domingo, 10 de agosto de 2025

Refletir é preciso:

Despertar

José Antonio Pagola

É muito fácil viver dormindo. Basta fazer o que quase todos fazem: imitar, amoldar-nos, ajustar-nos ao que está na moda. Basta viver buscando segurança externa e interna. Basta defender nosso pequeno bem-estar enquanto a vida vai se apagando em nós.

Chega um momento em que já não sabemos reagir. Ao sentir que nossa vida está vazia, vamos enchendo-a de experiências, informação e diversões. Enganamo-nos vivendo agitados pela pressa e pelas ocupações. Podemos gastar a vida inteira “fazendo coisas” sem descobrir nela nada de grande ou nobre.

Às vezes também a religião não consegue despertar-nos. Pode-se praticar uma “religião adormecida” que dá tranquilidade, mas não vida. Estamos tão ocupados com nossas coisas e desgraças que jamais temos um momento livre no qual possamos sentir o que é amar e compartilhar, o que é ser amável e solidário. E sem viver nada disso queremos saber algo de Deus!

Jesus repete sempre de novo um apelo premente: “Despertai, vivei atentos e vigilantes, porque podeis passar a vida sem saber de nada”. Não é fácil ouvir este chamado, porque geralmente não damos ouvidos aos que nos dizem algo contrário ao que pensamos. E nós homens e mulheres de hoje pensamos que somos inteligentes e lúcidos.

Para despertar precisamos tomar consciência da nossa estupidez: começamos a ser mais lúcidos quando observamos a superficialidade de nossa vida; a verdade abre caminho em nós quando reconhecemos nossos enganos; a paz chega ao nosso coração quando percebemos a desordem em que vivemos. Despertar é dar-nos conta de que vivemos dormindo.

Para viver despertos é importante viver mais devagar, cultivar melhor o silêncio e estar mais atentos aos apelos do coração. Sem dúvida, o mais decisivo é viver amando. Só quem ama vive intensamente, com alegria e vitalidade, atento ao essencial. Por outro lado, para despertar de uma “religião adormecida” só há um caminho: buscar para além dos ritos e das crenças, aprofundar-se mais em nossa verdade perante Deus e abrir-nos confiantemente ao seu mistério. “Felizes aqueles que o Senhor, ao chegar, encontrar vigiando”.

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JOSÉ ANTONIO PAGOLA cursou Teologia e Ciências Bíblicas na Pontifícia Universidade Gregoriana, no Pontifício Instituto Bíblico de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversas obras de teologia, pastoral e cristologia. Atualmente é diretor do Instituto de Teologia e Pastoral de São Sebastião. Este comentário é do livro “O Caminho Aberto por Jesus”, da Editora Vozes.

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                                          Fonte: franciscanos.org.br   Banner: Frei Fábio M. Vasconcelos

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