Leituras e Reflexão
Leitura do Livro da Sabedoria
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- Por vosso nome, salvai-me, Senhor; / e dai-me a vossa justiça! / Ó meu Deus, atendei minha prece / e escutai as palavras que eu digo!
- Pois contra mim orgulhosos se insurgem, † e violentos perseguem-me a vida: / não há lugar para Deus aos seus olhos. / Quem me protege e me ampara é meu Deus; / é o Senhor quem sustenta minha vida!
- Quero ofertar-vos o meu sacrifício / de coração e com muita alegria; / quero louvar, ó Senhor, vosso nome, / quero cantar vosso nome, que é bom!
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2ª Leitura: Tg 3,16-4,3
Partindo daí Jesus e seus discípulos atravessavam a Galileia. Jesus não queria que ninguém soubesse onde ele estava, porque estava ensinando seus discípulos. E dizia-lhes: «O Filho do Homem vai ser entregue na mão dos homens, e eles o matarão. Mas, quando estiver morto, depois de três dias ele ressuscitará.» Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus estava dizendo, e tinham medo de fazer perguntas.
Quando chegaram à cidade de Cafarnaum e estavam em casa, Jesus perguntou aos discípulos: «Sobre o que vocês estavam discutindo no caminho?» Os discípulos ficaram calados, pois no caminho tinham discutido sobre qual deles era o maior. Então Jesus se sentou, chamou os Doze e disse: «Se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último, e ser aquele que serve a todos.» Depois Jesus pegou uma criança e colocou-a no meio deles. Abraçou a criança e disse: «Quem receber em meu nome uma destas crianças, estará recebendo a mim. E quem me receber, não estará recebendo a mim, mas àquele que me enviou.»
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Seguir Jesus: ambição ou humildade?
Políticos em campanha eleitoral levantam crianças diante das câmeras da televisão… Mas qual deles se importa realmente com o futuro das crianças abandonadas, com os meninos de rua, com a educação popular? O que conta não é a criança, e sim, o voto.
Jesus faz da pouca importância das crianças uma lição para seus seguidores. Os discípulos não compreendiam quando Jesus falava de seu sofrimento; pelo contrário, ficavam discutindo quem era o maior dentre eles. Por causa disso, Jesus chamou uma criança, colocou-a no meio deles e disse que a criança estava aí como se fosse ele mesmo – e até mais do que isso: “Quem acolher em meu nome uma destas crianças estará acolhendo a mim mesmo. E quem me acolher, estará acolhendo não a mim, mas Àquele que me enviou” (evangelho).
A liturgia de hoje nos ajuda a cavoucar mais a fundo o mistério que está por trás dessas palavras. Enquanto os discípulos não levaram muito a sério as crianças, Jesus se identifica com uma criança, porque tem uma profunda consciência do amor paterno de Deus. Na 1ª leitura, o justo que chama Deus de pai é considerado insuportável pelos poderosos, que só dão importância à força e à arrogância. E a 2ª leitura nos mostra quanto mal faz a ambição dentro da comunidade cristã. Na lógica o mundo, o que importa é a prepotência, a ambição. Mas Deus é o pai do justo, sobretudo do justo oprimido. Na criança desprotegida, ele mesmo se torna presente.
O justo humilde, perseguido pelos prepotentes, e que chama Deus de pai, é a prefiguração do próprio Jesus. A grandeza mundana não importa. Uma criança sem importância pode ser representante de Jesus e, portanto, de seu Pai, Deus mesmo. E se não for uma criança, pode ser um mendigo, um desempregado, um aidético…. No aspecto de não terem poder, esses sem-poder parecem-se com Jesus. Nossa “ambição”deve ser: servir Jesus neles. Então, seremos grandes.
Alguém talvez chame isso de falsa modéstia: dizer-se humilde julgando-se superior aos outros. Já os empresários o chamarão de desperdício, pois quem se refugia na humildade nunca vai realizar as grandes coisas de que nossa sociedade tanto precisa… O raciocínio de Jesus vai no sentido oposto: as ambições deste mundo facilmente encontram satisfação, se há quem delas pode tirar proveito. Todo mundo colabora. Mas quem não tem poder só pode contar com Deus e com os “filhos de Deus”, os que querem ser semelhantes a ele. Então, de repente, não é a ambição que move o mundo, mas a força do amor que Deus implantou em nós. Não o orgulhoso ou o ambicioso, mas o humilde consegue despertar a força do amor que dorme no coração do ser humano. A criança desperta em nós o que nos torna semelhantes a Deus, nosso Pai.
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PE. JOHAN KONINGS nasceu na Bélgica em 1941, onde se tornou Doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lovaina, ligado ao Colégio para a América Latina (Fidei Donum). Veio ao Brasil, como sacerdote diocesano, em 1972. Em 1985 entrou na Companhia de Jesus (Jesuítas) e, desde 1986, atuou como professor de exegese bíblica na FAJE, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte. Faleceu no dia 21 de maio de 2022. Este comentário é do livro “Liturgia Dominical, Editora Vozes.
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