dom de Deus, sinal de esperança e figura luminosa
A Igreja no
Brasil tem um novo venerável: o diácono João Luiz Pozzobon, conhecido por
iniciar a Campanha da Mãe Peregrina de Schoenstatt, com a oração do terço nas
casas das famílias. Pozzobon teve o reconhecimento de suas virtudes heroicas
pelo Papa Leão XIV, na última sexta-feira, 20 de junho.
Em artigo
publicado no portal da CNBB, o arcebispo de Santa Maria (RS), dom Leomar
Antônio Brustolin, destacou o exemplo de Pozzobon como sinal de esperança para
a região que sofre com as consequências das chuvas e enchentes que, novamente,
atingem diversas comunidades. “A venerabilidade de João Luiz Pozzobon
resplandece, neste contexto, como um sinal concreto de esperança”, afirmou.
“Nas últimas semanas, muitas famílias foram afetadas pela emergência climática. Dor, perdas e incertezas ainda pairam sobre inúmeros lares. É neste cenário de sofrimento que Deus nos oferece a figura luminosa de João Luiz Pozzobon: homem simples, esposo e pai, profundamente comprometido com a missão de evangelizar com Maria Santíssima. Um peregrino incansável, que percorreu mais de 140 mil quilômetros a pé com a imagem da Mãe e Rainha, levando consolo, fé e amor às famílias”, lembrou dom Leomar.
A proclamação de suas virtudes heroicas é um apelo à confiança, continuou o arcebispo. “Em meio ao barro das ruas alagadas, ao silêncio das casas destruídas e ao esforço incansável da reconstrução, ouvimos a voz de Deus: ‘Não tenham medo! A fé é mais forte que o desastre. O amor é maior que a dor’. Como verdadeiro discípulo missionário, Pozzobon nos ensina a caminhar com perseverança, mesmo nas tempestades da vida”.
Rumo aos altares
O reconhecimento
das virtudes heroicas se dá com a autorização do Papa para a publicação do
decreto pelo Dicastério para a Causa dos Santos. Esse documento atesta que o
servo de Deus viveu as virtudes da fé, da caridade, da esperança, da justiça e
da prudência de forma heroica, mesmo à custa de grandes sacrifícios.
Essa é uma das etapas do processo de beatificação, que também investiga um possível milagre alcançado por intercessão de João Pozzobon. O fato, ocorrido no território da arquidiocese de Santa Maria, já passou pelo escrutínio de peritos locais, e agora é examinado por peritos e cardeais responsáveis pelas causas dos Santos em Roma.
Esposo, pai e
missionário
João Luiz
Pozzobon era neto de imigrantes italianos. Nasceu em 1904, na localidade de
Ribeirão, atual município de São João do Polêsine, região central do Rio Grande
do Sul. A família vivia da agricultura familiar e cultivava a piedade católica
típica dos “colonos” italianos no interior do Rio Grande do Sul, com a reza do
terço, assiduidade nos Sacramentos e o voluntariado nas obras da Igreja.
Aos 23 anos,
Pozzobon casou-se com Theresa, com quem teve dois filhos, passando a morar em
Restinga Seca, onde os dois abriram um pequeno hotel. Poucos anos após o
casamento, Theresa desenvolveu tuberculose, e para facilitar o tratamento, a
família mudou-se para Santa Maria, onde Pozzobon abriu um pequeno comércio em
uma região próxima à linha férrea.
Em Santa Maria,
Theresa não resistiu à doença, e faleceu em 1933. Tendo dois filhos pequenos,
João Pozzobon casou-se com Vitória, que tornou-se uma boa mãe para as crianças
e para os cinco filhos que vieram nos anos seguintes. João Pozzobon se referia
aos filhos como “minhas sete graças”, e é lembrado até hoje pelos familiares
como um pai bom, amoroso e justo, que nunca descuidou de sua família.
Em Santa Maria,
o Sr. João vinculou-se à Paróquia Nossa Senhora das Dores, onde morava,
continuando os costumes religiosos que trouxe de berço. Conheceu o Santuário de
Schoenstatt e sua espiritualidade mariana, passando a participar de retiros e
encontros de formação, e da missa diária às 6h30min. O vínculo criado com o
Santuário foi imediato e passou a dar um sentido para a vida de João, que
testemunhou:
“Eu tinha 12 anos e sentia uma espécie de saudade, que não conseguia saciar. Em nossa terra havia uma colina, uma terra um pouco elevada, e eu olhava o horizonte, ali onde o céu parece tocar a terra, e parecia-me que, desse modo, preenchia o vazio que sentia… Essa saudade durou uns 36 anos…” A sua saudade foi saciada ao conhecer o Santuário e ouvir o chamado de Deus para a campanha que iniciou.
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Dia 10 de
setembro de 1950, ano em que a Igreja proclama o dogma da Assunção de Maria ao
céu, ele recebe da Irmã Terezinha Gobbo a Imagem da Mãe, Rainha e Vencedora
Três Vezes Admirável de Schoenstatt, após acompanhar uma visita a uma família.
Ela o convidou a assumir a tarefa por alguns meses.
Ele afirma: “No
Santuário da Mãe e Rainha aconteceu minha grande descoberta. A bondade e a
misericórdia de Deus e da Virgem Mãe e Rainha me confiaram uma grandiosa missão
evangelizadora: a Campanha do Santo Terço. Entendi a missão e, por ela, fiz
minha entrega total”.
A Campanha da
Mãe Peregrina
A imagem que
recebeu das irmãs em 1950 havia sido pensada para visitar as famílias em
preparação à proclamação do Dogma da Assunção de Maria. Porém, findada a
tarefa, o Sr. João pede para continuar com a imagem. Assim, deu seguimento e
ampliou cada vez mais o campo de atuação.
Primeiro, levava
a imagem a cada noite em uma família da vizinhança, rezava o terço, conversava
sobre a vida de fé das pessoas, estimulando que fossem à Missa, contribuíssem
com sua paróquia e buscassem os sacramentos. Com o tempo, suas caminhadas
passaram a incluir escolas, hospitais, presídios e empresas; e também
aumentaram as distâncias percorridas. João levou a Peregrina para localidades
no interior, na região da Quarta Colônia, onde havia nascido, e mais além.
Conforme registrou em seu diário, percorreu a pé cerca de 140 mil quilômetros
ao longo dos 35 anos de caminhadas com a Mãe e Rainha sobre o ombro direito.
Seguindo a
inspiração da Providência, criou o que hoje conhecemos como a Campanha da Mãe
Peregrina. Encomendou a fabricação de imagens de Nossa Senhora em tamanho
menor, mas com o mesmo formato daquela que ele carregava. Essas deveriam passar
de casa em casa, servindo de elo de união entre as famílias de um mesmo bairro.
Os anos foram passando e este apostolado cresceu cada vez mais. Está em quase
100 países, contando cerca de 200 mil imagens que circulam entre os grupos de
30 famílias.
A cada ano, o
Sr. João entregava um relatório de suas atividades para o seu pároco e para o
bispo, relatando o que observava, as comunidades visitadas e o trabalho
desempenhado. De cada encontro, não saía sem pedir de joelhos a bênção da
autoridade eclesial, e dedicava orações e sacrifícios pelos sacerdotes. Além
disso, em suas viagens, sempre que chegava a uma nova comunidade, ia
diretamente ao padre responsável pelo local humildemente pedir permissão para
visitar as famílias e fazer seu apostolado.
Em seu trabalho
de evangelização e visitas às famílias, tinha contato com a pobreza e as
necessidades materiais e espirituais dos irmãos. Isso o motivou a criar a Vila
Nobre da Caridade.
Com a ajuda de
benfeitores, construiu 14 casas e uma capela, a capelinha azul, que servia
também de escola e centro comunitário. As casas eram para moradia gratuita de
pessoas pobres, que também recebiam educação para o trabalho e orientações
práticas, como fazer hortas, reparos e melhorias nas casas.
Outras duas
capelas – a rosa e a branca – e uma escola também foram construídas em outras
vilas pobres da cidade com o apoio da comunidade. Tudo sem descuidar da
formação ética e espiritual, garantindo a dignidade de cada um. Na zona rural
dos municípios vizinhos, João estabeleceu mais de 40 ermidas, como locais de
reunião e oração para as famílias que moravam longe das capelas, formando
pequenas comunidades.
Um diácono
comprovado no amor
Em 30 de
dezembro de 1972, ele é ordenado Diácono Permanente da Igreja, pela imposição
das mãos de Dom Érico Ferrari, na Capela Nossa Senhora das Graças em Santa
Maria. Assim, poderia ampliar seu trabalho, pois muitas vezes visitava famílias
que ainda não tinham acesso aos sacramentos como batismo e matrimônio. Como
Diácono, passou a celebrar batismos e matrimônios e a levar a Eucaristia para
os doentes, contribuindo diretamente com a missão da Igreja, em comunhão com o
bispo, na diocese de Santa Maria.
Ele testemunha
sobre este chamado: “Minha ordenação foi como uma flor que se abriu, uma grande
alegria que se estendeu a todos os amigos. Senti-me penetrado, totalmente, pelo
espírito da Santa Igreja. Senti a união como um só coração. Foi um verdadeiro Cenáculo,
junto com a Mãe e Rainha. A hora do Espírito Santo”.
Sente-se também
unido ao Fundador da Obra de Schoenstatt, Padre José Kentenich, do qual se
considera um aluninho e com quem se encontrou em 1952. Após 35 anos de total
dedicação à Campanha da Mãe Peregrina de Schoenstatt, falece no dia 27 de junho
de 1985. A caminho do Santuário, ao atravessar uma avenida, devido a um forte
nevoeiro, é atropelado por um caminhão.
Assim ele faz a
sua última romaria, realizando suas palavras:
“Se um dia me encontrarem morto no caminho, saibam que eu morri de alegria!”
O Diácono João
Luiz Pozzobon buscou responder o chamado a santidade em sua vida também pela
dedicação à Campanha da Mãe Peregrina, um apostolado desenvolvido na
arquidiocese de Santa Maria que se espalhou pelo mundo. Seu processo de
beatificação foi aberto em Santa Maria, em 12 de dezembro de 1994, por dom Ivo
Lorscheiter.
Testemunho do
bispo e do pároco
Certa vez, seu
bispo diocesano, dom Ivo Lorscheiter, escreveu ao Diácono João, após receber um
relatório de suas atividades: “Vejo, não sem emoção, que seu trabalho
apostólico nas vilas e bairros, está chegando às Bodas de Prata… sua oração
diária é um verdadeiro louvor em nossa Igreja diocesana, e seu trabalho
pastoral é digno de nossa comovida homenagem”.
Na homilia da
Santa Missa de corpo presente, seu pároco testemunhou: “João cultivava uma
estreita vinculação com a própria paróquia; com frequência estava na casa
paroquial, trazendo seus programas para serem aprovados. Nunca deixava o
escritório sem pôr-se de joelhos e suplicar a bênção, dizendo: ‘Vou com sua
bênção, Padre!’”
Com informações
de Vatican News e Portal Vida e Família | Imagens de Movimento Shoenstatt
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