativas com que se pode refazer uma comunidade a partir de
homens e mulheres que assumem como própria a fragilidade dos outros, não deixam
constituir-se uma sociedade de exclusão, mas fazem-se próximos, levantam e
reabilitam o caído, para que o bem seja comum’. Efetivamente ‘fomos criados
para a plenitude que só se alcança no amor. Viver indiferentes à dor não é uma
opção possível’”.
Jane Nogara - Vatican News
Nenhum comentário:
Postar um comentário