Vida ameaçada, dignidade negada
A Declaração Dignitas Infinita propõe que a Igreja e toda as pessoas de boa vontade reflitam sobre as graves ameaças à vida e à dignidade humana que se difundem nas mais diversas realidades. Alertar sobre essas situações pode nos ajudar a revisar nossa forma de viver e conviver onde estamos.
Uma das ameaças são os abusos sexuais, que
sempre deixam profundas cicatrizes nas vítimas, que se sentem feridas em sua
dignidade humana. Alguns sofrimentos podem durar toda a vida. Esse fenômeno
está difuso na sociedade, e também a Igreja tem se empenhado para colocar fim a
todo tipo de abuso que possa ocorrer ou tenha ocorrido em seu interior.
Certamente essa chaga é um obstáculo da missão de anunciar o
Evangelho.
Outra ameaça se percebe nas violências
contra as mulheres. A Declaração denuncia que as desigualdades entre mulheres e
homens são gravíssimas. E cita o Papa Francisco quando afirma: “são duplamente
pobres as mulheres que sofrem situações de exclusão, maus tratos e violência,
porque muitas vezes se encontram com menores possibilidades de defender os seus
direitos”. E o texto sustenta também que a violência contra as mulheres,
e especialmente o feminicídio, jamais serão condenados o suficiente.
A Declaração também se dedica a reprovar
com veemência o aborto como grande ameaça à dignidade humana. Recupera-se uma
afirmação do Papa São João Paulo II, quando afirmou: “entre todos os delitos
que o homem pode cometer contra a vida, o aborto procurado apresenta
características que o tornam particularmente grave e deplorável. (…) A
aceitação do aborto na mentalidade, no costume e na própria lei é sinal
eloquente de uma perigosíssima crise do senso moral, que se torna sempre mais
incapaz de distinguir entre o bem e o mal, mesmo quando está em jogo o direito
fundamental à vida. Diante de uma tão grave situação, é preciso mais que nunca
ter a coragem de encarar a verdade e de chamar as coisas pelo seu nome, sem ceder a
compromissos de comodidade ou à
tentação do autoengano. A tal propósito, ressoa categórica a denúncia do Profeta: “Ai
daqueles que chamam de bem o mal e o mal de bem, que mudam as trevas em luz e a
luz em trevas” (Is 5, 20).
Para a Declaração, reforçando o ensinamento
da Igreja, as crianças nascituras são as mais indefesas e inocentes de todas,
às quais hoje se quer negar a dignidade humana para poder fazer delas o que se
quer, tirando delas a vida e promovendo legislações que matam. E o texto
menciona o exemplo generoso e corajoso de Santa Teresa de Calcutá pela defesa
de todo o concebido.
Outra tomada de posição clara trata da
maternidade sub-rogada, através da qual a criança torna-se mero objeto. E
menciona-se uma forte afirmação do Papa Francisco: “considero deplorável
a prática da assim chamada maternidade sub-rogada, que lesa gravemente a
dignidade da mulher e do filho. Essa prática se funda sobre a exploração de uma
situação de necessidade material da mãe. Uma criança é sempre um dom e nunca
objeto de um contrato. Faço votos, portanto, que haja um empenho da comunidade
internacional para proibir em nível universal tal prática.” A Igreja sabe que
muitos se acostumaram com a expressão “barriga de aluguel”, mas os que seguem
Jesus Cristo compreendem o quanto isso afronta totalmente a dignidade
fundamental de todo ser humano, e o seu direito de ser sempre reconhecido por
si mesmo, e não como instrumento para outros fins.
Dom Leomar Brustolin - Arcebispo de Santa Maria (RS)
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