Jesus é 'concentrado'
de todo o amor de Deus num ser humano
O próprio Jesus
nasceu em condição de privação, “não por acaso nem por um incidente”, observou,
mas “quis nascer assim, para manifestar o amor de Deus pelos humildes e os
pobres e, deste modo, lançar no mundo a semente do Reino de Deus, Reino de
justiça, amor e paz”, disse o Papa no Te Deum de ação de graças pelo ano
transcorrido.
Cidade do
Vaticano - “Também durante este ano que chega ao fim, muitos homens e mulheres
viveram, e vivem, em condições de escravidão, condições indignas de pessoas
humanas”: disse o Papa Francisco no final da tarde desta segunda-feira, 31 de
dezembro, no Te Deum – celebração de Ação de Graças – na Basílica de São Pedro,
durante as Primeiras Vésperas da Solenidade da Santa Mãe de Deus, Maria, que a
Igreja celebra em 1º de janeiro.
No final do ano,
a Palavra de Deus acompanha-nos com estes dois versículos do apóstolo Paulo (cf.
Gal 4, 4-5). São expressões breves e densas: uma síntese do Novo Testamento que
dá sentido a um momento “crítico” como é sempre uma passagem de ano, ressaltou
o Pontífice no início da homilia, atendo-se à liturgia das Primeiras Vésperas.
Plenitude do
tempo
A primeira
expressão que nos sensibiliza, disse Francisco, é “plenitude do tempo”. Assume
uma ressonância particular nestas horas finais dum ano solar, em que sentimos
ainda mais a necessidade de algo que encha de significado o transcorrer do
tempo. Algo, ou melhor, alguém. E este “alguém” veio. Deus enviou-o: é “o seu
Filho”, Jesus.
“Celebramos há
pouco o seu nascimento: nasceu duma mulher, a Virgem Maria; nasceu sob a Lei,
um menino judeu, sujeito à Lei do Senhor.” Mas, como é possível? Como pode ser
isto o sinal da “plenitude do tempo”?, questionou o Santo Padre, acrescentando:
“Claro, por
enquanto é quase invisível e insignificante, mas, dentro de pouco mais de
trinta anos, aquele Jesus desencadeará uma força inaudita, que dura ainda e durará
ao longo da história inteira. Esta força chama-se Amor. É o amor que dá
plenitude a tudo, mesmo ao tempo; e Jesus é o ‘concentrado’ de todo o amor de
Deus num ser humano.”
Para resgatar:
fazer sair da escravidão e restituir a liberdade
São Paulo diz,
claramente, o motivo porque o Filho de Deus nasceu no tempo, qual é a missão
que o Pai Lhe confiou para realizar: nasceu “para resgatar”, frisou o Papa.
“Esta é a
segunda palavra que nos sensibiliza: resgatar, isto é – prosseguiu –, fazer
sair duma condição de escravidão e restituir à liberdade – à dignidade e à
liberdade próprias de filhos.”
A escravidão que
o apóstolo tem em mente é a da “Lei”, explicou Francisco, “entendida como um
conjunto de preceitos que devem ser observados, uma Lei que certamente educa o
homem, é pedagógica, mas não o liberta da sua condição de pecador”; antes, de
certo modo “crava-o” a esta condição, impedindo-o de atingir a liberdade do
filho, observou.
Convite à
reflexão e ao arrependimento
“Deus Pai enviou
ao mundo o seu Filho Unigênito para desenraizar do coração do homem a
escravidão antiga do pecado e, assim, restituir-lhe a sua dignidade”, disse
Francisco convidando à reflexão e ao arrependimento: “devemos deter-nos;
deter-nos a refletir com amargura e arrependimento porque também durante este
ano que chega ao fim, muitos homens e mulheres viveram, e vivem, em condições
de escravidão, condições indignas de pessoas humanas”.
“Também na nossa
cidade de Roma, há irmãos e irmãs que, por vários motivos, estão neste estado.
Penso, de modo particular, naqueles que vivem sem um lar. São mais de dez mil.
De inverno, a sua situação é particularmente dura. Todos eles são filhos e
filhas de Deus, mas diferentes formas de escravidão, por vezes muito complexas,
levaram-nos a viver no limite extremo da dignidade humana.”
Manifestação do
amor de Deus pelos humildes e os pobres
Francisco disse
ainda que o próprio Jesus nasceu em condição semelhante, “não por acaso nem por
um incidente”, observou, mas “quis nascer assim, para manifestar o amor de Deus
pelos humildes e os pobres e, deste modo, lançar no mundo a semente do Reino de
Deus, Reino de justiça, amor e paz”.
“A Igreja que
está em Roma não quer ficar indiferente às escravidões do nosso tempo, nem
limitar-se a observá-las e prestar-lhes assistência, mas quer estar dentro
desta realidade, próxima a estas pessoas e situações.”
A santa mãe
Igreja eleva seu hino de louvor a Deus
“Apraz-me
encorajar esta forma da maternidade da Igreja, ao celebrarmos a maternidade
divina da Virgem Maria”, disse por fim o Papa, acrescentando:
“Contemplando
este mistério, reconhecemos que Deus ‘nasceu de uma mulher’ para que nós
pudéssemos receber a plenitude da nossa humanidade, ‘a adoção de filhos’. Pelo
seu abaixamento, fomos solevados. Da sua pequenez, veio a nossa grandeza. Da
sua fragilidade, a nossa força. De Ele Se fazer servo, a nossa liberdade.”
“Que nome dar a
tudo isso, senão Amor? Amor do Pai e do Filho e do Espírito Santo, a Quem a
santa mãe Igreja eleva em todo o mundo, nesta tarde, o seu hino de louvor e
agradecimento”, concluiu Francisco.
A liturgia
encerrou-se com a exposição do Santíssimo Sacramento, o canto do tradicional
hino Te Deum de ação de graças pelo ano transcorrido e a Bênção Eucarística, ao
término da qual o Santo Padre, deixando a Basílica Vaticana, deslocou-se até a
Praça São Pedro detendo-se em oração diante do Presépio montado no centro da
praça.
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Fonte: vaticannews.va
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