Introdução
Todos os anos o Círio de Nossa Senhora de
Nazaré em Belém ganha um tema específico. O sentido do tema é evidenciar um
aspecto do perfil de Maria que possa ser objeto de reflexão catequética para o
enriquecimento do povo de Deus. Portanto, o tema do Círio de cada ano, é sempre
uma pista de aprofundamento da beleza e largueza da mariologia.
Além desse aspecto teológico de
aprofundamento da mariologia, ainda há outros dois fatores que estimulam a
escolha do tema do Círio de cada ano. Trata-se do dinamismo da vida pastoral da
Igreja e da sociedade na atualidade. Dessa forma, a palavra central do tema do
Círio deste ano é “esperança”; essa virtude tem uma íntima relação com a vida
de Maria, do dinamismo da Igreja e a atual situação da era contemporânea
profundamente tentada pelo pessimismo, desânimo, cansaço, derrotismo,
desespero, depressão, carência de sentido para vida. Brevemente aprofundemos o
sentido do tema do Círio deste ano: “Maria, sinal de esperança para o povo de
Deus em caminho”.
1. O tema do Círio deste ano nos convida a
olhar para “Maria como sinal”. Então, somos convidados a refletir sobre a
pedagogia dos sinais. O que é um sinal e para que serve? Os dicionários da
língua portuguesa nos apresentam muitos significados da palavra “sinal”. Em
síntese nos falam de uma realidade visível que comunica, informa, adverte,
orienta, informa, confirma, consola, tranquiliza, indica, comprova, demonstra,
preanuncia algo etc. “Maria é sinal de Esperança” porque nos estimula a olhar
para o futuro a partir da sua vida e da Vida de Cristo. Olhando para a vida de
Maria, com seus gestos e palavras, a partir dos Evangelhos, encontramos muitos
sinais estimulantes para o nosso caminho de Peregrinos da Esperança: Maria é a
mestra da escuta da Palavra de Deus, ela traduz em atitudes de serviços a sua
experiência de intimidade com Deus, é corajosa e ousada, rica de espírito de
iniciativa, testemunha zelo para com a sua família, está firme na hora do
sofrimento etc.
2. A Igreja é povo de Deus peregrino. A
Igreja é o povo formado pelos discípulos de Jesus Cristo que estão a caminho da
pátria definitiva, a plenitude do Reino de Deus, à glória eterna. Essa noção de
peregrinação ou caminho, quer indicar o dinamismo da Igreja neste mundo. A
Igreja não é uma realidade estática, mas viva; é a dinâmica comunidade de Jesus
Cristo movida pela fé, a esperança e a caridade. Por ser formada por pessoas a
Igreja tem uma fase terrena profundamente encarnada na história, essa é a
Igreja peregrina; mas ao mesmo tempo, a Igreja transcende a história e chega a
sua plenitude formando a comunidade Celeste, que é a Igreja Triunfante. A
Igreja enquanto caminha neste mundo tem seus olhos voltados para o alto,
aspirando as coisas celestes, onde está Cristo em sua plenitude (cf. Cl 3,1-2).
O mesmo apóstolo afirma que “a nossa cidadania é dos céus, de onde aguardamos
com grande expectativa o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fl 3,20). Dessa
forma a nossa habitação terrena é passageira (cf. 2Cor 1,5; 1Pd 1,1), porque
somos peregrinos. Alicerçados na fé, animados pela esperança e comprometidos na
prática do amor, estamos em busca da nossa pátria celeste (cf. Hb 11,14).
3. Maria é a peregrina da Esperança por
excelência porque se fez serva de Deus para a Salvação do mundo (cf. Lc 1,38).
Na solene definição do dogma da Assunção, o Papa Pio XII em 1950, afirmou: “A
Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida
terrestre foi assunta (elevada) em corpo e alma à glória celestial.” Portanto,
para nós ela é sinal de estímulo, esperança, consolo. A ideia de peregrinação,
porque estamos em movimento rumo ao santuário eterno, sintetiza o dinamismo da
Igreja que testemunha a promoção do Reino de Deus. Maria é modelo da peregrina
fiel que, tendo vivido plenamente a vida terrena, agora é nosso modelo e
intercede pelos discípulos do seu Filho.
4. Maria, é Mãe e esperança da humanidade. Toda mãe é naturalmente fonte de esperança e segurança para seus filhos, sobretudo, enquanto estes vivem na condição de total dependência e menoridade. Maria é sinal de esperança para a humanidade porque Ela nos gerou o Filho de Deus na humanidade, possibilitando a nós a visibilidade, aproximação e encontro com o Messias, o Salvador. A maternidade está profundamente vinculada à esperança.
5. Como mãe da comunidade dos discípulos do
seu filho, ela é a intercessora por excelência, como toda mãe diante das
necessidades dos seus filhos em suas aflições. Essa condição de intercessora é
reconhecida na ladainha de Nossa Senhora com seus diversos títulos relacionados
à intercessão, como por exemplo, Maria é invocada como a Mãe da Divina Graça,
Virgem poderosa, Virgem clemente, Porta do céu, Refúgio dos pecadores,
Consoladora dos aflitos, Auxílio dos cristãos, Rainha da paz, Senhora do Bom
Remédio, Advogada, mãe do Perpétuo Socorro etc. Todos esses títulos confirmam o
papel de intercessora, sinal de esperança e consolo para seus filhos.
6. Maria é sinal da vivência das virtudes
teologais. Na vida de Maria há uma profunda síntese de fé, esperança e
caridade. A sua intimidade com Deus, a levou a ser profundamente aberta,
sensível, criativa, solidária com as pessoas durante a sua vida. Ela foi sinal
da ternura da bondade Divina para com a humanidade aceitando ser a mãe do
Emanuel, o Deus conosco; sua presença na casa de Isabel foi sinal concreto da
sua sensibilidade, espírito de iniciativa e fé traduzida em obras; foi o mesmo
que aconteceu em Caná da Galileia, quando seu espírito de percepção e corajosa
iniciativa tornou-se o ponto de partida da esperança para os jovens noivos para
que a festa não viesse ao fracasso.
7. Maria é sinal de esperança por sua plena
realização vocacional em Cristo. Como peregrinos neste mundo, vulneráveis aos
múltiplos condicionamentos terrenos, somos passivos de erros, desvios,
desânimo. Contemplamos na sociedade o drama da frustração vocacional sofrido
por muitas pessoas. Maria é sinal da pessoa plenamente realizada, que
testemunhou com generosidade o sentido da sua vida. Tendo já alcançado a meta
definitiva da sua existência, está junto ao seu Filho, no céu, gloriosa. Também
nós somos chamados à glória; mas ainda vai se manifestar o que seremos (cf. 1Jo
3,2). Do Céu, Maria nos acompanha e intercede junto a Deus por nós, seus filhos
a caminho pela nossa plena realização em Cristo. A mãe nunca quer ver seus
filhos infelizes, frustrados, fracassados.
8. Maria é sinal de Esperança porque é a
mulher vestida de sol (cf. Ap 12,1), cheia de Graça, portadora da trindade
Santa (cf. Lc 1,28-28). Portanto, onde está Maria, está Cristo Nossa Esperança.
Muito significativo foi o gesto de Jesus no alto da Cruz apontando Maria como
sua mãe e o discípulo compreendendo tudo, levou Maria para a sua casa. Maria é
sinal de proteção, de intercessão e de esperança para as famílias. Onde há
sinais da presença de Maria, ali há compromisso com a defesa da vida indefesa e
inocente (cf. Mt 2,13-15).
9. Maria é sinal de esperança porque foi a
educadora do Mestre e Salvador. Há uma profunda relação entre educação e
esperança. Por isso, em Caná da Galileia, Maria assumiu a missão de zelosa
educadora dos serventes para a obediência ao Senhor e, assim, se garantiu a esperança
da boa festa para o noivos. No compromisso com a educação há um claro sinal de
quem acredita no futuro, no pleno desenvolvimento humano, na justiça e na Paz.
Maria educa a humanidade para o sentido da vida, que está na vivência da
obediência ao mandamento do Amor, de onde brota a esperança do Bem viver, da
Alegria e da Paz Interior, bondade e realização humana.
10. Maria é sinal de esperança por sua
firmeza no Calvário. Ela é a consoladora dos aflitos e a desatadora dos nós que
anima e consola seus filhos nos momentos dramáticos. Por estar sofrendo
serenamente junto à cruz de Jesus, Maria é sinal de firmeza e estímulo para
quem está sendo tentado ao desespero e ao desânimo no sofrimento. Não são
poucos aqueles que, ao fazer a experiência do sofrimento, entram em crise de fé
e se desesperam. Ela é referência de quem é portador de solidez espiritual e
por isso, mantém-se íntegra nos momentos dramáticos da existência.
PARA A REFLEXÃO PESSOAL:
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