Como falar de
Maria, mãe de Jesus?
Ao tratarem de
Maria, os padres conciliares estiveram atentos a evitar exageros que ferissem a
sensibilidade dos cristãos não católicos.
É urgente
retomar algumas lições do Concílio Vaticano II sobre Maria e, consequentemente,
qualificar a relação com aquela que é Mãe de Cristo e Mãe da Igreja.
A identidade
materna de Maria é um elemento de forte influxo para a devoção dos fiéis. Por
ser “mãe”, Maria se torna destinatária de inúmeras demandas daqueles que se
colocam como filhos e filhas. Ao mesmo tempo, essa relação tende a favorecer
afetos que podem assumir tons de exagero. Ora, o Concílio fala de Maria
fundamentalmente a partir das escrituras: “Os livros do Antigo e do Novo
Testamento, e a tradição veneranda mostram, de modo que vai se tornando cada
vez mais claro, a função da Mãe do Salvador na economia da salvação, e colocam-na,
por assim dizer, diante de nossos olhos” (LG 55).
Dom João Justino de Medeiros Silva |
Importa
reconhecer Maria como pessoa e mulher livre diante da iniciativa de Deus, numa
nova perspectiva antropológica que destaca a humanidade de Maria como criatura
amada e agraciada pelo Senhor, que em sua resposta livre pode cooperar, mesmo
como criatura, na obra da Redenção. Em diálogo com a antropologia
contemporânea, Maria é apresentada não como simples objeto de salvação, mas
como sujeito no processo em que é chamada pelo próprio Senhor a participar:
“Com razão afirmam os santos padres que Maria não foi instrumento meramente
passivo nas mãos de Deus, mas cooperou na salvação dos homens com fé livre e
com inteira obediência” (LG 56).
É preciso zelar
por uma mariologia que favoreça a unidade dos cristãos. Ao tratarem de Maria,
os padres conciliares estiveram atentos a evitar exageros que ferissem a
sensibilidade dos cristãos não católicos. Um passo nesta direção é a abordagem
bíblica que sempre nos aproxima, em especial, dos irmãos protestantes. O
Vaticano II explicitou esta preocupação ecumênica ao exortar que “com todo o
empenho os teólogos e os pregadores da palavra divina a que, ao considerarem a
singular dignidade da Mãe de Deus, se abstenham com cuidado, tanto de qualquer
falso exagero, como também de demasiada pequenez de espírito” e “evitem
diligentemente tudo o que, por palavras ou por obras, possa induzir em erro os
irmãos separados ou quaisquer outras pessoas, quanto à verdadeira doutrina da
Igreja” (LG 67).
Como o Concílio
teve uma preocupação pastoral, é coerente que a doutrina mariana que dele emana
seja também marcadamente em linguagem pastoral, ou seja, numa linguagem mais
concreta e menos conceitualista. Importava apresentar Maria numa teologia mais
existencial, em relação mais direta com a experiência de fé do povo de Deus. O
texto conciliar explicita esta intenção: “Por isso, o sagrado Concílio, ao
expor a doutrina da Igreja, na qual o divino Redentor opera a salvação, deseja
esclarecer cuidadosamente quer a função da bem-aventurada Virgem no mistério do
Verbo encarnado e do corpo místico, quer os deveres dos próprios homens remidos
para com a própria Mãe de Deus, que é Mãe de Cristo e dos homens, em especial
dos fiéis.” (LG 54).
Assim, nenhum
católico deixe de aprofundar as verdades da fé sobre Maria, sempre em sintonia
com os ensinamentos do Concílio Vaticano II. E todos os católicos deixem-se
guiar pelas orientações da Igreja para o adequado culto à Virgem Maria. Não
ocorra que a falta de uma sólida compreensão da identidade, missão e
participação de Maria no mistério da salvação se torne um grave desserviço à
fé.
Dom João Justino
de Medeiros Silva - Arcebispo de Montes Claros - MG
......................................................................................................................................... Fonte: cnbbleste2.org.br Estampa: cleofas.com.br
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