Dos que anseiam encontrar
a casa de Deus
Uma criança envolta em
panos
Frei Almir Guimarães
Com frequência nossa vida
transcorre na crosta da existência. Trabalhos, contatos, problemas, encontros,
ocupações diversas nos levam para cá e para lá; e nossa vida vai passando,
enchendo cada instante com algo que precisamos fazer, dizer, ver ou planejar.
Corremos assim o risco de perder nossa identidade, de transformarmo-nos numa
coisa a mais entre outras e de viver em que direção caminhar. Existe uma luz
capaz de orientar nossa existência? Existe uma resposta aos
nossos anseios e aspirações mais profundas? A partir da fé cristã esta, essa
resposta existe. Essa luz já brilha na criança de Belém. (José Antonio Pagola)
♦
Entre os diversos personagens que fazem parte do presépio do Menino Jesus,
apenas Mateus faz alusão à visita de Magos vindo do Oriente. Antes tinham
acorrido ao presépio pastores curiosos e simples. Agora três ilustres
cavalheiros. Peregrinos de Deus. Gente de outros cantos da
terra e do mundo. Símbolos de todos os buscadores de Deus. Chegam,
parlamentam, conversam com uns e outros a respeito do nascimento do
Menino. Trazem presentes. Gente de coração generoso e reto.
Falam de uma estrela que havia aparecido no céu de suas vidas e no firmamento
de seu país. Obstinadamente venceram obstáculos. O amor de Deus,
assim, se manifesta a todas as nações da terra. É nossa história, o relato
da nossa aventura humana que aí é retratado.
♦
Buscadores de Deus! Que bom se esta aventura fosse verdadeira para nós em
nossos tempos, que não cessamos nossa busca. Muitos de nós nascemos
no seio de famílias cristãs e fomos sendo envolvidos por ritos e
símbolos. Passamos a viver uma “religião” com rezas e sacramentos.
Alguns tivemos a chance de viver numa família esclarecida e num ambiente em que
o Evangelho era levado em conta. Outros foram separando vida da fé e fé
da vida. Foram perdendo o fogo da busca de Deus, o fogo do Evangelho.
Deus não pode ser um acessório, um “à coté”, ao lado daquilo que chamamos
de vida. O que conta não é a vida?
♦
Há aqueles que, interpelados pelo maravilhoso, pelo inesperado ou pelo trágico
da vida sentiram brilhar uma estrela, o frágil cintilar de uma estrela: o
nascimento de um filho, uma turbulência familiar, a ameaça de um
fracasso no casamento, uma derrocada financeira, o inferno das drogas, a
visita de uma pessoa que mais parecia um anjo caído do céu. Estrelas nossas
vidas no meio do ferial.
♦
Há os que encontram ou reencontraram a fé frequentando as páginas dos
evangelhos e tentando descobrir o Deus de Jesus Cristo nas parábolas, nos ditos
do Mestre, na esperança que se se podia perceber em sua fala. São pessoas
que, aos poucos, vão fazendo suas as respostas de Levi e Zaqueu e hospedam o
Senhor em sua intimidade. Umas vão se identificando com o filho pródigo e
sentem o abraço do Pai das misericórdias. Trazem para ao presépio o
tesouro de suas vidas.
♦
Muitos descobrem a Deus na dedicação aos outros. Sentem-se felizes quando
podem ser para e sendo para… compreendem que Deus é ser para… Lembram-se
das lições do catecismo onde haviam aprendido que quando damos um copo de água
fria ao menor dos nossos irmão é a Jesus que o ofertamos.
♦ Deus
vem no visitar e chega na simplicidade de um nascimento e termina seus dias no
alto de uma cruz, completamente injustiçado, privado até de suas vestes.
Um Deus que não mora nas alturas, mas chega perto de cada um de nós. O
Menino deitado nas palhas, no despojamento total, carente de nossa atenção, é a
verdadeira luz que ilumina todo homem que vem a este mundo. Veio para
todos o orbe. Fora dele não há claridade. Através dos tempos fomos
vendo a procissão de peregrinos iluminados pela luz da estrela da fé. Os Magos
representam os homens e as mulheres que carregam questionamentos e
interrogações, que não estão satisfeitos com a vida pela metade, que buscam um
sentido mais pleno para os dias que vivem.
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Textos para reflexão
Os magos, da cidade real,
onde julgavam dever encontrar o rei, dirigem-se à pequena cidade de Belém.
Entram no estábulo e encontram um recém-nascido envolto em panos. Não se
aborrecem com o estábulo, não se chocam com os panos, nem se escandalizam com o
menino amamentado: prostram-se, veneram-no como rei, adoram-no como
Deus. Quem os conduziu, também os instruiu, e quem os avisou
exteriormente pela estrela, também os alertou no segredo do coração.
Assim esta manifestação do Senhor tornou glorioso este dia e a piedosa
veneração dos magos o fez venerável.
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Dos sermões de São
Bernardo, abade
Hoje os magos que
procuravam o Senhor resplandecente nas estrelas, o encontram num berço.
Hoje os magos veem claramente envolvido em panos aquele que há muito
tempo buscavam de modo o obscuro nos astros. Hoje os magos
contemplam maravilhados, no presépio, o céu na terra, a terra no céu, o
homem em Deus, Deus no homem e incluído no corpo pequenino de uma
criança, aquele que o universo não pode conter. Vendo-o
proclamam sua fé e não discutem oferecendo-lhe místicos presentes, incenso a
Deus, ouro ao rei e mirra ao que havia de morrer. (São Pedro Crisólogo)
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Oração
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FREI ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.
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