Que mundo é esse?
Experimentamos sentimento de perda com as inundações, estiagens, descontrole da vida social. Quando as relações humanas estão fragilizadas é porque perdemos o senso da espiritualidade, da libertação dos instintos egocentristas. Frequentemente encontramos na Sagrada Escritura relatos dos vacilos do Povo de Deus ao longo de sua história. O distanciamento de Deus, aproxima as confusões, tensões e desajustes na sociedade. A natureza sinaliza tais desacertos e se manifesta, por vezes, tragicamente porque invadimos o seu percurso natural e lógico.
Convivemos com a natureza que nos acolhe e
nos sustenta, mas não sabemos como se explica, em última análise, o que faz
germinar, crescer uma semente. O Reino de Deus anunciado por Jesus Cristo, em
miniatura. Jesus procura fazer os discípulos entenderem que o desenvolvimento
da mente humana, o retorno ao Deus da vida que nos liberta das angústias, é um
processo de crescimento, de evolução na fé.
Nos admiramos das técnicas avançadas, das
facilidades midiáticas, das redes sociais, enfim, quanta criatividade e
novidade apreciamos a cada instante. As relações humanas não têm evoluído nessa
proporção. Entramos no mundo da dominação, da frieza relacional e desenvolvemos
o instinto da competição desenfreada que machuca e destrói a natureza, a vida
humana. Os pais não têm tempo para os filhos, nem para a convivência familiar.
Criam-se outros modelos de vida que revela os desajustes do afeto, do respeito
e da dignidade humana. Sentimos saudades da comunhão de vida, da libertação das
amarras de um sistema que produz, vorazmente e não consegue evoluir no
respeito, na paz que gera vida em plenitude.
Afinal, que mundo é esse em que vivemos?
Destruímos a natureza, em busca do lucro selvagem. Justificamos o desmonte
ecológico em nome do desenvolvimento, intoxicamos a mãe terra e reclamamos das
pandemias, doenças, do vazio sistemático que gera depressão, abandono,
solidão.
O que fazer? O profeta Ezequiel, que
caminha contra a corrente dos costumes do seu tempo, prega a libertação de
Israel em exílio. É preciso voltar a Deus. “E todas as árvores do campo saberão
que eu sou o Senhor, que abaixo a árvore alta e elevo a árvore baixa; faço
secar a árvore verde e brotar a árvore seca. Eu, o Senhor, digo e faço” (Ez
17,24). Respeitar a presença divina gera a salutar convivência no mundo em que
vivemos. A vinda do Filho de Deus ao mundo aponta o rumo a ser tomado, para
salvar a vida, o maior dom do Criador. “Todos nós temos de comparecer às claras
perante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio
ou castigo – do que tiver feito ao longo de sua vida corporal” (2Cor
5,10).
Para fazer os discípulos entenderem a
riqueza do Reino de Deus, Jesus utiliza a comparação da semente que é lançada
na terra. Sabemos da qualidade, do ambiente, do tempo, dos insumos necessários
para que a semente germine e chegue aos seus frutos. Não há equívoco. Não há
alteração na qualidade, na espécie. Mas o crescimento é Deus quem dá. Ao nos
ausentarmos da intimidade com aquele que gera crescimento, nos afastamos da
essência da vida. Homens e mulheres que ditam as normas da condução da
sociedade, se não estiverem afinados com a sabedoria divina, criarão
instrumentos de exploração, de divisão, de ódio e de exclusão.
Que a leitura da Palavra de Deus nos
instrua, nos anime e nos qualifique na vida, para que toda criatura humana,
cresça na fé, na esperança e caminhe ao encontro definitivo com Deus no Reino
que Ele preparou para todos nós. Esse é o mundo desejado e anunciado por Jesus
Cristo.
Dom Severino Clasen - Arcebispo de Maringá (PR)
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