O lugar e
postura da presidência na liturgia
“Nas celebrações
litúrgicas, seja quem for, ministro ou fiel, exercendo o seu ofício, faça tudo
e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas litúrgicas lhe compete
(SC, 28)”.
Jackson Erpen -
Cidade do Vaticano - No nosso Espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio
Vaticano II, vamos continuar a falar de liturgia, trazendo no programa de hoje
o tema “O lugar e postura da presidência na liturgia”.
“A liturgia é
viva (...). Sem a presença real do mistério de Cristo, não há qualquer
vitalidade litúrgica (...). Sem o coração pulsante de Cristo não existe
qualquer ação litúrgica”, disse o Papa Francisco no discurso aos
participantes da 68ª Semana Litúrgica Nacional, ocasião em que reiterou, “com
certeza e com autoridade magistral que a reforma litúrgica é irreversível”.
A liturgia,
ademais, "é vida para todo o povo da Igreja". E “a Igreja está
deveras viva se, formando um só ser vivente com Cristo, é portadora de vida, é
materna, é missionária, sai ao encontro do próximo, solicita a servir sem
perseguir poderes mundanos que a tornam estéril”.
Nas orientações
e normas litúrgicas, está prevista a postura e a atuação da presidência na
celebração, como nos explica o padre Gerson Schmidt:
“Podemos cair em dois extremos na questão da
reforma litúrgica: um demasiado legalismo, que é o apego às normas, um rigorismo
fechado não dando lugar a uma criatividade sadia prevista pelas normas
litúrgicas; ou então no liberacionismo, que desconhece ou passa por cima das
normas litúrgicas, desrespeita o essencial da celebração, confunde criatividade
com novidade, invencionices e caprichos e desventuras pessoais.
Na renovação
litúrgica, na boa intenção de tornar a missa mais participativa e envolvente,
muitas vezes exageramos na dose da criatividade e tornamos a liturgia um show à
parte, e, ao invés de celebrar, empanturramos a liturgia de aspectos atrativos
demasiados. Outras vezes, quem preside se torna um “showmen”, exaltando o glamour e
um exibicionismo ridículo e desconexo do verdadeiro sentido da liturgia.
Quantas vezes vimos, sobretudo nas redes sociais, o sacerdote ficar dançando de
qualquer jeito no altar, desfocando o mistério eucarístico para fazer uma
apresentação e show à parte. A criatividade tem hora e lugar. Pensamos que
trazer o Ostensório, templo a dentro, sustentado por um drone, como aconteceu
recentemente no Brasil, é no mínimo falta de bom senso e uma grave falta de
postura litúrgica.
Não condenamos
aqui os padres cantores. Mas se o sacerdote, na celebração, é mais artista do
que celebrante, algo está errado e descompassado. E isso serve também para o
grupo de cantores e animadores. Precisamos aqui rever o verdadeiro lugar da
presidência e de cada ministério, quais as possibilidades e quais os limites
para que atua de maneira a não distorcer sua função litúrgica.
Na expressão de
São João Crisóstomo, somos um corpo comunitário. Um corpo é coordenado por uma
cabeça. A Igreja sabe que sua cabeça é Jesus Cristo. Ele é o único dirigente, e
o Espírito Santo é o único animador, a alma da comunidade. Mas precisamos ter
entre nós um sinal visível, um sacramento de Cristo-cabeça. Na Missa é sempre o
bispo ou o padre.
Nas celebrações
ou culto dominical é alguém da própria comunidade, devidamente preparado para
desempenhar esta função. O presidente da celebração não se coloca acima da
comunidade, nem faz tudo sozinho. Preocupa-se em fazer com que toda a
comunidade se torne um povo celebrante, ativo e participante, um povo
sacerdotal.
Embora seja o
celebrante principal, não celebra sozinho, não celebra para o povo ou em favor
do povo. Quem celebra é todo o povo. O presidente deve, pois, celebrar com o
povo, sabendo-se parte dele. Deve ouvir a palavra, cantar, rezar,
comprometer-se com Jesus Cristo, junto com todo o povo e ajudá-lo a fazer o
mesmo.
Nas orientações
e normas litúrgicas está prevista a postura e a atuação da presidência na
celebração. Prevê-se até mesmo o lugar da presidência, como aponta a Instrução
INTER OECUMENICI: “Em relação ao plano da igreja, a cadeira para o celebrante e
os ministros deve ocupar um lugar que seja claramente visível a todos os fiéis
e que dê a entender que o celebrante preside a inteira comunidade. A cadeira
deve ficar atrás do altar e qualquer semelhança a um trono, prerrogativa de um
bispo, deve ser evitada[1]. Muitas coisas práticas poderíamos falar
aqui sobre a presidência ou outras funções litúrgicas. Não é o lugar, nem o
tempo nos permite para esses pormenores.
Cabe aqui
lembrar os princípios contidos na SC, como afirma no número 28: “Nas
celebrações litúrgicas, seja quem for, ministro ou fiel, exercendo o seu
ofício, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas
litúrgicas lhe compete” (SC, 28)”.
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[1] Instrução
INTER OECUMENICI, CONSILIUM AD EXSEQUANDAM CONSTITUTIONEM DE SACRA LITURGIA
para a reta aplicação da Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio
Vaticano II, 26/09/1964, n.92.
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Fonte: vaticannews.va
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