chega de guerras e armas, porque é de pão que precisamos
Na homilia da
missa deste Sábado Santo, Francisco motivou a sermos peregrinos em busca da
esperança de Deus, que até do túmulo fez sair vida. Ao nos encorajar a dar as
costas à morte e a abrir o coração à vida, de Jesus ressuscitado, o Papa fez
forte apelo ao desarmamento e ao fim das guerras: “façamos calar os gritos de
morte: de guerras, basta! Pare a produção e o comércio das armas, porque é de
pão que precisamos, não de metralhadoras”.
Andressa Collet –
Cidade do Vaticano - A Basílica de São
Pedro recebeu a missa deste Sábado Santo (11) sem a presença dos fiéis e nem a
celebração dos batismos, mas com uma atmosfera sóbria e propícia para celebrar
a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. As mudanças do Departamento de Celebrações
Litúrgicas do Sumo Pontífice são referentes às medidas de restrição impostas
pela pandemia do Covid-19.
A cerimônia
inicial com a Bênção do Fogo foi realizada atrás do altar da Confissão, sem
luzes aos presentes, que só foram acesas durante a procissão ao altar da
Cátedra, com a interpretação do canto das três invocações “Lumen Christi”.
Sábado Santo: dia
de grande silêncio
O Papa Francisco
começou a homilia comentando sobre a ansiedade, descrita no Evangelho (Mt 28,
1) da Vigília Pascal, de se passar “da cruz de sexta-feira à aleluia de
domingo”. Neste ano, disse o Pontífice, mais do que nunca o Sábado Santo é de
grande silêncio e reflexão, assim como as mulheres que foram ao sepulcro:
Diácono conduz o Círio Pascal |
Em vez de cederem
à lamentação e ao pessimismo, explicou o Papa, as mulheres enfrentaram a
situação e realizaram “algo simples e extraordinário”, ao preparar perfumes
para o corpo de Jesus, preparando também “o dia que havia de mudar a história”:
elas “não renunciam ao amor: na escuridão do coração, acendem a misericórdia”.
Papa acende sua vela no Círio Pascal |
O direito à
esperança
Ao amanhecer, as
mulheres foram ao sepulcro e, através do anjo e diante do túmulo, ouviram
palavras de vida. Depois, quando encontraram Jesus, também encontraram o
anúncio de esperança, disse o Papa. E o Pontífice acrescentou:
Francisco escuta as leituras |
Francisco leva o Evangeliário ao ambão |
“Minha irmã, meu
irmão, ainda que no coração tenhas sepultado a esperança, não desistas! Deus é
maior. A escuridão e a morte não têm a última palavra. Coragem! Com Deus, nada
está perdido.”
O recomeço: pela
Galileia ou depois das crises
Papa em oração |
“Voltar à Galileia
é lembrar-se de ter sido amado e chamado por Deus. Precisamos retomar o
caminho, lembrando-nos de que nascemos e renascemos a partir de uma chamada
gratuita de amor. Esse é o ponto de onde recomeçar sempre, sobretudo nas
crises, nos tempos de provação.”
Apelo ao
desarmamento
Voltar à Galileia,
uma região distante geograficamente de Jerusalém e habitada “por povos
diferentes, que praticavam vários cultos”, também tem outro significado para
nós. O Papa procurou mostrar que o “cântico da vida” e o “anúncio da esperança”
não devem ficar confinados “nos nossos recintos sagrados”, mas precisam ser
levados a todos, através de verdadeiros “anunciadores de vida em tempo de
morte!”.
“Façamos calar os
gritos de morte: de guerras, basta! Pare a produção e o comércio das armas,
porque é de pão que precisamos, não de metralhadoras. Cessem os abortos, que
matam a vida inocente. Abram-se os corações daqueles que têm, para encher as
mãos vazias de quem não dispõe do necessário.”
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Íntegra da homilia
do Papa na Missa da Vigília Pascal
A Basílica de São
Pedro recebeu a missa deste Sábado Santo (11) sem a presença dos fiéis e nem a
celebração dos batismos, mas com uma atmosfera propícia para celebrar a vitória
de Cristo sobre o pecado e a morte. As mudanças do Departamento de Celebrações
Litúrgicas do Sumo Pontífice são referentes às medidas de restrição impostas
pela pandemia do Covid-19. Confira a íntegra da homilia do Papa Francisco
durante a Santa Missa.
HOMILIA DO PAPA
FRANCISCO
MISSA da VIGÍLIA
PASCAL
(Sábado Santo, 11
de abril de 2020)
«Terminado o
sábado» (Mt 28, 1), as mulheres foram ao sepulcro. O Evangelho desta santa
Vigília começa assim: com o sábado. Este é o dia do Tríduo Pascal que mais
descuramos, ansiosos de passar da cruz de sexta-feira à aleluia de
domingo. Este ano, porém, damo-nos conta, mais do que nunca, do sábado santo, o
dia do grande silêncio; podemos rever-nos nos sentimentos que tinham as
mulheres naquele dia. Como nós, tinham nos olhos o drama do sofrimento, duma
tragédia inesperada, que se verificou demasiado rapidamente. Viram a morte e
tinham a morte no coração. À amargura, juntou-se o medo: acabariam, também
elas, como o Mestre? E depois os receios pelo futuro, carecido todo ele de ser
reconstruído. A memória ferida, a esperança sufocada. Para elas, era a hora
mais escura, como o é hoje para nós.
Contudo, nesta
situação, as mulheres não se deixam paralisar. Não cedem às forças obscuras da
lamentação e da lamúria, não se fecham no pessimismo, nem fogem da realidade.
No sábado, realizam algo simples e extraordinário: nas suas casas, preparam os
perfumes para o corpo de Jesus. Não renunciam ao amor: na escuridão do coração,
acendem a misericórdia. Nossa Senhora, no sábado – dia que Lhe será dedicado –,
reza e espera. No desafio da tristeza, confia no Senhor. Sem o saber, estas
mulheres preparavam na escuridão daquele sábado «o romper do primeiro dia da
semana» (Mt 28, 1), o dia que havia de mudar a história. Jesus, como
semente na terra, estava para fazer germinar no mundo uma vida nova; e as mulheres,
com a oração e o amor, ajudavam a esperança a desabrochar. Quantas pessoas, nos
dias tristes que vivemos, fizeram e fazem como aquelas mulheres, semeando
brotos de esperança com pequenos gestos de solicitude, de carinho, de oração!
Ao amanhecer, as
mulheres vão ao sepulcro. Lá diz-lhes o anjo: «Não tenhais medo. Não está aqui;
ressuscitou» (cf. Mt 28, 5-6). Diante dum túmulo, ouvem palavras de
vida... E depois encontram Jesus, o autor da esperança, que confirma o anúncio
dizendo-lhes: «Não temais» (28, 10). Não tenhais medo, não temais:
eis o anúncio de esperança para nós, hoje. Tais são as palavras que
Deus nos repete na noite que estamos a atravessar.
Nesta noite,
conquistamos um direito fundamental, que não nos será tirado: o direito à
esperança. É uma esperança nova, viva, que vem de Deus. Não é mero otimismo,
não é uma palmada nas costas nem um encorajamento de circunstância. É um dom do
Céu, que não podíamos obter por nós mesmos. Tudo correrá bem: repetimos
com tenacidade nestas semanas, agarrando-nos à beleza da nossa humanidade e
fazendo subir do coração palavras de encorajamento. Mas, à medida que os dias
passam e os medos crescem, até a esperança mais audaz pode desvanecer. A
esperança de Jesus é diferente. Coloca no coração a certeza de que Deus sabe
transformar tudo em bem, pois até do túmulo faz sair a vida.
O túmulo é o lugar
donde, quem entra, não sai. Mas Jesus saiu para nós, ressuscitou para nós, para
trazer vida onde havia morte, para começar uma história nova no ponto onde fora
colocada uma pedra em cima. Ele, que derrubou a pedra da entrada do túmulo,
pode remover as rochas que fecham o coração. Por isso, não cedamos à
resignação, não coloquemos uma pedra sobre a esperança. Podemos e devemos
esperar, porque Deus é fiel. Não nos deixou sozinhos, visitou-nos: veio a cada
uma das nossas situações, no sofrimento, na angústia, na morte. A sua luz
iluminou a obscuridade do sepulcro: hoje quer alcançar os cantos mais escuros
da vida. Minha irmã, meu irmão, ainda que no coração tenhas sepultado a
esperança, não desistas! Deus é maior. A escuridão e a morte não têm a última
palavra. Coragem! Com Deus, nada está perdido.
Coragem: é uma
palavra que, nos Evangelhos, sai sempre da boca de Jesus. Só uma vez é
pronunciada por outros, quando dizem a um mendigo: «Coragem, levanta-te que
[Jesus] chama-te» (Mc 10, 49). É Ele, o Ressuscitado, que nos levanta a
nós, mendigos. Se te sentes fraco e frágil no caminho, se cais, não tenhas
medo; Deus estende-te a mão dizendo: «Coragem!» Entretanto poderias exclamar como
padre Abbondio: «A coragem, não no-la podemos dar» (I promessi sposi, XXV). Não
a podes dar a ti mesmo, mas podes recebê-la, como um presente. Basta abrir o
coração na oração, basta levantar um pouco aquela pedra colocada à boca do
coração, para deixar entrar a luz de Jesus. Basta convidá-Lo: «Vinde, Jesus,
aos meus medos e dizei também a mim: coragem!» Convosco, Senhor, seremos
provados; mas não turvados. E, seja qual for a tristeza que habite em nós,
sentiremos o dever de esperar, porque convosco a cruz desagua na ressurreição,
porque Vós estais connosco na escuridão das nossas noites: sois certeza nas
nossas incertezas, Palavra nos nossos silêncios e nada poderá jamais roubar-nos
o amor que nutris por nós.
Eis o anúncio
pascal, anúncio de esperança. Este contém uma segunda parte, o envio. «Ide
anunciar aos meus irmãos que partam para a Galileia» (Mt 28,10): diz
Jesus. Ele «vai à vossa frente para a Galileia» (28, 7): diz o anjo. O Senhor
precede-nos. É bom saber que caminha diante de nós, que visitou a nossa vida e
a nossa morte para nos preceder na Galileia, isto é, no lugar que, para Ele e
para os seus discípulos, lembrava a vida diária, a família, o trabalho. Jesus
deseja que levemos a esperança lá, à vida de cada dia. Mas, para os discípulos,
a Galileia era também o lugar das recordações, sobretudo da primeira chamada.
Voltar à Galileia é lembrar-se de ter sido amado e chamado por Deus. Precisamos
de retomar o caminho, lembrando-nos de que nascemos e renascemos a partir duma
chamada gratuita de amor. Este é o ponto donde recomeçar sempre, sobretudo nas
crises, nos tempos de provação.
Mais ainda. A
Galileia era a região mais distante de Jerusalém, onde estavam. E não só
geograficamente: a Galileia era o lugar mais distante do caráter sacro da
Cidade Santa. Era uma região habitada por povos diferentes, que praticavam
vários cultos: era a «Galileia dos gentios» (Mt 4, 15). Jesus envia para
lá, pede para recomeçar de lá. Que nos diz isto? Que o anúncio da esperança não
deve ficar confinado nos nossos recintos sagrados, mas ser levado a todos.
Porque todos têm necessidade de ser encorajados e, se não o fizermos nós que
tocamos com a mão «o Verbo da vida» (1 Jo 1, 1), quem o fará? Como é belo
ser cristãos que consolam, que carregam os fardos dos outros, que encorajam:
anunciadores de vida em tempo de morte! A cada Galileia, a cada região desta
humanidade a que pertencemos e que nos pertence, porque todos somos irmãos e
irmãs, levemos o cântico da vida! Façamos calar os gritos de morte: de guerras,
basta! Pare a produção e o comércio das armas, porque é de pão que precisamos,
não de metralhadoras. Cessem os abortos, que matam a vida inocente. Abram-se os
corações daqueles que têm, para encher as mãos vazias de quem não dispõe do
necessário.
No fim, as
mulheres «estreitaram os pés» de Jesus (Mt 28, 9), aqueles pés que, para
nos encontrar, haviam percorrido um longo caminho até entrar e sair do túmulo.
Abraçaram os pés que espezinharam a morte e abriram o caminho da esperança.
Hoje nós, peregrinos em busca de esperança, estreitamo-nos a Vós, Jesus
ressuscitado. Voltamos as costas à morte e abrimos os corações para Vós, que
sois a Vida.
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Vigília Pascal na íntegra:
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Vigília Pascal na íntegra:
Fonte: vaticannews.va
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