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Leitura da Profecia de Daniel:
Eu continuava olhando até que foram colocados uns tronos, e um Ancião de muitos dias aí tomou lugar. Sua veste era branca como neve e os cabelos da cabeça, como lã pura; seu trono eram chamas de fogo, e as rodas do trono, como fogo em brasa. Derramava-se aí um rio de fogo que nascia diante dele; serviam-no milhares de milhares, e milhões de milhões assistiam-no ao trono; foi instalado o tribunal e os livros foram abertos.Continuei insistindo na visão noturna, e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho do homem, aproximando-se do Ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença. Foram-lhe dados poder, glória e realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá.
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- Deus é Rei, é o Altíssimo, muito acima do universo.
- Deus é Rei! Exulte a terra de alegria, e as ilhas numerosas rejubilem! Treva e nuvem o rodeiam no seu trono, que se apoia na justiça e no direito.
- As montanhas se derretem como cera ante a face do Senhor de toda a terra; e assim proclama o céu sua justiça, todos os povos podem ver a sua glória.
- Porque vós sois o altíssimo, Senhor, muito acima do universo que criastes, e de muito superais todos os deuses.
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Leitura da Segunda Carta de São Pedro:
Proclamação do Evangelho de São Mateus:
A glória ilumina a cruz
A festa da Transfiguração é fortemente celebrada na Igreja Oriental, que contempla muito o Cristo glorioso no seu caminho de sofrimento: a glória ilumina a cruz.
Esta é também a impressão ao se ler o evangelho de hoje, especialmente em Mc 9,2-10 (ano B), no início da seção que apresenta as três predições da paixão (Mc 8,32-34; 9,30-32; 10,32-34). Parece que a Transfiguração é a resposta antecipada ao escândalo da cruz: Pedro em 8,32 rejeita a cruz, mas é convidado por Jesus a presenciar a Transfiguração, sinal de união de Jesus com o Pai e manifestação da autoridade de Jesus, que toma os traços do Filho do Homem glorioso, o executor do plano de Deus e fundador de seu Reino conforme Dn 7,13-14. Contudo, os discípulos não compreendem; só à luz da ressurreição compreenderão (9,10).
Já os outros evangelistas acentuam os traços que caracterizam seus respectivos escritos. Mateus 17,1-9 (ano A) insiste muito na aprendizagem dos discípulos. Não menciona sua incompreensão, pelo contrário, mostra Jesus animando-os a ir a caminho (Mt 17,7). A visão da glória do Senhor deve ser, também para nós, um estímulo para seguir confiantes pelo caminho do discipulado: “Levantai-vos, não tenhais medo”.
Em Lc 9,28-36 (ano C) o aspecto de mistério é mais forte. Lucas explicita o detalhe de Moisés e Elias que conversam com Jesus. Em 2Rs 2, Elias é arrebatado ao céu, e a crença judaica acreditava que o corpo de Moisés tinha sido levado ao céu. Assim, Moisés e Elias são as testemunhas celestiais que aparecem a Jesus em oração (9,29-31). Falam a Jesus, em diálogo celestial, sobre o “êxodo” (saída) que ele devia levar a termo em Jerusalém. Jerusalém é muito acentuada no evangelho de Lc, sobretudo na parte central que aqui inicia, apresentada como uma grande viagem de Jesus a Jerusalém. Pois é em Jerusalém que o mensageiro de Deus deve ser rejeitado, mas é de lá também que a palavra do anúncio sairá para o mundo inteiro, como Lucas mostra no seu segundo livro, Atos dos Apóstolos.
Lucas menciona também que não apenas a nuvem (= presença de Deus) cobriu os discípulos, mas que eles entraram na nuvem, ainda que cheios de temor (Lc 9,34). Isso foi interpretado pelos grandes místicos como o entrar na escuridão mística, o largar as certezas humanas para presenciar a manifestação de Deus em Jesus Cristo. Em sentido semelhante podemos interpretar o mal-entendido de Pedro, que quer erguer três tendas, uma para Jesus, uma para Moisés e uma para Elias. Isso seria humano demais. A “Tenda” por excelência é a própria nuvem da presença de Deus, que está em Cristo Jesus (cf. a shekiná da mística judaica).
Assim, esta festa nos convida a deixar-nos envolver pelo mistério do Filho no qual o Pai coloca todo seu beneplácito e ao qual devemos unir-nos em obediência para com ele realizar o plano que o Pai lhe confiou com os plenos poderes do Filho do homem (cf. I” leitura).
Onde possível, seria bom celebrar hoje a missa segundo o rito oriental, com aquela solenidade que lembra a glória do céu aparecendo na terra.
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PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.
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