Fonte de todos os bens
Tudo que existe teve um começo, que lhe deu
origem, como também um objetivo, para confirmar o porquê de sua existência. Em
última análise, podemos dizer que Deus é a origem de tudo, a fonte cristalina
da criação, quando Ele mesmo confirma, que toda a criação “era muito bom” (cf.
Gn 1,25). Mas a bondade do que foi criado exige do ser humano, imagem de Deus,
o trabalho de conservação.
O protótipo primeiro da criação é o ser
humano, responsável por conservar a harmonia da natureza, fundamentada na
justiça, que é exigida pelo Criador. Não é harmonia enxertada de escravidão, de
sofrimento, de condicionamentos desumanos, como acontece no caso da fome
provocada pela pouca partilha entre as pessoas. Ainda, não pode ser descontrole
provocado por guerras e destruição ecológica.
Cada ser humano deve ser fonte do bem. Isto
é um dom sagrado e não pode ser ferido por atitudes agressivas e desonestas.
Todas as pessoas têm um itinerário a percorrer, onde deve pautar a defesa da
vida como objetivo primeiro nas suas atitudes. É contra o bem da criação uma
realidade caracterizada por insegurança, perigos, cansaços, desespero e,
inclusive, ameaça de morte.
Numa questão de fé, dizemos que Deus é a
fonte da vida e também das condições e dos recursos necessários para que ela
tenha uma história de dignidade e conservação. A liberdade é a raiz da vida
humana e, a partir daí, ela é potencializada para construir o bem da
humanidade. Desta forma, cada pessoa se torna fonte continuadora e construtora
da criação, participando da obra do Criador supremo.
Uma cultura de hostilidade não tem outra
característica do que ser destruidora. É assim que entendemos a guerra entre
Rússia e Ucrânia, completando já um ano e sem esperança de acabar. O que
deveria ser fonte de vida saudável, constrói um legado de derrota, destruição
de história, de cultura e ceifa de vidas humanas. É o cume da insensibilidade e
do autoritarismo das autoridades locais.
Jesus é um poço de água viva, que jorra
para todos, e onde encontramos a fonte genuína das condições de vida, mas
precisa ser explorada e encontrar saídas negociáveis para os grandes problemas,
não necessitando fazer um caminho de guerra. O que falta mesmo é confiar em
Deus, porque Ele é fonte de prática da convivência, de diálogo e superação de
todo tipo de incompreensão. Dele vem a paz.
Dom Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo de Uberaba (MG)
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