da Palavra de Deus na vida da Igreja no Brasil
A Igreja no Brasil
tem investido cada vez mais no fortalecimento das pequenas comunidades que, a
partir das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE)
para o período de 2019 a 2023, receberam o nome de Comunidades Eclesiais Missionárias.
Para a formação desses grupos, as DGAE apontam como uma das atitudes a
iluminação da vida com a Palavra de Deus, um dos quatro pilares da figura da
comunidade-casa proposta no Documento 109 da CNBB: Diretrizes para a formação
dos presbíteros da Igreja no Brasil. A Palavra de Deus, portanto, é apresentada
como a primeira condição para que se concretize a proposta missionária da
Igreja no Brasil, uma Igreja em saída que leva a Palavra de Deus.
Na busca por
reafirmar a importância da Bíblia e encontrar meios para alcançar a proposta de
gerar comunidades e discípulos missionários é que os bispos do Brasil se
dedicarão ao tema da Animação Bíblica da Vida e da Pastoral durante a
Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) deste ano de
2020. Brasil afora, são várias as iniciativas que favorecem a aproximação com a
Palavra de Deus e a Animação Bíblica da Vida e da Pastoral, desde os exercícios
individuais da Leitura Orante da Palavra, passando pelos círculos bíblicos, até
as ações que se utilizam dos meios de comunicação, como rádio, televisão e
internet.
Também a Edições
CNBB oferece um roteiro de Lectio Divina para as pequenas comunidades que se
reúnem ao redor da Palavra. O material possui comentários, orações e preces
para todos os domingos do Ano Litúrgico, neste ano, baseado no Evangelho de São
Mateus. Referencial da Pastoral da Pessoa Idosa, o arcebispo de Curitiba
(PR) e presidente da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB, dom
José Antônio Peruzzo, partilha que, mesmo com poucos recursos e um trabalho
quase invisível, os 25 mil agentes em todo o Brasil “encontram energia, haurem
forças” para o serviço de visita a muitos idosos mergulhados na solidão
por meio da prática da Leitura Orante da Palavra. “E eu constato que a
Palavra de Deus é uma das grandes potências evangelizadoras acerca da qual nós
ainda não aprendemos o suficiente. Temos que ser humildes e dizer que os
evangélicos nos ensinam aquilo que nós deixamos passar muitas vezes”, observa
dom Peruzzo.
Na arquidiocese de
Belo Horizonte (MG), desde 2015, as DGAE estão dentro do Projeto Proclamar a
Palavra, no qual o anúncio da Palavra de Deus se dá em palavras e ações.
“Precisamos ‘falar’ o Evangelho, precisamos igualmente ‘viver’ o Evangelho. É
exatamente este anúncio, por palavras e por ações, que nos faz discípulos e
discípulas em missão permanente”, lê-se no documento com as Diretrizes para a
Ação Evangelizadora no âmbito da arquidiocese mineira.
“O projeto de
evangelização consiste em fazer chegar a cada coração, cada pessoa, em cada
lugar mediando, iluminando e fecundando ações, tarefas, trabalhos, toda a vida
humana, familiar, comunitária, eclesial e social pela força e graça da Palavra
de Deus, em um diálogo permanente com o Senhor, em uma fonte de sabedoria que é
a sua Palavra, sermos capazes de transformar o mundo pelo nosso testemunho para
que o mundo se abra ao amor de Deus”, afirma o vigário da Ação Pastoral da
Arquidiocese de Belo Horizonte, padre Joel Maria dos Santos.
Leitura Orante e
Círculos Bíblicos A Comissão Episcopal Pastoral para a Animação
Bíblico-Catequética da CNBB, em seu trabalho de impulsionar a Animação Bíblica
da Vida e da Pastoral e de estimular a formação bíblica e a prática da Leitura
Orante, retomou o projeto Lectionautas, uma página na internet que oferece
roteiros diários para Leitura Orante da Palavra, voltado principalmente para o
público jovem. O subsídio, preparado por biblistas ligados à Comissão, deve
ajudar pessoas e grupos a realizarem a Leitura Orante da Palavra de Deus com os
quatro passos: leitura, meditação, contemplação e ação.
No processo de
fortalecimento da ação pastoral por meio da animação bíblica, alguns resultados
são verificados, como a busca crescente da centralidade da Palavra de Deus nas
comunidades, instâncias e espaços da arquidiocese, onde “a Palavra de Deus
vai sendo resgatada com um novo afeto, com uma nova dimensão, um novo
comprometimento, com o despertar de uma nova consciência”.
A arquidiocese
também instituiu o Ministério da Palavra para que cristãos leigos e leigas,
após um processo de formação, possam atuar nos “campos de missão”, como as
vilas e favelas, edifícios e condomínios, cemitérios, hospitais, escolas, entre
outros ambientes. Outro avanço, segundo padre Joel, é o crescimento da “força
dinamizadora” dos círculos bíblicos: “As comunidades vão tomando consciência da
importância desse espaço metodológico e pedagógico para um contato maior,
acolhida, oração e reflexão a partir da Palavra de Deus”, partilha padre Joel
O QUE É
ANIMAÇÃO BÍBLICA DA VIDA E DA PASTORAL?
A Igreja fala
em Animação Bíblica da Vida e da Pastoral porque a Bíblia, em primeiro lugar,
deve transformar a vida, a partir do encontro pessoal com Jesus Cristo, e levar
a uma conversão pessoal. Na Pastoral, a Bíblia tem que entrar em todas as
pastorais, não somente da catequese. Todas as pastorais têm que inserir esse
contato, esse conhecimento com a Palavra de Deus por meio da prática da Leitura
Orante, por exemplo.
Animação bíblica
inculturada
Assessora da
Comissão para a Animação Bíblico-Catequética, Irmã Izabel Patuzzo tem uma
experiência de favorecimento da aproximação da Palavra com povos originários da
Amazônia. Junto com as outras integrantes da missão da Congregação das
Missionárias da Imaculada (PIME), preparou o Manual de Catequese na língua
nativa dos índios Ticunas.
O trabalho foi
realizado na Comunidade Indígena de Vendaval, na paróquia São Francisco de
Assis, em Belém dos Solimões, diocese do Alto Solimões (AM). “Não havia
nenhum material catequético que atendia à sua cultura, que pudesse conhecer,
integrar a cultura na catequese, na liturgia”, conta a religiosa. O trabalho
durou três anos para ser elaborado e contou com entrevistas com os anciãos, que
resgataram o que chamam de “histórias sagradas”, passadas oralmente de geração
em geração.
“Nós missionários
sentimos muito profundamente o desejo de não deixar que a cultura se perca, uma
cultura que é muito rica. E há paralelos riquíssimos com a Bíblia, nas
narrativas da criação do mundo, por exemplo”.
O manual de
catequese relaciona também a história de Abraão como Pai na fé do povo de Deus
e de Ngutapa no povo Ticuna. Esse diálogo com a cultura dos povos, reforça irmã
Izabel, está destacado na Exortação Pós-Sinodal do Papa Francisco Querida
Amazônia, em uma busca por iniciativas que ajudam indígenas a, de maneira
particular, entender as Escrituras a partir da realidade deles.
No documento,
publicado em fevereiro deste ano, o Papa Francisco fala sobre inculturação, em
um contexto em que “ao mesmo tempo que anuncia sem cessar o querigma” a
Igreja “não para de moldar a sua própria identidade na escuta e diálogo com as
pessoas, realidades e histórias do território”.
Na prelazia de
Itaituba (PA), a instituição de ministros da Palavra favorece a evangelização e
a animação bíblica de forma inculturada, garantindo também às comunidades do
povo Munduruku as celebrações da Palavra quando não há um padre para celebrar a
Eucaristia. “Isso me enche de esperança, tenho certeza que a evangelização
naquelas terras será muito eficaz”, contou o bispo local, dom Wilmar Santim, ao
fazer a investidura de mais de vinte ministros.
Para dom Wilmar, a
Igreja não pode se esquecer que os povos que estão na Amazônia não são só meros
receptores do Evangelho, mas que eles têm o direito ao anúncio do Evangelho e
de ouvir “que Deus os ama infinitamente como ama cada ser humano e que
esse amor se manifesta plenamente em Jesus Cristo crucificado e ressuscitado”.
Iniciativas nos
meios de Comunicação Os meios de comunicação, enquanto espaços propícios para a
animação bíblica, gestam Brasil afora várias iniciativas no rádio, na
televisão, nos meios impressos e na internet. Na rádio 9 de Julho, da
arquidiocese de São Paulo (SP), o biblista Matthias Grenzer trabalhou durante
dez anos com programas voltados para aprofundamento da Bíblia, como “Esperanças
Bíblicas” e “Cultura Bíblica”.
Mais recentemente,
colaborou com a produção das Pílulas Bíblicas, disponibilizadas pela CNBB no
Mês da Bíblia, a partir do Texto-Base de cada ano. Na televisão, o presidente
da Comissão para a Animação Bíblico Catequética da CNBB, dom José Antônio
Peruzzo, apresenta dois programas voltados ao tema na TV Evangelizar: “Leitura
Orante da Palavra” e “Conhecendo a Palavra”, um programa com mais de uma hora
de duração no qual ele explica os Evangelhos e demais livros da Bíblia.
Neste ano, está
explicando o Apocalipse. “A Leitura Orante da Palavra pela televisão é uma
iniciativa que eu não tinha visto antes e tinha muitas interrogativas e até
reticências no início. Mas, por insistência da direção da TV Evangelizar, eu
comecei, com as incertezas, tendo bem presente que não é um círculo bíblico,
não é uma leitura propriamente possível de ser feita comunitariamente. Todavia,
impressionou-me, depois de começar, quanto cresceu o interesse pela Leitura
Orante e pela Palavra. Nós precisamos ser mais ousados. Eu acreditava, mas não
tinha constatado ainda quanto é eficiente a pastoral inspirada, embasada e
sustentada pela Bíblia, pela Palavra de Deus”, partilha dom Peruzzo.
O bispo destaca
que, segundo dados do IBOPE, o programa Leitura Orante da Palavra chega a 500
mil pessoas em todo o Brasil. Já o programa Conhecendo a Palavra, que abre
espaço para interatividade, recebe mensagens de vários estados do Brasil e
também do exterior. “Há muita gente acompanhando porque quer conhecer a
Palavra, é grande o interesse, e o Revista Bote Fé CAPA povo de Deus está
sedento de conhecê-la. Nós padres e bispos deveríamos oferecer muito mais tempo
do nosso ministério a aproximar a Palavra do povo e o povo da Palavra”.
Cuidados Nesse
esforço da Igreja em utilizar dos meios de comunicação para levar a mensagem do
Evangelho, alguns cuidados devem ser observados, de acordo com dom Peruzzo, que
observa, às vezes, “que se fala mais da Igreja e menos da Palavra, que às
vezes aparecem mais os midiáticos do que a Palavra na mídia”.
É preciso
favorecer um encontro com a Palavra, não somente multiplicar devoções e
sacramentos, “o que não se pode perder, porque é um patrimônio precioso da
nossa identidade”. “Todavia, se a Palavra faltar, facilmente nós nos
deixamos fascinar, às vezes entorpecer, mais por mensageiros do que por
mensagens. Mais por mensageiros do que pela Palavra. Ou mais por afeições
subjetivas do que pelo discipulado bem pronunciado e efetivo. A Palavra de Deus
nos faz discípulos”, ensina dom Peruzzo.
Matéria publicada
originalmente na Revista Bote Fé – Edição nº 31
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Fonte: cnbb.org.br
Fonte: cnbb.org.br
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