“A Igreja precisa
aprender de Jesus a falar fácil”
Em artigo, cujo
título é “A Igreja precisa apender de Jesus a falar fácil”, o bispo de Lages
(SC) dom Guilherme Antônio Werlang defende a ideia que, na Igreja, é necessário
buscar na comunicação a simplicidade com que Jesus se comunicava, traduzindo
conceitos complexos para a realidade das pessoas de sua época por meio das
parábolas.
“Eu ainda era
estudante de teologia na PUC de Porto Alegre, quando um dia na aula de Exegese
sobre o evangelho de São João, eu perguntei ao professor, meu amigo até hoje,
padre doutor Johan Konings, porque os teólogos e exegetas gostam de complicar
tanto e falar tão difícil, se Jesus fez questão de falar em linguagem tão fácil
e simples?”, escreveu. Johan Konings é um dos tradutores da Bíblia de Jerusalém
e da Conferência Nacional dos Bispo do Brasil (CNBB) e segundo o próprio dom
Guilherme é simples como um “Zé Ninguém”, até hoje seu grande amigo.
Dom Guilherme
defende que para um médico, é fácil falar difícil sobre doenças e remédios.
Afinal ele estudou e sabe todos os nomes difíceis e seus significados. O
difícil é ele explicar de um jeito e numa linguagem fácil, as coisas difíceis e
complicadas da medicina. O bispo aponta que assim é com todas as outras
ciências. No meio eclesial, dom Guilherme disse existir pessoas que muitas
vezes fazem questão de mostrar que “sabem” e por isso também falam “difícil”.
“Todo mundo fica
olhando admirado de toda a nossa ‘sabedoria e inteligência’, mas poucos
conseguem compreender o que realmente estamos falando e explicando”, defende o
religioso. Isto, para dom Guilherme, se estende aos documentos da Igreja.
“Nossos documentos, livros, homilias são irretocáveis em sua exatidão, em seu
português ou outra língua. Até fazemos questão de usar palavras difíceis
do grego, latim, alemão, etc, sem no entanto, traduzi-las para uma linguagem do
‘feijão com arroz’.
Dom Guilherme faz
uma pergunta: “Para que servem documentos se eles não são acessíveis e
compreensíveis ao povo em geral? A proposta apresentada pelo bispo é
retomar, na Igreja no Brasil, uma prática adotada pela Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil nos anos de 1970 a 1980. À época se produzia, segundo o bispo,
duas versões dos documentos da CNBB: uma numa linguagem oficial e para guardar
para pesquisas e outra, numa versão de linguagem popular. O bispo lembra que
houve um ensaio de tradução da Bíblia em linguagem popular e teve uma boa
vendagem.
O bispo adverte,
contudo, que defende esta ideia não como crítica aos teólogos que são, em sua
avaliação, sumamente necessários e sua pesquisa e linguagem também o são, nem
para criticar religiosos que são impecáveis em seus ensinamentos e homilias,
numa precisão invejável. “Desejo apenas dizer que ao ensinar e pregar, o que é
diferente que produzir documentos, temos, na minha opinião, sempre olhar para
Jesus”, escreveu.
“Quando está com
camponeses usa exemplos da roça e do campo; quando está com pastores ou
criadores de ovelhas, fala de pastores, mercenários e ovelhas; quando está com
pescadores, fala de rede, de pesca, de escolha de peixes bons e do que não tem
valor no mercado e por isso são jogados fora; quando fala com as mulheres fala
de farinha, de fermento, de moedas perdidas na casa e de varrer a casa até
encontrar; quando fala com comerciantes fala de tesouros escondidos, de compra
de campo em que possam estar riquezas”, escreveu.
Jesus, escreveu
dom Guilherme, dizia as coisas difíceis de um modo fácil, numa linguagem fácil
era entendida pelos discípulos e pelo povo em geral. “Falar para ninguém ou
para poucos entender, é a mesma coisa que falar para as paredes ou para
estátuas”, escreve dom Guilherme.
Dom Guilherme
defende que a grande sabedoria é fazer-se entender. Este é um trabalho a ser
buscado pela catequese e de nossa liturgia para cativar, fazer seguidores e
motivar, tornado a religião e o evangelho a coisa mais saborosa e gostosa da
vida. “As outras linguagens que o povo entende, arrastam nossos fiéis para
outros rebanhos”, defende o bispo.
“Os estudos
profundíssimos da teologia são absolutamente necessários para quem deve assumir
ao missão de ensinar, conduzir e apascentar o Povo de Deus, mas todo este
estudo é para traduzir tudo em linguagem do cotidiano do povo e não para
mostrar, “eu sei”. Teses de doutorado são indispensáveis, estudos profundos são
imprescindíveis, mas homilia é ou deveriam ser, a fala do Pai com sua família,
com seus filhos”, conclui.
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Fonte: cnbb.org.br
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