menos eu e mais o outro
Em discurso aos membros da Fundação
Centesimus Annus, Francisco indicou a prática do “fazer espaço”. Isto é, cada
um retrai um pouco o próprio “eu” para permitir ao outro de existir. Para isso,
acrescentou, é preciso que o fundamento da comunidade seja a ética do dom e não
a da troca.
O Papa recebeu em audiência na manhã desta
segunda-feira os membros da Fundação Centesimus Annus, que está celebrando seus
30 anos com um Congresso Internacional em andamento em Roma.
A Fundação nasceu inspirada na Encíclica de
São João Paulo II, que, por sua vez, foi escrita para comemorar o centenário da
histórica Rerum novarum. Publicada em 1891, este documento pontifício marcou o
nascimento da Doutrina Social da Igreja, pois, com ele, Leão XIII buscou dar
soluções para os problemas dos operários europeus da Segunda Revolução
Industrial, à luz do Evangelho.
Os temas, portanto, que unem as duas
Encíclicas e a Fundação são a centralidade da pessoa, o bem comum, a
solidariedade e a subsidiariedade. Temas contidos nos documentos de
Francisco, como a Evangelii gaudium, a Laudato si’ e a Fratelli
tutti.
Foi justamente uma frase da última
Encíclica do Papa a inspirar o tema do Congresso Internacional da Fundação “A
memória para construir o futuro: pensar e agir em termos de comunidade”.
Para isso, afirmou Francisco, é preciso
lutar contra as causas estruturais da pobreza, da desigualdade, da falta de
trabalho, terra e casa e da negação dos direitos sociais e
profissionais. É fazer frente aos efeitos destruidores do império do
dinheiro:
“Vem-me à mente – eu falei de dinheiro – um
trecho do Evangelho, quando Jesus nos diz que não se pode servir a dois
senhores: ou você serve a Deus, um Senhor, ou você serve - eu esperava que
dissesse ao diabo - e não diz diabo, diz dinheiro. Ou você serve a Deus ou você
serve ao dinheiro. Pior que o diabo. Devemos tentar entender o que Jesus quer
dizer com isto, há uma mensagem. Ou serve a Deus ou você é servo do dinheiro.
Não é livre.”
Menos eu, mais outro
Mas para que a comunidade se torne
realmente um lugar para os excluídos, o Papa indicou a prática do “fazer
espaço”. Isto é, cada um retrai um pouco o próprio “eu” para permitir ao outro
de existir. Para isso, acrescentou, é preciso que o fundamento da comunidade seja
a ética do dom e não a da troca.
“Queridos irmãos e irmãs, pensar e agir em
termos de comunidade é, portanto, fazer espaço aos outros, é imaginar e
trabalhar por um futuro onde cada um possa encontrar o seu lugar e ter o seu
espaço no mundo. Uma comunidade que saiba dar voz a quem não tem voz é o que
todos nós precisamos.”
Francisco concluiu fazendo votos de que o
trabalho da Fundação Centesimus Annus seja também este: contribuir para um
pensamento e uma ação que favoreçam o crescimento de uma comunidade na qual
caminhar juntos na estrada da paz.
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