Leão XIV preside
a Missa de Corpus Christi na Basílica de São João de Latrão e recorda que em
Jesus "há tudo o que precisamos para dar força e sentido à nossa
vida". O Pontífice denuncia a miséria de muitos, diante da qual "a
acumulação de poucos é sinal de um orgulho que produz dor e injustiça".
Procissão até Santa Maria Maior: oferecemos o Sacramento ao coração dos que
creem e dos que não creem "para que se interroguem sobre a fome que temos
na alma".
Queridos irmãos
e irmãs, é bom estar com Jesus. Confirma-o o Evangelho que acabou de ser
proclamado o confirma, contando que as multidões ficavam horas e horas com Ele,
que falava do Reino de Deus e curava os doentes (cf. Lc 9, 11). A
compaixão de Jesus pelos sofredores manifesta a amorosa proximidade de Deus,
que vem ao mundo para nos salvar. Quando Deus reina, o homem é liberto de todo
o mal. No entanto, a hora da prova chega também para aqueles que recebem de
Jesus a boa nova. Naquele lugar deserto, onde as multidões ouviram o Mestre,
cai a noite e não há nada para comer (cf. v. 12). A fome do povo e o pôr do sol
são sinais de um limite que paira sobre o mundo e sobre cada criatura: o dia
termina, assim como a vida dos homens. É nesta hora, no tempo da indigência e
das sombras, que Jesus permanece entre nós.
Justamente
quando o Sol se põe e a fome aumenta, enquanto os próprios apóstolos pedem para
despedir a multidão, Cristo surpreende-nos com a sua misericórdia. Ele tem
compaixão do povo faminto e convida os seus discípulos a cuidar dele: a fome
não é uma necessidade alheia ao anúncio do Reino e ao testemunho da salvação.
Pelo contrário, esta fome diz respeito à nossa relação com Deus. Cinco pães e
dois peixes, no entanto, não parecem suficientes para alimentar o povo:
aparentemente razoáveis, os cálculos dos discípulos evidenciam, em vez disso, a
sua falta de fé. Porque, na realidade, com Jesus há tudo o que é necessário
para dar força e sentido à nossa vida.
Perante o brado
da fome, Ele responde com o sinal da partilha: levanta os
olhos, pronuncia a bênção, parte o pão e dá de
comer a todos os presentes (cf. v. 16). Os gestos do Senhor não inauguram um
complexo ritual mágico, mas testemunham com simplicidade a gratidão para com o
Pai, a oração filial de Cristo e a comunhão fraterna que o Espírito Santo
sustenta. Para multiplicar os pães e os peixes, Jesus divide os poucos que há,
e assim mesmo são suficientes para todos, e ainda sobram. Depois de terem
comido – e terem comido até ficarem saciados –, recolheram doze cestos (cf. v.
17).
Esta é a lógica
que salva o povo faminto: Jesus age segundo o estilo de Deus, ensinando a fazer
o mesmo. Hoje, no lugar das multidões recordadas no Evangelho estão povos
inteiros, humilhados pela ganância alheia mais ainda do que pela própria fome.
Diante da miséria de muitos, a acumulação de poucos é sinal de uma soberba
indiferente, que produz dor e injustiça. Em vez de partilhar, a opulência
desperdiça os frutos da terra e do trabalho do homem. Especialmente neste ano
jubilar, o exemplo do Senhor continua a ser para nós um critério urgente de
ação e serviço: partilhar o pão, para multiplicar a esperança, proclama o
advento do Reino de Deus.
Ao salvar as
multidões da fome, Jesus anuncia que salvará todos da morte. Este é o mistério
da fé, que celebramos no sacramento da Eucaristia. Assim como a fome é sinal da
nossa radical indigência de vida, assim também partir o pão é sinal do dom
divino de salvação.
Caríssimos,
Cristo é a resposta de Deus à fome do homem, porque o seu corpo é o pão da vida
eterna: tomai todos e comei! O convite de Jesus abrange a nossa experiência
quotidiana: para viver, precisamos nos alimentar da vida, tirando-a das plantas
e dos animais. No entanto, comer algo morto lembra-nos que, por mais que
comamos, também nós morreremos. Porém, quando nos alimentamos de Jesus, pão
vivo e verdadeiro, vivemos por Ele. Oferecendo-se totalmente, o Crucificado
Ressuscitado entrega-se a nós, que assim descobrimos que fomos feitos para nos
alimentarmos de Deus. A nossa natureza faminta traz o sinal de uma indigência
que é saciada pela graça da Eucaristia. Como escreve Santo Agostinho, Cristo é
verdadeiramente «panis qui reficit, et non deficit; panis qui sumi potest,
consumi non potest» (Sermo 130, 2): um pão que alimenta e não falta; um
pão que se pode comer, mas não se esgota. Com efeito, a Eucaristia é a presença
verdadeira, real e substancial do Salvador (cf. Catecismo da Igreja
Católica, 1413), que transforma o pão em si mesmo, para nos transformar n’Ele.
O Corpus Domini, vivo e vivificante, torna-nos a nós, isto é, a própria
Igreja, corpo do Senhor.
Portanto,
segundo as palavras do apóstolo Paulo (cf. 1 Cor 10, 17), o Concílio
Vaticano II ensina que «pelo sacramento do pão eucarístico, ao mesmo tempo é
representada e se realiza a unidade dos fiéis, que constituem um só corpo em
Cristo. Todos os homens são chamados a esta união com Cristo, luz do mundo, do
qual vimos, por quem vivemos, e para o qual caminhamos» (Const. dogm. Lumen
Gentium, 3). A procissão, que em breve começaremos, é sinal deste caminho.
Juntos, pastores e rebanho, alimentamo-nos do Santíssimo Sacramento, adoramo-lo
e levamo-lo pelas ruas. Ao fazê-lo, apresentamo-lo ao olhar, à consciência e ao
coração das pessoas: ao coração de quem acredita, para que acredite mais
firmemente; ao coração de quem não acredita, para que se interrogue sobre a
fome que temos na alma e sobre o pão que a pode saciar.
Restaurados pelo
alimento que Deus nos dá, levemos Jesus ao coração de todos, porque Jesus a
todos envolve na obra da salvação, convidando cada um a participar da sua mesa.
Felizes os convidados, que se tornam testemunhas deste amor!
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Assista à missa na íntegra:
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