"humilde trabalhador
na vinha do Senhor"
Papa emérito morreu às 9h34 deste sábado,
31 de dezembro. O funeral será na quinta-feira, 5 de janeiro, às 9h30 locais na
Praça São Pedro, presidido pelo Papa Francisco.
Comunicado do diretor da Sala de Imprensa
da Santa Sé, Matteo Bruni:
“Com pesar informo que o Papa Emérito Bento
XVI faleceu hoje às 9h34, no Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano. Assim que
possível, serão enviadas novas informações”
Desde quarta-feira passada, quando o Papa
Francisco afirmou que seu predecessor estava muito doente, fiéis do mundo
inteiro se uniram em oração pela saúde do Papa emérito. Bento XVI tinha 95 anos
e vivia no Mosteiro Mater Ecclesiae desde sua renúncia ao ministério petrino,
em 2013.
O corpo do Papa emérito estará na Basílica
de São Pedro para a saudação dos fiéis a partir da segunda-feira, 2 de janeiro.
O funeral será na quinta-feira, 5 de janeiro, às 9h30 locais (05h30 no horário
de Brasília) na Praça São Pedro, presidido pelo Papa Francisco.
Ainda de acordo com o diretor da Sala de
Imprensa, Bento XVI recebeu a unção dos enfermos na quarta-feira, ao final da
missa celebrada no Mosteiro e na presença das "Memores Domini", que
há anos o assistem diariamente.
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"Deus é amor", a chave do
pontificado
Bento XVI, diante dos escândalos e do
carreirismo eclesiástico, continuou a fazer apelos à conversão, à penitência e
à humildade, propondo uma imagem da Igreja liberta de privilégios materiais e
políticos para ser verdadeiramente aberta ao mundo.
ANDREA TORNIELLI - Vatican News
Desde 1417, a morte de um (ex) Papa não
significava o fim de um pontificado. A morte de Bento XVI, nome de batismo
Joseph Ratzinger, ocorreu hoje no Vaticano, quase dez anos após sua renúncia,
que ele anunciou de surpresa em 11 de fevereiro de 2013, com a leitura de uma
breve declaração em latim diante dos cardeais estupefatos. Nunca em dois
milênios de história da Igreja um Papa deixou a Cátedra por sentir-se
fisicamente inadequado para suportar o peso do pontificado. Ademais, em uma
resposta dada ao jornalista Peter Seewald no livro-entrevista "Luz do
Mundo" publicada três anos antes, ele havia de algum modo antecipado um:
"Quando um Papa chega à conclusão clara de que não é mais capaz física,
mental e espiritualmente de realizar a tarefa que lhe foi confiada, então ele
tem o direito e em algumas circunstâncias até o dever de renunciar".
Apesar do fato de que o epílogo de seu reinado foi anterior ao fim de sua vida,
constituindo um precedente histórico de enorme significado, não seria generoso
lembrar Bento XVI apenas por isso.
'Teen ager' teológico no Concílio
Nascido em 1927, filho de um gendarme, em
uma família simples e muito católica na Baviera, Joseph Ratzinger foi um
protagonista na Igreja do século passado. Ordenado sacerdote junto com seu
irmão Georg em 1951, tornou-se doutor em teologia dois anos mais tarde e em
1957 recebeu a licença para ensinar como professor de teologia dogmática. Ele
ensinou em Freising, Bonn, Münster, Tübingen e, por fim, em Regensburg. Com ele
falece o último dos Pontífices pessoalmente envolvidos nos trabalhos do
Concílio Vaticano II. Como um teólogo muito jovem e já estimado, Ratzinger
havia acompanhado de perto a assembleia como um especialista do cardeal Frings
de Colônia, que estava próximo à ala reformista. Ele estava entre aqueles que
criticaram fortemente os esquemas preparatórios feitos pela Cúria Romana, mais
tarde varridos pela decisão dos bispos. Para o jovem teólogo Ratzinger, os
textos "devem dar respostas às perguntas mais urgentes e devem fazê-lo, na
medida do possível, não julgando e condenando, mas usando uma língua
materna". Ratzinger elogia a reforma litúrgica que estava chegando e as
razões de sua inevitabilidade providencial. Ele diz que, para redescobrir a
verdadeira natureza da liturgia, era necessário "romper o muro do
latim".
Custódio da fé com Wojtyla
Mas o futuro Bento XVI também testemunhou
diretamente a crise pós-conciliar, a contestação nas universidades e nas
faculdades teológicas. Ele testemunha o questionamento das verdades essenciais
da fé e da experimentação selvagem em âmbito litúrgico. Já em 1966, um ano após
o final do Concílio, ele disse ver o avanço de um "cristianismo a preços
rebaixados".
Paulo VI o nomeou arcebispo de Munique em
1977, aos 50 anos de idade e algumas semanas mais tarde o criou cardeal. Em
novembro de 1981, João Paulo II confiou-lhe a condução da Congregação para a
Doutrina da Fé. Era o início de uma forte parceria entre o Papa polonês e o
teólogo bávaro, destinada a desfazer-se somente com a morte de Wojtyla, que até
o final recusou a renúncia de Ratzinger, não querendo se privar dela. Estes
foram os anos em que o ex Santo Ofício colocou os pontos nos "is" em
muitos assuntos: colocou freios na Teologia da Libertação, que usa a análise
marxista, e tomou uma posição diante do surgimento de grandes problemas éticos.
A obra mais importante é certamente o novo Catecismo da Igreja Católica, um
trabalho que durou seis anos e que viu a luz em 1992.
"Humilde trabalhador na vinha"
Após a morte de Wojtyla, o conclave de 2005
chamou para sucedê-lo em menos de 24 horas um homem já idoso - ele tinha 78
anos de idade - universalmente estimado e respeitado até mesmo por seus
oponentes. Da sacada da Basílica de São Pedro, Bento XVI se apresenta como
"um humilde trabalhador na vinha do Senhor". Alheio a qualquer
protagonismo, ele diz que não tem "programa", mas quer "ouvir,
com toda a Igreja, a palavra e a vontade do Senhor".
Auschwitz e Regensburg
Inicialmente tímido, ele não renunciou a
viajar: seu pontificado também será itinerante como o de seu antecessor. Um dos
momentos mais comoventes foi a visita a Auschwitz em maio de 2006, com o Papa
alemão dizendo: "Em um lugar como este, as palavras falham, só um silêncio
perplexo pode permanecer - um silêncio que é um grito interior a Deus: Por que
pudeste tolerar tudo isso?" 2006 é também o ano do caso Regensburg, quando
uma frase antiga sobre Maomé, que o Pontífice cita sem fazer sua na
universidade onde foi professor, é instrumentalizada e desencadeia protestos no
mundo islâmico. Desde então, o Papa multiplicará seus sinais de atenção em relação
aos muçulmanos. Bento XVI enfrenta viagens difíceis, se confronta com a
secularização galopante das sociedades descristianizadas e a dissidência dentro
da Igreja. Ele celebra seu aniversário na Casa Branca junto com George Bush Jr.
e alguns dias depois, em 20 de abril de 2008, reza no Ground Zero abraçando os
parentes das vítimas do 11 de setembro.
A encíclica sobre a alegria
Embora, como prefeito do ex Santo Ofício,
ele foi frequentemente etiquetado como "panzerkardinal", como Papa
ele fala constantemente da "alegria de ser cristão", e dedica sua
primeira encíclica ao amor de Deus, "Deus caritas est". No começo do
ser cristão - escreve ele - não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o
encontro com um evento, com uma Pessoa". Ele também encontra tempo para
escrever um livro sobre Jesus de Nazaré, uma obra única que será publicada em
três tomos. Entre as decisões a serem lembradas estão o Motu proprio liberalizando
o missal romano pré-conciliar e o estabelecimento de um Ordinariato para
permitir que as comunidades anglicanas retornem à comunhão com Roma. Em janeiro
de 2009, o Papa decidiu revogar a excomunhão dos quatro bispos ordenados
ilicitamente por dom Marcel Lefebvre, entre eles também Richard Williamson,
negacionista das câmaras de gás. As polêmicas explodem no mundo judeu, o Papa
pega caneta e papel e escreve para os bispos do mundo assumindo toda a
responsabilidade.
A resposta aos escândalos
Os últimos anos são marcados pelo retorno
explosivo do escândalo da pedofilia e pelo Vatileaks, o vazamento de documentos
retirados da escrivaninha papal e publicados em um livro. Bento XVI é
determinado e duro em enfrentar o problema da "sujeira" dentro da
Igreja. Ele introduz regras muito rigorosas de combate ao abuso contra menores,
pede à Cúria e aos bispos que mudem mentalidade. Ele chega a dizer que a mais
grave perseguição para a Igreja não vem de seus inimigos externos, mas do
pecado dentro dela. Outra reforma importante é a financeira: é o Papa Ratzinger
quem introduz a regulamentação contra a lavagem de dinheiro no Vaticano.
Igreja livre de dinheiro e poder
Diante dos escândalos e do carreirismo
eclesiástico, o idoso Papa alemão continua a fazer apelos à conversão, à
penitência e à humildade. Durante sua última viagem à Alemanha, em setembro de
2011, pediu que a Igreja fosse menos mundana: "Exemplos históricos mostram
que o testemunho missionário de uma Igreja "desmundanizada" emerge
mais claramente. Livre de fardos e privilégios materiais e políticos, a Igreja
pode dedicar-se melhor e de forma verdadeiramente cristã ao mundo inteiro, pode
estar verdadeiramente aberta ao mundo...".
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Simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor
Bento XVI, o grande
"A notícia divulgada nesta manhã do
último dia do ano de 2022 é para nós uma oportunidade de um grande exame de
consciência no ano que termina e de nos colocarmos disponíveis para o novo ano
que se inicia, agora com o olhar retrospectivo de um grande homem de Deus que
partiu e que serviu à Igreja como “simples e humilde trabalhador na vinha do
Senhor", é o convite de Dom Orani Tempesta.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.
- Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Ao apresentar-se ao mundo como novo
Pontífice, assim se dirigiu ao povo o Papa Bento XVI: “Depois do grande Papa
João Paulo II, os Senhores Cardeais elegeram-me, simples e humilde trabalhador
na vinha do Senhor”. O Papa emérito Bento XVI, o grande, despediu-se hoje,
último dia do ano de 2022, de nosso tempo e voltou para a casa do Pai.
Acompanhamos com as orações para que esteja junto de Deus na glória e
agradecemos a Deus pela sua missão entre nós. Permanecerá seu exemplo, seus
escritos, seu legado.
Na homilia na basílica de São João de
Latrão, em 7 de maio de 2005, o grande Papa Bento deu sinais claros de que
estava a serviço da Palavra de Deus que é única, mas chega até nós por dois
canais: a Sagrada Escritura e a Sagrada Tradição (cf. Catecismo da Igreja
Católica n. 74-100). Em outras palavras, o Papa é o guardião primeiro e zeloso
do patrimônio da fé e não o seu dono. Afirma ele, então, com palavras
marcantes: “O poder conferido por Cristo a Pedro e aos seus sucessores é, em
sentido absoluto, um mandato para servir. O poder de ensinar, na Igreja, obriga
a um compromisso ao serviço da obediência à fé. O Papa não é um soberano
absoluto, cujo pensar e querer são leis. Ao contrário: o ministério do Papa é
garantia da obediência a Cristo e à Sua Palavra. Ele não deve proclamar as
próprias ideias, mas vincular-se constantemente a si e à Igreja à obediência à
Palavra de Deus, tanto perante todas as tentativas de adaptação e de
adulteração, como diante de qualquer oportunismo. [...] O Papa tem a
consciência de que está, nas suas grandes decisões, ligado à grande comunidade
da fé de todos os tempos, às interpretações vinculantes que cresceram ao longo
do caminho peregrinante da Igreja. Assim, o seu poder não é superior, mas está
a serviço da Palavra de Deus, e sobre ele recai a responsabilidade de fazer com
que esta Palavra continue a estar presente na sua grandeza e a ressoar na sua
pureza, de modo que não seja fragmentada pelas contínuas mudanças das modas”.
Estamos próximos de mais um Curso para os
Bispos aqui no Rio de Janeiro, e é impossível não recordar que o primeiro
conferencista foi exatamente o então Cardeal Ratzinger, depois o Papa Bento
XVI. Marcou o início de nosso Curso, que, sem dúvida, neste ano terá uma bela
homenagem a ele.
Notemos que, antes, na Missa para o início
do ministério petrino, Bento XVI já dizia: “O meu verdadeiro programa de
governo é não fazer a minha vontade, não perseguir ideias minhas, pondo-me,
contudo, à escuta, com a Igreja inteira, da palavra e da vontade do Senhor e
deixar-me guiar por Ele, de forma que seja Ele mesmo quem guia a Igreja nesta
hora da nossa história. [...] ‘Apascenta as minhas ovelhas’, diz Cristo a
Pedro, e a mim, neste momento. Apascentar significa amar, e amar quer dizer
também estar prontos para sofrer. Amar significa: dar às ovelhas o verdadeiro
bem, o alimento da verdade de Deus, da palavra de Deus, o alimento da sua
presença, que ele nos oferece no Santíssimo Sacramento. Queridos amigos, neste
momento eu posso dizer apenas: rezai por mim, para que eu aprenda cada vez mais
a amar o Senhor. Rezai por mim, para que eu aprenda a amar cada vez mais o seu
rebanho vós, a Santa Igreja, cada um de vós singularmente e todos vós juntos.
Rezai por mim, para que eu não fuja, por receio, diante dos lobos. Rezai uns
pelos outros, para que o Senhor nos guie e nós aprendamos a guiar-nos uns aos
outros”.
A escolha do nome definia a sua admiração
ao Papa Bento XV (1914-1922) e o seu amor a São Bento de Nursia, patriarca dos
monges do Ocidente, assim como demonstrava os rumos do seu pontificado.
Deixemos que o próprio Bento XVI nos fale: “Neste primeiro encontro, gostaria
antes de tudo de falar sobre o nome que escolhi ao tornar-me Bispo de Roma e
Pastor universal da Igreja. Quis chamar-me Bento XVI para me relacionar
idealmente com o venerado Pontífice Bento XV, que guiou a Igreja num período
atormentado devido ao primeiro conflito mundial. Ele foi um profeta corajoso e
autêntico de paz e comprometeu-se com coragem infatigável primeiro para evitar
o drama da guerra e depois para limitar as consequências nefastas. Nas suas
pegadas, desejo colocar o meu ministério a serviço da reconciliação e da
harmonia entre os homens e os povos, profundamente convencido de que o grande
bem da paz é antes de tudo dom de Deus, dom frágil e precioso que deve ser
invocado, tutelado e construído dia após dia com o contributo de todos”
(Audiência Geral, 27/04/2005).
E prossegue: “Além disso, o nome Bento
recorda também a extraordinária figura do grande ‘Patriarca do monaquismo
ocidental’, São Bento de Núrsia, co-padroeiro da Europa juntamente com os
santos Cirilo e Metódio e as mulheres santas, Brígida da Suécia, Catarina de
Sena e Edith Stein. A expansão progressiva da Ordem beneditina por ele fundada
exerceu uma influência enorme na difusão do cristianismo em todo o Continente.
Por isso, São Bento é muito venerado também na Alemanha e, em particular, na
Baviera, a minha terra de origem; constitui um ponto de referência fundamental
para a unidade da Europa e uma forte chamada às irrenunciáveis raízes cristãs
da sua cultura e da sua civilização. Deste Pai do Monaquismo ocidental
conhecemos a recomendação deixada aos monges na sua Regra: ‘Nada anteponham
absolutamente a Cristo’ (Regra 72, 11; cf. 4, 21). No início do meu serviço
como Sucessor de Pedro peço a São Bento que nos ajude a manter firme a
centralidade de Cristo na nossa existência. Que ele esteja sempre no primeiro
lugar nos nossos pensamentos e em cada uma das nossas atividades!” (idem).
No seu pontificado, Bento publicou, além de
quatro exortações apostólicas – “Ecclesia in Medio Oriente”, “Africae múnus”,
“Verbum Domini” e “Sacramentum Caritatis” –, além das cartas apostólicas,
constituições apostólicas e três encíclicas: “Deus caritas est”, “Spe salvi” e
“Caritas in veritate”. Na primeira, recorda que “‘Deus é amor, e quem permanece
no amor permanece em Deus e Deus nele’ (1 Jo 4, 16). Estas palavras da I Carta
de João exprimem, com singular clareza, o centro da fé cristã: a imagem cristã
de Deus e também a consequente imagem do homem e do seu caminho. Além disso, no
mesmo versículo, João oferece-nos, por assim dizer, uma fórmula sintética da existência
cristã: ‘Nós conhecemos e cremos no amor que Deus nos tem’ [...]. Num mundo em
que ao nome de Deus se associa às vezes a vingança ou mesmo o dever do ódio e
da violência, esta é uma mensagem de grande atualidade e de significado muito
concreto” (n. 1).
Na segunda lembra, a partir de Rm 8,24, que
é na esperança que fomos salvos. “A ‘redenção’, a salvação, segundo a fé
cristã, não é um simples dado de fato. A redenção é-nos oferecida no sentido
que nos foi dada a esperança, uma esperança fidedigna, graças à qual podemos
enfrentar o nosso tempo presente: o presente, ainda que custoso, pode ser
vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se
esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho” (n. 1). Já na
terceira e última encíclica do seu pontificado, Bento XVI se volta para a
Doutrina Social da Igreja com a Caritas in veritate. Aí o Papa constata, de
modo muito oportuno, que “a caridade é amor recebido e dado; é ‘graça’
(cháris). A sua nascente é o amor fontal do Pai pelo Filho no Espírito Santo. É
amor que, pelo Filho, desce sobre nós. É amor criador, pelo qual existimos;
amor redentor, pelo qual somos recriados. Amor revelado e vivido por Cristo
(cf. Jo 13,1), é ‘derramado em nossos corações pelo Espírito Santo’ (Rm 5,5).
Destinatários do amor de Deus, os homens são constituídos sujeitos de caridade,
chamados a fazerem-se eles mesmos instrumentos da graça, para difundir a
caridade de Deus e tecer redes de caridade” (n. 4).
E continua: “A esta dinâmica de caridade
recebida e dada, propõe-se dar resposta a doutrina social da Igreja. Tal
doutrina é ‘caritas in veritate in re sociali’, ou seja, proclamação da verdade
do amor de Cristo na sociedade; é serviço da caridade, mas na verdade. Esta
preserva e exprime a força libertadora da caridade nas vicissitudes sempre
novas da história. É ao mesmo tempo verdade da fé e da razão, na distinção e,
conjuntamente, sinergia destes dois âmbitos cognitivos. O desenvolvimento, o
bem-estar social, uma solução adequada dos graves problemas socioeconômicos que
afligem a humanidade precisam desta verdade. Mais ainda, necessitam que tal
verdade seja amada e testemunhada. Sem verdade, sem confiança e amor pelo que é
verdadeiro, não há consciência e responsabilidade social, e a atividade social
acaba à mercê de interesses privados e lógicas de poder, com efeitos
desagregadores na sociedade, sobretudo numa sociedade em vias de globalização
que atravessa momentos difíceis como os atuais” (n. 5).
Por fim, quando, em 11/02/2013, Bento XVI renunciou
ao múnus petrino, surgiram muitas especulações e era o ano da JMJ no Rio de
Janeiro, sede que ele mesmo escolheu para esse grande evento. Sobre a renúncia
reporto um texto de nosso irmão aqui do Regional Leste 1, D. Rifan: “Um grande
desapego do alto cargo e influente posição, declarando-se apenas um humilde
servidor, uma profunda humildade, não se julgando necessário e reconhecendo a
própria fraqueza e incapacidade, de corpo e de espírito, para exercer
adequadamente o ministério petrino, e ao pedir perdão – ‘peço perdão por todos
os meus defeitos’. (Por trás da renúncia, 19/02/2013, online).
Bento XVI, depois da renúncia, agiu sempre
na discrição e na obediência ao único legítimo sucessor de Pedro, o Papa
Francisco. Afirmou Bento: “O Papa é um só, Francisco” (Vatican.news,
27/06/2019, online). Da parte do Papa Francisco nunca faltou, nas visitas e nas
palavras, carinho e respeito para com o Papa emérito e sua última missão de
ser, a partir do mosteiro Mater Ecclesiae, uma voz orante que ajuda a sustentar
a Igreja. Disse o Santo Padre, em sua Audiência do dia 28 de dezembro último,
sob calorosos aplausos dos peregrinos: “Uma oração especial pelo Papa emérito
Bento 16, que no silêncio está sustentando a Igreja. Recordemos, ele está muito
doente, pedindo ao Senhor que o console e o sustente neste testemunho de amor à
Igreja até o fim”. E logo depois foi visitar Bento XVI onde, segundo dizem,
ministrou-lhe a unção dos enfermos.
Pessoalmente tenho que agradecer, sem
mérito nenhum de minha parte, ao Papa Bento XVI a minha nomeação para Arcebispo
Metropolitano de Belém do Pará em 13 de outubro de 2004 a e a minha nomeação
para Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro a 27 de
fevereiro de 2009.
Não poderia deixar de tributar meu sincero
agradecimento pela sua escolha pessoal para que, após a jornada em Madrid, de
que a Jornada Mundial da Juventude – JMJ – 2013 – fosse celebrada no Rio de
Janeiro. Ele não pode estar conosco, mas o Papa Francisco colheu a alegria, o
entusiasmo e o calor humano dos milhares e milhares de jovens que encheram a
Praia de Copacabana para escutar o Sucessor de Pedro. Eu, como monge
cisterciense, sempre tive uma sintonia espiritual com o precioso tesouro
espiritual que foi o Magistério e o Pontificado do Papa Bento XVI, um magno e
sumo pastor, em especial pelo seu nome, já que os cistercienses seguem a Regra
de São Bento.
A notícia divulgada nesta manhão do último
dia do ano de 2022 é para nós uma oportunidade de um grande exame de
consciência no ano que termina e de nos colocarmos disponíveis para o novo ano
que se inicia, agora com o olhar retrospectivo de um grande homem de Deus que
partiu e que serviu à Igreja como “simples e humilde trabalhador na vinha do
Senhor. Ao me deslocar para Roma nestes dias para suas exéquias recordo com
carinho dos vários encontros pessoais que tivemos com ele e, em especial, seu
grande amor à Igreja e à Cristo que marcou sua vida e missão. Para mim são
profundas as palavras do ministério do Papa Bento XVI: “Cooperatores
veritatis!”. Sempre busquemos ser, com Cristo, cooperadores da Verdade do
Evangelho! Agora no céu, suplicamos, que o Papa Bento XVI junto de Deus
interceda por todos nós que o amamos e continuamos reverenciando a sua obra, o
seu pontificado, e o seu sorriso discreto e amável, uma das maiores obras
teológicas e pastorais de todos os tempos. Descanse em paz! Deus lhe pague pelo
seu testemunho de construtor de pontes, sem jamais renunciar a verdade da fé
católica e apostólica.
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A renúncia:
o primeiro Papa emérito
“Quando um papa chega à clara consciência
de já não se encontrar em condições físicas, mentais e espirituais de exercer o
cargo que lhe foi confiado então tem o direito – e, em algumas circunstâncias,
também o dever - de renunciar”: são palavras de Bento XVI no livro-entrevista
“Luz do Mundo” de 2010. Em 2013, eis que chega aquele momento, e a Igreja e o
mundo se encontram com o primeiro Papa emérito.
Pe. Bernd Hagenkord (in memoriam) – Cidade
do Vaticano
Mas o Papa Bento foi realmente o primeiro?
Logo depois do fatídico anúncio por parte de Bento XVI, em 11 de fevereiro de
2013, começou a desenfreada busca para verificar se na história já tinha
acontecido alguma coisa do gênero. E logo foi encontrado o Papa da Idade Média
Celestino V (Pietro Morrone, morto em 1296) que, pouco depois de cinco meses na
Cátedra de Pedro, manifestou o desejo de voltar à sua vida de eremita para
depois ser preso pelo seu sucessor e morrer em condições miseráveis.
De um ponto de vista histórico não é claro
se Celestino V seja verdadeiramente um “precursor” de Bento XVI porque os
estudiosos duvidam da “espontaneidade” do seu gesto. Além disso há papas e
antipapas obrigados à renúncia como por exemplo Gregório XII que renunciou a
pedido do Concílio de Constância, para ajudar a acabar com o Grande Cisma do
Ocidente. Mas em 2013 foi somente Celestino a ser citado como exemplo.
Na “Divina Comédia”, Dante Aleghieri
manifestou pouca simpatia por Celestino V e colocou o papa vil no Inferno,
“colui / che fece per viltade il gran rifiuto (Inf., III, 59-60)”. Em alguns
âmbitos eclesiásticos a decisão de Bento XVI recebeu uma consideração
semelhante, e a expressão de que não se desce da cruz, começou a se espalhar em
todo o mundo. Mas a grande maioria - católicos e não católicos – entenderam essa
decisão e a respeitaram, também pela vida de silencioso retiro à que se
dedicou. Foi deste modo que Bento XVI demonstrou a sua grandiosidade e por isso
mesmo, apesar de todos os precursores, na realidade é o primeiro.
O Direito canônico
O Direito canônico apresenta esta
possibilidade. De fato, segundo o cân. 332 § 2 “Se acontecer que o Romano
Pontífice renuncie ao cargo, para a validade requer-se que a renúncia seja
feita livremente, e devidamente manifestada, mas não que seja aceite por alguém”.
E no Consistório de 11 de fevereiro foram respeitadas as duas condições.
Eis que o direito reflete a posição
jurídica única do Pontífice: no cân. 331 afirma-se que o Papa tem “poder
ordinário, supremo, pleno, imediato e Universal. Portanto para a Igreja ele é o
supremo legislador.
Esta autoridade remonta ao Apóstolo Pedro,
ao qual Jesus Cristo dirige as mesmas palavras que são legíveis, em letras
garrafais, no círculo interno da cúpula de São Pedro: “Por isso, eu te digo: tu
és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as forças do Inferno
não poderão vencê-la” (Mt 16-18).
Mas como vive um Papa emérito e qual o seu
papel na Igreja, se não consta no Direito Canônico. É um “Bispo de Roma
emérito”, um “Papa emérito” ou volta a ser um cardeal? Continua a usar o nome
como Pontífice ou volta a ser Joseph Ratzinger? Continua a usar as vestes
brancas? São as perguntas que foram levantadas depois de 11 de fevereiro de
2013. Em uma entrevista ao jornal alemão FAZ - Frankfurter Allgemeine Zeitung –
de dezembro de 2014, o Papa emérito admitiu que num primeiro momento tinha
pensado em escolher o nome “padre Bento”, para criar um claro afastamento.
Porém, depois prevaleceu a escolha do nome “Papa emérito Bento”; e continuou a
usar vestes brancas.
Como amadureceu a decisão
A renúncia não foi uma decisão impulsiva.
No decorrer de muitas entrevistas com pessoas de sua confiança, pôde-se
constatar, sucessivamente, que há muito tempo Papa Bento meditava sobre esta
decisão, que amadureceu com o tempo. Já em 2010 no livro-entrevista ele falava
da sua eleição ao Pontificado como de “uma guilhotina”. “Tinha certeza que este
cargo não seria destinado a mim, mas que Deus, depois de tantos anos de fadiga,
teria me concedido um pouco de paz e tranquilidade”: palavras suas em 2010 (Opera
omnia, 13.2, p. 864).
No mesmo livro-entrevista ele disse também
que considerava possível uma sua renúncia e na ocasião falou do direito e do
dever da renúncia (p. 868). Alguns anos depois serviu-se deste direito – que
talvez ele considerasse também um dever.
Com este gesto, Papa Bento mudou o
ministério. Mesmo se talvez a possibilidade sempre tenha existido e se os papas
que o precederam, como Paulo VI, por exemplo, ou João Paulo II, talvez tenham
pensado nisso, mas Bento XVI viu claramente que se tratava de um “direito e, em
algumas circunstâncias, também um dever”, e agiu deste modo quando, segundo sua
avaliação, tinha chegado o momento.
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Bento XVI
eventos importantes do
pontificado
Em 19 de abril de 2005, aos 78 anos, o cardeal
Joseph Ratzinger, então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé ,foi
eleito 265º Papa da Igreja Católica depois de dois dias de Conclave, assumindo
o nome de Bento XVI.
Com a morte do Papa emérito Bento XVI aos
95 anos, ocorrida neste sábado, 31 de dezembro de 2022, destacamos
acontecimentos que marcaram o seu pontificado.
Um pontificado intenso para restituir “Deus
ao centro”
Sete anos, dez meses e nove dias. Foi o
tempo do pontificado de Bento XVI, iniciado em 19 de abril de 2005 e concluído
em 28 de fevereiro de 2013, depois do anúncio supresa, dia 11 de fevereiro, da
sua renúncia ao Ministério Petrino. Um pontificado bem mais breve do que seu
predecessor São João Paulo II, o segundo mais longo da história, mas não menos
intenso, durante o qual Papa Ratzinger fez, entre outras coisas, 24 viagens
apostólicas ao exterior; participou de três Jornadas Mundiais da Juventude e a
um Encontro Mundial das Famílias; escreveu três encíclicas, uma constituição
apostólica, três exortações apostólicas; convocou quatro Sínodos (2 ordinários
e 2 especiais); criou 84 cardeais; proclamou 45 santos e 855 beatos, entre os
quais Papa Wojtyla.
O fio condutor deste pontificado foi a
vontade de anunciar ao mundo o Evangelho do Amor de Cristo evocado pela sua
primeira Encíclica “Deus caritas est”, para restituir “Deus ao centro” em
um mundo que “a fé corre o risco de apagar-se” (Carta aos Bispos de todo o
mundo, 10 de março de 2009), na consciência de que isto requer a purificação da
Igreja e a conversão dos homens e das estruturas.
O Papa do diálogo entre fé e razão
Seguindo o caminho de seus predecessores –
de João XXIII a João Paulo II – e as linhas “programáticas” indicadas na “Deus
Caritas est”, Bento XVI foi um Papa que deu muita atenção ao diálogo
inter-religioso e intercultural (um aspecto, muitas vezes pouco considerado do
seu pontificado). Podemos citar o diálogo com o judaísmo e com as outras
religiões, com os irmãos cristãos separados; com a ciência e o pensamento
leigo; com os católicos separados da Igreja como a Fraternidade São Pio X.
Diálogos marcados por muitas dificuldades, mal-entendidos e também inesperados
bloqueios, mas que não desanimaram o Papa teólogo que prosseguiu com
perseverança, partindo da relação entre fé e razão que, junto a da caridade e
verdade, foram a marca do seu magistério. A ideia de fundo que se encontra em
muitos de seus discursos e escritos era que “a razão nada perde abrindo-se aos
conteúdos da fé”, enquanto que “a fé supõe a razão e aperfeiçoa-a”. Podemos
pensar no famoso (e muito mal-entendido) discurso de Regensburg (2006), ou aos
representantes do mundo da cultura no Collège dês Bernardins em Paris (2008),
também ao histórico na Westminster Hall (2010) assim como também o histórico
discurso ao Bundestag alemão (2011) só para citar alguns, aos quais deve-se
acrescentar os seus documentos magisteriais sobre o assunto.
Um Papa no timão do barco na tempestade
O pontificado de Bento XVI coincidiu também
com um momento particularmente difícil para a Igreja, marcado principalmente
pelo escândalo da pedofilia e do caso Vatileaks. Crise que o pontífice alemão,
que desde seus primeiros pronunciamentos denunciava a “sujeira” na Igreja
(Via-Sacra 2005), soube enfrentar com lucidez e determinação, preparando o
terreno às reformas que seriam levadas adiante pelo Papa Francisco. A luta sem
fronteiras contra a pedofilia foi, com efeito, um dos aspectos que distinguiu o
pontificado de Bento XVI, como confirma também o grande aumento dos sacerdotes
suspensos nos anos de 2011 e 2012 (400), por envolvimento em casos de abuso,
assim como o número de bispos afastados pela má gestão do problema. Números que
foram os primeiros casos visíveis da reforma desejada pelo Pontífice através
das Normas “De gravioribus delictis” para tornar mais eficaz a ação
de contraste e prevenção. Também em relação aos escândalos financeiros que
envolveram o Vaticano, deve-se a Bento XVI a introdução de medidas levadas
adiante pelo Papa Francisco para tornar mais transparente a gestão financeira
da Santa Sé. Começando pelo Motu Proprio de 30 de dezembro de 2010 sobre a
“Prevenção e o contraste da lavagem de capitais provenientes de atividades
criminosas e ao financiamento do terrorismo”.
Cronologia esquemática
2005
19 de abril de 2005
O cardeal Joseph Ratzinger, aos 78 anos,
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé foi eleito 265º Papa da Igreja
Católica depois de dois dias de conclave, assumindo o nome de Bento XVI. No dia
anterior, durante a Messa pro eligendo pontefice, à qual presidiu na
qualidade de Decano do Colégio cardinalício, o cardeal Ratzinger fez uma
homilia que antecipava os pontos chave do seu futuro magistério. Começando com
a célebre observação: “A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi
muitas vezes agitada por estas ondas lançada de um extremo ao outro: do
marxismo ao liberalismo, até à libertinagem, do coletivismo ao individualismo
radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao
sincretismo…”. Derivas contra as quais pusera a mesma objeção que repetiria
muitas vezes durante o seu pontificado: “Ter uma fé clara, segundo o Credo da
Igreja, muitas vezes é classificado como fundamentalismo. Enquanto o
relativismo, isto é, deixar-se levar ‘aqui e além por qualquer vento de
doutrina’, aparece como a única atitude à altura dos tempos hodiernos. Vai-se
constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e
que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades”.
13 de maio de 2005 Bento XVI encaminha
a causa de beatificação de João Paulo II, sem esperar os cinco anos canônicos.
18-21 de agosto de 2005 1ª Viagem
Apostólica: Alemanha, para a Jornada Mundial da Juventude de Colônia, convocada
pelo seu predecessor. Entre as etapas significativas da viagem, a visita à
Sinagoga de Colônia, em 19 de agosto.
29 de agosto de 2005 Bento XVI recebe
em Castel Gandolfo, D. Bernard Fellay Superior Geral da Fraternidade São Pio X.
Trata-se do primeiro encontro do novo pontífice com o expoente da comunidade
tradicionalista fundada por D. Marcel Léfebvre, excomungado por João Paulo II
em 1988.
2-23 de outubro de 2005 XI Assembleia
Geral do Sínodo dos Bispos sobre o tema “A Eucaristia, fonte e ápice da vida e
da missão da Igreja”.
2006
25 de janeiro de 2006 Bento XVI
publica a sua primeira Carta Encíclica “Deus Caritas est” (“Deus é amor”).
19 de maio de 2006: Bento XVI condena
Marcial Maciel Degollado a uma vida reservada de oração e penitência renunciado
a todos os ministério públicos. O fundador dos Legionários de Cristo, acusado
de pedofilia e de uma vida dupla com mulher e filhos, não foi submetido ao
processo canônico somente por questão de idade.
25-28 de maio de 2006 A 2ª Viagem
Apostólica: Polônia, foi uma ocasião para homenagear o seu grande predecessor.
Entre os momentos mais comovedores a visita a ao Campo de Concentração
Auschwitz-Birkenau, “o lugar da memória e do Holocausto”, onde pronuncia estas
significativas frases: “Tomar a palavra neste lugar de horror, de acúmulo de
crimes contra Deus e contra o homem sem igual na história, é quase impossível e
é particularmente difícil e oprimente para um cristão, para um Papa que provém
da Alemanha. Num lugar como este faltam as palavras, no fundo pode permanecer
apenas um silêncio aterrorizado um silêncio que é um grito interior a Deus:
Senhor, por que silenciaste? Por que toleraste tudo isto? É nesta atitude de
silêncio que nos inclinamos profundamente no nosso coração face à numerosa
multidão de quantos sofreram e foram condenados à morte; todavia, este silêncio
torna-se depois pedido em voz alta de perdão e de reconciliação, um grito ao
Deus vivo para que jamais permita uma coisa semelhante”.
8-9 de julho de 2006 3ª Viagem
Apostólica: Espanha para o 5º Encontro Mundial das Famílias em Valência.
9-14 de setembro de 2006 4ª Viagem
Apostólica: Alemanha. Bento XVI visita Marktl-am-Inn, sua cidade natal e a
Universidade de Regensburg, onde pronuncia a célebre Lectio magistralis que
causou duras reações no mundo muçulmanos por causa de uma citação do imperador
bizantino Manuel II Paleologo, tirada de um seu escrito sobre a guerra santa.
Os temas centrais abordados na lição são: a relação entre fé e a razão; a
analogia na diferença entre Deus e o homem, o nexo entre religião e
civilização; a cientificidade moderna, com o seu valor; a necessidade de
‘alargar o iluminismo’. Aquilo que interessa ao Papa alemão é afirmar que a
conversão mediante a violência não é agir segundo a razão e é contrária à
natureza de Deus.
28 de outubro de 2006
Bento XVI pronuncia um duro discurso aos
bispos irlandeses em visita ad limina no Vaticano, no qual define os abusos
sexuais contra menores dentro da Igreja como “crimes hediondos”.
28 de novembro-1º de dezembro: 5ª
Viagem Apostólica: Turquia. O Papa encontra o Patriarca Ecumênico de
Constantinopla, Bartolomeu I e reza na Mesquita Azul de Instambul.
2007
16 de abril de 2007: Publicação do primeiro
livro da série “Jesus de Nazaré”.
9-14 de maio de 2007: 6ª Viagem
Apostólica: Brasil para a V Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano (CELAM) em Aparecida. O Papa canoniza Santo Antônio de
Sant’Ana Galvão (Frei Galvão), sacerdote e religioso franciscano, primeiro
Santo nascido no Brasil.
30 de junho de 2007: Publicação da Carta
aos Católicos Chineses, na qual Bento XVI convida as autoridades e Pequim a
garantirem “uma autêntica liberdade religiosa” no país.
7 de julho de 2007: Publicação do Motu
Proprio 'Summorum Pontificum' com as indicações jurídicas e
litúrgicas para a celebração da chamada Missa Tridentina, ou seja, a Missa
celebrada segundo o “Missal Romano de S. Pio V”.
7-9 de setembro de 2007: 7ª
Viagem Apostólica: Áustria, onde Bento XVI coloca no itinerário também a visita
ao Santuário Mariano de Mariazell.
30 de novembro de 2007: Bento XVI publica a
sua segunda Carta Encíclica “Spe salvi”, dedicada à “esperança cristã”.
2008
15-21 de abril de 2008: 8ª Viagem
Apostólica: Estados Unidos. Papa Bento XVI discursa na Assembleia Geral das
Nações Unidas. Falaram também na mesma tribuna Paulo VI e João Paulo II, o Papa
fala de temas muito caros a ele como o relativismo, a defesa da liberdade
religiosa, os limites éticos da pesquisa científica, os deveres da ingerência,
os limites da ação da ONU. A dignidade do homem, “criado à imagem de Deus”
repete, deve estar no centro da ação da Comunidade internacional.
Em Washington, em 17 de abril encontra pela
primeira vez as vítimas de abusos sexuais cometidos por sacerdotes. Durante a viagem
fala sobre o tema. No mesmo dia 17, na Missa celebrada no National Stadium de
Washington, comenta: “Nenhuma palavra minha poderia descrever a dor e o
prejuízo causados pelo abuso sexual de menores. Protejam as crianças”. E também
no dia 19 de abril, na homilia da Santa Missa junto à Catedral de São Patrício
em Nova York, adverte: “O abuso sexual de menores por parte dos sacerdotes
causou tanto sofrimento. Que este seja um tempo de purificação, seja um tempo
de cura”. Durante o voo de ida, em 15 de abril, dissera com clareza: “Excluiremos
rigorosamente os pedófilos do ministério sagrado: é absolutamente incompatível
e quem é realmente culpado de ser pedófilo não pode ser sacerdote”, enquanto
que no dia 16 de abril, no seu discurso aos bispos norte-americanos repete que
“Entre os sinais contrários ao Evangelho da vida, há um que causa uma profunda
vergonha: o abuso sexual de menores”.
12-21 de julho de 2008 9ª Viagem
Apostólica: Austrália para a Jornada Mundial da Juventude em Sydney. Aqui
também, em 21 de junho encontra um grupo de vítimas de abusos sexuais. Sobre os
padre pedófilos, na coletiva de imprensa do voo de ida para a Austrália, o Papa
adverte: “temos que refletir sobre o que foi insuficiente na nossa educação, no
nosso ensinamento nas recentes décadas”, enquanto que na homilia na Catedral de
Sydney repete: “Os abusos sexuais sobre os menores cometidos por alguns
sacerdotes, são agravos que devem ser condenados de modo inequívoco. Lamento
verdadeira e profundamente”.
12-15 de setembro de 2008: 10ª Viagem
Apostólica: França. Papa Bento faz um importante discurso em Paris para os
representantes do mundo da cultura e reitera que: “uma cultura meramente
positivista que relegasse para o âmbito subjectivo, como não científica, a
pergunta acerca de Deus, seria a capitulação da razão, a renúncia às suas
possibilidades mais elevadas e, portanto, o descalabro do humanismo, cujas
consequências não deixariam de ser graves”. Em Lourdes, preside a Missa com os
bispos da França no 150º aniversário das aparições de Nossa Senhora.
5-26 de outubro de 2008 XII
Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre “A palavra de Deus na
vida e na missão da Igreja”.
2009
24 de janeiro de 2009: Remissão da
excomunhão a quatro bispos da Fraternidade São Pio X consagrados pelo bispo
cismático Marcel Lefebvre. Entre os quais o bispo negacionista britânico
Richard Williamson. Em uma carta posterior publicada em 10 de março de 2009 aos
bispos da Igreja Católica, Bento XVI “lamentava” pelo fato do caso Williamson
ter se sobreposto à remissão da excomunhão”.
17-23 de março de 2009: 11ª Viagem
Apostólica: Camarões e Angola. O objetivo principal da viagem é a entrega aos
bispos africanos do “Instrumentum laboris” do segundo Sínodo Especial para a
África programado para outubro de 2009. Uma frase pronunciada na coletiva de
imprensa durante o voo para a África, sobre o uso do preservativo na luta
contra a Aids (“O problema da Aids não se resolve com a distribuição dos
preservativos, ao contrário, aumentam o problema”) provocaram grandes reações
na mídia.
31 de março de 2009: Bento XVI ordena
uma Inspeção Apostólica na Congregação dos Legionários de Cristo.
8-15 de maio de 2009: 12ª Viagem
Apostólica: Jordânia, Israel e Territórios Palestinos. Para contribuir à paz e
dar apoio aos cristãos da região. Dia 12 de maio o Pontífice reza diante do
Muro Ocidental de Jerusalém.
16 de junho de 2009 Na Carta de
proclamação do Ano Sacerdotal, Bento XVI escreve: “Infelizmente existem também
situações, nunca suficientemente deploradas, em que é a própria Igreja a sofrer
pela infidelidade de alguns dos seus ministros. Daí advém então para o mundo
motivo de escândalo e de repulsa”.
7 de julho de 2009: Bento XVI publica
sua terceira Encíclica, “Caritas in Veritate” dedicada ao desenvolvimento
humano integral na caridade e na verdade.
8 de julho de 2009: Publicação do Motu
Proprio "Unitatem Ecclesiae" para encaminhar o diálogo doutrinal com
a Fraternidade São Pio X.
26-28 de setembro de 2009: 13ª Viagem
Apostólica: República Tcheca. Na sua chegada o Papa convida todos os cidadãos
tchecos a redescobrir as tradições cristãs que plasmaram sua cultura e que
foram ofuscadas pelo passado regime comunista e exorta “a comunidade cristã a
continuar a fazer ouvir a sua voz enquanto a nação deve enfrentar os desafios
do novo milênio”.
4-25 de outubro de 2009: II Assembleia
Especial para a África do Sínodo dos Bispos sobre o tema “A Igreja ao serviço
da reconciliação, da justiça e da paz”.
26 de outubro de 2009 Primeiro
encontro da Comissão de Estudo, formada por especialistas da Pontifícia
Comissão “Ecclesia Dei” e da Fraternidade Sacerdotal S. Pio X, com o objetivo
de examinar as dificuldades doutrinais que ainda subsistem entre a Fraternidade
e a Sé Apostólica.
14 de novembro de 2009 Publicação da
Constituição Apostólica “Anglicanorum Coetibus”, sobre a instituição de
Ordinariatos pessoais para anglicanos que entram na plena comunhão com a Igreja
Católica.
19 de dezembro de 2009: Bento XVI proclama
as “virtudes heroicas” do seu predecessor João Paulo II, passo decisivo antes
da beatificação, e as de Pio XII.
2010
17 gennaio 2010 Visita de Bento XVI à
Sinagoga de Roma. Trata-se da segunda visita de um pontífice no templo judaico
da capital italiana depois da histórica visita de João Paulo II em 13 de abril
de 1986, uma ocasião para reforçar a “proximidade e fraternidade espirituais”
que unem a Igreja e os “irmãos mais velhos” dos cristãos depois de séculos de
incompreensões e perseguições.
20 de março de 2010 Bento XVI envia
uma Carta Pastoral a todos os católicos da Irlanda com a qual exprime profunda
dor e tristeza pelos abusos cometidos por sacerdotes e religiosos e pelo modo
como tais situações foram enfrentadas no passado. Além disso anuncia uma Inspeção
Apostólica em algumas dioceses na Irlanda, assim como em seminários e
institutos religiosos irlandeses, incluindo o de Roma. Cerca de dois meses mais
tarde, em 31 de maio de 2010, a Santa Sé apresenta os detalhes da Inspeção confiada
a nove inspetores apostólicos.
De março de 2010 – junho de 2010.
Desencadeia-se uma violenta campanha midiática contra Bento XVI sobre a
pedofilia. Entre os meios de comunicações os mais agressivos são o New
York Times, Der Spiegel e a Associated Press. As insinuações
totalmente infundadas, são de que estaria envolvido na cobertura de padres
pedófilos quando era cardeal, antes de 2001, e na transferência de um sacerdote
na Arquidiocese de Munique quando era arcebispo da mesma.
17-18 de abril de 2010: 14ª Viagem
Apostólica: Malta, onde encontra novamente, em 18 de abril, algumas vítimas de
abusos sexuais na Igreja. Durante a voo, a propósito de abusos, o Papa afirma:
“Sei que Malta ama Cristo e ama a sua Igreja que é o seu Corpo e sabe que, mesmo
se este Corpo está ferido pelos nossos pecados, contudo o Senhor ama esta
Igreja e o seu Evangelho é a verdadeira força que purifica e cura”.
11-14 de maio de 2010 15ª Viagem
Apostólica: Portugal, onde confia à Nossa Senhora de Fátima “as esperanças e o sofrimento”
da humanidade e da Igreja. Durante o voo para Lisboa a propósito da chaga da
pedofilia o Papa revela: “A maior perseguição à Igreja não vem dos inimigos
externos, mas nasce do pecado na Igreja, e que a Igreja, portanto, tem uma
profunda necessidade de re-aprender a penitência, de aceitar a purificação, de
aprender por um lado o perdão, mas também a necessidade da justiça. O perdão
não substitui a justiça”.
4-6 de junho de 2010 16ª Viagem
Apostólica: Chipre para a entrega do Instrumentum laboris do
Sínodo para o Oriente Médio.
11 de junho de 2010 Na homilia de
encerramento do Ano Sacerdotal, Bento XVI afirma: “Também nós pedimos
insistentemente perdão a Deus e às pessoas envolvidas, enquanto pretendemos e
prometemos fazer todo o possível para que um tal abuso não possa mais suceder”.
9 de julho de 2010: Bento XVI nomeia D.
Velasio De Paolis, Delegado Pontifício para os Legionários de Cristo, com o
encargo de acompanhar a Congregação em um profundo processo de revisão da sua
ordem depois dos “delitos” cometidos pelo fundador Marcial Maciel.
15 de julho de 2010 A
Congregação para a Doutrina da Fé reforça as "Normae de gravioribus
delictis", Normas aplicativas e processuais promulgadas em 2001 durante o
pontificado de João Paulo II sobre os delitos particularmente graves cometidos
por sacerdotes e expoentes da Igreja, entre os quais a pedofilia. A nova
normativa apresenta novidades de relevo: a passagem do prazo de prescrição de
dez para vinte anos (permanecendo sempre a possibilidade de derrogação também
além do mesmo prazo); a equiparação com os menores das pessoas com uso limitado
de razão, e a introdução de um novo caso: a pornografia infantil. Além disso os
procedimentos são acelerados e simplificados e, nos casos mais graves, pode-se
apresentar ao Santo Padre a renúncia do estado clerical. Confirma-se todavia
que “Deve ser dada sempre continuidade às disposições da lei civil no que se
refere à remetência de crimes às autoridades competentes".
16-19 de setembro de 2010: 17ª Viagem
Apostólica: Escócia e Inglaterra. O Papa celebra a beatificação do cardeal
inglês John Henry Newman (1801-1890), ex-anglicano convertido ao catolicismo no
século XIX e, na Westminster Hall, a sala mais antiga do parlamento inglês,
pronuncia um discurso muito aplaudido sobre a paridade e a complementaridade de
fé e razão, sobre o papel da religião na vida pública e sobre a exigência de um
fundamento da política nos princípios éticos racionais.
Na mesma viagem, em 18 de setembro,
encontra um grupo de vítimas de abusos. No mesmo dia, durante a homilia na
catedral do Preciosíssimo Sangue o Papa diz: “Juntamente convosco, reconheço
também a vergonha e a humilhação que todos nós sofremos por causa daqueles
pecados”, enquanto que a um grupo de profissionais e de voluntários repete: “É
deplorável que, em um contraste tão marcante com a longa tradição da Igreja no
cuidado aos jovens, eles tenham sofrido abusos e maus-tratos por obra de alguns
sacerdotes e religiosos”.
12 de outubro de 2010 Bento XVI
institui o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização.
18 de outubro de 2010 Em uma
extraordinária Carta aos seminaristas na conclusão do Ano Sacerdotal o Papa
escreve: “Recentemente, tivemos de constatar com grande mágoa que sacerdotes
desfiguraram o seu ministério, abusando sexualmente de crianças e adolescentes.
Em vez de levar as pessoas a uma humanidade madura e servir-lhes de exemplo,
com os seus abusos provocaram devastações, pelas quais sentimos profunda pena e
desgosto”.
10-24 de outubro de 2010 Assembleia
Especial para o Oriente Médio do Sínodo dos Bispos, sobre o tema “A Igreja
Católica no Oriente Médio: comunhão e testemunho”. Como explica a introdução
aos lineamenta, o Sínodo testemunha a atenção da Igreja universal para com
as Igrejas no Oriente.
6-7 de novembro de 2010 18ª Viagem
Apostólica: Espanha, com etapas em Santiago de Compostela e em Barcelona.
Durante a visita, Bento XVI convida a Europa a “abrir-se cada vez mais a Deus”.
Em Barcelona, visita a Basílica da Sagrada Família.
11 de novembro de 2010 Publicação da
Exortação Apostólica pós-sinodal “Verbum Domini” , fruto do Sínodo
sobre a Palavra de Deus em 2008.
30 de dezembro de 2010: Bento XVI publica
um Motu proprio para a prevenção e contraste das atividades ilegais em campo
financeiro e monetário. A nova lei impõe a todos os órgãos da Santa Sé as
normas internacionais sobre os crimes econômicos e institui a Autoridade
para a Informação Financeira (AIF) para o contraste da lavagem de capitais
provenientes de atividades criminosas e ao financiamento do terrorismo.
2011
13 de janeiro de 2011 Bento XVI nomeia
D. Leopoldo Girelli, arcebispo titular de Carpi a representante pontifício
não-residente para o Vietnã. Trata-se do primeiro passo na direção do
estabelecimento das relações diplomáticas entre o Vaticano e Hanói,
interrompidas em 1975 depois da ocupação de Saigon.
15 de janeiro de 2011 A Congregação
para a Doutrina da Fé institui um Ordinariato Pessoal para os grupo de pastores
e os fiéis provenientes da Comunhão Anglicana que querem “entrar na plena e
visível comunhão com a Igreja Católica”, nos termos da Constituição
Apostólica “Anglicanorum Coetibus” de 2009.
10 de março de 2011 Publicação do
segundo volume do livro “Jesus de Nazaré”, sobre a morte e a ressurreição de
Cristo.
25 de abril de 2011: no Regina Coeli o Papa
saúda a Associação Meter e reza pelas crianças vítimas da violência, da
exploração e da indiferença.
1º de maio de 2011 Bento XVI proclama
João Paulo II beato a apenas seis anos da sua morte.
16 de maio de 2011 Foi publicada a
Carta Circular da Congregação para a Doutrina da Fé para ajudar as Conferências
Episcopais na preparação de linhas diretrizes no tratamento dos casos de abuso
sexual contra menores por parte de clérigos.
6 de junho de 2011 Conclusão da
primeira fase da Inspeção Apostólica na Irlanda sobre os casos de pedofilia.
4-5 de junho de 2011 19ª Viagem
Apostólica: Croácia por ocasião do Dia Nacional das Famílias Católicas
croatas em Zagreb com o lema “Juntos em Cristo” e oração junto ao túmulo do
Beato Alojzije Viktor Stepinac (1898-1960) em Krašić.
18 de julho de 2011 Estabelecimento
das relações diplomáticas entre a Santa Sé e a Malásia, país com a grande
maioria de religião muçulmana.
18-21 de agosto de 2011 20ª Viagem
Apostólica: Espanha por ocasião da XXVI Jornada Mundial da Juventude.
14 de setembro de 2011 No final de uma
audiência entre a Congregação para a Doutrina da Fé e a direção da Fraternidade
de São Pio X, a Santa Sé anuncia ter submetido à Fraternidade um “Preâmbulo
doutrinal” para a aceitação do Concílio Vaticano II e do sucessivo magistério.
A eventual aceitação deste preâmbulo seria uma premissa para o reconhecimento
canônico da Fraternidade e para o exame teológico de algumas expressões ou
formulações dos textos do Concílio Vaticano II e do magistério.
22-25 de setembro de 2011: 21ª Viagem
Apostólica: Alemanha. Trata-se da sua terceira visita à sua terra natal como
Pontífice. Em Berlim o Papa faz um histórico discurso ao Bundestag no qual,
alerta novamente a uma “razão positivista, que se apresenta de modo
exclusivista e não é capaz de perceber algo para além do que é funcional”. Em
23 de setembro em Erfurt encontra mais uma vez as vítimas de padres pedófilos e
os representantes da Igreja Luterana. A propósito de pedofilia, durante sua
viagem a Berlim no dia anterior ao falar com os jornalistas disse: “Distingamos,
talvez, antes de tudo, a motivação específica daqueles que se sentem
escandalizados por estes crimes, que se revelaram nestes últimos tempos. Posso
compreender que, à luz de tais informações, sobretudo quando se trata de
pessoas próximas, há quem diga: ‘Esta já não é a minha Igreja. A Igreja era
para mim força de humanização e de moralização. Se representantes da Igreja
fazem o contrário, já não posso viver com esta Igreja’”.
Em Friburgo o Papa pede: “uma Igreja
aliviada dos elementos mundanos é capaz de comunicar aos homens precisamente no
âmbito sócio-caritativo, –– tanto aos sofredores como àqueles que os ajudam ––
a força vital particular da fé cristã”.
19 de outubro de 2011: O Delegado
Pontifício cardeal De Paolis, apresenta as primeiras conclusões sobre os
caminhos dos membros consagrados do Regnum Christi depois da Inspeção
apostólica.
23 de outubro de 2011 Canonização de
três beatos, subindo para 37 o número total dos santos proclamados por Bento
XVI desde o início do seu pontificado. No final do pontificado serão 45.
27 de outubro de 2011 Após 25
anos de primeiro encontro pela paz convocado em Assis por João Paulo II, Bento
XVI reúne na cidade de São Francisco os representantes das comunidades
eclesiais e as maiores religiões do mundo.
18-20 de novembro de 2011 22ª Viagem
Apostólica: Benin, por ocasião do 150º aniversário da evangelização da África
ocidental e para entrega da Exortação Apostólica pós-sinodal “Africae Munus”.
21 de novembro de 2011: Carta do cardeal De
Paolis com a qual o delegado pontifício para os Legionários de Cristo dá indicações
sobre o caminho que os consagrados do Regnum Christi devem percorrer
para modificar seu núcleo normativo.
26 de novembro de 2011 Ao receber os
Bispos dos Estados Unidos em audiência, Bento XVI afirma: “Quis reconhecer
pessoalmente os sofrimentos causados às vítimas e os esforços sinceros
realizados para garantir a segurança das nossas crianças e para enfrentar de
forma adequada e transparente as acusações de abusos, quando surgem. Espero que
os esforços conscientes da Igreja a fim de abordar esta realidade possam ajudar
a comunidade em geral a reconhecer as causas, a verdadeira dimensão e as
consequências devastadoras dos abusos sexuais, e a responder com eficácia a
este flagelo que atinge todos os níveis da sociedade. Devido à mesma razão,
assim como a Igreja justamente se adapta aos padrões específicos sobre este
aspecto, também todas as instituições, sem excepção, deveriam seguir as mesmas
normas.
2012
18 de fevereiro de 2012 No seu 4º
Consistório, Bento XVI cria 24 novos cardeais, levando a 84 os novos príncipes
da Igreja nomeados sob o seu pontificado.
20 de março de 2012. A Santa Sé publica o
documento conclusivo da Inspeção Apostólica, ordenada por Bento XVI na
Carta aos Católicos Irlandeses depois dos escândalos de pedofilia no clero
local.
23-28 de março de 2012: 23ª Viagem
Apostólica: México e Cuba. Em Havana encontra Fidel Castro.
23 de maio de 2012: O mordomo do Papa,
Paolo Gabriele, foi preso pela Gendarmaria vaticana com a acusação de roubo
agravado de documentos reservados da Santa Sé no âmbito do escândalo Vatileaks,
ou seja a fuga de informações relativas ao Papa e a alguns casos internos da
Cidade do Vaticano.
24 de maio de 2012: Ettore Gotti Tedeschi
pede demissão do cargo de presidente do Instituto para as Obras de Religiões
(IOR), por não receber apoio do Conselho “leigo” de supervisão do IOR. Sua
demissão faz parte do escândalo Vatileaks.
13 de junho de 2012: O Superior Geral da
Fraternidade de São Pio X, Bernard Fellay foi recebido no Vaticano, na ocasião
recebeu a avaliação da resposta ao “Preâmbulo doutrinal”, documento que a Santa
Sé submeteu à Fraternidade, e que tinha sido entregue em abril. Nos meses
seguintes, a perspectiva de volta da Comunidade cismática à plena comunhão com
Roma será cada vez mais incerta.
17 de junho de 2012 Na mensagem vídeo
por ocasião do encerramento do 50º Congresso Eucarístico Internacional em
Dublin (Irlanda), Bento XVI afirma: “A gratidão e a alegria por uma história
tão grande de fé e amor foram recentemente abaladas de maneira horrível pela
revelação de pecados cometidos por sacerdotes e consagrados contra pessoas
confiadas aos seus cuidados. Em vez de lhes mostrar o caminho para Cristo, para
Deus, em vez de dar testemunho da sua bondade, abusaram delas e minaram a
credibilidade da mensagem da Igreja. Como se pode explicar o facto de pessoas,
que regularmente receberam o Corpo do Senhor e confessaram os seus pecados no
sacramento da Penitência, terem incorrido em tais transgressões? Continua um
mistério. Evidentemente, porém, o seu cristianismo já não era alimentado pelo
encontro jubiloso com Jesus Cristo: tornara-se meramente uma questão de hábito”
18 de julho de 2012 Moneyval, o órgão
do Conselho da Europa que avalia as normas contra a lavagem de dinheiro dos
sistemas financeiros, publica o seu primeiro relatório sobre o Vaticano, no
qual convida a Santa Sé a “reforçar o próprio regime de vigilância”. Todavia o
sistema Vaticano resulta adequado, ou amplamente adequado em 9 das 16
recomendações centrais sobre aspectos como a reciclagem de dinheiro, as medidas
de apreensão, as leis de proteção de dados pessoais, a documentação, a
assistência legal recíproca, o tratamento penal ao financiamento do terrorismo,
a cooperação internacional e outros. Dom Ettore Balestrero, chefe da delegação
do Vaticano junto ao Moneyval, manifestou “satisfação pelos resultados
alcançados, consciente de todo o trabalho que ainda deve ser feito”.
14-16 de setembro de 2012 24ª Viagem
Apostólica: Líbano, na ocasião entrega a Exortação Apostólica Pós-Sinodal fruto
do Sínodo para o Oriente Médio.
29 de setembro-6 de outubro de 2012 Processo
a Paolo Gabriele. O mordomo infiel foi condenado pelo Tribunal do Estado da
Cidade do Vaticano a 18 meses de reclusão. Em 22 de dezembro, Bento XVI lhe
concederá a graça. Um mês depois, em 5 de novembro de 2012, terá início um
outro processo contra o técnico de informática Claudio Sciarpelletti, também
ele envolvido no caso, e que será condenado a 4 meses de reclusão, reduzidos a
2 com pena suspensa por 5 anos.
7-28 de outubro de 2012 XIII
Assembleia Geral ordinária do Sínodo dos Bispos sobre o tema “A nova
evangelização para a transmissão da fé cristã”.
11 de outubro de 2012 No final da
procissão de velas organizada no dia de abertura do Ano da Fé, Bento XVI,
afirma: “Nestes cinquenta anos aprendemos e experimentamos que o pecado
original existe e que se traduz, sempre de novo, em pecados pessoais, que podem
também tornar-se estruturas de pecado. Vimos que no campo do Senhor há sempre o
joio. Vimos que na rede de Pedro se encontram também peixes maus. Vimos que a
fragilidade humana está presente também na Igreja, que a barca da Igreja
continua a navegar inclusive com vento contrário, com tempestades que ameaçam a
barca, e às vezes pensamos: ‘O Senhor dorme e esqueceu-nos’”.
21 de novembro de 2012 Publicação
do livro “A infância de Jesus”, o último volume da trilogia sobre
Jesus escrito por Joseph Ratzinger-Bento XVI.
2013
4 de janeiro de 2013 Segundo
informações da Prefeitura Pontifícia, até esta data, mais de 20 milhões de
pessoas participaram às audiências, celebrações litúrgicas e à oração do
Angelus na presença de Bento XVI desde o início do seu pontificado.
16 de janeiro de 2013 Bento XVI
publica o Motu Proprio “Fides per doctrinam” com o qual modifica a
Constituição Apostólica “Pastor Bonus” e transfere a responsabilidade sobre a
catequese da Congregação para o Clero ao Pontifício Conselho para a Promoção da
Nova Evangelização.
11 de fevereiro de 2013 Bento XVI
anuncia durante o Consistório convocado no Vaticano a sua renúncia ao
Ministério Petrino que será concluído em 28 de fevereiro.
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Bento XVI:
o Papa que uniu fé e razão,
esperança e caridade
Bento XVI, afirmou Papa Francisco, foi “um
grande Papa” pelo “seu amor à Igreja e aos seres humanos”. Um amor que inspirou
o Pontificado no qual o Pastor moderado e firme, por 8 anos, segurou – com
coragem e sabedoria – o timão do Barco de Pedro, mesmo navegando em águas
agitadas e com ventos contrários.
Na reportagem especial de Alessandro
Gisotti, voltamos a reviver alguns dos momentos do Pontificado de Bento XVI, o
Papa que, por amor à Igreja, renunciou ao Ministério Petrino.
27 de abril de 2014. Um milhão de olhares
se dirige ao sagrado da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Em maior número são
aqueles que assistem ao evento em cadeia internacional: Bento XVI, o Papa
emérito, abraça Francisco, o Papa reinante.
O abraço fraterno acontece sob as
tapeçarias dos dois Pontífices Santos, João XXIII e João Paulo II. O primeiro
remete imediatamente ao Concílio Vaticano II, onde o jovem e brilhante teólogo
Joseph Ratzinger participou como conselheiro do Cardeal Frings. O segundo
refere-se, naturalmente, à especial amizade e à fecunda colaboração entre o
Papa polonês e o cardeal alemão. Naquele momento, impensável até um ano antes,
se encerra o sentido da vida e do ministério petrino de Papa Bento XVII.
O dia memorável dos “quatro Papas”
Dois Papas que celebram dois Papas santos:
são as manchetes dos jornais em todo o mundo. Um evento quase inacreditável.
Mas “inacreditável” já tinha sido o primeiro sentimento com o qual o mundo
inteiro tinha escutado estas palavras, em 11 de fevereiro de 2013:
“Conscientia mea iterum atque iterum coram
Deo explorata ad cognitionem certam perveni vires meas ingravescente
aetate non iam aptas esse ad munus Petrinum aeque administrandum…” (11 de
fevereiro de 2013)
A Renúncia pelo amor à Igreja
Um conhecido teólogo italiano afirma – com
sinceridade – que “não estamos preparados para um Papa que se demite”. Reação
que une crentes e não-crentes, e levanta um dilúvio de comentários e
declarações quase como se se fosse obrigado a dizer alguma coisa para acalmar a
inquietação gerada por um evento imprevisível. Ainda mais enunciado numa
língua, o latim, que na era do hi tech parece um eco que soa da
pré-história.
Quando, porém, se deposita o pó erguido
pelo terremoto – que teve seu epicentro na Sala do Consistório do Palácio
Apostólico – a figura do Pastor é que permanece em pé e que, para o bem do seu
rebanho, não tem medo de escolher uma estrada nunca antes percorrida:
“Queridos irmãos e irmãs, como sabem,
decidi… (aplausos)… Obrigado pela simpatia… (aplausos)… Decidi renunciar ao ministério
que o Senhor me confiou em 19 de abril de 2005. Fiz isso em plena
liberdade para o bem da Igreja, depois de ter rezado por muito tempo e de ter
examinado diante de Deus a minha consciência, bem consciente da gravidade desse
ato, mas também consciente de já não estar em condições de prosseguir no
ministério petrino com aquela força ele exige.” (Audiência Geral de 13 de
fevereiro de 2013)
São passadas 48 horas do clamoroso anúncio
quando Bento XVI pronuncia essas palavras e abre a porta do seu coração aos
fiéis, reunidos na Sala Paulo VI, de maneira que possam aproximar-se aos seus
sentimentos. Então se começa a compreender que a Renúncia do Papa não é nenhum
“abandono”, mas, ao contrário, um ato supremo de amor a Cristo, inspirado pelo
Espírito Santo.
Não deixo a Cruz, servirei à Igreja em
oração
Depois de poucas horas da conclusão do seu
ministério, em 27 de fevereiro, na sua última Audiência Geral, Bento XVI
reitera che não está deixando a Cruz, “mas à serviço da oração” permanece, “por
assim dizer, no recinto de São Pedro”. Naquele mesmo dia, o Papa encontra os
purpurados que se preparam ao Conclave. Entre eles, está inclusive o Cardeal
Bergoglio. Para todos o Pontífice tem palavras de afeto e incentivo:
“Que o Senhor lhes mostre aquilo que é da vontade
dEle. E, entre os senhores, no Colégio dos cardeais, está também o futuro Papa,
ao qual prometo, já de hoje, a minha reverência incondicional e obediência.”
(Encontro com os cardeais em 28 de fevereiro de 2013)
Um humilde trabalhador na Vinha do Senhor
A humildade de Bento XVI comove, mas não
surpreende, porque é bem essa a virtude que sempre o caracterizou, como o mundo
já pôde apreciar das primeiras palavras pronunciadas depois da eleição como
Sucessor de Pedro:
“Queridos irmãos e irmãs, depois do grande
Papa João Paulo II... (aplausos)... os senhores cardeais me elegeram, um
simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor. Consola-me o fato de que o
Senhor sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes. E,
sobretudo, confio nas suas orações. Na alegria do Senhor ressuscitado,
confiantes do seu apoio permanente, vamos em frente. O Senhor nos ajudará, e
Maria, Sua Santíssima Mãe, está do nosso lado.” (19 de abril de 2005)
Um trabalhador humilde a quem a coragem não
falta. “O pastor moderado e firme” enfrenta com excepcional determinação
alguns escândalos que surgiram na Igreja, como a terrível ferida dos abusos
sexuais em menores por parte de membros do clero. Bento XVI é o primeiro
Pontífice que encontra as vítimas desse crime horrível: e faz sem clamor, longe
dos refletores, em Malta, nos Estados Unidos, na Austrália e no Reino Unido.
Dispõe novas regras que assegurem uma
“tolerância zero” àqueles que se mancham desse delito. E, no Ano Sacerdotal, há
150 anos da morte de Curato d’Ars, envoca uma nova transparência. As suas
palavras têm a força de uma profecia:
“Devemos encontrar uma nova resolução na fé
e no bem. Devemos ser capazes de penitência. Devemos nos esforçar para tentar
tudo o que for possível, na preparação do sacerdócio, para que uma coisa
semelhante não aconteça mais. Mas este também é o lugar para agradecer de
coração todos aqueles que se comprometem em ajudar as vítimas e em dar,
novamente a elas, a confiança na Igreja, na capacidade de acreditar na sua
mensagem.” (20 de dezembro de 2010)
Pastor moderado e firme, comprometido com a
transparência
Bento XVI expressa a mesma determinação no
processo de renovação do Ior e da gestão das atividades econômicas no
Vaticano. E isso, mesmo com os sofrimentos, inclusive pessoais, que deverá
suportar por causa do escândalo “Vatileaks”. Mais uma vez, atinge a brandura
do Papa que perdoa o assistente de quarto que lhe tinha roubado documentos
privados. Um gesto que lembra o perdão de João Paulo II a Ali Agca.
Mesmo empenhado em reagir à crise e
imprevistos, o Pontificado de Bento XVI será pró-ativo e inovativo em muitos
aspectos, como demonstra também a instituição de um Ordinariado pessoal para os
anglicanos que entram em plena comunhão com a Igreja Católica, depois da
publicação da Constituição “Anglicanorum Coetibus”.
Nasce o “Pátio dos Gentios”, dialogar com
os não-crentes
O Papa leva adiante o confronto com os
não-crentes e acelera a nova evangelização para combater “a eclipse de Deus”.
Convicto, como o seu amado Santo Agostinho que a opção cristã é “aquela mais
racional”, Papa Bento lança a ideia de um “Pátio dos Gentios” (Cortile dei
gentili), um espaço privilegiado de diálogo com os “distantes”:
“Ao diálogo com as religiões se deve
acrescentar hoje, sobretudo, o diálogo com aqueles pelos quais a religião é uma
coisa estranha, aos quais Deus não é conhecido e que, todavia, não gostariam de
ficar simplesmente sem Deus, mas aproximá-lo ao menos como Desconhecido.” (21
de dezembro de 2009)
Peregrino no mundo, do Ground Zero à
Mesquita Azul
O humilde trabalhador da vinha planta
sementes inclusive no terreno do diálogo inter-religioso. Visita as sinagogas
de Roma, Colônia e Nova Iorque, e convoca um novo Dia pela Paz em Assis,
em outubro de 2011, aberta não somente aos homens de fé, mas também aos
não-crentes.
Também com o mundo muçulmano, depois da
incompreensão desencadeada por uma citação no discurso de Ratisbona, o diálogo
se reforça graças inclusive à carta aberta de 38 “sábios muçulmanos” que se
transformam em 138 e, depois, em 216, para encontrar um terreno comum de
encontro. O que sintetiza esse diálogo renovado é a imagem de Bento XVI que, na
Mesquita Azul, se recolhe em meditação ao lado do Imam de Istambul.
“Permanecendo alguns minutos em
recolhimento naquele lugar de oração, me dirigi ao único Senhor do céu e da
terra, Pai misericordioso da inteira humanidade. Possam todos os crentes se
reconhecer como suas criaturas e dar testemunho de verdadeira fraternidade!”
(Audiência Geral de 6 de dezembro de 2006)
O diálogo ecumênico merece um capítulo
especial. Papa Bento recolhe frutos importantes: encontra várias vezes o
Patriarca de Constantinopla Bartolomeu I e abre uma nova fase de relações
com o Patriarcado Ortodoxo de Moscou. Altamente simbólica foi a visita a
Erfurt, no convento agostiniano de Martinho Lutero, e o encontro em Londres com
Rowan Williams, da Comunidade Anglicana.
Enfim, todas as 24 viagens internacionais
de Bento XVI deixam um sinal: daquele comovente no Líbano, onde encontra os
jovens sírios refugiados, àquele histórico em Nova Iorque, onde reza no Ground
Zero e fala às Nações Unidas. De Camarões ao Brasil, da Austrália a Cuba, o
Papa visita nos seus 8 anos de Pontificado todos os 5 “continentes
geográficos”.
Em Auschwitz, como filho da Alemanha
Difícil escolher um momento em tantos, mas
claramente a visita de um Papa, “filho da Alemanha” ao campo de
concentração de Auschwitz-Birkenau, tem um valor extraordinário:
“Papa João Paulo II veio aqui como filho do
povo polonês. Eu estou aqui hoje como filho do povo alemão e, justamente por
isso, devo e posso dizer como ele: não podia não vir aqui. Tinha que vir. Era e
é um dever perante a verdade e ao direito de tantos que sofreram, um dever
diante de Deus, de estar aqui como sucessor de João Paulo II e como filho do
povo alemão.” (29 de maio de 2006)
“Colaborador da Verdade”, como diz o seu
lema episcopal, Papa Bento é também testemunha de Caridade. Os cristãos
perseguidos em tantos lugares do mundo encontram nele um baluarte seguro. É o
primeiro Pontífice a falar de “cristianofobia” e a denunciar as violações da
liberdade religiosa, como acontece no Paquistão com a lei da blasfêmia.
Através do Cor Unum está na linha
de frente para ajudar as populações atingidas pelas guerras e desastres
naturais. Emocionantes as suas visitas aos pobres, aos idosos, aos doentes na
Itália e no exterior, em especial, aos pequenos pacientes do Hospital Bambino
Gesù, de Roma, e ao Hospital Caritas Baby, de Belém.
No Brasil, vai encontrar os jovens
toxicodependentes da Fazenda da Esperança. Na Jordânia, nos Estados Unidos e na
Espanha visita os portadores de deficiência dos centros de assistência. Gestos
que enaltecem como, aos olhos de Deus, cada pessoa seja única e preciosa.
Um magistério global, das Encíclicas ao
Twitter
De outro lado, justamente ao amor
cristão dedica a sua primeira Encíclica Deus Caritas est (2006). Seguem,
então, Spe Salvi, sobre a esperança, e Caritas in Veritate (2009),
sobre o desenvolvimento humano integral. Essa chegou a ser lida pelos
operadores de Wall Street: em meio à crise econômica mundial que começou nos
Estados Unidos, oferece a reflexão original da Igreja para colocar a pessoa no
centro das dinâmicas econômicas:
“Não devemos esquecer… como lembravo na
Encíclica Caritas in veritate, que também no campo da economia e das
finanças há intenção, transparência e busca de bons resultados compatíveis e que
nunca devem ser dissociados.” (10 de dezembro de 2011)
Além das três Encíclicas, o Papa publica
também 4 Exortações Apostólicas pós-sinodais e 19 motu proprio, entre
eles, o Summorum Pontificum, sobre a liturgia e a histórica carta dirigida
aos católicos chineses, de 2007.
Inovador é o seu livro-entrevista “Luz do
mundo”, em que oferece a sua visão a 360° sobre os desafios da Igreja, e a
trilogia sobre Jesus de Nazaré – um best seller mundial, no qual Joseph
Ratzinger oferece a sua pesquisa de crente sobre a figura histórica de Jesus.
Mas o surpreendente é, sobretudo, a
convicção com a qual o teólogo Bento se encaminha pelas estradas da
comunicação, inexploradas por um Papa. Em ocasião da JMJ, envia um sms ao
jovens do mundo inteiro, se conecta via satélite com os austronautas de uma
estação espacial e assina um editorial para o Financial Times.
Sobretuto encoraja a mídia católica e
vaticana a evangelizar o “continente digital”. E dá o bom exemplo abrindo, em
2012, a conta no Twitter, @Pontifex:
“Hoje somos chamados a descobrir, também na
cultura digital, símbolos e metáforas significativas para as pessoas que possam
ser de ajuda ao falar do Reino de Deus ao homem contemporâneo.” (28 de
fevereiro de 2011 – Discurso ao Pontifício Conselho das Comunicações Sociais)
A Igreja se comprometa com as famílias
feridas, na esteira do Concílio
E, ao homem contemporâneo, Bento XVI não
deixa de lembrar da sacralidade da vida, da beleza do matrimônio natural entre
um homem e uma mulher, da urgência da liberdade educativa. Aqueles valores que
não mudam com o tempo e, por isso, “não são negociáveis”.
A família é um dos temas que mais importa
ao Papa que vê com particular atenção os casais feridos, de quem viveu o drama
de uma separação. Significativas também, considerando o caminho sinodal
sucessivo a pedido de Francisco, as palavras que Bento XVI pronuncia no
Encontro Mundial das Famílias em Milão, em 2012:
“Parece-me uma grande tarefa de uma
paróquia, de uma comunidade católica, a de fazer realmente o possível para que
eles se sintam amados, aceitados, que não estão ‘fora’, mesmo se não podem
receber a absolvição e a Eucaristia; devem saber que, assim mesmo, vivem
plenamente na Igreja.” (3 de junho de 2012)
Uma igreja que Bento XVI serviu por toda a
sua vida, desde jovem e brilhante teólogo até como Sucessor de Pedro, tendo
sempre como “bússola” o Concílio Vaticano II que – e são palavras suas –
“permite à Igreja de proceder em mar aberto”. (AG/AC)
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A biografia de Bento XVI
Jospeh Ratzinger recebeu a Ordenação
Sacerdotal em 29 de junho de 1951. Em 25 de março de 1977, o Papa Paulo VI nomeou-o
arcebispo de München e Freising. Em 28 de maio seguinte, recebeu a sagração
episcopal. Paulo VI criou-o cardeal no Consistório de 27 de junho desse mesmo
ano.
O cardeal Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI,
nasceu em Marktl am Inn, Diocese de Passau (Alemanha), no dia 16 de abril de
1927 (Sábado Santo), e foi batizado no mesmo dia. O seu pai, comissário da
polícia, provinha duma antiga família de agricultores da Baixa Baviera, de
modestas condições econômicas. A sua mãe era filha de artesãos de Rimsting, no
lago de Chiem, e antes de casar trabalhara como cozinheira em vários hotéis.
Passou a sua infância e adolescência em
Traunstein, uma pequena localidade perto da fronteira com a Áustria, a trinta
quilômetros de Salisburgo. Foi neste ambiente, por ele próprio definido
“mozarteano”, que recebeu a sua formação cristã, humana e cultural.
O período da sua juventude não foi fácil. A
fé e a educação da sua família prepararam-no para enfrentar a dura experiência
daqueles tempos, em que o regime nazista mantinha um clima de grande
hostilidade contra a Igreja Católica. O jovem Joseph viu os nazistas açoitarem
o pároco antes da celebração da Santa Missa.
Precisamente nesta complexa situação,
descobriu a beleza e a verdade da fé em Cristo; fundamental para ele foi a
conduta da sua família, que sempre deu um claro testemunho de bondade e
esperança, radicada numa conscienciosa pertença à Igreja.
Até o mês de setembro de 1944 esteve
alistado nos serviços auxiliares anti-aéreos.
Recebeu a Ordenação Sacerdotal em 29 de
junho de 1951.
Um ano depois, começou a sua atividade de
professor na Escola Superior de Freising.
No ano de 1953, doutorou-se em teologia com
a tese “Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho”. Passados
quatro anos, sob a direcção do conhecido professor de teologia fundamental
Gottlieb Söhngen, conseguiu a habilitação para a docência com uma dissertação
sobre “A teologia da história em São Boaventura”.
Depois de desempenhar o cargo de professor
de teologia dogmática e fundamental na Escola Superior de Filosofia e Teologia
de Freising, continuou a docência em Bonn, de 1959 a 1963; em Münster, de 1963
a 1966; e em Tubinga, de 1966 a 1969. A partir deste ano de 1969, passou a ser
catedrático de dogmática e história do dogma na Universidade de Regensburg,
onde ocupou também o cargo de Vice-Reitor da Universidade.
De 1962 a 1965, prestou um notável
contributo ao Concílio Vaticano II como “perito”; viera como consultor
teológico do Cardeal Joseph Frings, Arcebispo de Colônia.
A sua intensa atividade científica levou-o
a desempenhar importantes cargos ao serviço da Conferência Episcopal Alemã e na
Comissão Teológica Internacional.
Em 25 de março de 1977, o Papa Paulo VI
nomeou-o Arcebispo de München e Freising. A 28 de maio seguinte, recebeu a
sagração episcopal. Foi o primeiro sacerdote diocesano, depois de oitenta anos,
que assumiu o governo pastoral da grande arquidiocese bávara. Escolheu como
lema episcopal: “Colaborador da verdade”; assim o explicou ele mesmo:
“Parecia-me, por um lado, encontrar nele a ligação entre a tarefa anterior de
professor e a minha nova missão; o que estava em jogo, e continua a estar –
embora com modalidades diferentes –, é seguir a verdade, estar ao seu serviço.
E, por outro, escolhi este lema porque, no mundo atual, omite-se quase
totalmente o tema da verdade, parecendo algo demasiado grande para o homem; e,
todavia, tudo se desmorona se falta a verdade”.
Paulo VI criou-o cardeal, do título
presbiteral de “Santa Maria da Consolação no Tiburtino”, no Consistório de 27
de junho desse mesmo ano.
Em 1978, participou no Conclave, celebrado
de 25 a 26 de agosto, que elegeu João Paulo I; este nomeou-o seu Enviado
especial ao III Congresso Mariológico Internacional que teve lugar em Guayaquil
(Equador) de 16 a 24 de setembro. No mês de outubro desse mesmo ano, participou
também no Conclave que elegeu João Paulo II.
Foi Relator na V Assembleia Geral Ordinária
do Sínodo dos Bispos realizada em 1980, que tinha como tema “Missão da família
cristã no mundo contemporâneo”, e Presidente Delegado da VI Assembleia Geral
Ordinária, celebrada em 1983, sobre “A reconciliação e a penitência na missão
da Igreja”.
João Paulo II nomeou-o Prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé e Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e
da Comissão Teológica Internacional, em 25 de novembro de 1981. No dia 15 de
fevereiro de 1982, renunciou ao governo pastoral da arquidiocese de München e
Freising. O Papa elevou-o à Ordem dos Bispos, atribuindo-lhe a sede
suburbicária de Velletri-Segni, em 5 de abril de 1993.
Foi Presidente da Comissão encarregada da
preparação do Catecismo da Igreja Católica, a qual, após seis anos de trabalho
(1986-1992), apresentou ao Santo Padre o novo Catecismo.
A 6 de novembro de 1998, o Santo Padre
aprovou a eleição do Cardeal Ratzinger para Vice-Decano do Colégio
Cardinalício, realizada pelos Cardeais da Ordem dos Bispos. E, no dia 30 de
novembro de 2002, aprovou a sua eleição para Decano; com este cargo, foi-lhe
atribuída também a sede suburbicária de Óstia.
Em 1999, foi como Enviado especial do Papa
às celebrações pelo XII centenário da criação da diocese de Paderborn,
Alemanha, que tiveram lugar a 3 de janeiro.
Desde 13 de novembro de 2000, era Membro
honorário da Academia Pontifícia das Ciências.
No dia 6 de fevereiro de 2013, durante o
Consistório Ordinário Público para a canonização de alguns Santos, anunciou a
decisão de renunciar ao ministério petrino com estas palavras: “Depois de ter
examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza
de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para
exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este
ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras
e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no
mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande
relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o
Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor
este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de
reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado.
Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro
que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro”.
O seu pontificado se concluiu em 28 de
fevereiro de 2013.
Em seguida, Bento XVI foi morar na Cidade
do Vaticano, junto ao Mosteiro “Mater Ecclesiae”, como Papa Emérito.
Na Cúria Romana, foi Membro do Conselho da
Secretaria de Estado para as Relações com os Estados; das Congregações para as
Igrejas Orientais, para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, para os
Bispos, para a Evangelização dos Povos, para a Educação Católica, para o Clero,
e para as Causas dos Santos; dos Conselhos Pontifícios para a Promoção da
Unidade dos Cristãos, e para a Cultura; do Tribunal Supremo da Signatura
Apostólica; e das Comissões Pontifícias para a América Latina, “Ecclesia Dei”,
para a Interpretação Autêntica do Código de Direito Canónico, e para a revisão
do Código de Direito Canónico Oriental.
Entre as suas numerosas publicações, ocupam
lugar de destaque o livro “Introdução ao Cristianismo”, uma compilação de
lições universitárias publicadas em 1968 sobre a profissão de fé apostólica, e
o livro “Dogma e Revelação” (1973), uma antologia de ensaios, homilias e
meditações, dedicadas à pastoral.
Grande ressonância teve a conferência que
pronunciou perante a Academia Católica Bávara sobre o tema “Por que continuo
ainda na Igreja?”; com a sua habitual clareza, afirmou então: “Só na Igreja é
possível ser cristão, não ao lado da Igreja”.
No decurso dos anos, continuou abundante a
série das suas publicações, constituindo um ponto de referência para muitas
pessoas, especialmente para os que queriam entrar em profundidade no estudo da
teologia. Em 1985 publicou o livro-entrevista “Informe sobre a Fé” e, em 1996,
“O sal da terra”. E, por ocasião do seu septuagésimo aniversário, publicou o
livro “Na escola da verdade”, onde aparecem ilustrados vários aspectos da sua
personalidade e da sua obra por diversos autores.
Recebeu numerosos doutoramentos “honoris
causa”: pelo College of St. Thomas em St. Paul (Minnesota, Estados Unidos), em
1984; pela Universidade Católica de Eichstätt, em 1987; pela Universidade
Católica de Lima, em 1986; pela Universidade Católica de Lublin, em 1988; pela
Universidade de Navarra (Pamplona, Espanha), em 1998; pela Livre Universidade
Maria Santíssima Assunta (LUMSA, Roma), em 1999; pela Faculdade de Teologia da
Universidade de Wroclaw (Polônia) no ano 2000.
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