Em Castel Gandolfo, Leão XIV celebrou a
Missa com o novo formulário “Pela Proteção da Criação”, no Borgo Laudato Si’.
Em sua homilia, recordou que “somente um olhar contemplativo pode transformar
nossa relação com a criação e nos fazer sair da crise ecológica, cuja causa é a
ruptura das relações com Deus, com o próximo e com a terra”.
“Neste dia lindíssimo, antes de tudo, gostaria de convidar a todos — começando por mim mesmo — a viver aquilo que estamos celebrando, na beleza de uma catedral que poderíamos chamar de “natural”, com as plantas e tantos elementos da criação que nos trouxeram aqui para celebrar a Eucaristia, que significa: dar graças ao Senhor.”
Foram estas as palavras que introduziram a homilia do Papa Leão XIV durante a missa privada no Borgo Laudato Si’, em Castel Gandolfo, onde passa um breve período de descanso. O Santo Padre utilizou, pela primeira vez, o novo formulário litúrgico “Pela Proteção da Criação”. O texto, apresentado em 3 de julho pelo cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, insere-se no compromisso da Igreja de viver a conversão ecológica de forma concreta e celebrativa, por meio de orações e leituras bíblicas específicas.
De forma espontânea, o Pontífice iniciou
dizendo que esta Eucaristia traz muitos motivos de agradecimento ao Senhor,
“como o uso da nova fórmula da Santa Missa para o cuidado da criação, que
também foi expressão do trabalho de diversos Dicastérios no Vaticano”, e
acrescentou: “Pessoalmente, agradeço a muitas pessoas aqui presentes, que
trabalharam para esta liturgia. Como sabem, a liturgia representa a vida, e
vocês são a vida deste Centro Laudato Si’.”
O agradecimento de Leão XIV estendeu-se a
todos os que se dedicam diariamente à missão do Centro, inspirado na
encíclica Laudato si’, publicada há dez anos por Papa Francisco: “Gostaria
de agradecer a vocês, neste momento, nesta ocasião, por tudo o que fazem
seguindo essa belíssima inspiração do Papa Francisco, que concedeu esta pequena
porção — esses jardins, esses espaços — justamente para continuar a missão tão
importante em relação a tudo o que conhecemos após dez anos da publicação
da Laudato si’: a necessidade de cuidar da criação, da casa comum.”
É urgente cuidar da casa comum
O simbolismo do espaço, comparado às
antigas igrejas dos primeiros séculos, inspirou o Santo Padre a um apelo à
conversão:
“Devemos rezar pela conversão de muitas pessoas, dentro e fora da Igreja, que ainda não reconhecem a urgência de cuidar da casa comum.”
E, em seguida, recordou os “tantos
desastres naturais que ainda vemos no mundo, quase todos os dias, em tantos
lugares, em tantos países, que são, em parte, causados também pelos excessos do
ser humano, com seu estilo de vida. Por isso, devemos nos perguntar se nós
mesmos estamos vivendo ou não essa conversão: o quanto ela é necessária!”
Esperança e vida nova
O Pontífice uniu o clima de oração à dura
realidade global: “Compartilhamos hoje um momento familiar e sereno, ainda que
em um mundo em chamas — seja pelo aquecimento global, seja pelos conflitos
armados —, que tornam tão atual a mensagem do Papa Francisco nas
Encíclicas Laudato si’ e Fratelli tutti”. Ao refletir o
Evangelho proposto, o Papa Leão disse que “o medo dos discípulos na tempestade
é o mesmo que acomete grande parte da humanidade. No entanto, no coração do
Jubileu, nós confessamos: há esperança! Nós a encontramos em Jesus, o Salvador
do mundo”, e completou:
“Ele ainda hoje, soberanamente, acalma a
tempestade. Seu poder não arruína, mas cria; não destrói, mas faz existir,
dando vida nova. E também podemos nos perguntar: “Quem é este, que até os
ventos e o mar obedecem?” (Mt 8,27)
Cuidar, reconciliar, transformar
O Papa destacou a sintonia entre Jesus e a
natureza: “As parábolas com que anunciava o Reino de Deus revelam um profundo
vínculo com aquela terra e aquelas águas, com o ritmo das estações e a vida das
criaturas.”, e ao citar o termo usado por Mateus para descrever a
tempestade — a palavra seismós — que remete a outro momento decisivo, o
terremoto na morte e ressurreição de Jesus, o Santo Padre sublinhou: “O
Evangelho nos permite entrever o Ressuscitado, presente em nossa história
virada de cabeça para baixo. A repreensão que Jesus dirige ao vento e ao mar
manifesta seu poder de vida e salvação, que domina essas forças diante das
quais as criaturas se sentem perdidas”.
Leão XIV recordou que a fé implica
compromisso: “Nossa missão é cuidar da criação, levar a ela paz e
reconciliação. Nós escutamos o clamor da terra e dos pobres, pois esse clamor
chegou ao coração de Deus. Nossa indignação é a sua indignação, nosso trabalho
é o seu trabalho”. Ao citar o salmo 29, que fala da voz forte do Senhor,
completou:
“Essa voz compromete a Igreja com a
profecia, mesmo quando isso exige a ousadia de nos opor ao poder destrutivo dos
príncipes deste mundo. A aliança indestrutível entre o Criador e as criaturas,
de fato, mobiliza nossas inteligências e nossos esforços, para que o mal se
transforme em bem, a injustiça em justiça, a avareza em comunhão.”
Um olhar contemplativo para transformar a
crise
“Com infinito amor, o único Deus criou
todas as coisas, doando-nos a vida”, recordou o Papa, citando São Francisco de
Assis. Essa verdade exige uma nova forma de ver o mundo: o olhar contemplativo.
Segundo Leão XIV, é esse olhar que pode romper com a lógica do pecado e
restaurar as relações com Deus, com os irmãos e com a terra.
O Papa também ressaltou a vocação do Borgo
Laudato si’, que “por intuição do Papa Francisco, quer ser um 'laboratório'
onde se viva aquela harmonia com a criação que é, para nós, cura e
reconciliação, elaborando novas e eficazes formas de cuidar da natureza que nos
foi confiada. A vocês que se dedicam com empenho à realização deste projeto,
asseguro, portanto, minha oração e meu encorajamento”, afirmou.
Eucaristia, coração da Criação
Por fim, Leão XIV situou a Eucaristia como
o centro e o cume da ecologia integral, e citando novamente a Laudato si’, n.
236, destacou: “Na Eucaristia, já está realizada a plenitude, sendo o centro
vital do universo, centro transbordante de amor e de vida sem fim”. Na
conclusão de sua homilia, o Papa confiou aos presentes o “louvor cósmico”
retirado das Confissões de Santo Agostinho:
“Senhor, 'as tuas obras te louvam para que
te amemos, e nós te amamos para que as tuas obras te louvem'. Seja esta a
harmonia que difundimos no mundo”, afirmou Leão XIV.
Sobre o Borgo Laudato Sì
Ao redor do lago de Albano, de formação
vulcânica, encontra-se a Vila Pontifícia, que inclui construções históricas e
um extenso jardim. Ali, foi criado em 2023 o Borgo Laudato Sì, que cedeu essas
imagens, por desejo do Papa Francisco. Trata-se de um espaço de formação e
conscientização sobre os temas da proteção da Casa Comum. O projeto foi
confiado ao Centro de Ensino Superior Laudato Sì, criado na mesma ocasião como
um organismo científico, educativo e de atividade social, que trabalha pela
formação integral. O Borgo Laudato Sì foi pensado como um sinal concreto da
aplicabilidade dos princípios ilustrados por esta Encíclica, que está
completando 10 anos. Leão XIV quis conhecer de perto esta iniciativa, ao
visitar Castel Gandolfo em 29 de maio.
Thulio Fonseca - Vatican News
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