região implora por uma ética ecológica de
desenvolvimento
A região tem
sido afetada por aquela que, segundo especialistas, é a maior onda de incêndios
florestais no Brasil em sete anos: os focos aumentaram em 82% entre janeiro e
agosto deste ano, em relação ao mesmo período de 2018. A repercussão, em nível
internacional, fez chefes de Estado e bispos brasileiros a se posicionarem: é
necessária uma orientação ética ecológica na Amazônia, além de fiscalização
séria por órgãos “que não podem, de forma alguma, ser desautorizados ou
desacreditados”, afirmou o vice-presidente da CNBB Dom Jaime Spengler.
Imagens de terça-feira (20) da Planet Labs, empresa americana que mantém mais de cem satélites em órbita |
Cidade do
Vaticano - A comunidade internacional também tem se manifestado em defesa da
Amazônia que, atualmente, é destaque na imprensa mundial pela emergência
ambiental. O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu uma reunião neste final
de semana durante o encontro do G7.
O aumento no
número de focos de incêndio em florestas tem sido um dos assuntos mais
repercutidos, inclusive nas mídias sociais, com a #PrayForAmazonia (em tradução
livre, “Reze pela Amazônia”). A repercussão dos internautas, mas também de
chefes de Estado, faz referência às imagens e aos dados do Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais) que mostram um aumento de 82% no número de focos
de incêndio florestal entre janeiro e agosto de 2019, em comparação com o mesmo
período de 2018. O Mato Grosso é o estado com mais ocorrências. A relação,
segundo especialistas, é com o desmatamento e não com uma seca mais forte.
“Esse círculo
vicioso de poluição ambiental, que o Papa Francisco denunciava na Laudato si’,
convocando todos a uma verdadeira cruzada contra a poluição e em defesa da
nossa Casa Comum, infelizmente é uma consciência que está longe ainda de
chacoalhar, de sacudir a consciência mesmo dos cristãos e católicos.”
Dom Dimas Lara
Barbosa, arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Campo Grande/MS, relata a
situação vivida localmente, como a atuação constante dos bombeiros para apagar
focos de incêndio. A consciência para o alerta desse “círculo vicioso de
poluição ambiental”, comenta Dom Dimas, precisa partir dos cristãos para uma
“verdadeira cruzada em defesa da Casa Comum”:
“É com tristeza que a sociedade brasileira e
internacional constatam esse permanente e crescente índice da utilização de
queimadas como alternativa para limpeza, fins agrários, e isso em todos os
campos do Brasil. Aqui em Campo Grande não é diferente. No nosso Estado, os
bombeiros já tiveram, nos últimos meses, que apagar focos de incêndio em quase
300 lugares – mas certamente são ações localizadas. Quando essa mentalidade se
espalha para o Brasil todo, a gente acaba ficando insensível diante, por
exemplo, do que acontece na Amazônia. Afinal de contas, a Amazônia não é um
patrimônio privado, nem é só do governo, ela é um patrimônio de todos os
brasileiros. E esse círculo vicioso de poluição ambiental, que o Papa Francisco
denunciava na Laudato si’, convocando todos a uma verdadeira cruzada contra a
poluição e em defesa da nossa Casa Comum, infelizmente é uma consciência que
está longe ainda de chacoalhar, de sacudir a consciência mesmo dos cristãos e
católicos. Precisamos de novo resgatar a Laudato si’ e a história mesmo da
Igreja no Brasil, que já promoveu várias Campanhas da Fraternidade em torno do
tema ecológico. Eu me lembro que já em 1979 houve uma Campanha com o título
‘Preserve o que é de todos’. Então, a consciência ecológica é por uma ‘ecologia
integral’ que precisa ser assimilada pelo nosso bom povo brasileiro e,
particularmente, por aqueles que tem o ofício de cuidar do que é de todos.”
A CNBB pede
fiscalização séria
As queimadas
fora de controle na Amazônia também “chamam a atenção e preocupam” a CNBB. O
vice-presidente, Dom Jaime Spengler, afirma que é necessária uma fiscalização
séria por órgãos “que não podem, de forma alguma, ser desautorizados ou
desacreditados”.
“Segundo
especialistas, o fator que melhor explica o aumento no número de focos de calor
naquela região é o desmatamento. Provavelmente há também outras situações que
caracterizam crimes ambientais e que merecem atenção. Esses elementos apontam
para a sempre necessária fiscalização séria. Papel de destaque, nesse âmbito,
possui os órgãos de controle que não podem, de forma alguma, ser desautorizados
ou desacreditados. Há vozes, é verdade, que defendem o desenvolvimento da
região através da exploração do subsolo, das florestas, do avanço da
agricultura,... Certamente tudo isso pode sim cooperar para o desenvolvimento
da região, mas a que preço? Pode cooperar para o desenvolvimento da região
desde que as iniciativas sejam orientadas por uma ética, digamos, ecológica;
pela responsabilidade socioeconômica e ambiental. Além disso, não se pode
esquecer a dignidade e a nobreza dos ecossistemas da região. Me recordo que o
Papa Francisco, na Encíclica Laudato si’, fala do perverso sistema de
propriedade e consumo atual. É impressionante essa expressão. Por isso da
necessidade de encontrar novos caminhos para a promoção da ‘ecologia integral’,
no respeito ao ambiente, aos povos nativos e à própria terra.”
“Pesquisadores
renomados têm alertado com insistência sobre a urgência de cuidado sério para
os diversos ecossistemas. Não se pode aceitar que expressões de impacto ou
opiniões vagas sustentadas ou influenciadas por interesses nebulosos ou
escusos, interfiram na vida desse patrimônio extraordinário que é a região
pan-amazônica.”
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Fonte: vaticannews.va
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