a Igreja precisa da arte de
poetas e escritores
Francisco, reunido com os participantes de
uma conferência da revista italiana 'La Civiltà Cattolica' e da Universidade de
Georgetown, dos Estados Unidos, exorta os narradores engajados em várias
frentes de criatividade a sugerir visões que "ajudem a ler o mistério da
vida humana": não deixem que a imaginação seja domada, ela ajuda o homem a
sonhar.
O Santo Padre recebeu, na manhã deste
sábado, 27, no Vaticano, os participantes no Congresso promovido pela “Civiltà
Cattolica” e a Universidade de Georgetown, que contou com a presença, entre
outros, do diretor cinematográfico, Martin Scorsese e família.
Em seu discurso, Francisco referiu-se ao
Congresso, que reúne poetas, escritores, roteiristas e diretores, de várias
partes do mundo, em torno do tema da “imaginação poética e a inspiração
católica”. Com esta iniciativa, disse o Papa, os participantes refletiram sobre
os modos de como a fé questiona a vida contemporânea, buscando responder à
“fome de sentido”.
Aqui, Francisco disse que, em sua vida,
gostou de muitos poetas e escritores, entre os quais, de modo particular,
Dante, Bloy, Dostoiévski e outros. Com seus alunos do Colégio da Imaculada
Conceição, em Santa Fé, Argentina, ele teve a oportunidade de compartilhar suas
leituras, quando jovem, ao ensinar literatura. E acrescentou:
“As palavras dos escritores ajudaram-me a
entender a mim mesmo, o mundo e meu povo; mas também a perscrutar o coração
humano, minha vida pessoal de fé e a ação pastoral, e, agora, também meu
ministério petrino. Por isso, a palavra literária é como um espinho no coração,
que nos impele à contemplação e indica o caminho.”
Partindo desta sua experiência pessoal,
Francisco compartilhou com os presentes algumas considerações sobre importância
do seu serviço ministerial. A primeira é: “Vocês são os olhos que veem e
sonham. Logo, não olhar somente, mas também sonhar”.
A este respeito, citou um escritor
latino-americano que dizia: “Temos dois olhos: um de carne e outro de vidro.
Com o da carne, olhamos o que vemos, com o do vidro olhamos o que sonhamos.
Coitados de nós se deixarmos de sonhar”! E o Papa explicou:
“O artista é o homem que, com os olhos, vê
e sonha ao mesmo tempo; vê mais a fundo, profetiza, anuncia um modo diferente
de ver e compreender as coisas, que estão diante dos nossos olhos. Na verdade,
a poesia não fala da realidade, a partir de princípios abstratos, mas observa a
realidade, como o trabalho, o amor, a morte e tantas outras coisas da vida.”
Neste sentido, afirmou o Papa, ajuda-nos a
“entender a voz de Deus, também a partir da voz do tempo”. E, citando Paul
Claudel, disse: “Vocês são um olho que escuta. A arte é um desafio à nossa
imaginação, ao nosso modo de ver e compreender as coisas. O próprio Evangelho é
um desafio artístico, uma carga “revolucionária” que vocês são chamados a
expressar, graças ao seu gênio. Hoje a Igreja precisa do seu gênio”!
A seguir, Francisco compartilhou uma
segunda coisa: “Vocês representam a voz das preocupações humanas. Vocês sabem
que a inspiração artística também é inquietante, porque apresenta as realidades
belas e trágicas da vida, de ontem e de hoje, como as guerras, conflitos
sociais, nosso egoísmo pessoal”.
Daí, o Papa exortou os presentes a
“ultrapassar as fronteiras fechadas e definidas, com criatividade”. Eis o
trabalho dos poetas e artistas: dar vida e formar o que o ser humano vê, sente,
sonha, sofre, criando harmonia e beleza. Esta é uma obra evangélica, que nos
ajuda a compreender melhor também Deus, como o grande poeta da humanidade.
Enfim, o Santo Padre propôs um terceiro
ponto de reflexão: “Vocês são os que moldam nossa imaginação. Hoje, precisamos
do gênio de uma nova linguagem, de histórias e imagens fortes, de escritores,
poetas, artistas capazes de anunciar ao mundo a mensagem do Evangelho, que nos faz
ver Jesus" .
O Papa concluiu seu discurso, recordando o
desafio da imaginação católica do nosso tempo, que nos é confiado: “Não dar
explicação sobre o mistério de Cristo, que é inesgotável, mas tocá-lo,
senti-lo, e transmiti-lo como uma realidade viva, apreendendo a beleza da sua
promessa, que ajuda a nossa imaginação de encarar a vida, a história e o futuro
da humanidade de uma maneira nova!
Manoel Tavares - Vatican News
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