sábado, 2 de agosto de 2025

Importante reflexão:

“Cuidado com a avareza!” 

Dom Antonio Carlos Rossi - Bispo de Frederico Westphalen (RS)

O 18º Domingo do Tempo Comum, no Ano Litúrgico C, traz uma advertência urgente e profundamente atual: o perigo da avareza e a ilusão de que a vida consiste na abundância de bens. Em um mundo marcado pelo consumismo, pela corrida por mais e melhor, e pela busca incessante de segurança material, o Evangelho deste domingo soa como um chamado a repensar os verdadeiros valores da vida. Jesus nos alerta: “Cuidado! Ficai atentos e guardai-vos de toda espécie de ganância, porque a vida de alguém não consiste na abundância dos seus bens” (Lc 12,15). A mensagem central é clara: a riqueza, por si só, não garante plenitude; o que dá sentido à vida é a relação com Deus e o uso correto dos bens para o bem comum. 

Este domingo nos convida a uma conversão interior: a abandonar a mentalidade do “ter” para abraçar a do “ser” e do “compartilhar”. A verdadeira riqueza não está nos celeiros cheios, mas no coração generoso, na alma voltada para Deus e o próximo. 

O livro do Eclesiastes (1,2; 2,21-23) apresenta uma reflexão existencial sobre o sentido da vida. O “pregador” (Qohelet) conclui que tudo é “vaidade” — isto é, passageiro, efêmero, sem sentido duradouro quando visto somente do ponto de vista humano. A leitura de hoje destaca o esforço do homem que trabalha com sabedoria, mas que, no fim, deixa tudo para alguém que não suou por isso. A frustração é evidente: “Que proveito tem o homem com todo o seu trabalho e com a preocupação do seu coração?” (Ecl. 2,22). 

Este texto não é pessimista, mas realista. Ele nos lembra que a vida não pode ser reduzida ao trabalho e à acumulação. A busca desenfreada por bens materiais é vã se não for acompanhada de sabedoria espiritual. A única resposta verdadeira ao vazio humano é a confiança em Deus, que dá sentido ao trabalho e ao descanso. 

São Paulo, na Carta aos Colossenses (3,1-5.9-11), exorta os cristãos a “viver com Cristo”. Ele nos convida a buscar as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus, e a não se apegarem às coisas terrenas. Paulo identifica claramente os pecados que impedem essa união com Cristo: imoralidade, paixões más, cobiça — que ele chama de idolatria. 

A cobiça, ou avareza, é aqui apresentada como uma forma de idolatria porque coloca os bens materiais no lugar de Deus. Quando o coração se fixa nos tesouros da terra, afasta-se do verdadeiro tesouro: a vida em Cristo. Paulo conclui com uma bela afirmação fundamentada na inclusão redentora do Evangelho: em Cristo, não há distinção entre judeu e grego, escravo e livre, pois “Cristo é tudo em todos”. A nova vida em Cristo transcende as divisões e cria uma comunidade de irmãos, onde o amor e a partilha prevalecem. 

O episódio do Evangelho de hoje (Lucas 12,13-21) começa com um homem pedindo a Jesus que intervenha em uma disputa de herança. Jesus recusa o papel de árbitro e aproveita a ocasião para lançar uma advertência solene: “Cuidado com a avareza!” Em seguida, conta a parábola do homem rico que, ao ter uma colheita abundante, decide construir celeiros maiores para guardar tudo, pensando em viver tranquilamente. Mas Deus lhe diz: “Tolo! Nesta mesma noite, a tua vida te será pedida. E o que preparaste, para quem ficará?” (Lc 12,20). 

A parábola é um retrato vívido da mentalidade materialista: segurança baseada em riquezas, planejamento exclusivamente terreno, ausência de Deus e de solidariedade. O homem rico pensa somente em si, em seu “eu” e em seu “meu” (uso recorrente dos pronomes possessivos). Ele esquece que a vida é um dom efêmero e que os bens são para serem administrados, não acumulados. A verdadeira riqueza, segundo Jesus, é “ser rico para com Deus” — ou seja, viver na justiça, na generosidade e na fé. 

A liturgia deste domingo não nos deixa indiferentes. Ela nos interpela a examinar nossas prioridades, nossos desejos e nosso uso dos bens. Como viver essa mensagem durante a semana? Aqui estão três sugestões práticas:

Examinar nosso coração diante dos bens materiais

Podemos fazer um exercício de autoavaliação: o que ocupa o centro da minha vida? Quanto tempo dedico a planejar o futuro financeiro comparado ao tempo que dedico à oração, à família, ao serviço? Podemos também buscar identificar sinais de avareza em nossa vida: medo de compartilhar, desejo excessivo de segurança, inveja do que os outros têm. Peçamos a Deus a graça da liberdade interior.

Praticar o desapego e a generosidade

Podemos, nesta semana, escolher uma ação concreta de partilha: doar algo que já não usamos, ajudar alguém em necessidade, contribuir com uma causa solidária. A generosidade não começa com o que sobra, mas com a decisão de viver com menos para que outros possam ter o necessário. Não nos esqueçamos: “É melhor dar do que receber” (At 20,35).

Cultivar a gratidão e a oração

Podemos nos comprometer a começar e terminar o dia agradecendo a Deus pelos bens que recebemos — não apenas materiais, mas também afetivos, espirituais e naturais. Na oração, reconhecer que tudo vem dele e tudo é para usar com responsabilidade. A gratidão cura o coração da ganância e nos lembra que somos administradores, não donos, da vida e dos bens. 

Conclusão 

O 18º Domingo do Tempo Comum nos lembra que a vida é mais do que posses. A verdadeira riqueza está em viver em comunhão com Deus e com o próximo. Que esta liturgia nos inspire a viver com simplicidade, generosidade e esperança, lembrando que “onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Lc 12,34). Que possamos, cada dia, ser “ricos para com Deus” — não por quanto temos, mas por quanto amamos. 

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                                                                                                              Fonte: cnbb.org.br 

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