A invisibilidade
do vírus e a visibilidade do amor de Deus
"Que possamos
fazer a experiência do amor de Deus, identificando no crucifixo um sinal de
redenção, salvação e vida nova"
Na noite de 22 de
maio de 1519, a Igreja de San Marcello al Corso, em Roma, ardeu em chamas,
ficando praticamente destruída. Um fato, no entanto, estarreceu as testemunhas:
o crucifixo do altar-mor estava intacto, mesmo tendo sido exposto às chamas que
consumiram o local. Passados alguns anos, a cidade de Roma foi atingida por uma
epidemia avassaladora: a peste negra, em 1522. Nessas circunstâncias, foi
realizada uma grande procissão pelas ruas de Roma, durante 16 dias seguidos,
conduzindo o crucifixo miraculoso, ao qual se atribuiu o cessar da terrível
ameaça.
Dom Edson José Oriolo dos Santos |
O crucifixo é a
imagem do Cristo na Cruz. Ele mantém viva em nós a recordação do sacrifício de
Jesus Cristo. Quando olhamos, contemplamos e rezamos aos pés do crucifixo nos
deparamos com uma pessoa asfixiada, com sede, exposta às intempéries do tempo,
como sol e calor causticante, dores intensas, artérias da cabeça e estômago
cheios de sangue, febre traumática, tétano, perda contínua de sangue. Mesmo
assim, o crucifixo nos faz meditar sobre a presença amorosa da bondade divina.
Não estamos sozinhos, não estamos abandonados e entregues a nós mesmos. Podemos
experimentar em meio a tantos sofrimentos o grande amor de Deus para com cada
um de nós.
Nesse tempo de
pandemia, a experiência da cruz nos faz olhar, contemplar e rezar com o
crucificado, flagelado e coroado de espinhos, com outra perspectiva. O
crucifixo da Igreja de San Marcello silenciou a humanidade e a colocou em posição
reflexiva. Reconhecemos n’Ele os nossos sofrimentos, medos, temores e
projetamos em sua paixão toda a nossa esperança na glória futura: “Toda ação de
Cristo é a glória da Igreja Católica. Contudo, a glória das glórias é a cruz.
Paulo, muito instruído disse: Longe de mim gloriar-me a não ser da Cruz de
Cristo” (cf. S. Cirilo de Jerusalém Séc. IV).
O crucifixo é o
símbolo maior de que estamos sob a proteção de Deus. É a recordação constante
de que Deus coloca sobre nós suas mãos para nos abençoar e doar vida plena. É,
também, um sinal questionador: um apelo para sairmos do nosso individualismo,
em todas as dimensões e começar a entender que o outro é um grande presente de
Deus em nossas vidas. Mostrando a fragilidade da vida como potencial de glória,
faz-nos ver a existência com outros olhos, redescobrindo a importância de
cuidar, proteger, interagir, rezar, partilhar, viver em comunhão com aquele que
o Bom Deus tem concedido a cada um de nós.
A imagem do Cristo
na cruz, maior símbolo da nossa fé, mantém vivo em nós o significado do
sacrifício de Cristo. O crucifixo revela a riqueza inesgotável do mistério
salvífico. No crucificado haurimos forças para superar os nossos medos, temores
e angústias. Que possamos fazer a experiência do amor de Deus, identificando no
crucifixo um sinal de redenção, salvação e vida nova, do amor misericordioso de
nosso Deus. São Paulo afirma que a origem da sua pregação não está na sabedoria
humana, hoje, mas no poder de Deus, isto é, no Cristo Crucificado. “Pois não
quis saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo
Crucificado. (1 Cor2,2).
Que a contemplação
do mistério da cruz nos faça compreender que o sofrimento é a passagem
inevitável para a glória.
Dom Edson José Oriolo dos Santos - Bispo Diocesano de Leopoldina
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Fonte: cnbbleste2.org.br
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