Educar: a força da presença dos pais
“Meus pais não
tinham nem escola, nem dinheiro, todo dia, o ano inteiro, trabalhavam sem
parar. Faltava tudo, mas a gente nem ligava. O importante não faltava, seu
sorriso, seu olhar”. Assim Padre Zezinho, na canção Utopia, define a
importância dos pais.
A ausência
dos pais na educação e na vida dos filhos tem sido um dos graves problemas para
a formação humana. Outras pessoas e instituições estão substituindo os pais e
as famílias. As consequências desta ausência são cada vez mais assustadoras.
Podemos constatar seus efeitos através da indisciplina escolar, da sexualidade
precoce, na falta de respeito aos mais velhos, no acesso às muitas opções
maléficas que circulam na internet, na opção pela cultura do descartável, no
desejo de consumismo, na dificuldade de concentração, na falta de diálogo em
casa e em muitas outras circunstâncias graves, principalmente o abandono à
transcendência, ou no pouco valor dado ao Sagrado.
Aquisições
materiais não substituem a presença dos pais, pois essas não promovem amor,
afetividade, orientação, correção, ternura, diálogo e educação. Cabe lembrar,
que muitas vezes, a ausência acontece mesmo quando os pais estão por perto.
Vivemos a cultura da fragmentação e do isolamento em nossos interesses
particulares, por isso, muitas vezes, mesmo estando perto fisicamente dos
filhos, cada membro da família se isola em cômodo da casa, com seus afaseres,
seus celulares, seus computadores e suas TVs.
Os pais são os
primeiros responsáveis pela educação dos filhos e devem testemunhar essa vocação. O
catecismo da Igreja Católica (2223) ensina como devem se comportar os
bons pais, partindo do exemplo: “Os pais são os primeiros responsáveis pela
educação de seus filhos. Dão testemunho desta responsabilidade em primeiro
lugar pela criação de um lar no qual a ternura, o perdão, o respeito, a
fidelidade e o serviço desinteressado são a regra. O lar é um lugar apropriado
para a educação das virtudes. Esta requer a aprendizagem da abnegação, de um
reto juízo, do domínio de si, condições de toda liberdade verdadeira. Os pais
ensinarão os filhos a subordinar ‘as dimensões físicas e instintivas às
dimensões interiores e espirituais.’ Dar bom exemplo aos filhos é uma grave
responsabilidade para os pais. Sabendo reconhecer diante deles seus próprios
defeitos, ser-lhes-á mais fácil guiá-los e corrigi-los: ‘Aquele que ama o filho
usará com freqüência o chicote; aquele que educa seu filho terá motivo de
satisfação (Eclo 30, 1-2)’”
As gerações
passadas compreendiam e sentiam a família como o aconchego. Mesmo na pobreza
material e com pouco estudo, os pais tinham papel e lugar prioritário, papel de
quem ama, cuida, orienta, corrige e pune. Papel e lugar de autoridade. Os
limites eram traçados, as regras claras, os “nãos” eram educativos. A
convivência ensinava a solidariedade, a partilha, o amor e temor a Deus, a
importância de respeitar os mais velhos, respeitar os professores, ter amor à
Pátria, rezar no início e fim do dia, antes das refeições e tantas outras
pequenas grandes virtudes que permitiam uma vida social mais sólida. Hábitos
que levam à virtude eram e devem ser desenvolvidos na vida familiar.
Aristóteles
acredita que todo homem é inclinado para a temperança, à coragem e a bondade,
mas essas precisam fazer parte de sua condição humana, que ocorrerá pela
valorização do hábito. O desenvolvimento de hábitos corretos garante o
surgimento das virtudes e o afastamento do vício. A aquisição de hábitos
virtuosos ou viciosos depende do exemplo. A repetição de hábitos virtuosos
conduzirá o indivíduo à virtude. A prática e o exercício dos hábitos viciosos
conduzirão o indivíduo ao vício. Afirma o Filosofo: “As coisas que temos de
aprender antes de fazer, aprendemo-las fazendo-as – por exemplo, os homens se
tornam construtores construindo, e se tornam citaristas tocando cítara; da
mesma forma, tornamo-nos justos praticando atos justos, moderados agindo
moderadamente, e corajosos agindo corajosamente. (Ética a Nicômaco. São Paulo:
Editora Abril. 1976, p.36)”.
A partir do que
nos propõe o Filósofo, compreendemos o quanto a convivência familiar é
necessária, essencial e insubstituível na formação dos hábitos que devem levar
à virtude. No entanto, a ausência dos pais colabora para a formação dos
hábitos viciosos, já que os filhos não têm os mesmos para seguir o exemplo. Há
uma degradação dos sentidos da família e os pais se sentem enfraquecidos na
missão de educar e de formar hábitos que levem à virtude.
A ausência dos
pais na educação dos filhos não pode somente ser justificada pela necessidade
dos dois, pai e mãe, trabalharem. Essa é uma justificativa relevante, mas não é
a única e talvez não seja a mais forte. Há muitos fatores, dentre eles, a perda
dos sentidos que leva a submissão da autoridade dos pais à vontade dos filhos.
As consequências da falta de autoridade são desastrosas para a vida pessoal e
social desse sujeito em formação e podemos sentir por todos os lados os
efeitos.
Na Exortação
Apostólica Amoris Lætitia, Papa Francisco é claro: “O
desenvolvimento afetivo e ético duma pessoa requer uma experiência fundamental:
crer que os próprios pais são dignos de confiança. Isto constitui uma
responsabilidade educativa: com o carinho e o testemunho, gerar confiança nos
filhos, inspirar-lhes um respeito amoroso. Quando um filho deixa de sentir que
é precioso para seus pais, embora imperfeito, ou deixa de notar que nutrem uma
sincera preocupação por ele, isto cria feridas profundas que causam muitas
dificuldades no seu amadurecimento. Esta ausência, este abandono afetivo
provoca um sofrimento mais profundo do que a eventual correção recebida por uma
má ação. (263)”
Que os pais,
seguindo o exemplo de José e Maria, façam-se sempre presentes na vida dos
filhos, educando-os para as virtudes da Fé, do Bem e do Amor, a fim de que cada
criança possa crescer, como o Menino Jesus, em “estatura, sabedoria e Graça
diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 52).
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