Amizade social
Na quarta-feira de cinzas de 2024 foi
lançada, em todo o Brasil, a Campanha da Fraternidade sobre amizade social,
cujo lema é “Vós sois todos irmãos”. Seu objetivo é despertar para a
beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade
social, para que, em Jesus Cristo, a paz seja realidade entre todos.
Entre seus propósitos, está a missão de
compreender como a mentalidade de divisão está afetando o conjunto da vida,
inclusive a dimensão religiosa, e identificar as principais causas da atual
mentalidade de oposição e conflito, que gera a incapacidade de ver nas outras
pessoas um irmão e irmã. Pretende-se, também, conscientizar sobre a necessidade
de superar as divisões e polarizações, construindo a unidade em meio à
pluralidade.
O texto-base destaca os Sinais de
predisposição à fraternidade e amizade social, e afirma que a fraternidade
inscrita em nossa natureza humana a partir da comum filiação divina impele-nos
constantemente, apesar dos desequilíbrios causados pelo pecado original, a
viver a amizade social querida por Deus.
Outro dado a ser considerado é a
solidariedade que caracteriza o povo brasileiro e que se manifesta de forma
gratuita e voluntária nas grandes tragédias, sejam elas naturais ou criminosas,
quando as comunidades se mobilizam, organizam-se e colocam em comum bens e
serviços necessários para o socorro das vítimas, realizando, mesmo que
temporariamente, a fraternidade e amizade social querida por Deus em todo tempo
e lugar.
Também é mencionada a sadia e complementar
pluralidade existente entre todos os seres humanos nas suas mais diversas
expressões, dom da multiforme fecundidade do Criador para promover a integração
e o crescimento da família humana, a partir da valorização de nossas
diferenças.
Mas o texto também alerta sobre os riscos
de nosso tempo, como o uso e a exploração do outro, a indiferença generalizada,
os julgamentos precipitados, a rejeição gratuita, o ódio desmedido, o combate a
pessoas e não a ideias ou propostas, a morte sem sentido, como aquelas das
crianças nas creches e escolas atacadas por jovens e adultos armados. Tudo isso
nos leva a crer que o mal de que padece a nossa sociedade é o da alterofobia,
ou seja, medo, rejeição, aversão a tudo aquilo que é outro, que não sou eu
mesmo. Vivemos fisicamente próximos, mas absolutamente distantes.
Tornamo-nos incapazes de nos colocar no
lugar do outro, incapazes do que Jesus chama no Evangelho de compaixão, de
padecer o sofrimento alheio. Vivemos um agudo processo de subjetivação, isto é,
a única ótica que importa é a minha. E ignoramos o que o refrão cantado durante
o Sínodo da Amazônia nos ensinou: “tudo está interligado como se fôssemos um,
tudo está interligado nessa Casa Comum”.
Dom Leomar Antônio Brustolin - Arcebispo de Santa Maria (RS)
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