O sentido da
porta
Dom Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo de Uberaba (MG)
Parece ser uma
expressão banal, mas, na linguagem simples de Jesus, retomada depois pelo Papa
Francisco em seus escritos, tem um profundo significado dentro da dimensão e da
prática da fé. Jesus diz que Ele é a porta do aprisco, por onde devem passar as
ovelhas, indo ao encontro do Pai. Papa Francisco diz de não fechar portas e
abrir caminhos que levem a objetivos claros de vida.
Para Jesus
Cristo, o Reino de Deus tem uma “porta estreita” (cf. Lc 13,24), que supõe
autêntico esforço e total dedicação da pessoa para que possa entrar por ela.
Passagem que exige verdadeira transformação interior, uma mudança profunda de
coração e mente, dentro da dinâmica do projeto de construção do Reino eterno.
Ante as imperfeições, supõe responsabilidade pessoal e misericórdia de
Deus.
Porta estreita,
na visão bíblica, não significa ação estática de Deus, fechada, como aquilo que
impede a passagem de quem quer passar. Talvez podemos entender essa realidade
como fruto de um processo histórico, que acontece durante toda a vida terrena
da pessoa. Deve ser consequência dos atos realizados, diuturnamente, com maduro
discernimento e escolha das coisas positivas e boas.
Ao entender o
sentido da porta estreita, devemos saber que há um cuidado amoroso de Deus ao
falar das pessoas, convidando-as a uma vida de retidão e de amadurecimento na
prática da vida moral e espiritual. É o “hoje” da pessoa, a prática da justiça,
do amor fraterno e da verdade que vão definir a dimensão real da porta, se
estreita ou larga, que leva ao caminho da eternidade.
A entrada
definitiva no Reino de Deus acontece quando feita no processo de conversão, de
renúncia, de compromisso e de esforço pessoal para colocar em prática os
ensinamentos do Evangelho. Ser cristão, ser de Cristo, não é tão fácil, mas
possível, porque a salvação está aberta para todos e sem exclusão. Deus não
exclui, mas espera a escolha e discernimento de cada pessoa humana.
A vida das
pessoas tem as marcas de profundas, árduas e contínuas, de luta e conquista,
envolvida com uma sociedade onde está presente a possibilidade da prática da
justiça ou da injustiça. Assim podemos dizer que a identidade pessoal se define
a partir dessas circunstâncias. Mas a porta está sempre aberta para quem faz
seu discernimento, escolhendo aquilo que é caminho do Reino.
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