Pedir a Deus o dom das lágrimas
“Entender o pecado
é um dom de Deus, é uma obra do Espírito Santo. Nós, sozinhos, não podemos
entender o pecado. É uma graça que devemos pedir: ‘Senhor, que eu entenda o mal
que fiz ou que posso fazer’. É um grande dom. E depois de entender isso, vem o
choro do arrependimento.” O Papa dedicou sua catequese à segunda
bem-aventurança: Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.
Bianca
Fraccalvieri – Cidade do Vaticano - Bem-aventurados os
que choram, porque eles serão consolados: a esta bem-aventurança, o Papa
Francisco dedicou a sua catequese esta quarta-feira (12/02), dando continuidade
ao ciclo sobre este tema.
Na Sala Paulo VI,
na presença de milhares de fiéis e peregrinos, o Pontífice explicou que, nas
Escrituras, o choro pode ter dois aspectos: o primeiro é o sofrimento pela
morte ou dor de alguém. O outro se refere às lágrimas pelo pecado, quando o
coração sangra pela dor de ter ofendido Deus e o próximo.
Não é possível
amar friamente
Sobre o primeiro
aspecto, o Papa recordou que, com frequência, fala do dom das lágrimas e de
quanto este dom é precioso:
“Pode-se amar de
maneira fria? Pode-se amar por obrigação, por dever? Certamente não! Existem
aflitos para consolar, mas às vezes existem também consolados para afligir,
para despertar, que têm um coração de pedra e desaprenderam a chorar. Despertar
quem não sabe se comover com a dor dos outros.”
Para Francisco, o
luto é um caminho amargo, mas que pode ser útil para abrir os olhos sobre a
vida e sobre o valor sagrado e insubstituível de cada pessoa, dando-se conta da
brevidade do tempo.
As lágrimas do
arrependimento
Já o segundo
significado é chorar pelo pecado, sobre o qual é preciso fazer uma distinção:
quem se altera porque errou e chora por orgulho e, ao invés, quem chora pelo
mal cometido, pelo bem omitido, por ter traído a relação com Deus.
“Este é o choro
por não ter amado. Chora-se porque não se corresponde ao Senhor, que nos quer
tão bem, e nos entristece o pensamento do bem não feito; este é o sentido do
pecado. Deus seja louvado se chegarem essas lágrimas!”
Trata-se de
enfrentar os próprios erros, “difícil, mas vital”, como fez São Pedro, cuja
decepção o levou a um amor maior. “Pedro olhou para Jesus e chorou e o seu
coração foi renovado.” Já Judas não aceitou seu erro e se suicidou.
“Entender o pecado
é um dom de Deus, é uma obra do Espírito Santo. Nós, sozinhos, não podemos
entender o pecado. É uma graça que devemos pedir: ‘Senhor, que eu entenda o mal
que fiz ou que posso fazer’. É um grande dom. E depois de entender isso, vem o
choro do arrependimento.”
A beleza do choro
e do arrependimento
Como sempre, a
vida cristã tem na misericórdia a sua melhor expressão. Portanto, sábio e beato
é quem acolhe a dor vinculada ao amor, porque receberá a consolação do Espírito
Santo, que é a ternura de Deus que perdoa e corrige.
“Deus sempre
perdoa, não se esquecer isto. Mesmo os piores pecados. O problema está em nós,
que nos cansamos em pedir perdão. Este é o problema. Quando alguém se fecha,
não pede perdão e Ele está ali para perdoar.”
“Que o Senhor nos
conceda amar em abundância, amar com o sorriso, com a proximidade, com o
serviço e também com o choro”, concluiu o Pontífice.
................................................................................................................................................................
Assista:
................................................................................................................................................................
Assista:
Querida Amazônia,
a Exortação do Papa por uma Igreja com rosto amazônico
A Exortação
pós-sinodal sobre a Amazônia foi publicada esta quarta-feira (12/02). O
documento traça novos caminhos de evangelização e cuidados do meio ambiente e
dos pobres. Francisco auspicia um novo ímpeto missionário e encoraja o papel
dos leigos nas comunidades eclesiais.
Alessandro Gisotti
- “A Amazônia querida apresenta-se aos olhos do mundo com todo o seu esplendor,
o seu drama e o seu mistério.” Assim tem início a Exortação apostólica pós-sinodal, Querida
Amazônia. O Pontífice, nos primeiros pontos, (2-4) explica “o sentido desta
Exortação”, rica de referências a documentos das Conferências episcopais dos
países amazônicos, mas também a poesias de autores ligados à Amazônia.
Francisco destaca que deseja “expressar as ressonâncias” que o Sínodo provocou
nele. E esclarece que não pretende substituir nem repetir o Documento final,
que convida a ler “integralmente”, fazendo votos de que toda a Igreja se deixe
“enriquecer e interpelar” por este trabalho e que a Igreja na Amazônia se
empenhe “na sua aplicação”. O Papa compartilha os seus “Sonhos para a Amazônia”
(5-7), cujo destino deve preocupar a todos, porque esta terra também é “nossa”.
Assim, formula “quatro grandes sonhos”: que a Amazônia “que lute pelos direitos
dos mais pobres”, “que preserve a riqueza cultural”, que “que guarde
zelosamente a sedutora beleza natural”, que, por fim, as comunidades cristãs sejam
“capazes de se devotar e encarnar na Amazônia”.
O sonho social: a
Igreja ao lado dos oprimidos
O primeiro
capítulo de Querida Amazônia é centralizado no “Sonho social” (8).
Destaca que “uma verdadeira abordagem ecológica” é também “abordagem social” e,
mesmo apreciando o “bem viver” dos indígenas, adverte para o
“conservacionismo”, que se preocupa somente com o meio ambiente. Com tons
vibrantes, fala de “injustiça e crime” (9-14). Recorda que já Bento XVI
havia denunciado “a devastação ambiental da Amazônia”. Os povos originários,
afirma, sofrem uma “sujeição” seja por parte dos poderes locais, seja por parte
dos poderes externos. Para o Papa, as operações econômicas que alimentam
devastação, assassinato e corrupção merecem o nome de “injustiça e crime”. E
com João Paulo II, reitera que a globalização não deve se tornar um novo
colonialismo.
Os pobres sejam
ouvidos sobre o futuro da Amazônia
Diante de tanta
injustiça, o Pontífice fala que é preciso “indignar-se e pedir perdão” (15-19).
Para Francisco, são necessárias “redes de solidariedade e de desenvolvimento” e
pede o comprometimento de todos, inclusive dos líderes políticos. O Papa ressalta
o tema do “sentido comunitário” (20-22), recordando que, para os povos
amazônicos, as relações humanas “estão impregnadas pela natureza circundante”.
Por isso, escreve, vivem como um verdadeiro “desenraizamento” quando são
“forçados a emigrar para a cidade”. A última parte do primeiro capítulo é
dedicado às “Instituições degradadas” (23-25) e ao “Diálogo social” (26-27). O
Papa denuncia o mal da corrupção, que envenena o Estado e as suas instituições.
E faz votos de que a Amazônia se torne “um local de diálogo social” antes de
tudo “com os últimos. A voz dos pobres, exorta, deve ser “a voz mais forte”
sobre a Amazônia.
O sonho cultural:
cuidar do poliedro amazônico
O segundo capítulo
é dedicado ao “sonho cultural”. Francisco esclarece que “promover a Amazônia”
não significa “colonizá-la culturalmente” (28). E recorre a uma imagem que lhe
é cara: “o poliedro amazônico” (29-32). É preciso combater a “colonização
pós-moderna”. Para Francisco, é urgente “cuidar das raízes” (33-35).
Citando Laudato si’ e Christus vivit, destaca que a “visão
consumista do ser humano” tende a “a homogeneizar as culturas” e isso afeta
sobretudo os jovens. A eles, o Papa pede que assumam as raízes, que recuperem
“a memória danificada”.
Não a um
indigenismo fechado, é preciso um encontro intercultural
A Exortação se
concentra depois sobre o “encontro intercultural” (36-38). Mesmo as “culturas
aparentemente mais evoluídas”, observa, podem aprender com os povos que
“desenvolveram um tesouro cultural em conexão com a natureza”. A diversidade,
portanto, não deve ser “uma fronteira”, mas “uma ponte”, e diz não a “um
indigenismo completamente fechado”. A última parte do segundo capítulo é
dedicada ao tema “culturas ameaçadas, povos em risco” (39-40). Em qualquer
projeto para a Amazônia, esta é a recomendação do Papa, “é preciso assumir a
perspectiva dos direitos dos povos”. Estes, acrescenta, dificilmente podem
ficar ilesos se o ambiente em que nasceram e se desenvolveram “se deteriora”.
O sonho ecológico:
unir cuidado com o meio ambiente e cuidado com as pessoas
O terceiro
capítulo, “Um sonho ecológico”, é o mais relacionado com a Encíclica Laudato
si’. Na introdução (41-42), destaca-se que na Amazônia existe uma relação
estreita do ser humano com a natureza. Cuidar dos irmãos como o Senhor cuida de
nós, reitera, “é a primeira ecologia que precisamos”. Cuidar do meio ambiente e
cuidar dos pobres são “inseparáveis”. Francisco dirige depois a atenção ao
“sonho feito de água” (43-46). Cita Pablo Neruda e outros poetas locais sobre a
força e a beleza do Rio Amazonas. Com suas poesias, escreve, “ajudam a
libertar-nos do paradigma tecnocrático e consumista que sufoca a natureza”.
Ouvir o grito da
Amazônia, o desenvolvimento seja sustentável
Para o Papa, é
urgente ouvir o “grito da Amazônia” (47-52). Recorda que o equilíbrio
planetário depende da sua saúde. Escreve que existem fortes interesses não
somente locais, mas também internacionais. A solução, portanto, não é “a
internacionalização” da Amazônia; ao invés, deve crescer “a responsabilidade dos
governos nacionais”. O desenvolvimento sustentável, prossegue, requer que os
habitantes sejam sempre informados sobre os projetos que dizem respeito a eles
e auspicia a criação de “um sistema normativo” com “limites invioláveis”.
Assim, Francisco convida à “profecia da contemplação” (53-57). Ouvindo os povos
originários, destaca, podemos amar a Amazônia “e não apenas usá-la”; podemos
encontrar nela “um lugar teológico, um espaço onde o próprio Deus Se manifesta
e chama os seus filhos”. A última parte do terceiro capítulo é centralizada
na “educação e hábitos ecológicos” (58-60). O Papa ressalta que a ecologia
não é uma questão técnica, mas compreende sempre “um aspecto educativo”.
O sonho eclesial:
desenvolver uma Igreja com rosto amazônico
O último capítulo,
o mais denso, é dedicado “mais diretamente” aos pastores e aos fiéis católicos
e se concentra no “sonho eclesial”. O Papa convida a “desenvolver uma Igreja
com rosto amazônico” através de um “grande anúncio missionário” (61), um
“anúncio indispensável na Amazônia” (62-65). Para o Santo Padre, não é
suficiente levar uma “mensagem social”. Esses povos têm “direito ao anúncio do
Evangelho”; do contrário, “cada estrutura eclesial transformar-se-á em mais uma
ONG”. Uma parte consistente é dedicada ainda à inculturação. Retomando a Gaudium
et spes, fala de “inculturação (66-69) como um processo que leva “à plenitude à
luz do Evangelho” aquilo que de bom existe nas culturas amazônicas.
Uma renovada
inculturação do Evangelho na Amazônia
O Papa dirige o
seu olhar mais profundamente, indicando os “Caminhos de inculturação na
Amazônia”. (70-74). Os valores presentes nas comunidades originárias, escreve,
devem ser valorizados na evangelização. E nos dois parágrafos sucessivos se
detém sobre a “inculturação social e espiritual” (75-76). O Pontífice evidencia
que, diante da condição de pobreza de muitos habitantes da Amazônia, a
inculturação deve ter um “timbre marcadamente social”. Ao mesmo tempo, porém, a
dimensão social deve ser integrada com aquela “espiritual”.
Os Sacramentos
devem ser acessíveis a todos, especialmente aos pobres
Na sequência, a
Exortação indica “pontos de partida para uma santidade amazônica” (77-80), que
não devem copiar “modelos doutros lugares”. Destaca que “é possível receber, de
alguma forma, um símbolo indígena sem o qualificar necessariamente como
idolátrico”. Pode-se valorizar, acrescenta, um mito “denso de sentido
espiritual” sem necessariamente considerá-lo “um extravio pagão”. O mesmo vale
para algumas festas religiosas que, não obstante necessitem de um “processo de
purificação”, “contêm um significado sagrado”.
Outra passagem
significativa de Querida Amazônia é sobre a inculturação da liturgia
(81-84). O Pontífice constata que já o Concílio Vaticano II havia solicitado um
esforço de “inculturação da liturgia nos povos indígenas”. Além disso, recorda
numa nota do texto que, no Sínodo, “surgiu a proposta de se elaborar um «rito
amazônico»”. Os Sacramentos, exorta, “devem ser acessíveis, sobretudo aos
pobres”. A Igreja, afirma evocando a Amoris laetitia, não pode se
transformar numa “alfândega”.
Bispos
latino-americanos devem enviar missionários à Amazônia
Relacionado a este
tema, está a “inculturação do ministério” (85-90) sobre a qual a Igreja deve
dar uma resposta “corajosa”. Para o Papa, deve ser garantida “maior frequência
da celebração da Eucaristia”. A propósito, reitera, é importante “determinar o
que é mais específico do sacerdote”. A resposta, lê-se, está no sacramento da
Ordem sacra, que habilita somente o sacerdote a presidir a Eucaristia.
Portanto, como “assegurar este ministério sacerdotal” nas zonas mais remotas?
Francisco exorta todos os bispos, especialmente os latino-americanos, “a ser
mais generosos”, orientando os que “demonstram vocação missionária” a escolher
a Amazônia e os convida a rever a formação dos presbíteros.
Favorecer um
protagonismo dos leigos nas comunidades
Depois dos
Sacramentos, Querida Amazônia fala das “comunidades cheias de vida”
(91-98), nas quais os leigos devem assumir “responsabilidades importantes”.
Para o Papa, com efeito, não se trata “apenas de facilitar uma presença maior
de ministros ordenados”. Um objetivo “limitado” se não suscitar “uma nova vida
nas comunidades”. São necessários, portanto, novos “serviços laicais”. Somente
através de “um incisivo protagonismo dos leigos”, reitera, a Igreja poderá
responder aos “desafios da Amazônia”. Para o Pontífice, os consagrados têm um
lugar especial e não deixa de recordar o papel das comunidades de base, que
defenderam os direitos sociais, e encoraja em especial a atividade da REPAM e
dos “grupos missionários itinerantes”.
Novos espaços às
mulheres, mas sem clericalizações
Francisco dedica
um espaço à força e ao dom das mulheres (99-103). Reconhece que, na Amazônia,
algumas comunidades se mantiveram somente “graças à presença de mulheres fortes
e generosas”. Porém, adverte que não se deve reduzir a Igreja a “estruturas
funcionais”. Se assim fosse, com efeito, teriam um papel somente se fosse
concedido a elas acesso à Ordem sacra. Para o Pontífice, deve ser rejeitada a
clericalização das mulheres, acolhendo, ao invés, a contribuição segundo o modo
feminino, que prolonga “a força e a ternura de Maria”. Francisco encoraja o
surgimento de novos serviços femininos, que – com um reconhecimento público dos
bispos – incidam nas decisões para as comunidades.
Os cristãos devem
lutar juntos para defender os pobres da Amazônia
Para o Papa, é
preciso “ampliar horizontes para além dos conflitos” (104-105) e deixar-se
desafiar pela Amazônia a “superar perspectivas limitadas” que “permanecem
enclausuradas em aspetos parciais”. O quarto capítulo termina com o tema da
“convivência ecumênica e inter-religiosa” (106-110), “encontrar espaços para
dialogar e atuar juntos pelo bem comum”. “Como não lutar juntos? – questiona
Francisco – Como não rezar juntos e trabalhar lado a lado para defender os
pobres da Amazônia”?
Confiemos a
Amazônia e os seus povos a Maria
Francisco conclui
a Querida Amazônia com uma oração à Mãe da Amazônia (111). “Mãe,
olhai para os pobres da Amazônia – é um trecho da sua oração –, porque o seu
lar está a ser destruído por interesses mesquinhos (…) Tocai a sensibilidade
dos poderosos porque, apesar de sentirmos que já é tarde, Vós nos chamais a
salvar o que ainda vive”.
...............................................................................................................................................................
Fonte: vaticannews.va
Nenhum comentário:
Postar um comentário