Com meios pobres
José Antonio Pagola
Muitas vezes entendemos o ato evangelizador de maneira excessivamente doutrinal. Levar o Evangelho seria dar a conhecer a doutrina de Jesus a quem ainda não a conhece ou a conhece de maneira insuficiente.
Se entendemos as coisas assim, as consequências são evidentes. Precisaremos, antes de mais nada, de “meios de poder”, para com eles assegurar a propagação de nossa mensagem diante de outras ideologias, modas e correntes de opinião.
Além disso, precisaremos de cristãos bem formados, que conheçam bem a doutrina e sejam capazes de transmiti-la de maneira persuasiva e convincente. Precisaremos também de estruturas, técnicas e pedagogias adequadas para propagar a mensagem cristã.
Definitivamente, será importante o número de pessoas preparadas que, com os melhores meios, cheguem a convencer o maior número de pessoas. Tudo isto é muito razoável e encerra, sem dúvida, grandes valores. Mas, quando nos aprofundamos um pouco na atuação de Jesus e em sua ação evangelizadora, as coisas mudam bastante.
O Evangelho não é só nem sobretudo uma doutrina. O Evangelho é a pessoa de Jesus: a experiência humanizadora, salvadora, libertadora que começou com Ele. Por isso, evangelizar não é só propagar uma doutrina, mas tornar presente, no próprio coração da sociedade e da vida, a força salvadora da pessoa de Jesus Cristo. E isto não se pode fazer de qualquer maneira.
Para tornar presente esta experiência libertadora, os meios mais adequados não são os de poder, mas os meios pobres dos quais se serviu o próprio Jesus: amor solidário aos mais abandonados, acolhida a cada pessoa, oferecimento do perdão de Deus, criação de uma comunidade fraterna, defesa dos últimos …
Então, o importante é contar com testemunhas em cuja vida se possa perceber a força humanizadora contida na pessoa de Jesus quando é acolhida de maneira responsável. A formação doutrinal é importante, mas só quando alimenta uma vida mais evangélica.
O testemunho tem primazia absoluta. As estruturas são necessárias precisamente para apoiar a vida e o testemunho dos seguidores de Jesus. Por isso, o mais importante também não é o número, e sim a qualidade de vida evangélica que uma comunidade pode irradiar.
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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.
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