Omissão e prudência
Neste tempo de quaresma, é tempo de
reflexão, proponho refletirmos hoje sobre omissão. Esta palavra anda
esquecida, mas a vivência do que ela significa está em dia, ou seja, a omissão
é atitude tomada pela maioria das pessoas em espacial os que tem
responsabilidades de governo. É mais fácil se omitir e posar de prudente, que
enfrentar as dificuldades para resolver as situações difíceis, e assim trazer
melhoria para as pessoas e instituições.
Dom Pedro Cipollini |
A palavra omissão vem do latim e significa
“deixar de ir adiante”. A omissão é faltar ao cumprimento do dever, deixando de
fazer uma ação a que se estava moralmente obrigado. É a decisão de não agir
quando é dever fazê-lo. Podemos até dizer que os pecados ou faltas por
ação, sejam menos frequentes que por omissão. Peca-se mais por omissão do que
por comissão.
Neste tempo de quaresma é bom prestar
atenção redobrada nas faltas por omissão que provocam em todos os ambientes,
graves consequências, no convívio social, na política e até mesmo na Igreja.
Por isso se pede durante a missa, no ato penitencial, perdão pelos
pecados de “pensamentos, atos e omissões”.
Nós brasileiros temos muita facilidade de
tolerar a omissão, tanto das pessoas como a omissão coletiva, na qual a
responsabilidade individual é mais dificilmente determinada. Por exemplo, as
conspirações de silêncio em torno da discriminação por raça, cor, etnia ou
religião. É a omissão coletiva diante de um estado de injustiça
social que pesa sobre a população.
Sem dúvida a responsabilidade maior pela
omissão recai sobre os que tem meios para repará-la. Porém eles agem sempre
apoiados nos grandes cumplices da omissão: o egoísmo, o comodismo e a
covardia.
Porém os omissos procuram se passar por
prudentes. Reflitamos também sobre a prudência…É impressionante o discurso a
favor da prudência, a falsa prudência, porém, que os omissos fazem. A falsa
prudência segue o politicamente correto, o interesse pessoal, evita sempre os
conflitos, capitula diante dos leões e castiga os cordeiros. Esta prudência
oprime porque favorece o “status quo”, produz fariseus e não tem profetismo ou
visão de futuro.
A prudência verdadeira, trabalha não só em
prol da pessoa mas da coletividade, é movida pela verdade e justiça, defende a
dignidade de todos e não tem medo dos leões defendendo os cordeiros. Jesus é a
imagem do homem prudente, mas não teve dúvidas em expulsar os vendilhões do
Templo. Sua prudência não estava separada do profetismo e do anúncio do
Evangelho.
A prudência é uma das quatro virtudes
cardeais apontadas pela Antiguidade e a Idade Média. Talvez a virtude mais
esquecida. Mas ela não pode ser suporte para a omissão dos covardes. A
verdadeira prudência, quando é virtude, evita a omissão exatamente por
prudência.
A ética da responsabilidade quer que
respondamos não apenas por nossas intenções ou princípios, mas também pelas
consequências de nossos atos. Esta é uma ética da prudência verdadeira e é a
única válida, porque leva em conta as consequências de nossas ações e não só de
nossas convicções. Aqui, não há lugar para a omissão.
Não espere por prudência, que os seus erros
se consertem sozinhos com o tempo, a omissão fará você errar mais.#
Dom Pedro Cipollini - Bispo de Santo André (SP)
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