sábado, 9 de agosto de 2025

Reflita com o frei Almir Guimarães:

As lâmpadas precisam permanecer acesas

Precisamos adquirir o colírio, o próprio Jesus, para recuperar a vista. Mas precisamos “cair em nós” e perceber que a autossuficiência é uma ilusão nossa, que nossa situação é de fraqueza, carência, imperfeição. (José Tolentino Mendonça)

Sempre a vida! O que conta é a vida. Somos seres humanos desejosos de viver em plenitude. A sociedade e o mundo nos mostram horizontes fascinantes: sucesso, êxito, beleza, festas, paraísos reais e digitais. Tudo isso pode parecer nos proporcionar satisfações que nem sempre perduram, e que momentaneamente nos encantam. Breve e aparentemente. Somos seres inquietos sempre em busca, sempre olhando para amanhã. Nada de viver por viver. Queremos iluminar a trajetória do que chamamos “nossa vida” com a figura de Jesus, vivo, ressuscitado, presente, próximo. Lucas, no evangelho proclamado, nos oferece direcionamentos a serem assumidos para que nossa vida seja conforme o desejo desse Jesus que amamos e que é nosso companheiro de caminhada. Ao pequeno rebanho são feitas carinhosas admoestações.

 Tudo bem. Precisamos de dinheiro. Há pessoas que morrem de fome sem dinheiro. Precisamos agilizar uma política honesta de repartição dos bens. Mas cuidado. Todo acúmulo de bens, de empáfia, de desejo de superioridade pode ferir a fraternidade e nos tornar reféns de nós mesmos. O dinheiro que adquirimos pode nos levar a uma postura de superioridade. Onde anda nosso coração? Quando deitamos para dormir enquanto o sono não chega em que andamos pensando? “Onde está o vosso tesouro, aí está a vosso coração!”. Não podemos nos deixar escravizar pelo desejo de ter sempre mais. Critério seguro: abundância das coisas necessárias. Vida sóbria e, sobretudo, vender no mercado o mais depressa possível nosso “ego” com reclamos tão exigentes.

 Sim, nada de viver por viver. Onde encontrar um meio capaz de nos libertar da superficialidade, do aturdimento, no barulho existencial? Vigiar, vigilância, prestar atenção às coisas, ao mundo, a quem está a nosso lado, aos loucos desejos que andam dançando dentro de nós. Fé e vigilância. Aquela fé recebida no catecismo não basta. Jesus está a nos falar de uma fé vigilante.

 “É surpreendente como Jesus fala da vigilância. Pode-se dizer que ele entende a fé como atitude vigilante que nos liberta do absurdo que domina muitos homens e mulheres, que andam pela vida se meta e sem objetivo nenhum”. “O apelo de Jesus à vigilância nos chama a despertar da indiferença, da passividade ou do cuidado com que vivemos nossa fé. Para vivê-la de maneira lúcida precisamos conhecê-la mais profundamente, confrontá-la com outras atitudes possíveis perante a vida, agradecê-la e procurar vivê-la com todas as suas consequências” (Pagola, Lucas, p. 213).

 Deus não tem residência nas nuvens dos céus. Ele se imiscui em toda a criação e, de modo particular na história. Através de suas visitas chega perto de nós, dos homens e dos povos, da Igreja. Os que vivem da fé andam esperando e perscrutando suas visitas. Será preciso afinar o ouvido. “Senhor, o que andas dizendo? Ajuda-nos a compreender”.

  Ele chega quando determina. Chega como um ladrão. As lâmpadas da vida precisarão estar acesas. Despertar do sono. “Para viver despertos é importante viver mais devagar, cultivar melhor o silêncio, estar mais atento aos apelo do coração, Sem dúvida o mais decisivo é viver amando. Só quem ama vive intensamente, com alegria e vitalidade, atento ao essencial. Por outro lado, para despertar uma “religião adormecida”, só há um caminho: buscar para além dos ritos e das crenças, aprofundar-se mais em nossa verdade perante Deus, e abrir-nos confiantes ao seu mistério. “Felizes aqueles que o Senhor ao chegar encontrar vigilantes” (Pagola, idem,p. 215)]

  Crer… este o tema do trecho da Carta aos Hebreus proclamado em nossa liturgia de hoje.

> Crer é lançar confiantemente a vida no Mistério de Deus como Abraão que caminhou sem mapa para uma terra desconhecida. Ele nos acompanhará. Viremos na confiança de filho para com o Pai.
> Crer é repetir em nossa vida a postura de Samuel: Fala, Senhor que teu servo escuta!
> Crer é caminhar na presença do Senhor como nosso invisível, mas real companheiro.
> Crer não é apenas repetir as formulações do Credo, mas prestar adesão viva à pessoa de Cristo ressuscitado que se manifesta no hoje da vida e da Igreja de múltiplas maneiras.
> Crer é encarar os acontecimentos com o olhar de Cristo que olha com os olhos do Pai.
> Crer é tornar-se cristão com outros e não na filosofia de uma vida de fé “minha somente minha”. “Religião para mim é apenas comigo mesmo”.

  “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito confiado, muito será exigido”. Precisamos ter a casa iluminada esperando as visitas do Senhor

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FREI ALMIR GUIMARÃES, OFMingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

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                                                        Fonte: franciscanos.org.br    Imagem: vaticannews.va

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