responder
com coragem aos desafios do presente e do futuro
Francisco encontrou-se com os jovens
universitários na Universidade Católica Portuguesa e em seu discurso destacou a
figura do peregrino, pois nela "espelha-se a condição humana, pois todos
somos chamados a confrontar-nos com grandes interrogativos para os quais não
basta uma resposta simplista ou imediata, mas convidam a realizar uma viagem,
superando-se a si mesmo, indo mais além".
O Papa Francisco encontrou-se, na manhã
desta quinta-feira (03/08), com os jovens universitários na Universidade
Católica Portuguesa (UCP), situada no centro de Lisboa, no âmbito da Jornada
Mundial da Juventude.
A Universidade Católica Portuguesa foi
criada, em 1967, com o decreto Lusitanorum Nobilissima Gens da Santa
Sé, a pedido da Conferência Episcopal Portuguesa. O Instituto é reconhecido
como uma das melhores universidades de Portugal. A reitora da Universidade
Católica Portuguesa é a professora Isabel Capeloa Gil.
"Obrigado, senhora reitora, pelas suas
palavras", disse o Papa no início de seu discurso, afirmando "que
todos nos sentimos «peregrinos», palavra esta cujo significado merece ser
meditado".
"Na imagem do «peregrino», espelha-se
a condição humana, pois todos somos chamados a confrontar-nos com grandes
interrogativos para os quais não basta uma resposta simplista ou imediata, mas
convidam a realizar uma viagem, superando-se a si mesmo, indo mais além.
Trata-se de um processo que um universitário compreende bem, pois é assim que
nasce a ciência. E de igual modo cresce também a busca espiritual. Procurar e
arriscar: eis os verbos dos peregrinos", sublinhou Francisco.
Amigos, permiti dizer-vos: procurai e
arriscai. Neste momento histórico, os desafios são enormes e os gemidos
dolorosos, mas abracemos o risco de pensar que não estamos numa agonia, mas num
parto; não no fim, mas no início dum grande espetáculo. Por isso sede
protagonistas de uma «nova coreografia» que coloque no centro a pessoa humana,
sede coreógrafos da dança da vida. As palavras da senhora Reitora serviram-me
de inspiração sobretudo quando afirmou que «a universidade não existe para se
preservar como instituição, mas para responder com coragem aos desafios do
presente e do futuro». A auto-preservação é uma tentação, um reflexo
condicionado pelo medo, que nos faz olhar para a existência de forma
distorcida. Se as sementes se preservassem a si mesmas,
desperdiçariam completamente a sua força geradora e condenar-nos-iam à
fome; se os invernos se preservassem a si mesmos, não existiria a maravilha da
primavera. Por isso, tende a coragem de substituir os medos pelos sonhos: não
administradores de medos, mas empreendedores de sonhos!
"À universidade que se comprometeu a
formar as novas gerações, seria um desperdício pensá-la apenas para perpetuar o
atual sistema elitista e desigual do mundo com o ensino superior que continua
sendo um privilégio de poucos. Se o conhecimento não for acolhido como uma
responsabilidade, torna-se estéril. Se quem recebeu um ensino superior – que
hoje, em Portugal e no mundo, continua sendo um privilégio –, não se esforça
por restituir aquilo de que beneficiou, significa que não compreendeu
profundamente o que lhe foi oferecido. o título de estudo não deve ser visto
apenas como uma licença para construir o bem-estar pessoal, mas como um mandato
para se dedicar a uma sociedade mais justa e inclusiva, ou seja, mais
avançada", disse ainda o Pontífice.
O Papa recordou a grande poetisa portuguesa
Sophia de Mello Breyner Andresen, que numa entrevista, à pergunta «o que
gostaria de ver realizado em Portugal neste novo século?», respondeu sem
hesitar: «Gostaria que se realizasse a justiça social, a diminuição das
diferenças entre ricos e pobres». Então, o Santo Padre perguntou aos jovens:
"Caros estudantes, peregrinos do saber: Que quereis ver realizado em
Portugal e no mundo? Quais mudanças, quais transformações? E como pode a
universidade, especialmente a Católica, contribuir para isso?"
A seguir, Francisco agradeceu os
testemunhos dos jovens Beatriz, Mahoor, Mariana e Tomás. "Em todos havia
um tom de esperança, uma carga de entusiasmo realista, sem queixas nem
escapatórias idealistas. Como alguns de vós sublinharam, devemos reconhecer a
urgência dramática de cuidar da casa comum. No entanto, isso não pode ser feito
sem uma conversão do coração e uma mudança da visão antropológica subjacente à
economia e à política. Não podemos contentar-nos com simples medidas paliativas
ou com tímidos e ambíguos compromissos", disse o Papa, acrescentando:
Trata-se, pelo contrário, de tomar a peito
o que infelizmente continua sendo adiado: a necessidade de redefinir o que
chamamos progresso e evolução. É que, em nome do progresso, já abriu caminho
muito retrocesso. Vós sois a geração que pode vencer este desafio: tendes
instrumentos científicos e tecnológicos mais avançados, mas, por favor, não vos
deixeis cair na cilada de visões parciais. Não esqueçais que temos necessidade
de uma ecologia integral, de escutar o sofrimento do planeta junto com o dos
pobres; necessidade de colocar o drama da desertificação em paralelo com o dos
refugiados; o tema das migrações junto com o da queda da natalidade;
necessidade de nos ocuparmos da dimensão material da vida no âmbito de uma
dimensão espiritual. Não queremos polarizações, mas visões de conjunto.
A seguir, o Papa disse que "se a fé
não gera estilos de vida convincentes, não faz levedar a massa do mundo. Não
basta que um cristão esteja convencido, deve ser convincente; as nossas ações
são chamadas a refletir a beleza jubilosa e simultaneamente radical do
Evangelho"
Segundo Francisco, é interessante que na
nova cátedra, na Universidade Católica Portuguesa, dedicada à «Economia de
Francisco», tenha sido escolhida a figura de Santa Clara. "É indispensável
a contribuição feminina", disse ele.
A propósito do Pacto Educativo Global
relançado na JMJ, o Papa frisou que "os sete princípios da sua arquitetura
incluem temas, desde o cuidado da Casa comum à plena participação das mulheres,
à necessidade de encontrar novas formas de entender a economia, a política, o
crescimento e o progresso".
O Pontífice convidou os jovens a estudarem
"o Pacto Educativo Global e a apaixonarem-se por ele". "Um dos
pontos que trata é a educação para o acolhimento e a inclusão. Sempre que
alguém pratica um gesto de hospitalidade, desencadeia uma transformação",
sublinhou.
Amigos, sinto-me feliz por ver-vos uma
comunidade educativa viva, aberta à realidade, com o Evangelho que não se
limita a servir de ornamento, mas anima as partes e o todo. Sei que o vosso
percurso engloba diversos âmbitos: estudo, amizade, serviço social,
responsabilidade civil e política, cuidado da casa comum, expressões
artísticas... Ser uma universidade católica significa antes de mais nada que
cada elemento está em relação com o todo e o todo revê-se nas partes. Assim, ao
mesmo tempo que se adquirem competências científicas, vai-se amadurecendo como
pessoa, no conhecimento de si mesmo e no discernimento do próprio caminho.
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