Nossa tarefa não é conservar o passado
José Antonio Pagola
A missão da Igreja não é conservar o
passado. Ninguém pode colocar em dúvida sua necessidade de alimentar-se na
experiência fundadora de Cristo, nem sua necessidade de reavivar continuamente
o melhor que o Espírito de Jesus gerou ao longo dos séculos. Mas a Igreja não
deve converter-se em monumento do passado. Não adianta nada sermos fiéis ao
passado, quando esse passado dificilmente guarda relação com as interrogações e
desafios do presente.
O objetivo da Igreja também não é
sobreviver. Isto significaria esquecer sua missão mais profunda que é comunicar
em cada momento histórico a Boa Notícia de um Deus Pai que deve ser estímulo,
horizonte e esperança para o ser humano. Não adianta nada restaurar o passado
se não somos capazes de transmitir algo significativo aos homens e mulheres de
hoje.
Por isso, as virtudes que devemos
desenvolver no interior da Igreja atual não se chamam “prudência’,
“conformidade”, “resignação”, “fidelidade ao passado”. Devem levar muito mais o
nome de “audácia”, “capacidade de assumir risco”, “busca criativa”, “escuta do
Espírito” que faz tudo novo. Arriscar não é um caminho fácil para nenhuma
instituição, também não para a Igreja. Mas não há outro, se quisermos comunicar
a experiência cristã num mundo que mudou radicalmente.
Quando se vive do Espírito criador de Deus,
pertencer a uma instituição que tem dois mil anos não é uma desculpa para não
arriscar-se. Algo está falhando na Igreja, se a própria segurança se torna mais
importante do que a busca criativa e arriscada de caminhos novos, para
comunicar ao ser humano de hoje o Evangelho e a esperança cristã.
O erro mais grave do “terceiro servo” da
parábola evangélica não é ter enterrado seu talento sem fazê-lo frutificar, mas
pensar equivocadamente que está respondendo fielmente a Deus com sua postura
conservadora, a salvo de todo risco. O fato de não mudar nada não significa que
estamos sendo fiéis a Deus. Nossa suposta fidelidade pode ocultar algo como
rigidez, covardia, imobilismo, comodidade e, em última análise, falta de fé na
criatividade do Espírito. A verdadeira fidelidade a Deus não se vive a partir
da passividade e da inércia, mas a partir da vitalidade e do risco de quem
trata de escutar hoje seus chamados.
______________________________________________________________________________________________________
JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.
_______________________________________________________________________Fonte: franciscanos.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário