sábado, 22 de maio de 2021

Duas belas reflexões:

Pentecostes

O Deus que se revela nas Sagradas Escrituras é um Deus que atua, que trabalha sempre, que não é indiferente. Sua ação é temporal, situada e sempre em favor da vida. Celebrar a Solenidade do Espírito Santo 2020 é afirmar que Deus, uno e trino, atua no hoje da história e não está ausente.

Porém, desde a modernidade e com o avanço das ciências da natureza muitas realidades que eram atribuídas à ação de Deus passaram a ter explicações a partir das leis da natureza. Isto gerou conflitos entre a religião e a ciência; questionamentos se de fato Deus atua no mundo; outros passaram a ter uma fé deísta; – isto é, creem na existência de um ser superior, mas o cosmos segue seu caminho de forma independente, como também a religião não tem nenhuma incidência moral – e outros optam pelo ateísmo.

Para falar da ação de Deus na vida das pessoas e da história hoje, é preciso partir desta realidade. É preciso “ler os sinais dos tempos” que o Espírito Santo suscita, como nos alertou o Concílio Vaticano II. Em primeiro lugar, muitos questionamentos que a ciência faz à religião e vice-versa, partem de premissas erradas gerando conflitos desnecessários. Alguns argumentos de grandes autoridades iluminam a inteligência sobre os questionamentos e dúvidas existentes.

Santo agostinho (354-430) numa controvérsia disse: “Não se lê no Evangelho que o Senhor tenha dito: “Lhes enviou o Paráclito que os ensinará o curso do sol e da lua”. O Senhor queria fazer cristãos e não astrólogos”. Conforme Galileu Galilei (1564-1642), a Escritura não se preocupa com o curso dos movimentos celestes, senão como pode o ser humano entrar no céu. A. Einstein (1879-1955) disse: “A ciência sem religião é manca; a religião sem ciência é cega”. Nesta compreensão ciência e religião são complementares e por isso precisam dialogar pois cada uma tem métodos e objetivos próprios.

Os textos bíblicos da Solenidade de Pentecostes falam ação de Deus, e como tornar a vida mais divina e mais perfeita, entre as quais vale sublinhar. 1. Unidade na diversidade. Atos dos Apóstolos 2,1-11 registra que pessoas oriundas de vários países, línguas compreendiam o que estavam ouvindo, porque os apóstolos falavam guiados pelo Espírito Santo. Na 1ª Carta aos Coríntios 12, Paulo afirma que o Espírito Santo é fonte de diversidade de ministérios e simultaneamente fonte de unidade em vista o bem comum. 2. “A paz esteja convosco”. A construção da paz entre pessoas, grupos, povos, tão ricos em diversidade, exige que as pessoas se deixem orientar pelo Espírito Deus. A paz só se concretiza quando se aprende a viver a unidade na diversidade. 3. Perdão. O ser humano é finito, em todas as suas dimensões. Por isso, as pessoas cometem pecados, gerando conflitos que só podem ser sanados pelo perdão dado e recebido. Perdoar é sempre uma ação divina, pois Deus é misericordioso.

“Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra”.

                                  Dom Rodolfo Luís Weber - Arcebispo de Passo Fundo (RS)

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                          Pentecostes - Epifania do Espírito Santo

Caros diocesanos. No Tempo do Natal, que já celebramos no início do ano litúrgico, a Igreja comemora uma solenidade chamada Epifania, com o significado de manifestação do Senhor a todos os Povos. Neste contexto, a liturgia traz presente, na figura dos magos do oriente, a apresentação ou manifestação (Epifania) do Senhor como o Salvador de todos os povos, raças e línguas. O Messias veio para salvar toda a humanidade. Na presente reflexão usamos a palavra Epifania como revelação do Espírito Santo em Pentecostes, quando Ele se manifestou em forma de línguas de fogo sobre os discípulos, no cenáculo de Jerusalém (At 2, 1-10). Começou então o anúncio do Evangelho a todos os povos e nações e para todos os tempos.

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Santo Irineu (séc. II) afirma que o Espírito Santo desceu no dia de Pentecostes com o poder de fecundar, de dar vida a todos os povos e fazê-los participantes da Nova Aliança: “Eis porque, naquele dia, todas as línguas se uniram no mesmo louvor de Deus, enquanto o Espírito congregava na unidade as raças mais diferentes e oferecia ao Pai as primícias de todas as nações” (LH, vol. II, Solenidade de Pentecostes, p. 926). Segundo São Paulo, é o Espírito Santo que une, congrega e forma a Igreja como um só corpo, embora constituída de muitos membros (1Cor 12, 12ss). Referindo-se à unidade e à vivificação do Espírito, continua a dizer Santo Irineu: “Assim como a farinha seca não pode, sem água, tornar-se uma só massa nem um só pão, nós também, que somos muitos, não podemos transformar-nos num só corpo, em Cristo Jesus, sem a água que vem do céu. E assim como a terra árida não produz fruto se não for regada, também nós, que éramos antes como uma árvore ressequida, jamais daríamos frutos de vida, sem a chuva da graça enviada do alto” (Ibidem).

Este Espírito Santo, que se manifesta, que fecunda e une, está verdadeiramente atuante na vida cristã e, sobretudo, em cada ação litúrgica; sem a sua presença (Epifania) simplesmente não há liturgia, pois nela acontece uma espécie de sinergia (força conjunta, cooperação, parceria, colaboração) entre o Espírito Santo e a Igreja. Nesta ação conjunta o Espírito cria condições em nós para participarmos do mistério celebrado; recorda e manifesta o mistério de Cristo que é atuado na ação litúrgica; transforma-nos, tornando real em nós a Páscoa de Cristo; Ele nos congrega na comunhão de um só corpo eclesial (cf. CIgC 1093-1109).

Portanto, o Espírito Santo está presente e age na vida e missão da Igreja, em todos os tempos e lugares, seja pelos sacramentos, seja pelos múltiplos carismas e ministérios. O dom especial do Espírito Santo, prometido por Cristo e enviado aos apóstolos no dia de Pentecostes, é ministrado pela Igreja, sobretudo através do Sacramento da Confirmação ou Crisma, que torna os fiéis cristãos adultos na fé, comprometidos com a Igreja e testemunhas autênticas de Cristo. A Igreja até usa a expressão: “Bom odor de Cristo”. Os fiéis, já renascidos pelo Batismo, são fortalecidos pelo Sacramento da Confirmação ou Crisma e continuam a ser nutridos pela Eucaristia, realizando a unidade dos sacramentos da Iniciação à Vida Cristã.

Pela Confirmação ou Crisma os fiéis recebem o Espírito Santo como especial dom de Deus, perpetuando na Igreja o Pentecostes de Jerusalém e tornam-se testemunhas, por palavras e por obras, como discípulos missionários das maravilhas de Deus (At 2, 11). A solenidade de Pentecostes seja nova Epifania do Espírito que nos torna autênticos missionários de Jesus Cristo, sobretudo agora, no difícil tempo de pandemia.

                                                Aloísio Alberto Dilli - Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

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