Francisco disse na Audiência Geral que
"a consolação autêntica é uma espécie de confirmação de que cumprimos o
que Deus quer de nós, que percorremos os seus caminhos, ou seja, nas estradas
da vida, da alegria, da paz".
Mariangela Jaguraba - Vatican News
"A consolação autêntica" foi o tema da catequese do Papa Francisco, na Audiência Geral, desta quarta-feira (30/11), realizada na Praça São Pedro.
Continuando a reflexão sobre o
discernimento, o Papa recordou a seguinte passagem dos Exercícios espirituais
de Santo Inácio de Loyola. Reza assim: «Se nos pensamentos tudo é bom, o
princípio, o meio e o fim, e se tudo está orientado para o bem, este é um sinal
do anjo bom. Por outro lado, pode ser que no decurso dos pensamentos se
apresente algo mau, ou que distraia, ou menos bom do que aquilo que antes a
alma se propusera fazer, ou algo que debilite a alma, que a torne inquieta, que
a ponha em agitação e lhe tire a paz, a tranquilidade e a calma que antes
tinha: então, este é um sinal claro de que tais pensamentos vêm do espírito
maligno».
Estar orientado para o bem
"Existe uma verdadeira consolação, mas
existem consolações que não são verdadeiras. Por isso, é preciso entender bem o
percurso da consolação, para aonde vai, e para aonde me leva, se me leva para
algo que não é bom, não é uma consolação boa, não é uma consolação verdadeira,
é falsa", sublinhou o Papa.
O que significa que o princípio está
orientado para o bem? Por exemplo, tenho o pensamento de rezar, e observo que
se acompanha ao afeto pelo Senhor e pelo próximo, convida a realizar gestos de
generosidade, de caridade: é um bom princípio. No entanto, pode acontecer que
aquele pensamento surja para evitar um trabalho ou uma tarefa que me foi
confiada: sempre que devo lavar a louça ou limpar a casa, vem-me uma grande
vontade de começar a rezar! A oração não é uma fuga dos nossos afazeres; pelo
contrário, é uma ajuda para realizar o bem que somos chamados a praticar, aqui
e agora. Isto a propósito do princípio.
"Santo Inácio dizia que o principio, o
meio e o fim devem ser bons. O principio é este: tenho vontade de rezar para
não lavar a louça. Então, primeiro, lava a louça e depois vai rezar",
frisou o Papa.
Examinar bem o percurso dos próprios
sentimentos
"Em seguida há o meio, ou seja, o que
vem depois, o que se segue a tal pensamento", sublinhou Francisco.
"Permanecendo no exemplo anterior, se eu começar a rezar e, como faz o
fariseu da parábola tender a agradar a mim mesmo e a desprezar os outros,
talvez com um ânimo ressentido e azedo, então estes são sinais de que o
espírito maligno utilizou aquele pensamento como chave de acesso para entrar no
meu coração e para me transmitir os seus sentimentos." Segundo o Papa,
esse tipo "de oração termina mal", pois é "uma consolação de
rezar para se sentir como um pavão diante de Deus. Este é um meio que não
funciona".
"Depois, há o fim. O fim é um aspecto
que já encontramos, ou seja: para aonde me leva aquele pensamento?",
perguntou Francisco, dizendo que "pode acontecer que eu trabalhe
arduamente por uma obra boa e meritória, mas isto impele-me a deixar de rezar,
descubro-me cada vez mais agressivo e zangado, considero que tudo depende de
mim, a ponto de perder a confiança em Deus. Evidentemente, aqui há a ação do
espírito maligno. Eu começo a rezar e na oração me sinto onipotente. Portanto,
examinar bem o percurso dos próprios sentimentos, e o percurso dos bons
sentimentos, da consolação a partir do momento que eu quero fazer alguma
coisa".
Aprender com as experiências
Segundo o Papa, "o estilo do inimigo",
do demônio, é o estilo que "consiste em apresentar-se de maneira
sorrateira e disfarçada: começa a partir daquilo que nos é mais querido e
depois, pouco a pouco, atrai-nos a si: o mal entra secretamente, sem que a
pessoa perceba. E, com o passar do tempo, a suavidade torna-se dureza: aquele
pensamento revela-se pelo que realmente é".
“Eis a importância deste paciente, mas
indispensável exame sobre a origem e a verdade dos próprios pensamentos; é um
convite a aprender com as experiências, com o que nos acontece, para não
continuar repetindo os mesmos erros.”
Quanto mais nos conhecemos, mais sentimos
por onde entra o espírito maligno, as suas “senhas”, as portas de entrada do
nosso coração, que são os pontos onde somos mais sensíveis, de modo a prestar-lhes
atenção no futuro. Cada um de nós há os pontos mais sensíveis, os pontos mais
frágeis da própria personalidade e dali entra o maligno e nos leva para a
estrada errada, ou nos tira da estrada certa. Quero rezar, mas me distancia da
oração.
É importante compreender o que aconteceu
O Papa frisou que é importante fazer
"o exame de consciência diário: antes de terminar o dia, parar. Se
perguntar, o que aconteceu no meu coração? Cresceu ou foi uma estrada na qual
passou de tudo? O que aconteceu no meu coração. Trata-se do precioso esforço de
reler a experiência sob um ponto de vista particular. É importante compreender
o que aconteceu, é sinal de que a graça de Deus age em nós, ajudando-nos a
crescer em liberdade e consciência. Não estamos sozinhos, o Espírito Santo está
conosco".
A consolação autêntica é uma espécie de
confirmação de que cumprimos o que Deus quer de nós, que percorremos os seus
caminhos, ou seja, as estradas da vida, da alegria, da paz. Com efeito, o
discernimento não é simplesmente sobre o bem, nem sobre o máximo bem possível,
mas sobre o que é um bem para mim aqui e agora: é nisto que sou chamado a
crescer, colocando limites a outras propostas, atraentes, mas irreais, para não
ser enganado na busca do verdadeiro bem.
É preciso "aprender a ler no
livro do coração o que aconteceu durante o dia. Façam isso. São apenas
dois minutos, mas garanto a vocês que lhes fará bem".
Nenhum comentário:
Postar um comentário