onde há muito eu, há pouco Deus
"Para subir em direção a Ele é preciso descer dentro de
nós mesmos: cultivar a sinceridade e a humildade de coração, que nos dão um
olhar honesto sobre nossas fragilidades e pobrezas. De fato, na humildade nos
tornamos capazes de levar a Deus, sem fingimentos, o que somos, os limites e as
feridas, os pecados e as misérias que pesam em nosso coração, e de invocar sua
misericórdia para que nos cure, nos cura e nos levante."
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
"Quanto mais descemos com humildade, mais Deus nos faz
subir em direção ao alto."
"Subir e descer", dois verbos presentes na
passagem de Lucas (Lc 18,9-14) do Evangelho da liturgia deste domingo
inspiraram a reflexão do Papa Francisco antes de rezar o Angelus neste
XXX Domingo do Tempo Comum. De fato, a" parábola está entre dois
movimentos".
Subir, necessidade do coração de ir ao encontro do Senhor
De um lado o fariseu, "um homem religioso", e de
outro o cobrador de impostos, o publicano, "um pecador declarado".
Aos peregrinos reunidos na Praça São Pedro, o Papa começou explicando que os
dois sobem ao templo para rezar, "mas somente o publicano eleva-se
verdadeiramente a Deus, porque com humildade desce à verdade de si mesmo e
apresenta-se tal como é, sem máscaras, com a sua pobreza". Ou seja, o
primeiro movimento é "subir". E explica:
De fato, o texto começa dizendo: "Dois homens subiram
ao Templo para rezar". Este aspecto evoca tantos episódios da Bíblia, onde
para encontrar o Senhor se sobe ao monte da sua presença: Abraão sobe ao monte
para oferecer o sacrifício; Moisés sobe ao Sinai para receber os mandamentos;
Jesus sobe ao monte, onde é transfigurado. Subir, portanto, expressa a
necessidade do coração de separar-se de uma vida plana para ir ao encontro do
Senhor, libertar-nos do próprio eu; de elevar-se das planícies do nosso eu para
subir em direção a Deus; de recolher o que vivemos no vale para levá-lo diante
do Senhor. Isso é subir, e quando nós rezamos, subimos.
Quanto mais descemos, mais Deus nos faz subir ao alto
Mas - observou Francisco - para viver o encontro com Deus e
ser transformados pela oração, para nos elevarmos a Ele, precisamos do segundo
movimento, descer:
Para subir em direção a Ele é preciso descer dentro de nós
mesmos: cultivar a sinceridade e a humildade de coração, que nos dão um olhar
honesto sobre nossas fragilidades e pobrezas interiores. De fato, na humildade
nos tornamos capazes de levar a Deus, sem fingimentos, o que realmente somos,
os limites e as feridas, os pecados e as misérias que pesam em nosso coração, e
de invocar sua misericórdia para que nos cure, nos cure e nos levante. Será Ele
a nos levantar, não nós. Quanto mais descemos com humildade, mais Deus nos faz
subir em direção ao alto.
O risco de cair na "soberba espiritual"
Com efeito - acrescentou - o publicano da parábola
"fica humildemente à distância, não se envergonha, pede perdão e o Senhor
o levanta". O fariseu, por outro lado, "se exalta, seguro de si
mesmo, convencido de estar bem: de pé, começa a falar ao Senhor apenas de si
mesmo, começa a louvar a si mesmo, a listar todas as boas obras religiosas que
faz e despreza os outros. Diz: "Não como aquele lá":
Por que a soberba espiritual faz isso - “Mas padre, por que
nos fala sobre a soberba espiritual? - Mas todos nós corremos o perigo de cair
nisto: leva-te a acreditar-te bom e a julgar os outros e isso é a soberba
espiritual: "Eu estou bem, sou melhor que os outros, ele é isso, aquele é
aquilo…". E assim, sem perceber, adoras a ti mesmo e apaga teu Deus. É uma
subida que volta para si mesmo. Esta é a oração sem humildade.
Onde há muito eu, há pouco Deus
O Papa então chamou a atenção para o fato de que "o
fariseu e o publicano têm muito a ver conosco", convidando a olharmos para
nós mesmos:
Verifiquemos se em nós, como no fariseu, existe "a
íntima presunção de ser justos" que nos leva a desprezar os outros.
Acontece, por exemplo, quando buscamos elogios e sempre fazemos uma lista de
nossos méritos e de nossas boas obras, quando nos preocupamos mais em parecer
do que em ser, quando nos deixamos aprisionar pelo narcisismo e pelo
exibicionismo. Vigiemos , irmãos e irmãs, nosso narcisismo e exibicionismo,
baseados na vanglória, que levam também nós cristãos, nós sacerdotes, nós
bispos a ter sempre uma palavra nos lábios. Qual palavra? "Eu, eu
,eu": "eu fiz isso, eu escrevi aquilo, eu havia dito, eu havia
entendido antes de vocês", e assim por diante. Onde há muito eu, há pouco
Deus.
Francisco recordou que em seu país, essas pessoas são
chamadas de "eu-comigo-para mim-somente eu", ilustrando com o exemplo
de um sacerdote que era muito "centrado em si mesmo", e para brincar,
as pessoas diziam que quando ele fazia a incensação, fazia ao contrário, pois
incensava a si mesmo, "se auto incensava."
Peçamos a intercessão de Maria Santíssima - disse ao
concluir - a humilde serva do Senhor, imagem viva daquilo que o Senhor ama
realizar, derrubando os poderosos de seus tronos e elevando os últimos.
................................................................................................................................................. Fonte: vaticannews.va
Nenhum comentário:
Postar um comentário